terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Celtas

Celtas é a designação dada a um conjunto de povos (um etnónimo), organizados em múltiplas tribos e pertencentes à família linguística indo-europeia que se espalhou pela maior parte do Oeste da Europa a partir do segundo milénio a.C.. A primeira referência literária aos celtas (Κελτοί) foi feita pelo historiador grego Hecateu de Mileto no século VI a.C..

Boa parte da população da Europa ocidental pertencia às etnias celtas até à eventual conquista daqueles territórios pelo Império Romano; organizavam-se em tribos, que ocupavam o território desde a Península Ibérica até à Anatólia. A maioria dos povos celtas foi conquistada, e mais tarde integrada, pelos Romanos, embora o modo de vida celta tenha, sob muitas formas e com muitas alterações resultantes da aculturação devida aos invasores e à posterior cristianização, sobrevivido em grande parte do território por eles ocupado.

Existiam diversos grupos celtas compostos de várias tribos, entre eles os bretões, os gauleses, os escotos, os eburões, os batavos, os belgas, os gálatas, os trinovantes e os caledónios. Muitos destes grupos deram origem ao nome das províncias romanas na Europa, as quais mais tarde baptizaram alguns dos estados-nações medievais e modernos da Europa.

Os celtas são considerados os introdutores da metalurgia do ferro na Europa, dando origem naquele continente à Idade do Ferro (culturas de Hallstatt e La Tène), bem como das calças na indumentária masculina (embora essas sejam provavelmente originárias das estepes asiáticas).

Outras regiões europeias que também se identificam com a cultura celta são o País de Gales, uma entidade subnacional do Reino Unido, a Cornualha (Reino Unido), a Gália (França, e Norte da Itália), o Norte de Portugal e a Galiza (Noroeste da Espanha). Nestas regiões os traços linguísticos celtas sobrevivem nos topónimos, nalgumas formas linguísticas, no folclore e tradições.

A influência cultural celta, que jamais desapareceu, tem mesmo experimentado um ciclo de expansão em sua antiga zona de influência, com o aparecimento de música de inspiração celta e no reviver de muitos usos e costumes conhecidos atualmente como celtismo.

Religião


Casa Circular Celta.
Os celtas exaltavam as forças telúricas expressas nos ritos propiciatórios. A natureza era a expressão máxima da Deusa-Mãe. A divindade máxima era feminina, a Deusa-Mãe, cuja manifestação era a própria natureza e por isso a sociedade celta, embora não fosse matriarcal, mesmo assim a mulher era soberana no domínio das forças da natureza. A religião celta era politeísta com características animistas, sendo os ritos quase sempre realizados ao ar livre. Suspeita-se que algumas das suas cerimônias envolviam sacrifícios humanos. 

As festas dos celtas eram baseadas nos solstícios e equinócios . O Imbolc era celebrado no dia 1° de fevereiro e marcava o começo da vida da natureza depois da hibernação do inverno. O Beltane  era celebrado a 1 de maio e era o mais alegre dos festivais celtas, onde os participantes dançavam, e se alegravam nas voltas da fogueira. O Samhair, a festa dos mortos, ocorria no dia 1° de novembro. A festa cristã de todos os santos e derivada dessa data comemorativa celta.

Embora se saiba que os celtas adoravam um grande número de divindades, do seu culto hoje pouco se conhece para além de alguns dos nomes. Tendo um fundo animista, a religião celta venerava múltiplas divindades associadas a atividades, fenómenos da natureza e coisas. Entre as divindades contavam-se Tailtiu e Macha, as deusas da natureza, e Epona, a deusa dos cavalos. Entre as divindades masculinas incluíam-se deuses como Goibiniu, o fabricante de cerveja, e Tan Hill, a divindade do fogo. O escritor romano Lucano faz menções a vários deuses celtas, como Taranis, Teutates e Esus, que, curiosamente, não parecem ter sido amplamente adorados ou relevantes.

Com a assimilação no Roma, os deuses celtas perderam as suas características originais e passaram a ser identificados com as correspondentes divindades romanas. Posteriormente, com a ascensão do Cristianismo, a Velha Religião foi sendo gradualmente abandonada, sem nunca ter sido totalmente extinta, estando ainda hoje presente em muitos dos cultos de santos e nas crenças populares assimilados no cristianismo.

Com a crescente secularização da sociedade europeia, surgiram movimentos neopagãos pouco expressivos, que buscam a adaptação aos novos tempos das crenças do paganismo antigo, sendo alguns dos principais representantes a wicca e os neodruidas, que, embora contenham alguns elementos celtas, não são célticos, nem representam a cultura do povo celta.

Ritos Celtas

Símbolo Celta.
Os primeiros celtas não construíam templos para a adoração de seus deuses, mas mantinham altares em bosques (de Nemeton) dedicados a serem locais de adoração. Algumas árvores eram consideradas elas próprias sagradas. A importância das árvores na religião celta pode ser mostrada pelo fato que o nome da tribo dos Eburônios contém uma referência a yew tree, e nomes como Mac Cuillin (filho de acebo), e Mac Ibar (filho de yew) aparecem nos mitos irlandeses. Apenas durante o período de influência romana os celtas começaram a construir templos, um hábito que foi passado às tribos germânicas que os suplantaram.

Escritores romanos insistiam que o sacrifício humano era praticado pelos celtas em larga escala e há indícios dessa possibilidade vindos de achados na Irlanda, no entanto a maior parte da informação sobre isso veio de rumores de "segunda mão" que chegavam a Roma. São muito poucas as descobertas arqueológicas que substanciam o processo de sacrifício e assim os historiadores modernos consideram que os sacrifícios humanos eram um acontecimento extremamente raro nas culturas celtas. 

Mas havia também, no entanto, um culto guerreiro centrado nas cabeças cortadas de seus inimigos. Os celtas muniam seus mortos de armas e outros pertences, o que indica que acreditavam na vida após a morte. Depois do funeral, eles também cortavam a cabeça do morto e esmagavam seu crânio para evitar que seu espírito permanecesse preso. 

Nenhuma menção aos cultos celtas pode deixar de descrever os druidas. Esses sacerdotes eram pessoas encarregadas das tarefas de aconselhamento, ensino, jurídica e filosófica dentro da sociedade celta. Eles eram conhecidos por ser particularmente associados a carvalhos e trufas; essas últimas talvez usadas na confecção de medicamentos ou alucinógenos. 

Outra figura importante na manutenção das lendas célticas era o bardo, aquele que, através de suas músicas, difundia os feitos de bravura dos heróis do passado. Desse ponto de vista, a cultura celta não foi uma cultura histórica - do ponto de vista que não teve história escrita (ainda que os celtas possuíssem formas rudimentares de escrita, baseadas em traços verticais e horizontais). Suas histórias eram transmitidas oralmente, e os bardos eram particularmente bons nisso já que, uma vez que suas histórias eram musicadas, tornava-se fácil lembrar das palavras exatas que as compunham. Além disso, eles podem ter sido considerados uma espécie de profetas. 

Mitologia

Consideram-se três as fontes principais sobre a mitologia celta, os autores greco-romanos, a arqueologia, e os documentos britânicos e irlandeses.

São riquíssimas as narrativas mitológicas celtas, principalmente as transmitidas oralmente em forma de poema, como "O Roubo de Gado em Cooley". Nesta, o herói irlandês Cú Chulainn enfrenta as forças da rainha Maeve para defender o seu condado. Outra narrativa, do Livro das Invasões (Lebor Gabala Erren), conta a lenda dos filhos de Míle Espáine e o seu trajecto até chegarem à Irlanda.

Outros legados dos celtas são as histórias do Ciclo do Rei Artur da Inglaterra e relatos míticos dos quais se originaram os contos de fadas, como, por exemplo, Chapeuzinho Vermelho (onde a menina representa o Sol devorado pela noite do Inverno, ou seja, o lobo).

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Anglos

Anglos é um termo moderno que se refere a um povo germânico cujo nome deriva da antiga região de Ânglia, que atualmente é um distrito localizado em Schleswig-Holstein, Alemanha. Os anglos foram um dos maiores grupos que se fixaram na Britânia após a queda de Roma, fundando vários dos reinos da Inglaterra anglo-saxã e instalando-se na Ânglia Oriental, Mércia e na Nortúmbria no século V. Seu nome deu origem ao nome "Inglaterra".

História Medieval

Beda diz que os Anglii, antes de chegarem à Grã Bretanha, viviam numa terra chamada Angulo, "que desde então até hoje permanece um deserto — entre as províncias dos jutos e dos saxões ". Evidência similar é encontrada em Historia Brittonum. O rei Alfredo, o Grande e o historiador Æthelweard identificaram esse local com o atual distrito de Angeln, na província de Schleswig (Slesvig) (embora possa ter sido de extensão maior), e essa identificação vai ao encontro das declarações de Beda.

No conto norueguês do aventureiro viking Ottar de Hålogaland de uma viagem de dois dias do fiorde Oslo a Schleswig, ele relatou as terras em seu navio, e Alfredo adicionou a nota "nestas ilhas habitaram os Engle antes deles virem para cá". Isto é confirmado pelas tradições inglesas e dinamarquesas relacionando a dois reis chamados Wermund e Offa de Angel, de quem a família real de Mércia alega ser descendente e cujos feitos estão conectados a Angeln, Schleswig, e Rendsburg. A tradição dinamarquesa preservou o registro de dois governantes de Schleswig, pai e filho, a serviço deles, Frowinus (Freawine) e Wigo (Wig), de quem a descendência é alegada pela família real de Wessex. Durante o século V, os anglii invadiram a Grã Bretanha e, após a invasão, seu nome não foi mais registrado no continente, exceto no título de Suevi Angili.

Os anglos são tema de uma lenda sobre o papa Gregório I, que viu, por acaso, um grupo de crianças anglas de Deira à venda como escravos no mercado de Roma. Como a história viria a ser contada posteriormente pelo monge e historiado anglo-saxão Beda, Gregório se impressionou com a aparência diferente dos escravos e perguntou sobre suas origens. Quando lhe foi dito que eles eram conhecidos por "anglii" (anglos), ele respondeu com um trocadilho em latim: “Bene, nam et angelicam habent faciem, et tales angelorum in caelis decet esse coheredes” ("É bom para eles que tenham um rosto angelical, tal povo deve ser co-herdeiro dos anjos no céu"). Supostamente, esse encontro inspirou o papa a lançar uma missão de catequizar seus conterrâneos.

Reino Anglo na Inglaterra

De acordo com as fontes, como a História de Beda, após a invasão à Grã Bretanha, os anglos se dividiram e formaram os reinos de Nord Angelnen (Reino de Nortúmbria), Ost Angelnen (Reino da Ânglia Oriental), e Mittlere Angelnen (Reino de Mércia). H.R. Loyn observou nesse contexto que "uma viagem marítima é perigosa à instituições tribais," e que aparentemente os reinos tribais se formaram na própria Inglaterra. Em tempos antecedentes, havia dois reinos do norte (Bernícia e Deira) e doi reinos centrais (Ânglia Média e Mércia). Como resultado da influência dos saxões do oeste, as tribos eram chamadas genericamente de anglo-saxões pelos normandos, os reinos saxões conquistaram, unificaram e fundaram o Reino da Inglaterra por volta do século X. A região da Ânglia Oriental e Nortúmbria ainda hoje são conhecidas por esses nomes. Nortúmbria estendeu-se ao norte até onde hoje é o sudeste da Escócia, incluindo Edimburgo, e ao sul até Humber.

O resto da população permaneceu na terra natal dos anglos, no nordeste do atual estado alemão de Schleswig-Holstein, na península de Jutlândia. Lá, uma pequena península ainda é chamada "Angeln" (Ânglia) e é formada por um triângulo que vai de Flensburg no Fiorde de Flensburger para a cidade de Schleswig e, finalmente, a Maasholm, na entrada Schlei.

domingo, 29 de janeiro de 2012

Saxões

Elmo Anglo-Saxão
Os saxões foram uma confederação de tribos germânicas nas planícies do norte da Alemanha, alguns dos quais migraram para a Grã Bretanha durante a Idade Média e se fundiram com os anglos, formando os anglo-saxões, que formariam o primeiro Reino da Inglaterra. 

Desconhece-se o número de migrantes do continente à Grã Bretanha, porém, estima-se um número próximo a 200 mil.  Durante a Idade Média, por causa das rotas internacionais da liga hanseática e consequentes migrações medievais, os saxões se misturaram e exerceram grande influência sobre os idiomas e culturas dos povos germânicos setentrionais, bálticos e fínicos, alem dos eslavos polábios e eslavos ocidentais pomeranos.

Buscaram um novo território na Britânia. O porquê dessa migração, não se sabe ao certo, mas muito provavelmente deve-se à destruição causada pelos poderosos Hunos e talvez por mudanças climáticas.

Durante os séculos IV e principalmente V, os saxões começaram uma forte investida contra as Ilhas Britânicas, em busca de colonização. O Império Romano acabou deixando a ilha e os saxões, nos séculos VI a IX foram, aos poucos, dominando o território, começando pelo leste. Em seguida, capturaram o centro da Ilha, chegando até o Mar de Severn. Por um tempo, a atual Escócia e a Cornualha ficaram livres, assim como o atual País de Gales. Porém, mais tarde, os saxões tomaram também a Cornualha e a Escócia, mas não conseguiram capturar o País de Gales, apesar de que reinos como Powys, hoje o maior estado-distrito de Gales, que alcançavam áreas da atual Inglaterra além de áreas do País de Gales terem perdido grande parte de suas posses (obviamente, as regiões que ficavam na atual Inglaterra).

Concluiu-se que os saxões derrotaram quase que totalmente os celtas na Grã-Bretanha, já que Gales é, em sua maioria, de terreno rochoso e pobre. Os reinos galeses não tinham condições mais de se opor aos saxônicos, que se tornaram os verdadeiros donos da Inglaterra.

No mesmo século, na Inglaterra, os saxões sofreram com a invasão dos Vikings da Dinamarca, que procuravam se instalar nas terras inglesas. Tomaram grande parte dos reinos saxônicos, mas foram parados e, depois, expulsos da Inglaterra por Alfredo de Inglaterra, o Grande.

Inglaterra Anglo Saxã

A Inglaterra anglo-saxã, até o século IX, era dominada pela Heptarquia, os reinos de Nortúmbria, Mércia, Ânglia Oriental, Essex, Kent, Sussex e Wessex. Estes reinos foram pagãos durante o período inicial, porém foram cristianizados durante o século VII. O paganismo teve seu último bastião durante o período da hegemonia mércia durante a década de 640, e que foi interrompida com a morte do rei Penda em 655.

A Casa de Wessex se tornou dominante durante o século IX, e passou a lidar com a ameaça das invasões vikings, que foram combatidas com sucesso por Alfred, o Grande. Durante o século X os reinos individuais foram unificados sob o domínio de Wessex, formando o Reino da Inglaterra, que se opunha ao Danelaw, a união dos reinos vikings estabelecidos deste o século IX no Norte da Inglaterra e na região das East Midlands.

Todo o reino da Inglaterra sucumbiu à invasão dinamarquesa em 1013, e passou a ser governado pela Casa da Dinamarca até 1042, quando a Casa de Wessex, anglo-saxã, foi restaurada, e deteve o poder até 1066, quando o último rei anglo-saxão, Harold Godwinson, foi morto durante a Batalha de Hasting.

Os reinos saxônicos caíram, finalmente, no século XI. Mas não pelas mãos dos galeses e sim dos normandos, liderados por Guilherme, o Conquistador.

Atualmente os descendentes dos saxões são os atuais holandeses, belgas (flamengos), alemães de determinadas regiões do norte, ingleses, e com o advento da imigração se espalharam além mar, para Estados Unidos, Canadá, Austrália, Nova Zelândia, Brasil, entre outros países.

sábado, 28 de janeiro de 2012

Vickings

Viking (do nórdico antigo víkingr) ou viquingue é um termo habitualmente usado para se referir aos exploradores, guerreiros, comerciantes e piratas nórdicos (escandinavos) que invadiram, exploraram e colonizaram grandes áreas da Europa e das ilhas do Atlântico Norte a partir do final do século VIII até meados do século XI.

Esses vikings usavam seus famosos navios dragão para viajar do extremo oriente, como Constantinopla e o rio Volga, na Rússia, até o extremo ocidente, como a Islândia, Groenlândia e Terra Nova, e até o sul de al-Andalus. Este período de expansão viking - conhecidos como a Era Viking - constitui uma parte importante da história medieval da Escandinávia, Grã-Bretanha, Irlanda e do resto da Europa em geral.

As concepções populares dos vikings geralmente diferem do complexo quadro que emerge da arqueologia e das fontes escritas. A imagem romantizada dos vikings como bons selvagens germânicos começaram a fincar suas raízes no século XVIII e isso evoluiu e tornou-se amplamente propagado durante a revitalização viking do século XIX. A fama dos vikings de brutos e violentos ou intrépidos aventureiros devem muito ao mito viking moderno que tomou forma no início do século XX. As atuais representações populares são tipicamente muito clichês, apresentando os vikings como caricaturas. Eles também fundaram povoados e fizeram comércio pacificamente. A imagem histórica dos vikings mudou um pouco ao longo dos tempos, e hoje já admite-se que eles tiveram uma enorme contribuição na tecnologia marítima e na construção de cidades.

Registros Históricos

As diversas nações viking estabeleceram-se em várias zonas da Europa:

Os dinamarqueses navegaram para o sul, em direção à Frísia, França e partes do sul da Inglaterra. Entre os anos 1013 e 1042, diversos reis vikings, como Canuto, o Grande, chegaram mesmo a ocupar o trono inglês.

Os suecos navegaram para o leste entrando na Rússia, onde Rurik fundou o primeiro estado russo, e pelos rios ao sul para o Mar Negro, Constantinopla e o Império Bizantino.

Os noruegueses viajaram para o noroeste e oeste, para as Ilhas Faroé, Shetland, Órcades, Irlanda e Escócia. Excepto nas ilhas britânicas, os noruegueses encontraram principalmente terras inabitadas e fundaram povoados. Primeiro a Islândia em 825 (monges irlandeses já estavam lá), depois a Groenlândia (985), foram ocupadas e colonizadas por vikings noruegueses. Em cerca de 1000 d.C., a América do Norte foi descoberta por Leif Ericsson da Groenlândia, que a chamou de Vinland. Um pequeno povoado foi fundado na península norte na Terra Nova (Canadá), mas a hostilidade dos indígenas locais e o clima frio provocaram o fim desta colônia em poucos anos. Os restos arqueológicos deste local - L'Anse aux Meadows - constituem hoje em dia um sítio de Patrimônio Mundial da UNESCO.

Os vikings começaram a incursar e colonizar ao longo da parte nordeste de Mar Báltico nos séculos VI e VII. No final do século VIII, os suecos faziam longas incursões descendo os rios da moderna Rússia e estabeleceram fortes ao longo do caminho para a defesa. No século IX eles controlavam Kiev e em 907 uma força de dois mil navios e oitenta mil homens atacou Constantinopla. Eles saíram de lá com um favorável acordo comercial do imperador bizantino. Depois chegando até a Sicília.

Os vikings fizeram a primeira investida no Oeste no final do século VIII. Os primeiros relatos de invasões viking datam de 793, quando dinamarqueses ("marinheiros estrangeiros") atacaram e saquearam o famoso mosteiro insular de Lindisfarne, na costa Leste da Inglaterra. Os vikings saquearam o mosteiro, mataram os monges que resistiram, carregaram seus navios e retornaram à Escandinávia. Nos 200 anos seguintes, a história Europeia encontra-se repleta de contos sobre os vikings e suas pilhagens. O tamanho e a frequência das incursões contra a Inglaterra, França e Alemanha aumentaram ao ponto de se tornarem invasões. Eles saquearam cidades importantes como Hamburgo, Utrecht e Rouen. Colônias foram estabelecidas como bases para futuras incursões. As colônias no Noroeste da França ficaram conhecidas como Normandia (de "homens do Norte"), e seus residentes eram chamados de normandos.

Em 865, um grande exército dinamarquês invadiu a Inglaterra. Eles controlaram boa parte da Inglaterra pelos dois séculos seguintes. Um dos últimos reis de toda a Inglaterra até 1066 foi Canuto, que governava a Dinamarca e a Noruega simultaneamente. Em 871, uma outra grande esquadra navegou pelo Rio Sena para atacar Paris. Eles cercaram a cidade por dois anos, até abandonarem o local com um grande pagamento em dinheiro e permissão para pilhar, desimpedidos, a parte Oeste da França.

Em 911, o rei da França elevou o chefe da Normandia a Duque em troca da conversão ao cristianismo e da interrupção das incursões. Do Ducado da Normandia veio uma série de notáveis guerreiros como Guilherme I, que conquistou a Inglaterra em 1066; Roberto Guiscardo e família, que tomaram a Sicília dos árabes entre 1060 e 1091 e Balduíno I, rei cruzado de Jerusalém.

Os vikings conquistaram a maior parte da Irlanda e grandes partes da Inglaterra, viajaram pelos rios da França, Portugal e Espanha, e ganharam controle de áreas na Rússia e na costa do Mar Báltico. Houve também invasões no Mediterrâneo e no leste do Mar Cáspio e há indícios que estiveram na costa do novo continente, fundando a efêmera colônia de Vinland, no atual Canadá.

A Era Viking

O Barco de Gokstad 

em exposição em Oslo, Noruega
O período compreendido entre as primeiras invasões registradas na década de 790 até a conquista normanda da Inglaterra, em 1066, é conhecido como a Era Viking da história escandinava. Supõe-se que os ataques aos povos que vivem ao redor do Mar Báltico tem uma história anterior. Eles são, porém, não bem conhecidos, devido à falta de fontes escritas a partir dessa área. Os normandos eram descendentes de vikings dinamarqueses e noruegueses a que foram dados suserania feudal de áreas no norte da França - o Ducado da Normandia - no século X. A este respeito, os descendentes dos vikings continuaram a ter influência no norte da Europa. Da mesma forma, o Rei Harold Godwinson, o último rei anglo-saxão da Inglaterra, tinha antepassados ​​dinamarqueses.

Geograficamente, a "Era Viking" pode ser atribuída não apenas às terras escandinavas (modernas Dinamarca, Noruega e Suécia), mas também aos territórios sob domínio norte-germânico, principalmente o Danelaw, incluindo o York escandinavo, o centro administrativo dos restos mortais do Reino da Nortúmbria, partes do Reino da Mércia e a Ânglia Oriental. Navegantes vikings abriram o caminho para novas terras ao norte, oeste e leste, o que resultou na fundação de colônias independentes em Shetland, Orkney, Ilhas Faroé, Islândia, Groenlândia, e L'Anse aux Meadows, uma colônia de vida curta na Terra Nova, por volta de 1000 d.C. Muitas dessas terras, especificamente, Groenlândia e Islândia, podem ter sido originalmente descoberta por marinheiros vikings. Os vikings também exploraram e se estabeleceram em territórios em áreas dominadas pelos eslavos da Europa Oriental, especialmente o Rus de Kiev. Por volta de 950 d.c. esses assentamentos foram amplamente "eslavizados".

Uma casa comunal viking reconstruída
Já em 839, quando emissários suecos os primeiros a visitar o Império Bizantino, escandinavos serviram como mercenários a serviço do Império Bizantino. No final do século, uma nova unidade da guarda imperial foi formada e tradicionalmente continha um grande número de escandinavos. Isso ficou conhecido como a Guarda Varegue. A palavra "Varegues" pode ter se originado do nórdico antigo, mas em línguas eslavas e gregas poderia se referir tanto a escandinavos quantos aos francos. O mais eminente escandinavo que serviu a Guarda Varegue foi Haroldo Manto Cinzento, que posteriormente estabeleceu-se como rei da Noruega (1047-1066).

Há evidências arqueológicas que os vikings chegaram à cidade de Bagdá, o centro do Império Islâmico. Os nórdicos regularmente dobravam o rio Volga com seus bens de comércio: peles, dentes e escravos. No entanto, eles eram muito menos bem sucedida na criação de assentamentos no Oriente Médio, devido ao poder islâmico mais centralizado.

De modo geral, os noruegueses se expandiram para o norte e oeste, em lugares como Irlanda, Escócia, Islândia e Groenlândia, os dinamarqueses para Inglaterra e França, estabelecendo-se em Danelaw (norte/leste da Inglaterra) e Normandia, e os suecos a leste, na fundação do Rus de Kiev, a Rússia original. No entanto, entre as runas suecas que mencionam expedições ao longo do mar, quase a metade referem-se a invasões e viagens para a Europa Ocidental. Além disso, de acordo com as sagas islandesas, muitos vikings noruegueses foram para a Europa Oriental. Essas nações, apesar de distintas, foram semelhantes na cultura e na língua. Os nomes dos reis escandinavos são conhecidos apenas após a Era Viking. Somente após o fim da Era Viking os reinos separados adquiriram identidades como nações, que passou de mão em mão com a sua cristianização. Assim, o fim da Era Viking para os escandinavos também marca o início da sua relativamente breve Idade Média.

Declínio

Após décadas de pilhagem, a resistência aos vikings tornou-se mais eficiente e, depois da introdução do Cristianismo na Escandinávia, tornou a cultura viking mais moderada. As incursões vikings cessaram no fim do século XI. A consolidação dos três reinos escandinavos (Noruega, Dinamarca e Suécia) em substituição das nações viking em meados do século XI deve ter influenciado também o fim dos ataques, visto que com eles os vikings passaram também a sofrer das intrigas políticas de que tanto se beneficiaram e muito da energia do rei estava dedicada a governar suas terras. A difusão do cristianismo fragilizou os valores guerreiros pagãos antigos, que acabaram sumindo. Os nórdicos foram absorvidos pelas culturas com as quais eles tinham se envolvido. Os ocupantes e conquistadores da Inglaterra viraram ingleses, os normandos viraram franceses e os Rus tornaram-se russos.

A escrita dos vikings era com runas, símbolos escritos em pedras, sendo usados até o período de cristianização que misturou as culturas e provocou alterações. Nessas misturas, muitas coisas da cultura cristã passaram para os vikings, mas algumas tradições e ideias da religião dos vikings passaram para os cristãos, colaborando para a aceitação do cristianismo pelos vikings. Alguns exemplos dessas cristianizações das coisas vikings, são, a “santificação” da festa da deusa Eostre – considerada por alguns, uma forma da deusa Frigg, esposa de Odin – cujos símbolos são coelhos e ovos e que originou os nomes da Páscoa no inglês e alemão, Easter (inglês) e Ostern (alemão, vindo de uma variação de seu nome, Ostera).

Na Rússia, os vikings eram conhecidos como varegues ou varegos (Väringar), e os guarda-costas escandinavos dos imperadores bizantinos eram conhecidos como guarda varegue. Outros nomes incluem nórdicos e normandos.

Mitologia e Religião

Eles tinham várias histórias para explicar coisas do cotidiano, como o sol e a lua, que acreditavam serem perseguidos pelos lobos Skoll e Hati, filhos de Fenrir (que segundo o ragnarok, devora Odin em batalha, morrendo em seguida); o sol seria uma deusa e a lua um deus, chamado Máni. O arco-íris, segundo eles, tinha uma ponte, denominada Bifrost, guardada pelo deus Heimdall. A Deusa-Sol passava todo dia com sua carruagem puxada pelos cavalos, Asvid e Arvak. Os deuses eram mais ou menos populares de acordo com a importância que tinham com o cotidiano. Alguns dos deuses mais venerados foram, Odin, Thor e Njord

A religião dos vikings costumava ter culto a ancestrais, além da veneração a deuses e transmitia ideias diferentes quanto a questões da vida e do mundo. Eles acreditavam que o mundo era dividido em "andares" e todos estavam unidos a uma enorme árvore, chamada, Yggdrasil. Estes "andares" eram diferentes e possuíam características especiais, sendo estes, nove. Havendo um mundo para os deuses, Asgard, e um mundo onde as pessoas vivem, midgard, além dos outros sete que são, Nilfheim, mundo abaixo de midgard, no subsolo, onde Hel governa os mortos. Outro mundo é Jotunheim, reino frio e montanhoso, onde os gigantes de rocha e neve (chamado de Jotuns) habitam e era governado por Thrym, gigante que roubou o Mjolnir de Thor para trocá-lo por Freya. Os outros mundos são, Vaneheim (casa dos Vanir), Muspellheim (casa dos gigantes de fogo, local cheio de cinzas e lava, cujo rei é o gigante Surt), Alfheim (onde os elfos moram), Svartaheim (onde os svartafars habitam, são conhecidos como elfos negros) e Nidavellir (é a terra dos anões). 

Esta religião não era baseada na luta entre o bem e o mal, mas entre a ordem e o caos, sendo que nenhum deus era tido como completamente bom nem mau, mesmo Loki sendo apresentado como provocador de conflitos, ele ajudou os deuses em diversas ocasiões. 

Os vikings valorizavam a morte e até a festejavam. Após a morte, havia ritos, como a queima do corpo do morto com vários pertences e após a queima, estes eram recolhidos e as cinzas, colocadas em potes de cerâmica. Outra forma usada após a morte era a criação de câmaras, onde o morto era colocado junto a vários pertences e até seus cavalos. Esta forma era mais usada na Dinamarca e na Ilha de Gotland. Há casos de enterros de navios, onde foram colocados rainha e princesa, junto a pertences e animais sacrificados, como, cães, cavalos e bois. Em outra câmara, foi encontrada uma mulher bem vestida, sendo esta rica e uma mal vestida retorcida, estudos confirmaram que esta era escrava e havia sido posta viva nesta câmara. No caso da morte de homens, era costume a sua mulher favorita ser enterrada viva junto a ele. O uso de barcos como túmulo, mostra poder e prestígio do morto e também simboliza a jornada pós-morte e tem ligação com a adoração a Njord.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Normandos

Os normandos foram um povo medieval estabelecido no norte da França, cuja aristocracia descendia em grande parte de Vikings da Escandinávia. Eles desempenharam um importante papel político, militar e cultural na parte norte e mediterrânea da Europa Medieval e Oriente Médio, por exemplo: a colonização da Normandia, a Conquista Normanda da Inglaterra, o estabelecimento de estados na Sicília e sul da península Itálica e as Cruzadas. Sua rica história originou várias lendas a seu respeito.

Os normandos na Inglaterra 

Em 911, o rei da França cedeu a um líder invasor viking, Rollo ou Hrolf, o ducado da Normandia, na esperança de que esses Vikings defendessem o país de novos ataques estrangeiros, fossem Vikings também ou não. Rollo aceitou o tratado e se instalou no território que em alguns anos de conquistas e anexações seria transformado na Normandia. Era usual que os vikings se casassem com mulheres francesas e dessem uma educação católica a seus filhos. Desse modo, já no ano 1000, os vikings normandos já deixavam de ser pagãos para se tornarem normandos cristãos e falantes do francês.

Em 1066, os normandos vencem a Batalha de Hastings, e com isso conquistam o trono inglês. A língua inglesa moderna surgiria da união entre os idiomas dos anglos e saxões com o francês trazido pelos normandos.

Em 1154, Henrique II marcou o fim do período normando na Inglaterra. Já no fim do século, nenhum normando ainda se considerava normando, nem mesmo na própria Normandia.

Durante a Revolução Francesa, a cultura normanda foi praticamente extinta, mas ainda existem vestígios desta cultura nas Ilhas do Canal.

Organização social

Ao se estabelecer no norte da França, o povo viking adotou o feudalismo como modelo sócio-econômico. Já denominados como normandos, esses implantaram o sistema feudal nos países que conquistavam. O binômio terra-proteção se enraizou na sociedade do povo normando.

A sociedade era composta por servos sem terra, vilões, aldeões, proprietários livres, cavaleiros, abades e abadessas, barões, bispos e rei.

As casas dos normandos indicavam qual sua posição na hierarquia social. O senhor da propriedade ou um comerciante rico tinha casa de pedras com vários quartos. Entretanto, os que não tinham meios para construir suas casas as faziam de palha, argila e madeira.

Castelos

Os castelos normandos tinham um objetivo bem definido. O rei Guilherme I ordenou a construção de castelos nos pontos mais importantes do país na medida em que era difícil a manutenção das conquistas territoriais. Os castelos eram localizados perto das cidades no intuito de evitar rebeliões. Se fosse necessário, centenas de casas poderiam ser demolidas para a construção dos castelos.

Vida na cidade

Na época áurea da dominação Normanda, as cidades tiveram alto crescimento populacional. Por exemplo, Londres, no fim do século XII, já possuía 20 mil habitantes. As cidades se formavam à medida que os senhores feudais conseguiam do rei o direito de ter mercados em seus domínios e isso foi um dos motivos pela qual o comércio se intensificou na Inglaterra e o feudalismo foi aos poucos deixado para trás. Quando isso acontecia, eles abriam ruas e estabelecimentos comerciais.

Nas cidades, as doenças eram ameaças constantes. O lixo, a água poluída e a ausência de sistema de esgoto eram problemas graves naquela época.

Os normandos no Mediterrâneo e na Itália meridional

Os normandos se estabeleceram com sucesso também longe da Normandia. Quase contemporaneamente à conquista daInglaterra, na segunda metade do século XI, grupos de normandos se dirigiram ao sul da península Itálica e península Ibérica (Roberto Burdet, a Tarragona), inicialmente como mercenários, motivados pela possibilidade que ofereciam as rebeliões anti-bizantinas na Apúlia.

Nessa época, a maior parte da Itália era dominada pelo Reino Lombardo, enquanto a Sicília estava dominada pelos árabes, lá chamados de sarracenos. Os mercenários normandos prestavam seus serviços para várias tarefas, como a proteção dos peregrinos que iam ou retornavam de Jerusalém ou a luta aos sarracenos. Desta maneira enriqueceram, constituindo-se em senhores territoriais (o primeiro foi o condado de Aversa com Rainulfo Drengot em 1030). Logo, para dar uma direção política, se aliaram à família dos Altavila (originalmente Hauteville) guiada por Guilherme Braço de Ferro (morto em 1046), que liderou uma mudança radical no domínio político-territorial do Mezzogiorno.

O Papa Leão IX, vendo seu Benevento ameaçado, tentou enfrentá-lo; mas o exército pontifício foi derrotado na Batalha de Civitate (1053), o Papa foi capturado, e assim Benevento permaneceu uma ilha pontifícia em terra normanda.

Em 1059, Roberto Guiscardo, dos Altavila, fez um pacto com o Papa Nicolau II, a Concordata de Melfi, com a qual se declarava formalmente seu vassalo, obtendo em troca os títulos (ainda somente nominais) de duque da Apúlia (que compreendia também a Basilicata) e da Calábria (que estava, porém, ainda em parte nas mãos dos bizantinos), parte da Campânia e Sicília (que estava, porém, em mãos dos árabes).

O reino normando da Sicília em 1112

Os normandos conseguiram rapidamente livrar o Sul da presença bizantina com repetidas expedições que se concluíra com a conquista, por Roberto Guiscardo da cidade de Régio da Calábria, onde ele confirmou o título de duque de Calábria. Os Altavilas assim puderam rapidamente dedicar-se à Sicília.

Rogério Bosso de Altavila, irmão de Roberto, no comando de um grupo de cavaleiros, em 1061, desembarcou em Messina e invadiu a ilha (então sob domínio árabe).

O avanço dos normandos continuou, com Rogério instalando-se, em 1064, no canto norte-oriental da Sicília e avançando a Cefalù e a Noto. Na Apúlia, Roberto prosseguiu a luta anti-bizantina, tomando Bridisi e Bari (1071).1

Em 1072 Rogério tomou Palermo, que foi escolhida capital1 . Em 1073, tomaram Amalfi e em 1077 Taormina e Salerno.1

Enquanto Boemundo I de Antioquia, filho da primeira esposa de Roberto, se tornava no fim de 1088 soberano incontestável do Principado de Taranto, Rogério I junto ao filho Rogério II, formavam o Reino da Sicília, criando assim na Itália um Estado de dimensões consideráveis: o reino normando da Sicília.

Rogério II, nomeado rei de Sicília e duque da Apúlia e da Calábria na catedral de Palermo, durante a noite de Natal de 1130, estendeu o domínio normando na Itália meridional com a conquista do Ducado de Nápoles (1137) e, com Assise di Ariano (1140), conferiu ao seu Reino uma organização feudal rigidamente hierárquica e estreitamente ligada à pessoa do soberano.

O domínio dos normandos na Itália meridional teve fim em 1194 (morte de Tancredo de Lecce) e em 1198, quando o imperador romano-germânico Henrique VI (morto em1197), em virtude de seu matrimônio com Constança de Altavila (morta em 1198), uniu à coroa imperial a de rei da Sicília.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Gauleses

O termo gauleses designa um conjunto de populações celtas que habitava a Gália, isto é, o território que corresponde hoje, grosso modo, à França, à Bélgica e à Itália setentrional proto-históricas, provavelmente a partir da Primeira Idade do Ferro (cerca de 800 a.C.). Os gauleses dividiam-se em diversas tribos ou povos, por vezes federados, cada um com cultura e tradições originais. Os arqueólogos ligam as civilizações gaulesas à civilização celta de La Tène (chamada assim a partir do nome do sítio descoberto no lago Neuchâtel, Suíça). 

A civilização de La Tène expandiu-se no continente na Segunda Idade do Ferro e desapareceu na Irlanda, durante a Idade Média. Os gauleses foram conquistados por Júlio César, nas Guerras da Gália e durante o período romano foram assimilados em uma cultura galo-romana. Durante a crise do terceiro século (século III), houve um breve Império das Gálias. Com a chegada dos francos, durante o período das migrações (século V), a língua gaulesa foi substituída pelo latim vulgar.

História 

No século III a.C., os gauleses invadiram a Grécia. Após passarem para a Ásia Menor, ocuparam uma região no interior que se chamou Galácia.

Independentes sem estarem unificados, os gauleses foram derrotados militarmente pela República Romana em duas etapas: o sul da Gália Transalpina foi conquistado pelos romanos e tornou-se a província romana da Gália Narbonense, em fins do século II a.C.

Já o norte da Gália (que Júlio César chamava Gália Comata) foi subjugado pelas legiões sob comando daquele general romano no período 58-51 a.C. O momento culminante da campanha foi a derrota da coalizão gaulesa chefiada pelo arverno Vercingetórix, em Alésia, em 52 a.C. Ao que parece, a pacificação completa dos gauleses não foi obtida senão durante o reinado de Augusto.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Francos

Expansão territorial dos francos entre 481 e 814.
Os francos formavam uma das tribos germânicas que adentraram o espaço do Império Romano a partir da Frísia como federatos e estabeleceram um reino duradouro na área que cobre a maior parte da França dos dias de hoje e na região da Francônia na Alemanha, formando a semente histórica de ambos esses países modernos.

O reino franco passou por várias partilhas e repartições, já que os francos dividiam sua propriedade entre os filhos sobreviventes, e como não tinham um senso amplo de uma república, conceberam o reino como uma grande extensão de uma propriedade privada. Essa prática explica em parte a dificuldade de descrever com precisão as datas e limites físicos de quaisquer um dos reinos francos e quem reinou sobre as várias seções. A retração da alfabetização enquanto os francos reinaram agrava o problema: eles produziram poucos registros escritos. Em essência, no entanto, duas dinastias de líderes sucederam uma a outra, primeiro os merovíngios e depois os carolíngios.

Etimologia

A palavra franco significava "livre" na língua frâncica. A liberdade não se estendia às mulheres ou à população de escravos que se instalou junto com os francos livres. Inicialmente havia duas subdivisões principais entre os francos: os francos sálios ("salgado") e os ripuários ("rio"). Por volta do século IX essa divisão havia se tornado virtualmente inexistente, mas continuou por algum tempo a ter implicações para o sistema legal sob o qual a pessoa poderia ser julgada.

Os primeiros francos 

A história dos primeiros francos permanece relativamente indistinta. Nossa principal fonte, o cronista galo-romano Gregório de Tours, cuja Historia Francorum (História dos francos) cobre todo o período até 594, cita outras fontes de resto perdidas como Sulpício Alexandre e Frigérido e se aproveita do contato pessoal de Gregório com muitos francos famosos. Além da História de Gregório há outras fontes romanas, tais como Amiano e Sidónio Apolinário.

Estudiosos modernos do período das migrações sugerem que o povo franco emergiu da unificação de vários grupos menores de germânicos (Usípetes, Tencteros, Sicambros e Brúcteros) habitando o vale do Reno e as terras imediatamente ao leste, um desenvolvimento social relacionado talvez à crescente desordem e revolta vivenciada na área como resultado da guerra entre Roma e os Marcomanos, que começou em 166, e os conflitos subsequentes do final do século II e o século III. Por sua vez, Gregório declara que os francos viveram originalmente na Panônia e mais tarde se estabeleceram nas margens do Reno. Uma região no nordeste da Holanda— norte da antiga fronteira do Império Romano — tem o nome de Salândia, e pode ter recebido esse nome dos sálios.

Por volta de 250, um grupo de francos, tomando vantagem do enfraquecimento do Império Romano, penetrou até Tarragona na Espanha atual, atormentando a região por cerca de uma década até ser subjugado e expulso por forças romanas. Cerca de quarenta anos mais tarde, os francos tiveram a região de Scheldt sob seu controle e interferiram com os canais para a Britânia; as forças romanas pacificaram a região, mas não expulsaram os francos.

Fundação do reino franco 

Em 355–358, o imperador Juliano novamente encontrou as linhas de navegação no Reno sob controle dos Francos e novamente os apaziguou. Roma concedeu uma parte considerável da Gália Belga aos francos. Dessa época em diante eles se tornaram federados do Império Romano. Uma região em linhas gerais correspondente a Flandres e à Holanda actuais ao sul dos rios permanece como de fala germânica até hoje (a língua germânica ocidental conhecida como neerlandesa). Os francos tornaram-se portanto os primeiros povos germânicos a estabelecer-se de maneira permanente no território romano.

Das suas terras centrais, os francos gradualmente conquistaram a maior parte da Roma gaulesa ao norte do vale do rio Loire e a leste da Aquitânia visigoda. De início eles ajudaram a proteger as fronteiras como aliados; quando uma grande invasão composta na sua maior parte de tribos germânicas orientais cruzou o Reno em 406, os francos lutaram contra esses invasores. A maior investida da invasão passou ao sul do rio Loire. (Na região de Paris, o controle romano persistiu até 486, uma década depois da queda dos imperadores de Ravena, em parte devido às alianças com os francos.)

Os merovíngios 

Os reinados dos primeiros chefes francos—Faramond (cerca de 419 até cerca de 427) e Clóvis (ou Clódio) (cerca de 427 até cerca de 447)—parecem ser mais mito do que factos, e sua relação com a dinastia merovíngia permanece incerta.

Clódio, mítico rei dos francos.
Gregório de Tours menciona Clóvis como o primeiro rei que começou a conquista da Gália tomando Camaraco (hoje Cambrai) e expandiu a fronteira até o rio Somme. Isso provavelmente levou algum tempo; Sidônio relata que Flávio Aécio surpreendeu os francos e os rechaçou (provavelmente por volta de 431). Esse período marca o início de uma situação que ia durar por muitos séculos: os francos germânicos se tornaram líderes sobre um número cada vez maior de subalternos galo-romanos.

Em 451, Aécio apelou para seus aliados germânicos em solo romano para o ajudar a repelir uma invasão dos hunos. Os francos sálios responderam ao chamado, os ripuários lutaram em ambos os lados visto que alguns deles viviam fora do império. As fontes de Gregório de maneira hesitante identificam Meroveu como rei dos francos e possivelmente um filho de Clóvis. A Meroveu sucedeu Childerico I, cujo túmulo foi encontrado em 1653 contendo um anel que o identificou como rei dos francos.

O filho de Childerico, Clóvis, participou de uma campanha que consolidou os vários reinos francos na Gália e na Renânia, que incluiu derrotar Siágrio em 486. Essa vitória encerrou o controle romano na região de Paris.

Na Batalha de Vouillé (507), Clóvis, com a ajuda dos burgúndios, derrotou os visigodos, expandindo seu reino em direção ao oeste até as montanhas dos Pirenéus.

A conversão de Clóvis ao catolicismo, depois do seu casamento com a princesa burgúndia Clotilde em 493, pode ter ajudado a aumentar sua posição aos olhos do Papa e outros reis cristãos ortodoxos. A conversão de Clóvis sinalizou a conversão do resto dos francos. Porque eles podiam prestar culto junto com seus vizinhos católicos, os francos recém-cristianizados tiveram uma aceitação muito mais fácil da população galo-romana local do que os arianos, visigodos, vândalos ou burgúndios. Osmerovíngios dessa forma construiram o que com o tempo se provou ser o mais estável dos reinos sucessores no oeste.

A estabilidade, no entanto, não figurou como parte do cotidiano da era merovíngia. Embora a violência casual existisse até certo ponto no final dos tempos romanos, a introdução da prática de feudo de sangue para obter justiça levou à perceção de um aumento do desrespeito à lei. Perturbações do comércio ocorreram, e a vida cívica se tornou cada vez mais difícil, o que levou a uma sociedade mais e mais localizada e fragmentada baseada em vilas auto-suficientes. O conhecimento da leitura e escrita praticamente desapareceu fora das igrejas e mosteiros.

Os chefes merovíngios aderiram à prática germânica de dividir a terra entre os seus filhos, e a divisão, reunificação e redivisão frequentes de territórios com frequência resultava no assassinato e guerra entre as famílias líderes. Então embora Clóvis tenha expulsado os visigodos da Gália, na ocasião de sua morte, em 511, seus quatro filhos dividiram o reino entre eles, e pelos dois séculos seguintes seus descendentes compartilharam a posição de rei

A área franca se expandiu ainda mais sob os filhos de Clóvis, com o tempo cobrindo a maior parte da França atual, mas incluindo áreas a leste do rio Reno também, como a Alâmania (hoje sudoeste da Alemanha) e Turíngia (a partir de 531). A Saxônia, no entanto, permaneceu fora do reino franco até ser conquistada por Carlos Magno séculos mais tarde.

Depois da reunificação temporária dos reinos separados sob Clotário I, as terras francas foram divididas novamente em 561 em Nêustria, Austrásia, e Borgonha, que haviam sido absorvidas pelos reinos francos por meio de uma combinação de casamentos políticos e força dos exércitos.

Em cada reino franco o mordomo do palácio servia como superintendente do estado. Uma série de mortes prematuras começando com a de Dagoberto I em 639 levou a uma série de reis menores de idade. Por volta do virar do século VIII, isso permitiu aos mordomos austrasianos consolidar o poder em sua própria regência hereditária, estabelecendo a fundação para uma nova dinastia: seus descendentes, os Carolíngios.

Os carolíngios 

O reinado dos carolíngios começa tradicionalmente com a deposição do último rei merovíngio, com consentimento papal, e ascensão em 751 de Pepino, o Breve, pai de Carlos Magno.

Pepino reinou como um rei eleito. Embora tais eleições ocorressem raramente, uma regra geral da lei germânica declarava que o rei dependia do apoio de homens líderes. Esses homens reservavam o direito de escolher um novo líder se eles sentissem que o velho não podia liderá-los numa batalha proveitosa. Embora mais tarde na França o reinado tenha se tornado hereditário, os reis do Sacro Império Romano-Germânico provaram-se incapazes de abolir a tradição eleitoral e continuaram como reis eleitos até o término formal do império em 1806.

Pepino solidificou sua posição em 754 ao entrar numa aliança com o Papa Estêvão III, que apresentou ao rei dos francos uma cópia da forjada "doação de Constantino" em Paris e numa magnífica cerimônia na Basílica de Saint-Denis ungiu o rei e sua família e os declarou patricius Romanorum ("protetores dos romanos"). No ano seguinte, Pepino cumpriu sua promessa ao papa e recuperou o Exarcado de Ravena, que havia caído recentemente nas mãos dos lombardos, e o devolveu, não para o imperador bizantino de novo, mas para o papado. Pepino doou as áreas reconquistadas em volta de Roma para o Papa, traçando a fundação para os estados papais na "doação de Pepino" que ele colocou sobre o túmulo de São Pedro. O papado teve bons motivos para esperar que a monarquia franca refeita iria prover uma base de poder deferente (potestas) na criação de uma nova ordem mundial, centrada no Papa.

Com a morte de Pepino em 768, seus filhos Carlos e Carlomano, mais uma vez dividiram o reino entre si. No entanto, Carlomano retirou-se para um mosteiro e morreu pouco depois, deixando o reino todo para seu irmão, que mais tarde se tornou conhecido como Carlos Magno (em alemão Karl, der Große, em francês Charlemagne), uma figura poderosa, inteligente e modestamente letrada que se tornou uma lenda para história posterior tanto da França quanto da Alemanha. Carlos Magno restaurou uma balança de igualdade entre o imperador e o papa.

Carlos Magno.
De 772 em diante, Carlos Magno derrotou os saxões, anexando seu território ao reino franco. Esta campanha transformou a conversão forçada de povos vizinhos em prática comum entre governantes cristãos não-romanos. Missionários católicos de origem franca, junto com outros da Irlanda e Inglaterra anglo-saxã, entraram em terras saxãs desde meados do século VIII, aumentando os conflitos com os Saxões que resistiam aos esforços missionários e incursões militares. O principal adversário de Carlos Magno pelo lado saxão, Widukind, aceitou o batismo em 785 como parte de um acordo de paz, porém outros líderes saxões continuaram a resistir. Com sua vitória em Verden no ano de 787, Carlos ordenou o extermínio de milhares de prisioneiros saxões pagãos. Depois de diversas revoltas, os saxões sofreram sua derrota definitiva em 804. Isso ampliou o domínio Franco em direção ao leste até o rio Elba, feito que o Império Romano tentou apenas uma vez, sendo derrotado na Batalha da Floresta de Teutoburgo (9 a.C.). Para melhor cristianizar os saxões, Carlos fundou diversas dioceses, entre as quais a de Bremen, Munique, Paderborn, e Osnabrück.

Em 788, Tassilo, duque da Baviera rebelou-se contra Carlos que esmagou a revolta e incorporou a Baviera ao seu reino. Isso não apenas ampliou a sua influência como reduziu drasticamente o poder dos Agilolfingos (família de Tassilo), outro clã importante entre os Francos e potenciais rivais. Até 796, Carlos continuou a expandir seu reinado na direção do sudoeste, chegando a atual Áustria e partes da Croácia.

Carlos estabeleceu um domínio que ia dos Pirenéus a sudoeste (depois de 795 incluiu uma área do Norte da península Ibérica, a chamada Marca Hispânica), incluía quase toda a França de hoje (mas não a Bretanha) e avançava para o leste sobre quase todo o território da moderna Alemanha, incluindo o norte da península Itálica e o que hoje é a Áustria. Na hierarquia da Igreja, bispos e abades procuravam apoio no palácio real. Carlos emergia como o grande líder da cristandade ocidental.

Papa Leão III
coroando Carlos Magno.
No dia do Natal, em 800, o Papa Leão III coroou Carlos como "imperador dos romanos" em Roma numa cerimônia apresentada como se fosse uma surpresa (Carlos Magno não desejava ficar em dívida com o bispo de Roma), um jogada papal adicional numa série de gestos simbólicos que vinham definindo os papéis mútuos da auctoritas papal e da potestas imperial. Embora Carlos Magno, em respeito ao ultraje bizantino, preferiu o título "Imperador, rei dos francos e dos lombardos", a cerimônia reconheceu formalmente o império franco como sucessor do romano (ocidental) (embora apenas a "doação" forjada dava ao papa autoridade política para fazer isso). Depois de um protesto inicial quanto a usurpação, em 812, o imperador bizantino Miguel I Rangabe reconheceu Carlos Magno como co-imperador. A coroação deu a legitimidade a primazia carolíngia entre os francos. Os otonianos mais tarde ressuscitaram essa conexão em 962.

Com a morte de Carlos Magno em 28 de janeiro de 814 em Aachen, ele foi enterrado em sua própria Capela do Palácio em Aachen.

Herdeiros de Carlos Magno

Carlos Magno teve vários filhos, mas apenas um sobreviveu a ele. Esse filho, Luís o Pio, sucedeu ao pai como governante de um império unido. Mas herança total permaneceu uma questão de acaso, em vez de intenção. Quando Luís morreu em 840, os carolíngios aderiram ao costume de partilhar a herança, e o Tratado de Verdun em 843 dividiu o império em três:

O filho sobrevivente mais velho de Luís, Lotário I se tornou imperador e governante dos francos centrais. Seus três filhos por sua vez dividiram esse reino entre eles emLotaríngia, Borgonha e Itália (do norte). Essas áreas iriam mais tarde desaparecer como reinos separados.

O segundo filho de Luís, Luís, o Germano, se tornou rei dos francos orientais. Essa área formou o núcleo do mais tarde Sacro Império Romano-Germânico, que eventualmente evoluiu para se tornar a Alemanha moderna. Para uma lista de sucessores, veja a lista de monarcas da Alemanha.

Seu terceiro filho Carlos, o Calvo se tornou rei dos francos ocidentais; essa área se tornou a fundação da França. Para seus sucessores, veja a lista de monarcas da França.

Legado

Embora tenha sido um acidente histórico, a unificação da maior parte do que é agora a Europa Ocidental e Central sob um único soberano proporcionou um terreno fértil para a continuação do que é agora conhecido como a Renascença carolíngia. Apesar das mortíferas campanhas militares quase constantes que o império carolíngio suportou, a extensão do reino franco e do cristianismo romano sob uma área tão grande proporcionou a unidade fundamental por todo o império. Cada parte do império carolíngio desenvolveu-se de forma diferente; o governo e cultura franca dependiam muito dos regentes individuais e seus objetivos. Esses objetivos mudaram de maneira tão fácil quanto as mutáveis alianças políticas entre as famílias líderes francas. No entanto, essas famílias, incluindo os carolíngios, todas compartilhavam das mesmas crenças e ideias de governo básicas. Essas ideias e crenças tinham suas raízes em antecedentes que se baseavam tanto na tradição romana quanto na germânica, uma tradição que começou antes da ascensão carolíngia e continuou até certo ponto mesmo depois da morte de Luís, o Pio e seus filhos.

Com a morte de Carlos Magno, em 814 d.C., o poder imperial franco foi perdendo aos poucos, o que havia conseguido de centralização governamental. Luís o Piedoso, o único dos três filhos de Carlos Magno que sobreviveu à morte do pai, governou por 26 anos, sofrendo forte intervenção da Igreja. A sucessão de seu governo foi marcada por sérios conflitos políticos entre seus filhos. Os conflitos só cessariam em 843 com a assinatura do Tratado de Verdun, que dividiu o antigo Império Carolíngio (que um dia fora tão grande quanto o Império Bizantino) entre os três netos de Carlos Magno.

A divisão do império levou também a uma divisão do poder, em que a antiga figura do rei tinha cada vez menos importância. O poder e a autoridade sobre os francos, neste novo mundo dividido, passaria a ser exercido muito mais pelos senhores feudais nas diferentes partes do antigo império, do que por um poder governamental central. Nesse processo, a partir de 870, a parte norte da Lotaríngia foi anexada aos territórios correspondentes a França e à Germânia, a parte sul subdividiu-se nas mãos de nobres que assumiram o poder local. Já na Germânia, o predomínio carolíngio encerrou-se em 911, quando o duque da saxônia assumiu o poder. Finalmente o território da atual França, a dinastia carolíngia foi derrubada por Hugo Capeto, o conde de Paris, em 987.

Na realidade, o território franco não era uma unidade, mas uma pluralidade de condados mantidos e controlados pela autoridade real. A prática de ceder terras e privilégios políticos aos nobres, em troca de serviços, resultava em um enfraquecimento do poder do soberano. Assim, a unidade atingida pelo império era mais simbólica do que política ou administrativa.

Dinastia capetiana e cruzadas

São Luís, na
Biblioteca Nacional de
França.
É difícil estabelecer quando os povos da França deixaram de se denominar "francos" para a forma "franceses" atual. Até ao século XIII, os reis da dinastia capetiana de França continuar-se-iam a intitular rex Francorum (rei dos Francos). O termo rex Franciæ (rei de França) surgiria em um documento de 1204 no reinado de Filipe II de França e a sua utilização foi gradual, mas seria só o neto deste, São Luís, que alteraria o título oficial do monarca para rei de França.

Do mesmo modo, habitantes do reino da França e dos antigos territórios do Império Carolíngio continuaram a intitular-se de francos. No início da dinastia capetiana, grande parte da atual França apenas reconhecia uma suserania nominal ao rei, que não tinha poder efetivo sob os senhores feudais seus súbditos. Estas populações intitulavam-se burgúndios (do Ducado da Borgonha), normandos (do Ducado da Normandia), aquitânios (do Ducado da Aquitânia), ou angevinos (do Condado de Anjou), por exemplo.

Os estados cruzados no Levante.

Com o advento da Primeira Cruzada no final do século XI, Hugo I de Vermandois, irmão do rei Filipe I de França, comandou um contingente de cruzados dos domínios capetianos. Outros contingentes incluíam os lorenos de Godofredo de Bulhão, bolonheses de Eustácio III e Balduíno de Bolonha, provençais de Raimundo IV de Toulouse.

Do mesmo modo que a metade da Cruzada Popular liderada por Pedro o Eremita e Gualtério Sem-Haveres, estes cruzados poderiam intitular-se francos, como exemplificam as crónicas cruzadas "Historia Francorum qui ceperint Iherusalem" e "Dei gesta per Francos".

Devido às conquistas cruzadas no Levante, criaram-se quatro estados cruzados. O Reino de Jerusalém e o Condado de Edessa foram dominados por dinastias descendentes do Condado de Bolonha, o Condado de Trípoli pelo Condado de Tolosa, e o Principado de Antioquia por normandos do sul da Itália. Com a exceção deste último, estes peregrinos colonos chamavam-se a si próprios francos.

Deste modo, os povos do oriente (muçulmanos, bizantinos e arménios) chamavam todos cruzados ocidentais pelo etnónimo de francos (al-Faranj ou franj em árabe, farangi em persa, Frenk em turco, Feringhi em hindustano, Frangos em grego, ou Falangji em chinês).

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Vandalos

Saque de Roma pelos Vândalos em 455.
Entalhe e policromia em aço 
de Heinrich Leutemann (c. 1860–1880)
Os Vândalos eram uma tribo germânica oriental que penetrou no Império Romano durante o século V e criou um estado no norte da África ocupando a cidade de Cartago, antiga cidade fenícia que fora ocupada pelos romanos desde o fim das Guerras Púnicas. A localização de Cartago às margens do Mediterrâneo era estratégica para os Vândalos. Ali centralizaram seu Estado, e logo após se estabelecerem, saquearam Roma no ano de 455, destruindo muitas obras primas de arte que se perderam para sempre.

Origem 

Os vândalos foram identificados com a cultura Przeworsk no século III. Controvérsias envolvem as potenciais conexões entre os vândalos e outra possivelmente tribo germânica, os Lugii (lygier, lugier ou lígios). Alguns acadêmicos acreditam que ou Lugii era um antigo nome dos vândalos ou os vândalos eram parte da confederação lígia.

A similaridade de nomes sugere como terras natais para os vândalos na Noruega (Hallingdal), Suécia (Vendel) e Dinamarca (Vendsyssel). Supõe-se que os vândalos cruzaram o Báltico entrando nos territórios da atual Polônia em algum momento do século II a.C., e se fixaram na Silésia por volta de 120 a.C.. Tácito registrou a presença dos vândalos entre os rios Oder e Vístula na Germania no ano de 98, corroborado por historiadores posteriores. De acordo com Jordanes, eles e os rúgios foram deslocados com a chegada dos godos. Esta tradição apoia a identificação dos vândalos com a cultura Przeworsk, e desde então a cultura Wielbark gótica substituiu um braço daquela cultura.

Na Idade Média, havia uma crença popular de que os vândalos eram ancestrais dos poloneses. Essa crença teve origem provavelmente devido a dois fatores: o primeiro, por se confundir os vênedos com os vândalos, e o segundo, porque tanto vândalos como vênedos nos tempos antigos viviam nas áreas depois ocupadas pelos poloneses. Em 796, nos Annales Alamanici, pode-se encontrar um resumo dizendo: "Pipinus ... perrexit in regionem Wandalorum, et ipsi Wandali venerunt obvium" ("Pepino partiu à região dos vândalos, e os vândalos não se opuseram a ele"). Nos Annales Sangallenses, a mesma incursão (contudo, datada em 795) é resumida em uma pequena mensagem, "Wandali conquisiti sunt" ("Os vândalos foram conquistados"). Isto significa que os escritores do início da Idade Média deram o nome de vândalos aos ávaros.

Os vândalos se subdividiam nos silingos e nos asdingos. Os silingos viviam na região conhecida por séculos como Magna Germania, na atual Silésia. No século II, os asdingos, liderados pelos reis Raus e Rapt (ou Rhaus e Raptus), deslocaram-se para o sul, e atacaram inicialmente os romanos na região do baixo Danúbio, depois entraram num acordo de paz e se estabeleceram a oeste na Dácia (Romênia) e na Hungria romana.

Em 400 ou 401, possivelmente por causa dos ataques dos hunos, os vândalos juntos com seus aliados, (os alanos sármatas e os suevos germânicos), iniciaram o deslocamento para oeste sob o comando do rei Godgisel. Alguns dos silingos se juntaram a eles depois.

Introdução no Império Romano

Em 400 ou 401, possivelmente por causa de ataques dos Hunos, os vândalos, sob o rei Godigisel, junto com aliados (Sármatas, Alanos e Suevos germânicos) mudaram-se para o oeste no território romano. Alguns dos silingos se juntaram a eles mais tarde. Os Vândalos invadiram a província romana da Récia no inverno de 401/402. A partir disso, o historiador Peter Heather conclui que neste momento os vândalos estavam localizados na região em torno do Danúbio Médio e Superior.

Gália

Os vândalos viajaram para oeste margeando o Danúbio, mas quando eles alcançaram o Reno, encontraram a resistência dos francos, que habitavam e controlavam as possessões romanas no norte da Gália. Cerca de 20.000 vândalos, inclusive o rei Godigisel, morreram na batalha com os francos, mas com a ajuda dos alanos eles conseguiram derrotar os francos, e em 31 de Dezembro de 406, os vândalos cruzaram o Reno para invadir a Gália. Sob o comando do filho de Godgisel, Gunderico, os vândalos pilharam e saquearam seu caminho para oeste e para o sul através da Aquitânia.

Peínsula Ibérica

Em outubro de 409, os vândalos cruzaram os Pirenéus penetrando na península Ibérica. Lá eles receberam terras dos romanos, como federados, na Galécia (a noroeste) os asdingos, e os Silingos na Bética (no sul), enquanto os Alanos receberam terras na Lusitânia (a oeste) e na região em torno de Nova Cartago. Os vândalos asdingos foram derrotados pelos suevos e romanos nos montes "nervasi". Gunderico e o seu exército fogem para a Bética, perseguidos pelos romanos, onde Gunderico se tornou rei dos Vândalos Silingos. Ainda, os suevos, que também controlaram parte da Galécia, e os visigodos, que invadiram a Ibéria antes, receberam terras na Septimânia (sul da França), esmagando os Alanos, dos quais os sobreviventes saudaram Gunderico como seu rei.

Reino no Norte da África

O meio irmão de Gunderico, Genserico, começou construindo uma esquadra naval vândala. Em 429, depois de se tornar rei, Genserico cruzou o estreito de Gibraltar e se deslocou a leste com o objetivo secreto de tomar Cartago, a antiga e poderosa cidade fenícia que estava sob controle de Roma desde o fim das Guerras púnicas. Em 435, os romanos haviam lhes concedido alguns territórios no norte da África, mas em 439, Genserico levou a cabo seu plano e ocupou Cartago, que sem resistência caiu ante os vândalos. Genserico então transformou o reino dos vândalos e alanos num estado poderoso. A capital oficial do novo estado era Saldae, atual Bejaia, no norte da Argélia, mas o centro de suas operações era a recém conquistada Cartago, que localizada às margens do Mediterrâneo levou a conquista da Sicília, da Sardenha, da Córsega e das Ilhas Baleares pelos Vândalos.

Consolidação

Como resultado do saque de Roma e à pilhagem no Mediterrâneo, tornou-se importante para o Império Romano destruir o reino vândalo. Tanto o império Ocidental (em 460) quanto o Oriental (em 468) enviaram frotas contra os vândalos. Os vândalos capturaram a frota ocidental e destruiu a Oriental usando navios de fogo. Após o ataque, os vândalos tentaram invadir Peloponeso, mas foram rechaçados pelos maniotas em Cenípolis com pesadas perdas. Em retaliação, os vândalos tomaram 500 reféns em Zaquintos, os cortaram e jogaram seus pedaços no mar a caminho de Cartago.

Em 470, os romanos abandonaram sua política de guerra contra os vândalos. O general do império ocidental Ricimero chegou a um acordo com eles, e em 476 Genserico foi capaz de concluir uma "paz perpétua", com Constantinopla. As relações entre os dois estados assumiram uma aparência de normalidade. De 477 em diante, os vândalos produziram sua própria moeda, restrito às moedas de baixa denominação feitas de bronze e prata. O dinheiro imperial de alta denominação foi mantido, demonstrando, nas palavras do historiador Merril "relutância em usurpar a prerrogativa imperial".

Embora os vândalos tinham rechaçado ataques de romanos e assim conquistando hegemonia sobre as ilhas do Mediterrâneo ocidental, eles foram menos bem sucedidos em seu conflito com os Berberes. Situados ao sul do reino vândalo, os berberes infligiram duas grandes derrotas nos vândalos no período de 496-530.

Saque de Roma 

Em 455, os vândalos tomaram Roma e saquearam a cidade por duas semanas, começando em 2 de Junho. Os vândalos deram à cidade um tratamento muito ais brutal do que os visigodos haviam feito, ligando seu nome ao conceito total de destruição sem objetivo. Quando embarcaram de volta para Cartago, depois de 14 dias de saque, levaram consigo séculos de tesouros acumulados, tais como o candelabro de ouro saqueado de Jerusalém, e milhares de prisioneiros, inclusive a viúva e as filhas de Valenciano. 

Tensões religiosas

Por volta do ano de 400, os vândalos já haviam sido cristianizados. Muitos, como os godos já o haviam feito, adotaram o Arianismo, uma corrente que negava a Santíssima Trindade, em oposição à principal corrente do Cristianismo do Império Romano.

As diferenças de visão entre os arianos adotada pelos vândalos e a principal corrente eram uma constante fonte de tensões no estado africano. A maioria dos reis vândalos, exceto Hilderico, perseguiu os católicos trinitários, assim como os seguidores do donatismo, outra corrente cristã. Embora o catolicismo fosse raramente proibido oficialmente (com os últimos meses do reinado de Hunerico sendo uma exceção), eles eram proibidos de fazer conversões entre os vândalos.

Declínio

Com a morte de Genserico em 477, seu filho Hunerico se tornou rei. O reinado de Hunerico foi mais notável por suas perseguições religiosas contra os maniqueístas e os católicos. Guntamundo (486-496) buscou a paz interna com os católicos. No campo externo, o poder vândalo havia declinado desde a morte de Genserico e Guntarmundo perdeu grandes partes da Sicília para os ostrogodos, sendo obrigado a se opor à crescente pressão dos mouros.

Os vândalos aliaram-se por casamento com os godos no reinado de Teodorico, o Grande, rei dos ostrogodos e regente dos visigodos.

Hilderico (523-530) foi o mais amistoso dos reis vândalos em relação aos católicos. Contudo, ele tinha pouco interesse na guerra, deixando esse assunto para um membro da sua família, Hoamer. Quando Hoamer sofreu uma derrota contra os mouros, a facção ariana dentro da família real liderou uma revolta, e Gelimero (530-533) se tornou rei. Hilderico, Hoamer e seus parentes foram mandados à prisão.

Fim turbulento 

O imperador bizantino Justiniano I declarou guerra aos vândalos. A ação foi liderada por Belisário. Tendo ouvido que a maior parte da frota vândala estava em combate numa revolta na Sardenha, ele desembarcou em solo tunisiano e avançou em direção de Cartago. No final do verão de 533, o rei Gelimero encontrou Belisário a dezesseis quilômetros ao sul de Cartago na Batalha de Cartago. Os vândalos estavam vencendo a batalha, mas quando o sobrinho de Gelimero, Gibamundo, caiu na batalha, os vândalos desistiram e fugiram. Belisário tomou Cartago enquanto os vândalos sobreviventes ainda lutavam.

Em 15 de dezembro de 533, Gelimero e Belisário novamente se enfrentaram em Tricamaro, a cerca de 32 quilômetros ao sul de Cartago. Novamente, os vândalos estavam vencendo mas falharam, desta vez quando Tzazo, o irmão de Gelimero, caiu na batalha. Belisário avançou para Hipona (atual Annaba, na Argélia), segunda cidade em importância do reino vândalo. Em 534 Gelimero se rendeu ao conquistador romano, pondo fim ao reino dos vândalos.

Legado

O termo "vandalismo" como sinônimo de espírito de destruição foi cunhado no final do século XVIII, em janeiro de 1794, por Henri Grégoire, bispo constitucional de Blois; ele cunhou o termo e o tornou comum através de uma série de relatórios para a Convenção, denunciando a destruição de artefatos culturais como monumentos, pinturas, livros que estavam sendo destruídos como símbolo de um ódio ao passado de "feudalismo", "tirania da realeza" e "preconceito religioso", durante o Reino do Terror. Em seu livro Memoirs, ele escreveu: "Inventei a palavra para abolir o ato".