domingo, 30 de setembro de 2012

Bartolomeu Dias

Estátua de Bartolomeu Dias
 na Cidade do Cabo.
Bartolomeu Dias (1420 - 29 de maio de 1500) foi um navegador português que ficou célebre por ter sido o primeiro europeu a navegar para além do extremo sul da África, "dobrando" o Cabo da Boa Esperança e chegando ao oceano Índico a partir do Atlântico.

Dele não se conhecem os antepassados, mas mercês e armas a ele outorgadas passaram a seus descendentes. Seu irmão foi Diogo Dias, também experiente navegador. Sobre a sua família sabe-se apenas que um parente, Dinis Dias, na década de 1440, teria comandado expedições marítimas ao longo da costa do Norte da África, tendo visitado as ilhas de Cabo Verde.

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Vlad III, o Empalador - de Romênia

Vlad III, Príncipe da Valáquia (1431 – 1476), comumente conhecido como Vlad, o Empalador, foi príncipe (voivoda) da Valáquia por três vezes, governando a região em 1448, de 1456 a 1462 e em 1476.

Historicamente, Vlad é mais conhecido por sua política de independência em relação ao Império Otomano, cujo expansionismo sofreu sua resistência, e pelas punições excessivamente cruéis que impunha aos seus prisioneiros. É lembrado por toda a região como um cavaleiro cristão que lutou contra o expansionismo islâmico na Europa, e é um herói popular na Romênia e na Moldávia ainda hoje.

Ao mesmo tempo em que Vlad III se tornou famoso por seu sadismo e sendo taxado de louco, era respeitado pelos seus cidadãos como guerreiro, pela sua ferocidade contra os turcos e como governante que não tolerava o crime entre os seus subordinados. Durante o seu reinado, ergueu grandes mosteiros.

Fora da Romênia, o voivoda é célebre pelas atrocidades contra os seus inimigos, que teriam sido a inspiração para o conde Drácula, vampiro de Drácula, romance de 1897 do escritor irlandês Bram Stoker.

Após a invasão da Valáquia pela Hungria, em 1447 Vlad II e seu filho mais velho, Mircea, foram assassinados. Em 1456 Vlad Țepeș regressou à região e retomou o controle das terras, assumindo novamente o trono de Valáquia. Este retorno tardio de Vlad III teria confundido os moradores da região, que pensaram ser Vlad II retornando anos após a sua morte. Isso teria ajudado a criar a lenda de sua imortalidade.

Em 1462, Vlad Țepeș perdeu o trono para o seu irmão Radu, aliado dos turcos. Preso na Hungria até 1474, Vlad III morreu dois anos depois, ainda tentando recuperar o trono de Valáquia.

Vlad III foi exilado das suas terras por um breve período em 1448, de 1456 a 1462 e por duas semanas no ano de sua morte em 1476.

Nomes

Seu sobrenome romeno, Draculea, usado para designar Vlad em diversos documentos, significa "filho do dragão", uma referência a seu pai, VladDracul, que recebeu este apelido de seus súditos após ter se juntado à Ordem do Dragão uma ordem religiosa criada pelo sacro imperador romano-germânico Sigismundo no ano de 1431. Dracul, que vem do latim draco ("dragão"), significa "diabo" no romeno atual.

Seu apelido "Empalador" teve origem em seu hábito de matar os inimigos por meio do empalamento, um método de tortura e execução que consistia na inserção de uma estaca pelo ânus, vagina, ou umbigo até a morte do torturado. A vítima, atravessada pela estaca, era deixada para morrer sentido dores terríveis, agravadas pela sensação de sede.  

Antigos reis de Valáquia

Valáquia
O trono de Valáquia era hereditário, mas, não seguia a primogenitura. Os nobres tinham o direito de escolher entre os membros da família real quem seria o sucessor. A família real dos Basarab, fundada por Bassarabe I (1310 - 1352), dividiu-se por volta do final do século XIV . Os dois clãs resultantes, rivais entre si, foram formados pelos descendentes do Voivoda Dan I e pelos descendentes do Voivoda Mircea I, também conhecido como Mircea, o Velho (avô de Vlad III).

Infância e adolescência

Vlad nasceu em 1431 na Transilvânia. Naquela época, o pai de Draculea, Vlad II, estava exilado na Transilvânia. Vlad Dracul estava tentando conseguir apoio para seu plano de destronar o príncipe regente da Valáquia, do Clã Danesti, Alexandru I. A casa onde Draculea nasceu ainda está de pé nos dias de hoje. Em 1431 estava localizada numa próspera vizinhança cercada pelas casas de mercadores saxões e magiares, e pelas casas dos nobres (Nota: essas casas geralmente eram utilizadas quando os nobres ficavam na cidade, pois, os nobres moravam no campo).

Sabe-se pouco sobre os primeiros anos da vida de Draculea. É sabido que ele teve um irmão mais velho chamado Mircea e um irmão mais novo chamado Radu. Sua educação primária foi deixada nas mãos de sua mãe, uma nobre da Transilvânia, e de sua família. Sua educação real começou quando, em 1436, seu pai conseguiu clamar para si o trono valaquiano, matando seu príncipe rival do Clã Danesti, Alexandru I. Seu treinamento foi o típico dado para os filhos da Nobreza pela Europa. Seu primeiro tutor no aprendizado para a Cavalaria foi dado por um guerreiro que lutou sob a bandeira de Enguerrand de Courcy na Batalha de Nicópolis contra os Turcos. Draculea aprendeu tudo o que era demandado a um Cavaleiro Cristão sobre guerra e paz.

Ascensão de Vlad Dracul ao trono (1436-1442)

A situação política na Valáquia continuou instável depois de Vlad Dracul ascender ao trono em 1436. O poder dos Turcos estava crescendo rapidamente enquanto cada um dos pequenos estados dos Bálcãs se rendia ao massacre dos Otomanos. Ao mesmo tempo, o poder da Hungria estava atingindo seu apogeu e o faria durante o tempo de João Corvino(Hunyadi János), o Cavaleiro Branco da Hungria, e seu filho, o rei Matias Corvino. Qualquer príncipe da Valáquia teria que balancear suas políticas precariamente entre esses dois poderosos países vizinhos. O príncipe da Valáquia era oficialmente um subordinado ao rei da Hungria. Também Vlad Dracul era um membro da Ordem do Dragão, tendo jurado lutar contra os infiéis. Ao mesmo tempo, o poder dos Otomanos parecia não poder ser detido. Mesmo no tempo do pai de Vlad II, Mircea I, a Valáquia era forçada a pagar tributo ao Sultão. Vlad foi forçado a renovar esse tributo e de 1436 - 1442 tentou estabelecer um equilíbrio entre seus poderosos vizinhos.

Vlad Ţepeş

Em 1442 Vlad tentou permanecer neutro quando os turcos invadiram a Transilvânia. Os Turcos foram vencidos e os vingativos húngaros, sob o comando de João Corvino forçaram Dracul e sua família a fugir da Valáquia. Corvino colocou um Danesti, Basarab II, no trono valaquiano. Em 1443 Vlad II retomou o trono da Valáquia com suporte dos Turcos, desde que ele assinasse um novo tratado com o Sultão que incluiria não apenas o costumeiro tributo, além de outros favores. Em 1444, para assegurar ao sultão de sua boa fé, Vlad mandou seus dois filhos mais novos para Adrianopla como reféns. Draculea permaneceu refém em Adrianopla até 1448.

A batalha de Varna

Em 1444 o rei da Hungria, Ladislau V, o Póstumo, quebrou a paz e enviou o exército de Varna sob o comando de João Corvino (Hunyadi János) num esforço para manter os turcos longe da Europa. Corvino ordenou que Vlad II cumprisse seus deveres como membro da Ordem do Dragão e súdito da Hungria e se juntasse à cruzada contra os Turcos. O Papa absolveu Dracul do compromisso Turco, mas, como político, ainda queria alguma coisa. Ao invés de se unir às forças cristãs pessoalmente ele mandou seu filho mais velho, Mircea. Talvez ele esperasse que o sultão poupasse seus filhos mais novos se ele pessoalmente não se juntasse à cruzada.

Os resultados da Batalha de Varna são bem conhecidos. O exército cristão foi completamente destruído nela. João Corvino conseguiu escapar da batalha sob condições que acrescentaram pouca glória à reputação dos Cavaleiros Brancos. Muitos, aparentemente incluindo Mircea e seu pai, culparam Corvino pela covardia. Deste momento em diante João Corvino foi amargamente hostil em relação a Vlad Dracul e seu filho mais velho. Em 1447 Vlad Dracul foi assassinado juntamente com seu filho Mircea. Aparentemente Mircea foi enterrado vivo pelos burgueses e mercadores de Targoviste. Corvino colocou seu próprio candidato, um membro do clã Danesti, no trono da Valáquia.

Ascensão de Vlad Ţepeş ao trono (1448)

Em 1448 Draculea conseguiu assumir o trono valaquiano com o apoio turco. Porém, em dois meses Corvino forçou Draculea a entregar o trono e fugir para seu primo, o príncipe da Moldávia, enquanto Corvino mais uma vez colocava Vladislav II no trono valaquiano.

Draculea permaneceu em exílio na Moldavia por três anos, até que o príncipe Bogdan II da Moldávia foi assassinado em 1451. O tumulto resultante na Moldávia forçou Draculea a fugir para a Transilvânia e buscar proteção com o inimigo da sua família, Corvino. O tempo era ideal; o fantoche de Corvino no trono valaquiano, Vladislov II, instituiu uma política a favor da Turquia, e Corvino precisava de um homem mais confiável na Valáquia. Consequentemente, Corvino aceitou a aliança com o filho de seu velho inimigo e colocou-o como candidato da Hungria para o trono da Valáquia. Draculea se tornou súdito de Corvino e recebeu os antigos ducados da Transilvânia de seu pai, Faragas e Almas. Draculea permaneceu na Transilvânia, sob a proteção de Corvino, até 1456 esperando por uma oportunidade de retomar Valáquia de seu rival.

Em 1453 o mundo cristão se chocou com a queda final da Constantinopla para os Otomanos. O Império Romano do Leste que existiu desde o tempo de Constantino, o Grande e que por mil anos protegeu o resto dos cristãos dos muçulmanos desapareceu para sempre. Hunyiadi imediatamente planeou outro ataque contra os Turcos.

Vlad Ţepeş retorna ao trono (1456-1462)

Em 1456 Corvino invadiu a Sérvia turca enquanto Draculea simultaneamente invadiu a Valáquia. Na Batalha de Belgrado, Corvino foi morto e seu exército vencido. Enquanto isso, Draculea conseguiu sucesso em matar Vladislav II e tomando o trono da Valáquia, mas a derrota de Corvino tornou a sua proteção por parte deste questionável. Por um tempo ao menos Draculea foi forçado a apoiar os Turcos enquanto solidificava sua posição.

Xilogravura representando
Vlad III o Empalador durante
um empalamento em massa.
O reinado principal de Draculea se estendeu de 1456 a 1462. Sua capital era a cidade de Tirgoviste enquanto seu castelo foi erguido a uma certa distância nas montanhas perto do rio Arges.

A maior parte das atrocidades associadas ao nome de Draculea tomaram lugar durantes esses anos. Foi também durante esse tempo que ele lançou seu próprio ataque contra os Turcos. Seu ataque foi relativamente bem sucedido inicialmente. Suas habilidades como guerreiro e sua bem conhecida crueldade fizeram dele um inimigo temido. Entretanto, ele recebeu pouco apoio do seu senhor feudal, Matthius Corvinus, Rei da Hungria (filho de João Corvino) e os recursos valaquianos eram muito limitados para alcançar algum sucesso contra o conquistador da Constantinopla.

Vlad Tepes aprisionado (1462-1474)

Os Turcos finalmente foram bem sucedidos em forçar Vlad a fugir para a Transilvânia em 1462. Foi reportado que a primeira esposa de Vlad cometeu suicídio pulando das torres do castelo de Vlad para as águas do rio Arges ao invés de se render aos Turcos. Draculea fugiu pelas montanhas em direção à Transilvânia e apelou para Matias Corvino, rei da Hungria, por ajuda. Ao invés disso, o rei prendeu-o e aprisionou-o numa torre por 12 anos.

Aparentemente o seu aprisionamento não foi nem um pouco oneroso. Ele foi capaz de gradualmente ganhar as graças da monarquia húngara; tanto que ele conseguiu casar-se e tornar-se um membro da família real (algumas fontes clamam que a segunda esposa de Vlad era na verdade a irmã de Matias Corvino). A política a favor dos Turcos do irmão de Vlad, Radu o Belo, que foi o príncipe da Valáquia durante a maior parte do tempo em que Vlad esteve prisioneiro, provavelmente foi um fator importante na reabilitação de Vlad. Durante o seu aprisionamento também renunciou à fé ortodoxa e adotou a fé católica. É interessante notar que a narrativa russa dessas histórias, normalmente favoráveis a Vlad, indicavam que mesmo durante a sua prisão Vlad não desistiu de seu passatempo preferido: ele costumava capturar pássaros e ratos que ele torturava e mutilava - alguns eram decapitados, esfolados e soltos, e muitos eram empalados em pequenas lanças.

Vlad Tepes volta ao trono valaquiano, pela última vez (1476) 

Castelo de Bran, antiga
residência de VladIII
O tempo exato do momento de captura de Draculea é aberto para debates. Os panfletos russos indicam que ele foi prisioneiro de 1462 até 1474. Entretanto, durante esse tempo Draculea se casou com um membro da família real húngara e teve dois filhos que já tinham por volta de dez anos quando ele reconquistou a Valáquia em 1476. McNally e Florescu colocaram que o período de confinação de Draculea foi de 1462 a 1466. É pouco provável que um prisioneiro poderia se casar com um membro da família real. Correspondência diplomática durante o período em questão também parece apoiar a teoria de que o período real do confinamento de Draculea foi relativamente pequeno.

Aparentemente, nos anos entre sua libertação em 1474, quando ele começou as preparações para a reconquista da Valáquia, Draculea viveu com sua nova esposa na capital húngara. Uma anedota daquele período conta que um capitão húngaro seguiu um ladrão dentro da casa de Draculea. Quando Draculea descobriu os intrusos ele matou o capitão ao invés do ladrão. Quando Draculea foi questionado sobre suas atitudes pelo rei ele respondeu que um cavalheiro não se apresenta a um grande governante sem as corretas introduções - se o capitão tivesse seguido a etiqueta não teria sofrido a ira do príncipe.

Em 1476 Dracula mais uma vez estava pronto para atacar. Draculea e o príncipe István Báthory invadiram a Valáquia com uma força mista de transilvanianos, alguns burgueses valaquianos insatisfeitos e um contingente de moldávios enviados pelo primo de Draculea, Príncipe Estêvão , o Grande da Moldávia. O irmão de Draculea, Radu, o Belo, havia morrido alguns anos antes e substituído por um candidato ao trono apoiado pelos Turcos, Bassarabe, o Velho, membro do clã Danesti. Enquanto o exército de Draculea se aproximava, Basarab e sua corte fugiram, alguns buscando proteção dos Turcos, outros para os abrigos das montanhas. Depois de colocarem Draculea de volta ao trono, Stephan Bathory e as outras forças de Draculea voltaram à Transilvânia, deixando a posição tática de Draculea muito enfraquecida. Draculea teve muito pouco tempo para ganhar apoio antes de um grande exército turco invadisse a Valáquia determinado a devolver o trono a Basarab. Ao que tudo indica, mesmo os plebeus, cansados das depredações do empalador, abandonaram-no à sua própria sorte. Draculea foi forçado a lutar contra os Turcos com pequenas forças à sua disposição, algo em torno de menos de quatro mil homens.

Morte

Draculea foi morto em batalha contra os turcos perto da pequena cidade de Bucareste em dezembro de 1476. Algumas fontes indicam que ele foi assassinado por burgueses valaquianos desleais quando ele estava prestes a varrer os Turcos do campo de batalha. Outras fontes dizem que Draculea caiu vencido rodeado pelos corpos dos leais guarda-costas (as tropas cedidas pelo Príncipe István da Moldávia permaneceram com Draculea mesmo após István Báthory ter voltado à Transilvânia). Outra versão é a de que Draculea foi morto acidentalmente por um de seus próprios homens no momento da vitória.

O corpo de Draculea foi decapitado pelos Turcos e sua cabeça enviada à Constantinopla, onde o Sultão a manteve em exposição em uma estaca como prova de que o Empalador estava morto. Ele foi enterrado em Snagov, uma ilha-monastério localizada perto de Bucareste. Em 1931, quando arqueólogos escavaram o túmulo, não encontraram nada, apenas ossos de animais, o que contribuiu para o mistério.

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Filipe II, de Espanha

Filipe II, pintado por 
Ticiano Vecellio
D. Filipe II de Espanha (21 de maio de 1527 — 13 de setembro de 1598) foi rei de Espanha, a partir de 1556, e rei de Portugal, como D. Filipe I, a partir de 1580. Foi o primeiro líder mundial a estender seus domínios sobre uma área direta "onde o sol jamais se punha", superando portanto Ghengis Khan, até então o homem mais poderoso de todos os tempos. Os extremos do seu império foram denominados em sua homenagem desde o extremo leste das Américas (Filipéia) ao sudeste insular asiático (Filipinas); do Atlântico Centro-Ocidental ao Pacífico Centro-Ocidental passando por todas as longitudes do oceano Índico.

Reinado

Filho do Imperador do Sacro Império Romano Germânico e rei das Espanhas Carlos V de Habsburgo e de Isabel de Portugal, governou um vasto território integrado por Aragão, Castela, Catalunha, ilhas Canárias, Maiorca, Navarra, Galiza e Valência,Rossilhão, Franco-Condado, Países Baixos, Sardenha, Córsega, Sicília, Milão, Nápoles, além de territórios ultramarinos na África(Orão, Túnis, e outros), na América e na Ásia (Filipinas). Em termos de política externa, sua mais significativa vitória sucedeu contra os turcos otomanos: a Batalha de Lepanto, em 1571.

Regência e coroação

Nomeado regente da Espanha, com um Conselho, por Carlos V, em Bruxelas em 22 de outubro de 1555, Carlos V lhe cedeu os Países Baixos, as coroas de Castela, Aragão e Sicília em 16 de janeiro de 1556, e o condado da Borgonha em 10 de junho. A coroa imperial foi herdada por seu tio Fernando, irmão de Carlos V.

Devotado ao catolicismo, defendeu a Fé e se dedicou a interromper o progresso do protestantismo, e tais duas idéias são chave para entender todo seu reinado, pois se dedicou a ambas por meio do absolutismo. Seu reinado começou com a quebra pela França do Tratado de Vaucelles assinado com a França em 1556, à qual se uniu ao Papa Paulo IV contra ele. Filipe teve portanto que enfrentar duas guerras ao mesmo tempo, na Itália e nos Países Baixos. Na Itália, o duque de Alba, Vice-Rei de Nápoles, derrotou o duque de Guise e obrigou o Papa a pedir paz. Filipe a concedeu, magnanimamente, e o duque de Alba foi obrigado a pedir o perdão do Papa por ter invadido os Estados Pontifícios.

Na Espanha, Filipe prosseguiu a política de seus bisavôs, Fernando de Aragão e Isabel de Castela. Foi drástico na supressão da heresia luterana, sobretudo em Valhadolid e Sevilha.

Durante o seu reinado ocorreu uma sangrenta rebelião mourisca, no antigo Reino de Granada de 1567 a 1570 que terminou Dom João de Áustria, bastardo de Carlos V de Habsburgo. Os mouriscos, vencidos, foram deportados para outras partes da Espanha.

Apreciação

Em 25 de Julho de 1554, tornou-se rei por seu casamento com Maria I de Inglaterra. Na verdade, a função política que ele passou a exercer na Inglaterra a partir de então é algo um tanto controverso, pois, embora seja conhecido como Rei consorte da Inglaterra, ele tinha os mesmos títulos e recebia as mesmas honras que sua esposa, além de os atos parlamentares constarem sempre com os nomes de ambos e as moedas serem cunhadas com as cabeças de ambos. Isso caracterizaria uma diarquia e, por conseguinte, faria dele um Rei de Inglaterra, e não apenas um rei consorte, que seria tão somente marido de uma rainha. 

O projeto de união pessoal dos dois países falhou com a morte de Maria em 1558, antes de ter tido um herdeiro. Em guerra contra a França, com quem lutava pelo controle de Nápoles e de Milão e seus territórios, obteve vitórias nas batalhas de Saint Quentin (1557) e Gravelines (1558). Depois assinou o Tratado de Cateau-Cambresis (3 de abril de 1559). Filipe, que estivera retido nos Países Baixos, pôde viajar para a Espanha. 

El Escorial
Por mais de 40 anos, residiu alternadamente em Madrid, que transformou na capital do reino, e em vilegiaturas, das quais o mais famoso é o mosteiro de El Escorial, construído em cumprimento de um voto feito antes da batalha de Saint Quentin.

Parte do processo de pacificação passou pelo seu casamento com Isabel de Valois (1545-1568), filha de Henrique II de França, que fora prometida a Carlos, filho do primeiro casamento com Maria Manuela. Isabel deu-lhe apenas duas filhas, permanecendo o rei sem descendentes masculinos. Seria apenas com o seu quarto casamento, com Ana, filha de Maximiliano II da Germânia, que nasceria o herdeiro ao trono, Filipe III de Espanha.

Apesar da vitória diante dos berberiscos em Malta em 1565, a hostilidade com os turcos persistia. Seu irmão bastardo, D. João da Áustria, comandando uma frota, obteve uma grande vitória, embora não definitiva, na batalha naval de Lepanto em 1571.

A Coroa de Portugal

Um dos seus triunfos políticos foi obter a união ibérica, fazendo valer seus direitos de sucessão em 1581 nas Cortes de Tomar. A política matrimonial prévia das dinastias reinantes facilitara esta união.

Filipe não procurou intervir na política interna de Portugal e entregou o governo do país a um homem de sua confiança, o Duque de Alba. Além de ser filho de mãe portuguesa, Filipe fora educado por cortesões portugueses nos primeiros anos de vida. Filipe, em 9 de dezembro de 1580, atravessou a fronteira, entrou em Elvas, onde se demorou dois meses recebendo os cumprimentos dos novos súditos. Dos primeiros que o veio saudar foi o duque de Bragança. A 23 de fevereiro de 1581 Filipe II saiu de Elvas, atravessou triunfante e demoradamente o país, e a 16 de março de 1581 entrou em Tomar, para onde convocara cortes. 

Distribuiu recompensas, ordenou suplícios e confiscos, e recebeu a noticia de que todas as colónias haviam reconhecido a sua soberania, exceptuando a Ilha Terceira, em Açores, onde se arvorara a bandeira do prior do Crato, ali jurado rei de Portugal a 16 de abril de 1581. Nas cortes, prometeu respeitar os foros e as isenções e nunca dar para governador ao país senão um português ou um membro da família real. Expediu de Lisboa tropas que subjugaram a ilha Terceira, em que D. António fora auxiliado pela França, e partiu para Espanha depois da vitória naval de Vila Franca, em que o Marquês de Santa Cruz destroçou a esquadra francesa em 26 de julho de 1582, obtendo a submissão da ilha.

Os Países Baixos e Outros Problemas

Filipe II não conseguiu solucionar o conflito político-religioso nos Países Baixos pois nenhum de seus governadores conseguiu mitigar a sublevação dos Estados Gerais.

Filipe II tinha entregue o governo a sua tia, Margarida de Parma, mas os nobres, sem influência, se uniram em conspirações. Protestavam contra a presença de milhares de soldados da Espanha, contra a influência do Cardeal de Granvelle sobre a regente, contra a severidade dos decretos de Carlos V contra a heresia. Filipe chamou de volta o exército e o Cardeal, mas se recusou a diminuir a severidade dos decretos do pai e declarou não querer reinar sobre uma nação de heréticos. 

Surgiram as dificuldades com os iconoclastas, e ele jurou castigá-los, enviando o Duque de Alba com um exército, o que provocou a demissão de Margarida de Parma. Alba se comportou como em país conquistado, mandou prender e executar o conde de Egmont e o conde de Hornes, acusados de cúmplices dos rebeldes, criou o Conselho de Perturbações, conhecido popularmente como Conselho do Sangue, derrotou o Príncipe de Orange e seu irmão, que haviam invadido o país com mercenários alemães, mas não conseguiu evitar a recaptura de Brille. Teve êxitos militares, mas foi chamado de volta em 1573. Seu sucessor, Requesens, não pode recuperar Leyden.

Influenciadas pelo Príncipe de Orange, as províncias concluíram a "Pacificação de Gante", regulamentando a situação religiosa nos Países Baixos do Sul sem intervenção real. O novo governador, Dom João de Áustria, atrapalhou os cálculos de Orange ao aceitar a Pacificação, e finalmente o Príncipe de Orange resolveu proclamar a deposição do rei Filipe pelas províncias rebeladas. O rei replicou, mandando banir o Príncipe, o qual pouco depois foi assassinado, em 1584. Nem assim as Províncias Unidas se submeteram, e a Espanha as perdeu para sempre. Os numerosos interesses econômicos e religiosos levaram às guerras que causaram a emancipação da Holanda, da Zelândia e do restante das Províncias Unidas.

As províncias do sul foram recuperadas pelo novo governador, Alessandro Farnese, Príncipe de Parma (?-1592). A guerra aos rebeldes se tornou mais difícil, pois os liderava o general Maurício, príncipe de Orange, filho de Guilherme de Orange. Filipe II mudou sua política e cedeu os Países Baixos a sua filha Isabel Clara Eugênia, que fez casar com o arquiduque Alberto da Áustria, determinando que as províncias retornariam à Espanha caso não houvesse descendentes do casamento (1598).

Invencível Armada

Com relação à Inglaterra, a Espanha perdeu a esquadra recentemente construída, chamada de Invencível Armada (1588), golpe do qual não se recuperaria. Mas a luta dos dois países pelo controle marítimo terminou com essa derrota da "Invincible Fleet" capitaneada pelo duque de Medina-Sidonia.

Absolutismo e a Idade do Ouro

Exemplo de monarca absolutista, o governo de Filipe II foi exercido com o recurso de Conselheiros e de Secretários Reais, baseados em uma administração centralizada, marcada por um rigoroso fiscalismo. Completou a obra unificadora começada pelos Reis Católicos. Afastou a nobreza dos assuntos de Estado, entregando postos a secretários reais oriundos das classes médias, deu forma definitiva ao sistema de Conselhos, codificou leis, realizou censos de população e riqueza econômica e impôs prerrogativas à Igreja. No plano religioso, recorreu à Inquisição contra o protestantismo em seus domínios. 

Foi sua a idade de ouro. Entre a descoberta e a decadência passou-se um pouco mais de um século (para George Ticknor, o historiador literário norte-americano que criou, em 1849, a expressão "Idade do Ouro" para as letras espanholas, esse período se estenderia de 1492 até 1665). A prata e o ouro mexicano e peruano, as essências indianas vindas da conquista das Américas e das rotas orientais, contribuíram para que a arte espanhola atingisse um nível extraordinário.

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Iva IV, o Terrível - de Rússia

Ivã IV, o Terrível
Ivã IV (25 de Agosto de 1530 - 18 de Março de 1584 (calendário juliano) ou 28 de março de 1584 (calendário gregoriano), conhecido como Ivã, o Terrível, foi um Grão-Príncipe da Moscóvia entre 1533 e 1547 e Czar da Rússia de 1547 até sua morte. Seu longo reinado viu as conquistas do Canato de Cazã, Canato de Astracã e Canato da Sibéria, transformando a Rússia num estado multiétnico e multi-religioso abrangendo quase um bilhão de hectares. Ivan conquistou o progresso do Estado, transformando uma sociedade medieval num império e emergente potência regional, além de se tornar o primeiro a ser coroado como Czar de todas as Rússias.

Diversas fontes históricas descrevem a personalidade de Ivã como complexa, sendo descrito como inteligente e piedoso, com acessos de raiva e surtos esporádicos de transtornos mentais. Num desses ataques assassinou seu herdeiro ao trono, Ivã Ivanovich. Tal fato transmitiu o czarismo para o filho mais novo de Ivã, Teodoro I, com deficiência mental. Ivã IV deixou um legado multifacetado: foi um hábil diplomata, patrono das artes e comércio, fundador da Moscow Print Yard, líder muito popular entre as pessoas comuns da Rússia, mas também lembrado por sua paranoia e indiscutivelmente por seu tratamento rígido com a nobreza.

Infância

Quando se trata de tiranos insanos, Ivã, o Terrível, é o padrão contra o qual todos os outros são medidos. Era irascível, supersticioso e inconstante, e poucos de seu círculo íntimo sobreviveram a ele. Com a morte do pai, em 1533, Ivã tornou-se o czar da Rússia, com a idade de 3 anos, e passou os dez anos seguintes como um peão dos boiardos, isto é, dos nobres. Durante sua infância, vários confidentes íntimos seus foram espancados até a morte, esfolados vivos, aprisionados e deixados morrer de fome por facções rivais de nobres. Sua mãe foi envenenada. O próprio Ivã permaneceu reservado e indefeso, divertindo-se em torturar cachorros e gatos. Finalmente, o menino de 13 anos proclamou sua autoridade e lançou o boiardo mais graduado, o príncipe Andrei Shuisky, a uma matilha de cães de caça famintos.

Casamento

Durante algum tempo, o casamento de Ivã com Anastasia Romanov acalmou seu comportamento inconstante, e seu governo esclarecido trouxe paz e prosperidade ao país pela primeira vez em muitos anos. Então, quando Anastasia morreu, Ivã ficou completamente louco. Acusou os boiardos de terem envenenado sua amada esposa, e muitos foram mortos como vingança, em sessões de tortura lenta e imaginativa.

Pintura de Ilya Repin
retratando Ivan IV
abraçando seu filho,
morto num ataque de raiva.
Entre algumas de suas mais notáveis monstruosidades, ele matou uma de suas esposas quando descobriu que ela lhe mentira sobre sua virgindade. Em 1581, Ivan bateu em sua nora grávida por usar roupas indecentes, fato que poderia ter causado o aborto. Seu filho primogênito, também chamado Ivan, ao saber disso, envolveu-se num desentendimento violento com o pai. Num acesso de raiva Ivan IV golpeou seu filho na cabeça com um mastro pontiagudo, causando a morte de seu filho. Uma vez acusou a cidade de Novgorod de traição e começou a eliminar sistematicamente seus habitantes, dia após dia, semana após semana, dando especialmente atenção a muitas dessas mortes, mas então mudou de ideia a meio caminho, e simplesmente se retirou da cidade. 

A certa altura de seu reinado, ficou cansado de governar e arranjou para ser acolhido num monastério, mas ninguém acreditou nesse ato, e, de qualquer forma, ele logo mudou de ideia. Deu poder a uma classe especial de bandidos, os oprichniks, para matar, estuprar ou roubar com absoluta impunidade. 

Oprichnina

Os anos 1560, a Rússia foi devastada por uma combinação de seca e fome, ataques polaco-lituanos, invasões tártaras e o bloqueio marítimo-comercial dos suecos, poloneses e da Liga Hanseática. Sua primeira esposa, Anastasia Romanovna, morreu em 1560, por suspeita de envenenamento. Esta tragédia pessoal afetou profundamente a personalidade de Ivan, magoando-o muito, se não sua saúde mental. Paralelamente, um dos conselheiros de Ivan, o príncipe Andrei Kurbsky desertou para os lituanos, e assumiu o comando das tropas lituanas, devastando a região russa de Velikiye Luki. A série de traições fez com que Ivan suspeitasse da nobreza paranoicamente. 

Em 3 de dezembro de 1564, Ivan partiu de Moscou para Alexandrov, Vladimir Oblast. De lá, enviou duas cartas onde anunciava a sua abdicação alegando apropriação indébita e traição da aristocracia e do clero. O tribunal boiardo foi incapaz de governar por temer a ira dos cidadãos moscovitas. Um enviado boiardo partiu para Aleksandrova para implorar o retorno de Ivan. Ivan concordou em voltar na condição de Monarquia absoluta. Ele exigiu o poder de executar e confiscar os bens de traidores, sem interferências do conselho boiardo ou da igreja. Diante disso, Ivan decretou a criação da Opríchnina.  

Território russo sob domínio da
Opríchnina entre 1565 e 1572
A Opríchnina consistia de um território independente dentro das fronteiras da Rússia, principalmente ao norte, na República de Novgorod. Ivan detinha o poder exclusivo sobe a Opríchnina. Ivan também recrutou uma guarda pessoal denominada Oprichniks, originalmente composta de mil homens. As oprichniks eram chefiadas por Malyuta Skuratov, e um notável oprichnik era o aventureiro alemão Heinrich von Staden. Os oprichnik gozavam de privilégios sociais e econômicos sob a oprichnina, pois deviam sua fidelidade a Ivan, e não à hereditariedade ou títulos locais.  

A primeira onda de perseguições teve principal alvo aos clãs principescos da Rússia, nomeadamente as famílias influentes de Suzdal’. Ivan executou, exilou ou tonsurou à força proeminentes membros dos clãs boiardos sobre acusações questionáveis de conspiração. Entre os membros foram executados Philip II, de Moscou e o proeminente senhor da guerra Alexander Gorbatyi-Shuisky. Em 1566, Ivan estendeu a Oprichnina para oito distritos centrais. Dos 12 000 nobres, 570 tornaram-se oprichniks e os demais foram expulsos. 

Sob o novo sistema político, os Oprichnik receberam grandes propriedades, tomando praticamente todos os camponeses que possuíam e forçando-os a pagar em um ano tudo quanto deviam em dez anos. Tal grau de opressão resultou num aumento da fuga de camponeses, que por sua vez conduziu a uma queda na produção global. 

Saque a Novgorod 

As condições na Oprichnina foram agravadas pela peste de 1570 que matou cerca de 10 mil pessoas em Novgorod. Em Moscou matou entre 600 e 1000 diariamente. Durante estas condições de epidemia, bem como a fome e a guerra da Livônia em curso, Ivan começou a suspeitar de que os nobres da rica cidade de Novgorod estavam planejando esta falha, colocando a cidade no controle do Grão-Ducado da Lituânia. Em 1570 Ivan ordenou a Oprichnik a invasão da cidade. Os Oprichnik queimaram e saquearam a cidade e aldeias circundantes, de tal modo que a cidade nunca mais recuperou a antiga importância. 

A Oprichnina não durou muito tempo após o saque. Os oprichniks não conseguiram provarem-se dignos contra um exército regular durante a guerra da Crimeia de 1571-1572. Ivan aboliu a Oprichnina em 1572, executando seus líderes e indo tão longe ao ponto de negar que a organização jamais tivesse existido.  

Conquista de Kazan e Astrakhan

Enquanto Ivan IV era criança, os exércitos do Canato de Cazã invadiram repetidamente o nordeste da Rússia. Na década de 1530, o cã da Crimeia formou uma aliança ofensiva com Safa Giray, do cã Cazã, seu dependente. Quando Safa Giray invadiu a Moscávia em dezembro de 1540, os russos usaram tártaros do Catanato de Qasim para contê-los. Safa Giray foi barrado em Murom e foi forçado a retirar-se para suas próprias fronteiras. 

Esses reveses minaram a autoridade de Giray em Kazan. Um partido pró-russia, representado por Shahghali, ganhou apoio popular suficiente para tentar assumir o trono Kazan. Em 1545, Ivan montou uma expedição ao rio Volga para mostrar seu apoio às facções pró-russia. 

Logo em 1551, o czar enviou seus emissários ao encontro da Horda Nogai prometendo manter a neutralidade durante a guerra iminente. Logo os Udmurtes também se submeteram a autoridade russa. Em 1551, a fortaleza de madeira Sviyazhsk foi transportada pelo rio Volga de Uglitch para Kazan. O forte foi usado pelos russos como palácio das armas durante a campanha decisiva em 1552. 

Catedral de São Basílio
Em 16 de junho de 1552 Ivan levou um forte exército composto de 150 mil homens para Kazan. Ele encorajava seu exército com o exemplo da Rainha Tamara I, descrevendo-a como: "A rainha mais sábia da Ibéria, dotada da inteligência e coragem dos homens." O último cerco a capital tártara foi iniciado em 30 de agosto. Sob a supervisão do príncipe Alexander Gorbatyi-Shuisky, os russos usaram aríetes, torres de cerco, minas e 150 canhões. Os russos também contavam com a vantagem de possuírem eficientes engenheiros militares. O abastecimento de água da cidade foi cortado e seus muros foram violados. Kazan, caiu em 2 de outubro. Suas fortificações foram destruídas e uma grande parte da população massacrada. Entre 60 e 100 mil prisioneiros russos e escravos foram libertados. O czar comemorou sua vitória sobre Kazan construindo várias igrejas com características orientais, dentre elas a mais famosa é a Catedral de São Basílio, na Praça Vermelha de Moscou. 

A queda de Kazan teve como principal efeito a pura e simples anexação do Volga Médio. Os Bashkires aceitaram a autoridade de Ivan IV dois anos depois. Em 1556 Ivan destruiu o maior mercado de escravos do rio Volga e anexou o Canato de Astracã. Estas conquistas complicaram as migrações das agressivas hordas nômades da Ásia para a Europa através do Volga. Como resultado das campanhas em Kazan, a Moscóvia foi transformada num estado multinacional e multi-religioso. 

Guerra russo-turca  

O Casus belli foi o Canato de Astracã recém-conquistado por Ivan, que possuía uma importante fortaleza construída sob colina íngreme com vista para o Volga, a fortaleza Sarkel. Em 1568 o grão-vizir Sokollu Mehmed Pasha, verdadeiro poder no governo do Império Otomano do Sultão Selim, iniciou a primeira batalha com seu futuro rival do norte. Um plano de juntar os rios Volga e Don foi traçado em Constantinopla e no verão de 1569 uma grande força com 1500 janízaros, 2 mil Sipahis e milhares de Azaps e Akıncıs, sob comando de Kasim Pasha, começou o cerco ao canal, à medida que a frota otomana rapidamente sitiava Azov.  

No início de 1570, após perderem seu forte sobre o rio Terek, os embaixadores de Ivan concluíram um tratado em Constantinopla que permitia o acesso dos comerciantes muçulmanos através de Astrakhan e que restabeleceu relações amistosas entre o sultão e o czar. 

Guerra da Livônia

Na tentativa de obter o acesso das suas principais rotas comerciais ao Mar Báltico, Ivan fez uma última tentativa de expansão em direção ao mar sem sucesso, após 24 anos de guerra na Livônia, lutando contra suecos, lituanos, poloneses e a Ordem Teutónica da Livônia. Havendo rejeitado as propostas de paz de seus inimigos, Ivan IV encontrou-se numa posição difícil em 1579. Muitos refugiados foram deportados, além dos efeitos das epidemias e seca que causaram muitas perdas de vidas. 

Ao todo, a guerra prolongada quase destruiu a economia moscovita, além das Oprichninas que quase destruíram o governo russo. Ao mesmo tempo o Grão-Ducado da Lituânia uniu forças com o Reino da Polônia através da União de Lublin gerando a República das Duas Nações, que adquiriu um líder energético, Estêvão Báthory, que foi apoiado pelo inimigo do sul, o Império Otomano. Logo, o reino de Ivan IV foi comprimido por duas das maiores potências da época. 

Após o fracasso das negociações de Ivan, Batory lançou uma série de ofensivas contra a Moscóvia nas campanhas de 1579-1581, tentando roubar o Reino da Livônia dos territórios moscovitas. Durante sua primeira ofensiva, em 1579, Batory retomou Polotsk com 22 mil homens. Na segunda, em 1580, tomou Velikiye Luki com 29 mil. Finalmente, começou o cerco a Pskov em 1581 com um exército de 100 mil homens. Narva na Estônia foi conquistada pela Suécia em 1581. 

Ao contrário da Suécia e Polônia, a Dinamarca sob o reinado de Frederico II teve dificuldades em manter a luta contra a Moscóvia. Frederico chegou a um acordo com João III da Suécia, transferindo os títulos dinamarqueses e livonianos a ele. A Moscóvia reconheceu o controle polaco-lituano da Livonia apenas em 1582. Em 1583, após a morte de Magno da Dinamarca, irmão de Frederico II, a Polônia invadiu seus territórios no Ducado da Curlândia e Semigália e Frederico decidiu vender seus direitos de herança. Assim, com exceção da ilha de Saaremaa a Dinamarca ficou fora da região Báltica até 1585. 

Guerra Russo-Crimeia

Nos anos finais do reinado de Ivan, as fronteiras meridionais da Moscóvia foram agitadas pelo avanço tártaro da Crimeia. O cã Devlet I Giray da Crimeia atacou repetidas vezes a região de Moscou. Em 1571, o exército de 40 mil Criméios e Turcos avançaram em larga escala. Devido contínua guerra da Livônia, Moscou contava com menos de 6 mil defensores, o que não poderia atrasar o avanço tártaro. Sem resistência, Devlet devastou cidades e aldeias desprotegidas ao redor de Moscou, além de atear fogo à cidade.  

Para adquirir a paz, Ivan foi forçado a renunciar seus direitos sobre Astrakhan em favor do Canato da Crimeia. Tal fato irritou Ivan IV, que deu novas ordens e preparou seu reinado entre 1571 e 1572. Além da fortificação de Zasechnaya cherta outras novas fortalezas foram criadas além do rio Oka, assim redefinindo a fronteira. 

No ano seguinte, Devlet lançou um novo ataque a Moscou, dessa vez com mais de 120 000 homens equipados por canhões e reforçados por janízaros. Em 26 de julho de 1572 a horda atravessou o rio Oka, proximo a Serpukhov destruindo a vanguarda russa de 200 homens nobres e avançando em direção a Moscou. 

O exército russo, líderado pelo Príncepe Mikhail Vorotynsky, possuía metade do tamanho, estima-se entre 60 e 70 mil homens, no entanto, era formado pelos experientes Streltsys, equipados com armas de fogo modernas e Gulyay-gorod. Em 30 de julho, as duas forças entraram em confronto nas proximidades do Rio Lopasnya, onde aconteceu a Batalha de Molodi, que continuou por mais uma semana. O resultado foi uma decisiva vitória russa. A horda crimeia foi dizimada tão completamente que o sultão otomano e o cã da Crimeia, seu vassalo, tiveram que desistir de seus planos ambiciosos de expansão para o norte da Rússia. 

A conquista da Sibéria 

Durante o reinado de Ivan, a Rússia começou a exploração e colonização em larga escala da Sibéria. Em 1555, após a conquista de Kazan, o Cã Yadegar e Nogai declararam sua lealdade a Ivan, na esperança de uma futura ajuda contra seus oponentes. No entanto Yadegar não conseguiu reunir a soma total de tributos prometidos ao czar, logo, Ivan não salvou seu vassalo ineficiente. Em 1563 Yadegar foi derrotado pelo cã Kuchum, e este último negou qualquer tributo a Moscóvia.  

Em 1558 Ivan deu uma carta patente à família de comerciantes Stroganov para colonização na região abundante ao longo do rio Kama, e posteriormente em 1574 as terras ao longo dos Montes Urais, e ao longo dos rios Tura e Tobol. A família também recebeu a permissão de construir fortalezas ao longo dos rios Ob e Irtich. Por volta de 1577, os Stroganovs contrataram o líder cossaco Yermak Timofeievitch para proteger suas terras dos ataques do Cã siberiano Kuchum. 

Em 1580, Yermak iniciou sua conquista à Sibéria. Com cerca de 540 cossacos, começou a penetrar nos territórios de Kuchum. Yermak pressionou e convenceu várias tribos de base familiar a mudança de suas lealdades, para que se tornassem aliados da Rússia. Alguns concordavam voluntariamente, porém outros por passarem a melhores condições as de quando estavam com Kuchum, foram forçados. Ele também estabeleceu fortalezas distantes nas terras recém-conquistadas. A campanha foi bem sucedida e os cossacos conseguiram derrotar o exército da Sibéria na Batalha de Chuvash, porém Yermak ainda necessitava de reforços. Ele enviou um emissário para Ivan IV com uma mensagem proclamando que Yermak havia conquistado uma parte da Sibéria para a Rússia, para desespero dos Stroganov, que planejavam manter a Sibéria para si somente. Ivan concordou em enviar os reforços pedidos em soldados Streltsy. Logo depois as conquistas de Yermak expandiram o império de Ivan para leste, permitindo Ivan ser chamado "czar da Sibéria" nos seus últimos anos no czanato. 

Morte

Ivan sofreu um Acidente vascular cerebral enquanto jogava xadrez com Bogdan Belsky e veio a falecer em 28 de março 18 de março de 1584. Uma autópsia realizada na era soviética revelou excesso de mercúrio no seu organismo, sugerindo que ele foi envenenado, ou por um inimigo, ou pelo mercúrio de remédios comumente usados na época, para tratamento da sífilis.

Após a morte de Ivan, o trono russo foi deixado para seu filho do meio Teodoro, que não possuía herdeiros tampouco se encontrava preparado para governar. Teodoro, seu herdeiro, morreu sem filhos em 1598, terminando consigo a dinastia ruríquida e inaugurando o Tempo de Dificuldades.  

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Gustavo Adolfo, rei da Suécia

Gustavo Adolfo na Batalha de Breitenfeld.
Gustavo Adolfo, (9 de Dezembro de 1594 — 6 de Novembro de 1632), rei da Suécia, foi um dos grandes campeões da causa protestante. Foi alcunhado de Leão do Norte pelos seus progressos na arte da guerra, nomeadamente pela introdução de peças de artilharia ligeira, que podiam ser mais facilmente deslocadas no campo de batalha. Assim que subiu ao trono, em 1611, com apenas dezesseis anos, viu-se envolvido em guerras: inicialmente com a Polônia, Dinamarca e Rússia. Resolveu rapidamente o assunto com a Dinamarca e Rússia, mas a guerra com a Polônia arrastou-se até 1629, quando a venceu. Nessa altura, Gustavo já era considerado um dos melhores guerreiros do seu tempo.

Em 1630 decidiu intervir na Guerra dos Trinta Anos, na qual os Protestantes passavam por dificuldades. Alguns dos seus oponentes troçaram do rei de gibão de cabedal, chamando-o de "Rei das Neves" e afirmando que se derreteria quando chegassem os climas quentes do Sul.

Estilo de Guerrear

A espinha dorsal de um exército durante a Guerra dos Trinta Anos era um bloco compacto de mosqueteiros e piqueiros. Os piqueiros usavam compridas lanças para manter o inimigo a uma distância segura, enquanto os mosqueteiros os fuzilavam. Para romper um bloqueio da infantaria, esquadrões de cavaleiros em armaduras de aço avançavam trotando para recarregar as armas. Esses assaltos tediosos eram repetidos diversas vezes, geralmente sem causar grande impacto. Na época, a artilharia era constituída de peças grandes e difíceis de manejar, e as guarnições dos canhões podiam ainda estar chegando ao campo de batalha e aprestando suas armas quanto a batalha já terminara.

Gustavo Adolfo mudou tudo isso. Ele reduziu o tamanho dos canhões de campanha e tornou-os leve o bastante para serem transportados com maior rapidez na batalha, e romper os grandes e compactos blocos de infantaria. Também treinou sua cavalaria a atacar a galope com lanças e sabres; estendeu sua infantaria em uma linha, em vez de um bloco compacto, tornando-a menos vulnerável ao bombardeio de canhões, além de usar os piqueiros de forma ofensiva. 

Uso de Uniforme e a Companhia das Esposas

O uso de uniformes não era uma coisa comum para os exércitos do início da Era Moderna, e a maioria dos soldados se vestia como trabalhadores comuns, com roupas resistentes, confortáveis, suplementadas por couraças, arranjos ou ornamentos que pudessem arrumar. O único modo de distinguir amigo de inimigo era pelas gigantescas bandeiras de batalha que cada unidade levava. 

Todo exército era seguido por uma multidão de mulheres, que cozinhavam, lavavam a roupa e serviam de enfermeiras. Gustavo Adolfo e muitos generais calvinistas insistiam para que essas vivandeiras fossem exclusivamente esposas dos soldados. A partir de então, as acompanhantes dos exércitos ganharam uma reputação de não ser mais dos que prostitutas, mas elas eram muito mais do que isso, e nenhum exército podia sobreviver sem elas.

Gustavo derrotou e matou um dos mais brilhantes generais do lado católico-romano, o conde de Tilly. Em 1632, na Batalha de Lucena (Lutzen), Gustavo defrontou o ainda mais temível Albrecht von Wallenstein, a quem derrotou, mas morreu conduzindo uma carga de cavalaria.

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Oliver Cromwell

Oliver Cromwell (Huntingdon, 25 de Abril de 1599 – Palácio de Whitehall, Londres, 3 de Setembro de 1658), foi um militar e líder político inglês e, mais tarde, Lord Protetor do Protetorado. Nascido no seio da nobreza rural, os primeiros 40 anos da sua vida são pouco conhecidos. Após passar por uma conversão religiosa na década de 1630, Cromwell tornou-se um puritano independente, assumindo uma posição, no geral, tolerante, face aos protestantes do seu tempo. Um homem intensamente religioso - auto-denominado de Moisés puritano — ele acreditava profundamente que Deus era o seu guia nas suas vitórias.

Cromwell foi eleito membro do Parlamento pelo círculo eleitoral de Huntingdon em 1628, e por Cambridge, no Pequeno (1640) e Longo Parlamentos (1640–49). Participou na Guerra civil inglesa, ao lado dos "Cabeças Redondas" ou Parlamentaristas. Chamado de "Old Ironsides", foi rapidamente promovido da liderança de uma simples tropa de cavalaria para um dos comandantes principais do New Model Army, onde desempenhou um papel de destaque na derrota das forças realistas.

Cromwell foi um dos signatários na sentença de morte do rei Carlos I em 1649, e, como membro do Rump Parliament (1649–53), dominou a Comunidade da Inglaterra. Foi escolhido para assumir o comando da campanha inglesa na Irlanda durante 1649–50. As suas forças derrotaram a coligação entre os Confederados e os Realistas, e ocuparam o país – terminando, assim, com as Guerras confederadas irlandesas. Durante este período, foram redigidas uma série de Leis Penais contra os católicos romanos (uma minoria significativa em Inglaterra e na Escócia, mas uma grande maioria na Irlanda), e grande parte das suas terras foram confiscadas. Cromwell também liderou uma campanha contra o exército escocês entre 1650 e 1651.

A 20 de Abril de 1653, dissolveu o Rump Parliament pela força, instituindo uma assembleia, de curta duração, conhecida como Parlamento Barebones, antes de ser convidado pelos seus pares para liderar como Lord Protector' de Inglaterra, País de Gales, Escócia e Irlanda, a partir de 16 de Dezembro de 1653. Como governante, esteve à frente de uma política exterior muito agressiva e eficaz. Depois da sua morte em 1658, foi sepultado na Abadia de Westminster mas, após a tomada do poder pelos Realistas, em 1660, o seu corpo foi retirado da sepultura, pendurado por correntes e decapitado.

Cromwell é uma das figuras mais controversas na história das ilhas britânicas, considerado como ditador regicida por historiadores como David Hume, tal como citado por David Sharp, mas um herói da liberdade por outros, como Thomas Carlyle e Samuel Rawson Gardiner. Em 2002, numa escolha feita pela BBC no Reino Unido, Cromwell foi eleito um dos dez britânicos mais importantes de todos os tempos. Contudo, as suas medidas contra os católicos na Escócia e Irlanda foram caracterizadas como genocídio ou quase-genocídio, e na Irlanda, o seu historial é profundamente criticado.

Escócia e Irlanda 

No crescente confronto entre o rei Carlos, da Inglaterra, e os puritanos do Parlamento, os católicos da Irlanda eram a favor do rei. Em 1641, pouco antes de irromperem as hostilidades na Inglaterra, correu um boato entre os católicos irlandeses de que o Parlamento estava querendo atacá-los a qualquer minuto. Os católicos decidiram golpear primeiro e destruir os protestantes da Irlanda do Norte que constituiriam a vanguarda em qualquer ato de agressão. Três mil protestantes foram massacrados num levante súbito, e outros 8 mil morreram de frio depois que foram expulsos de suas casas.

A guerra civil irrompeu na Inglaterra antes que ela pudesse fazer qualquer represália. Infelizmente para os irlandeses, a Guerra Civil inglesa terminou com o rei morto e o comandante do exército do Parlamento, Oliver Cromwell, como ditador do país. Em agosto de 1649, Cromwell cruzou o mar para a Irlanda para acertar as contas.

Ele impôs o cerco à cidade de Drogheda, na costa leste da Irlanda, e, quando os ingleses romperam as muralhas depois de vários assaltos ferozes, os chamados Cabeças-redondas de Cromwell não deram quartel aos vencidos. Massacraram 3.500 pessoas, inclusive todos os soldados da guarnição, e mil funcionários do governo, padres e outros civis perigosos. O governador realista da cidade foi espancado até a morte com sua própria perna de pau por soldados que haviam ouvido um boato de que aquele apêndice se partiria e derramaria moedas de ouro escondidas. Os sobreviventes do massacre foram embarcados e vendidos para fazendas em Barbados.

O Parlamento decidiu então quebrar a influência católica na Irlanda de uma vez por todas. representantes ingleses chegaram àquele país para aprisionar e executar rebeldes e padres, e para confiscar suas terras. A prática pública do catolicismo foi considerado ilegal. Os ingleses expulsaram os irlandeses das terras férteis para o oeste, onde se encontra a região rochosa da ilha, e redistribuíram as terras melhores para proprietários protestantes e veteranos aposentados vindos da Inglaterra. Quase 40% das terras cultiváveis mudaram de mãos. A população da ilha desabou em 20% quando centenas de milhares de irlandeses morreram de fome e doenças durante a rebelião. Pelos trezentos anos que se seguiram, a irlanda permaneceu um mundo de camponeses nativos sem terras, sob a mão de ferro da pequena nobreza estrangeira.

As ações de Cromwell tornaram-no muito impopular na Escócia e na Irlanda - que, embora nominalmente independentes, eram efetivamente dominadas por forças inglesas. Em particular, a supressão dos monarquistas na Irlanda em 1649 ainda é recordada entre os irlandeses. Suas medidas contra os católicos irlandeses são consideradas por alguns historiadores como genocidas ou muito próximas disso. Na Irlanda, Cromwell é profundamente odiado.

Restabelecimento da comunidade judaica 

Em 1290, os judeus haviam sido expulsos da Inglaterra, por Eduardo I. Cromwell autorizou o restabelecimento da comunidade judaica, acedendo aos pedidos de Menasseh ben Israel (ou Manuel Dias Soeiro) rabino de origem portuguesa, estabelecido em Amsterdam.

Exumação e execução 

Em janeiro de 1661, dois anos após sua morte, o corpo de Cromwell, por ordem da Câmara dos Comuns, foi desenterrado, exumado e enforcado. O cadáver passou todo o dia do 12º aniversário da morte do rei Carlos I pendurado em uma forca em praça pública. Em seguida, sua cabeça foi decapitada e exposta espetada num piquê, enquanto seu corpo decapitado era enterrado sob a forca, em Tyburn (hoje Marble Arch), em Londres. 

A cabeça do ex-Lorde Protetor passou o dia em exposição até ser retirada e levada para casa por um soldado da guarda, que desapareceu com ela. A cabeça embalsamada passou de mãos em mãos por séculos, sendo inclusive vendida em 1814 como objeto, até ser finalmente enterrada nos jardins do Sidney Sussex College, em Cambridge, em 1960 o que poderia ser mentira, foi somente uma máscara. 

domingo, 23 de setembro de 2012

Luís XIV (Saint-Germain-en-Laye, 5 de setembro de 1638 – Versalhes, 1 de setembro de 1715), também conhecido como Luís, o Grande ou O Rei Sol, foi o Rei da França e Navarra de 1643 até sua morte. Seu reinado de 72 anos e 110 dias é o mais longo da história de qualquer monarca europeu na história.

A ele é atribuída a famosa frase: "L'État c'est moi" (em português: O Estado sou eu), apesar de grande parte dos historiadores dizerem que isso é apenas um mito ou lenda. Credita-se a ele também a frase "Eu quase que esperei'". Dizia isso, mesmo com todas as suas carruagens chegando à hora marcada, o que demonstra bem o carácter absolutista e a visão que ele tinha de si mesmo. Organizou a etiqueta da vida cortesã em um modelo que os seus descendentes seguiram à risca. Outro traço marcante para a cultura da época e que é parcamente citado em biografias sobre o Rei-Sol é o fato de ele ter lançado a moda do uso de elaboradas perucas, costume que se prolongou por no mínimo 150 anos nas cortes europeias e nas colônias do novo mundo. 

Construiu o Palácio dos Inválidos e o luxuoso Palácio de Versalhes, perto de Paris, onde faleceu em 1715.

Palácio de Versalles
Vida

Ana de Áustria,
mãe de Luís XIV
Nasceu em 1638, tendo como seus pais Luís XIII e Ana de Áustria, que já estavam casados há vinte e três anos. Por isso alguns historiadores acreditam que ele não era filho biológico de Luís XIII. Foi batizado Louis-Dieudonné ("Luís, o presente de Deus") e recebeu além do tradicional título de Delfim o de Premier Fils de France ("Primogênito da França").

Luís XIII e Ana da Áustria tiveram um segundo filho, Filipe I, Duque de Orleães. O rei não confiava em sua mulher e procurou evitar que ela ganhasse influência sobre o país. Porém, após sua morte em 1643, Ana tornou-se regente. Ela confiou todos os poderes do Estado ao cardeal italiano Giulio Mazarino, que era odiado pela maioria dos círculos políticos franceses.

Ao mesmo tempo que a Guerra dos Trinta Anos acabava em 1648, uma guerra civil francesa conhecida como Fronda começou. O cardeal Mazarino deu continuidade à centralização do poder iniciada pelo seu antecessor, o Cardeal Richelieu. Tentou aumentar o poder da Coroa às custas da nobreza e impôs uma taxa aos membros do Parlamento, na época composto na maior parte pelo alto clero e nobreza.

O Parlamento não só se recusou a pagar como anulou todos os éditos financeiros anteriores promulgados por Mazarino, que por conta disso mandou prendê-los, o que fez Paris ser tomada por revoltas. Luís XIV e a corte tiveram que deixar a cidade.

Quando o tumulto começou a passar foi assinada a Paz de Vestfália, que restaurou o controle da Coroa sobre o Exército Francês, e que foi sucedida pela Paz de Rueil, que encerrou os conflitos temporariamente.

Começo do reinado

O período de regência exercido pela mãe de Luís terminou oficialmente em 1651, quando ele tinha 13 anos. Luís assumiu o trono, mas Mazarino continuou a controlar os assuntos de Estado até à sua morte em 1661. Quando isso aconteceu, os outros membros do governo esperavam que fosse substituído por Nicolas Fouquet, o superintendente de finanças. Ele não só não assumiu como foi preso por má administração do Tesouro francês. O rei anunciou que assumiria ele próprio o governo do reino. O seu conselho, o conseil d'en haut, contava com nomes de prestígio como Jean-Baptiste Colbert, Hugues de Lionne e François-Michel le Tellier. Nenhum destes pertencia a alta aristocracia, o que levou o grande memorialista do fim do reinado, o Duque e Par do Reino Louis de Rouvroy, Duque de Saint-Simon a chamar o governo de "Reino da pequena burguesia".

O Tesouro estava perto da falência quando Luís XIV assumiu o poder. As coisas não melhoraram já que ele gastava dinheiro extravagantemente, despendendo vastas somas de dinheiro financiando a Corte Real. Parte desse dinheiro ele gastou como patrono das artes, financiando nomes como Moliere, Charles Le Brun e Jean-Baptiste Lully. Também gastou muito em melhorias no antigo Palácio do Louvre, que acabou por abandonar em favor da nova fundação de Versalhes, construído sobre um antigo pavilhão de caça de Luís XIII.

Em 1700, Luís XIV nomeou Jean-Baptiste Colbert para a chefia da Controladoria Geral. Colbert reduziu o défice da França através de uma reforma fiscal, que tornou os impostos mais eficientes.

Seu plano incluía os aides e douanes (ambos taxas comerciais), a gabelle (imposto sobre o sal) e o taille (imposto sobre as terras). Por outro lado, não aboliu a isenção fiscal de que se valia o clero e a nobreza. O método de coleta de impostos também foi melhorado.

Colbert fez planos de longo prazo para o desenvolvimento da França através do comércio. A sua administração criou novas indústrias e encorajou os fabricantes e inventores a produzir. Também modernizou a Marinha, as estradas e os aquedutos. Ele é considerado um dos pais da escola de pensamento conhecida como mercantilismo, sendo que na França "Colbertismo" é um sinônimo de mercantilismo.

Palácio dos Inválidos
Luís XIV ordenou a construção do complexo conhecido como Hôtel des Invalides (Palácio dos Inválidos) para servir de moradia a militares que o serviram lealmente em combate, mas que foram dispensados por motivo de ferimento de guerra ou idade avançada e que até então tinham como alternativas apenas a mendicância e o banditismo.

No seu reinado foi construído o Canal do Midi, que uniu o Mediterrâneo e o Atlântico e foi muito importante para o desenvolvimento econômico da França e da Europa, sendo considerado fundamental para a Revolução Industrial. O Canal tem 240 km e foi projetado por Pierre Paul Riquet, sendo inaugurado em 1681.

Casamento

Enquanto a guerra com a Espanha continuava, os franceses receberam apoio militar da Inglaterra, dirigida por Oliver Cromwell. A aliança Anglo-francesa venceu a guerra em 1658 na Batalha das Dunas. O resultado foi o Tratado dos Pirenéus, que fixou a fronteira entre Espanha e França. A Espanha cedeu várias províncias e cidades à França nos Países Baixos Espanhóis e em Rousillon. Como meio de fixar ainda mais a paz e as fronteiras dos dois reinos, uma união entre as duas famílias reais, de Espanha e de França, foi proposta. Tal proposta estava seduzindo imensamente Ana de Áustria, a mãe de Luís XIV, que sempre desejou ver seu filho casado com uma parente sua da Casa de Habsburgo.

Entretanto, a hesitação espanhola conduziu a um esquema em que o Cardeal Jules Mazarin, primeiro-ministro da França, fingia procurar uma união para o rei com Catarina de Bragança. Quando Filipe IV de Espanha ouviu sobre a reunião em Lyon entre as casas de França e de Portugal, enviou uma mensagem especial para a corte francesa, a fim de abrir as negociações de paz e de um casamento real. Então Luís XIV aceita de boa vontade casar-se com a infanta Maria Teresa de Espanha, filha de Filipe IV, rei da Espanha, e Isabel da França, sua tia, irmã de seu pai. O casamento teve lugar em 9 de Junho de 1660 em Saint-Jean-de-Luz. Para prevenir uma união das duas coroas, os diplomatas espanhóis incluíram uma cláusula na qual Maria Teresa e seus descendentes seriam desprovidos de qualquer direito ao trono espanhol. Contudo, pela habilidade de Jules Mazarin, a cláusula só seria válida mediante pagamento de um grande dote. A Espanha estava empobrecida após décadas de guerra e foi incapaz de pagar um dote de tais proporções, e a França nunca recebeu a quantia acordada de 500.000 Escudos. 

Personalidade do Rei

Luís XIV escolhe para emblema o Sol. É o astro que dá vida a qualquer coisa, mas é também o símbolo da ordem e da regularidade. Ele reinou como um sol sobre a corte, sobre os cortesãos e sobre a França.

Amantes

Luís XIV teve três amantes em título: Louise de La Vallière, Madame de Montespan, além de Madame de Maintenon, que foi secretamente esposa do rei após a morte da rainha. Acredita-se que o casamento aconteceu por volta de 9 ou 10 de Outubro de 1683 e foi guardado como segredo até a morte de Luís XIV. Na adolescência, o rei teve um romance com uma sobrinha de Mazarin, Maria Mancini. Houve entre eles uma grande paixão, contrariada pelo cardeal que, consciente dos interesses da França, preferiu fazê-lo se casar com a Infanta de Espanha. Em 1670, Jean Racine se inspirou na historia de Luís e Maria Mancini para escrever "Berenice".

Guerras e conflitos

Durante o seu longo reinado, que na prática exerceu de 1661 a 1715 (54 anos), reorganizou e equipou o exército francês, tornando-o o mais poderoso da Europa, e iniciou suas investidas militares com a invasão dos Países Baixos Espanhóis em 1667, que considerava serem herança de sua esposa. Perseguiu os protestantes neerlandeses e franceses na tentativa de polarizar novamente a Europa, opondo as nações católicas às protestantes, no entanto falhou nesse objetivo e acabou por voltar países de ambas as religiões contra a França. Na guerra da sucessão espanhola (1701-1714) colocou seu neto Filipe V de Espanha no trono espanhol, porém infligiu altos custos econômicos e humanos à França. Seu governo, um dos mais importantes da história da França, durou 54 anos e tornou-se conhecido pelo absolutismo monárquico, onde o rei controlou totalmente o estado. 

Guerra nos Países Baixos

Depois da morte de Felipe IV de Espanha, tio e sogro de Luís XIV, em 1665, seu filho (e de sua segunda esposa) subiu ao trono como Carlos II de Espanha. Luis XIV reclamou o território de Brabante, nos Países Baixos, governados até então pelo rei de Espanha, por considerar entes territórios herança de sua esposa, Maria Teresa, irmã mais velha de Carlos II (Maria Teresa era filha do primeiro casamento de Filipe IV). Luís argumentou que os costumes de Brabante não permitiam que um filho sofresse prejuízos por consequência de seu pai voltar a se casar, pelo que Maria Teresa tinha prioridade sobre os filhos dos seguintes matrimônios de Filipe IV, na hora de herdar. Estas reclamações dariam início a Guerra de Devolução de 1667, na qual Luís XIV participou pessoalmente.

Fim do reinado e morte

Luís XIV morreu em 1 de Setembro de 1715 de gangrena, poucos dias antes de seu septuagésimo sétimo aniversário e com 72 anos e 100 dias de reinado - o mais longo reinado e governo do mundo ocidental. Seu corpo foi sepultado na basílica de Saint-Denis, em Paris.