O equilíbrio na região permaneceu frágil. Os anos seguintes viram um aumento das demandas dos Mamelucos, como também aumentaram as perseguições aos peregrinos, contrariando os termos da trégua. Em 1289, o sultão mameluco Qalawun juntou um grande exército, investiu sobre o que restava do Condado de Trípoli, e, finalmente, cercou a capital, Trípoli, e tomou-a depois de um sangrento assalto. O ataque, porém, foi particularmente devastador para os Mamelucos, porque a resistência cristã alcançou proporções fanáticas e Qalawun perdeu seu filho primogênito e mais capaz na campanha. Ele esperou outros dois anos para recuperar sua força.
Em 1291, um grupo de peregrinos de Acre foi atacado e, em represália, mataram dezenove comerciantes muçulmanos em uma caravana síria. (Outra versão diz que um grupo de soldados italianos católicos degolaram os islâmicos e eliminaram na mesma leva outro tanto de sírios cristãos.) Qalawun exigiu que eles pagassem uma quantia extraordinária em compensação. Quando nenhuma resposta veio, o Sultão usou isto como um pretexto para sitiar Acre, e acabar com o último estado Cruzado independente na Terra Santa.
Em abril de 1291, a cidade acordou cercada por milhares de soldados muçulmanos. A cristandade correu em socorro de um de seus pontos mais estratégicos na Terra Santa. Cavaleiros hospitalários, teutônicos e templários, somados a tropas inglesas e italianas, partiram para defender o porto de Acre. Em 18 de Maio de 1291, as forças turcas e egípcias tomaram a cidade de Acre. Qalawun morreu durante o ataque, deixando Khalil como Sultão Mameluco. Com Acre tomada, os Estados Cruzados deixaram de existir. Caía assim o último bastião dos europeus na Palestina.
Rapidamente, os poucos territórios estabelecidos pelos cruzados que restavam no Oriente Médio foram reconquistados pelos muçulmanos. Inicialmente, o centro do poder dos Cruzados foi movido para o norte (para Tortosa), e finalmente para a ilha de Chipre. Sua última posição segura na Terra Santa, a ilha de Rodes, foi perdida em 1302-1303. O período dos Cruzadas na Terra Santa estava terminado, quase duzentos anos depois do Papa Urbano II iniciar sua pregação.
Causas do fracasso
Diversas razões contribuíram para o fracasso das Cruzadas, entre elas: os europeus eram minoria, em meio a uma população geralmente hostil; a opressão à população nativa fez com que o domínio fosse cada vez mais difícil; as diversas lutas entre os próprios cristãos contribuíram para enfraquecê-los enormemente. Todas, exceto a pacífica sexta Cruzada (1228-1229), foram prejudicadas pela cobiça e brutalidade; judeus e cristãos na Europa foram massacrados por turbas armadas em seu caminho para a Terra Santa. O papado era incapaz de controlar as imensas forças à sua disposição.
O legado das cruzadas
As cruzadas influenciaram a cavalaria europeia e, durante séculos, sua literatura.
Se por um lado aprofundaram a hostilidade entre o cristianismo e o Islã, por outro estimularam os contatos econômicos e culturais para benefício permanente da civilização europeia. O comércio entre a Europa e a Ásia Menor aumentou consideravelmente e a Europa conheceu novos produtos, em especial, o açúcar e o algodão. Os contatos culturais que se estabeleceram entre a Europa e o Oriente tiveram um efeito estimulante no conhecimento ocidental e, até certo ponto, prepararam o caminho para o Renascimento.
Terra Santa
Embora lutar por terras seja bem comum, a terra sendo disputada geralmente fornece algum tipo de recurso prático: minerais, colheitas, portos, fazendas, localização estratégica, exploração de mão de obra ou simples tamanho. A Palestina não tinha nenhuma dessas características. O único recurso da Terra Santa era sua herança. Não há ouro, petróleo, muito pouca terra arável e pouca população nativa, nada, a não ser os lugares sagrados, de modo que, em essência, as Cruzadas mataram 3 milhões de pessoas numa luta para o controle do comércio turístico.
As cruzadas na conquista de Portugal
Quando surgiu o reino de Portugal, a cristandade agitava-se no fervor das Cruzadas do Oriente. Os portos de Galiza, que davam acesso a Santiago de Compostela, a barra do rio Douro e a vasta baía de Lisboa, eram pontos de escala das frotas de cruzados que do Norte da Europa seguiam para a Terra Santa. Quando, em 1140, Afonso I tentou a conquista de Lisboa, fê-lo com o auxílio de estrangeiros: setenta navios franceses que tinham entrado a barra do Douro e aportado a Gaia. Mas a conquista não foi possível devido às poderosas defesas que rodeavam Lisboa.
Em 1147, entra na barra do Douro, vinda de Dartmouth, uma frota de 200 velas, transportando cruzados de várias nações: alemães, flamengos, normandos e ingleses num total de 13 000 homens. Aproveitando este facto, Afonso I escreveu ao bispo do Porto D. Pedro, pedindo-lhe que persuadisse os cruzados a ajudarem-no na empresa, prometendo-lhes o saque da cidade. No dia seguinte desembarcaram os cruzados em Lisboa, que tiveram as últimas negociações com D. Afonso, firmando o pacto. Depois da tomada da cidade, muitos cruzados ficaram por lá. Um capitão de cruzados, Jourdan, foi senhor e parece que o primeiro povoador da Lourinhã. Ao francês Allardo foi doada Vila Verde dos Francos, no distrito de Lisboa e concelho de Alenquer (perto da Serra do Montejunto).
Alguns anos depois, em 1152, partiu de Bergen uma esquadra de peregrinos do Norte da Europa, comandados por Rognvaldo III, rei das Órcades, com 15 navios e 2 000 homens. No inverno do ano seguinte, esta esquadra estava nas costas de Galiza onde pilhou algumas povoações. No verão de 1154 desce a costa portuguesa e ajuda o monarca na conquista de Alcácer do Sal. A empresa era rendosa, pois a cidade era o mais importante porto do Sado, cercada de pinhais, cujas madeiras eram utilizadas na construção de navios. A empresa falhou e o mesmo se deu anos mais tarde desta vez com a ajuda da frota do conde da Flandres composta de franceses e flamengos, e partiu para a Síria em 1157, aportando à barra do Tejo.
Em 1189 D. Sancho I entra em negociações com outra esquadra, que acabou por entrar na baía de Lagos e ocuparam o Castelo de Albur (Alvor), um dos mais fortes da região. Meses depois entra no Tejo outra frota alemã que tocara em Dartmouth recebendo muitos peregrinos e que ajudou a conquistar Silves. Capital de província, populosa, grande centro de comércio e de cultura, a cidade estava bem fortificada. A notícia destas vitórias chegou ao Norte de África e a resposta não se fez esperar.
Os mouros põem cerco a Silves, que não conseguiram tomar, partindo o califa em direcção a Santarém, tomando Torres Novas no caminho e pondo o cerco a Tomar. Perante esta situação, D. Sancho I pediu auxílio aos cruzados vassalos de Ricardo Coração de Leão, que se tinham reunido no Tejo, e foram ter a Santarém, que não chegou a ser atacada por causa da peste que vitimou a maior parte dos mouros.
No ano seguinte, os mouros regressam reconquistando Silves, a província de Alcácer, com excepção de Évora. Anos depois outra armada de cruzados, mesmo sem terem chegado a acordo com D. Sancho I, tomam Silves e saqueiam a cidade, prosseguindo para a Síria. Em 1212, com a derrota na Batalha de Navas de Tolosa, o reino mouro entra em decadência. Em 1217, entra nova frota alemã, e D. Soeiro, bispo de Lisboa, convenceu-os a conquistar Alcácer do Sal, navegando a esquadra por Setúbal, com os seus 100 navios. Alcácer resistiu durante dois meses até capitular. No princípio do Inverno regressa a frota ao Tejo, passando aí o resto do inverno.
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