sexta-feira, 31 de maio de 2013

Idade Moderna

A Idade Moderna é um período específico da História do Ocidente. Destaca-se das demais por ter sido um período de transição por excelência. Tradicionalmente aceita-se o início estabelecido pelos historiadores franceses, em 29 de maio de 1453 quando ocorreu a tomada de Constantinopla pelos turcos otomanos, e o término com a Revolução Francesa, em 14 de julho de 1789.

Entretanto, apesar de a queda de Constantinopla ser o evento mais aceito, não é o único. Tem sido propostas outras datas para o início deste período, como a Conquista de Ceuta pelos portugueses em 1415, a viagem de Cristóvão Colombo ao continente americano em 1492 ou a viagem à Índia de Vasco da Gama em 1498.

Algumas correntes historiográficas anglo-saxónicas preferem trabalhar com o conceito de "Tempos Modernos", entendido como um período não acabado, introduzindo nele subdivisões entre Early Modern Times (mais antiga) e Later Modern Times (mais recente), ou então procedem a uma divisão entre sociedades pré-industriais e sociedades industriais. A noção de "Idade Moderna" tende a ser desvalorizada pela historiografia marxista, que prolonga a Idade Média até ao advento das Revoluções Liberais e ao fim do regime senhorial na Europa, devido a ampla ação das Cruzadas, que expandiram o comércio na Europa.

A dificuldade da delimitação cronológica do período se deve, principalmente, às divergências de interpretação quanto à origem e evolução do sistema capitalista. Contudo, o período histórico que vai do século XV ao XVIII é, genericamente percebido com um "período de transição".

A época moderna pode ser considerada, exatamente, como uma época de "revolução social" cuja base consiste na "substituição do modo de produção feudal pelo modo de produção capitalista".

O Renascimento Comercial que vinha ocorrendo desde a baixa Idade Média (séculos XI, XII e XIII), apresentava o seguinte quadro:

1. no Mediterrâneo: fazia-se a ligação entre a Europa e Oriente envolvendo as cidades italianas e os árabes.
2. no Norte da Europa: ligando o mar do Norte ao mar Báltico, predominavam os comerciantes alemães.
3. no Litoral Atlântico da Europa: através da navegação de cabotagem, ligava-se o mar do Norte ao Mediterrâneo.
4. no Interior do Continente Europeu: predominam antigas rotas terrestres.

As feiras, as Cruzadas e o surgimento dos Burgos, ao longo da Idade Média, eram sinais, também, de que o comércio renascia.

A partir do século XV o comércio cresceu extraordinariamente, fruto, naturalmente, de modificações ocorridas no interior das sociedades feudais europeias (aumento da população, crescimento das cidades, desenvolvimento das manufaturas, etc).

Esta época pode-se caracterizar por um desanuviamento da "trilogia negra" - fomes, pestes e guerras - criando condições propícias às descobertas marítimas e ao encontro de povos.

Breve cronologia da Idade Moderna 

1453 - tomada de Constantinopla.
1453 - Fim da Guerra dos Cem Anos.
1455-1460 - Preparação e impressão do primeiro livro impresso em uma prensa de tipos móveis reutilizáveis: a Bíblia de Gutenberg.
1492 - Viagem de Cristóvão Colombo à América.
1494-1526 - Guerras da Itália.
1496 - expulsão dos Judeus e dos Mouros de Portugal.
1497 - Vasco da Gama parte para a Índia.
1500 - Descoberta oficial do Brasil por Pedro Álvares Cabral.
1517 - Martinho Lutero publicou as "Noventa e Cinco Teses". Início da Reforma Protestante.
1519-1522 - Volta ao mundo de Fernão de Magalhães e Juan Sebastián Elcano.
1534 - "Acto de Supremacia" em Inglaterra. O rei Henrique VIII rompeu com Roma e declarou-se chefe da Igreja Anglicana.
1545 - Primeira sessão do Concílio de Trento. A última sessão decorreu em 1563.
1562-1598 - Guerras de Religião em França.
1618 - Início da Guerra dos Trinta Anos.
1642-1660 -Revolução Inglesa.
1688-1689 - Revolução Gloriosa em Inglaterra.
1776-1783 - Revolução Americana.
1789 - Início da Revolução Francesa.

quinta-feira, 30 de maio de 2013

Império Otomano

O Império Otomano foi um Estado turco que existiu entre 1299 e 1922 e que no seu auge compreendia a Anatólia, o Médio Oriente, parte do norte de África e do sudeste europeu. Foi estabelecido por uma tribo de turcos oguzes no oeste da Anatólia e era governado pela dinastia Otomana 

Fundado por Ertughrul e o seu filho Osman I, nos séculos XVI e XVII, o império constava entre as principais potências políticas da Europa e vários países europeus temiam os avanços otomanos nos Balcãs. No seu auge, no século XVII, o território otomano compreendia uma área de 5 000 000 km² e estendia-se desde cerca do estreito de Gibraltar, a oeste, ao mar Cáspio e ao golfo Pérsico, a leste, e desde a fronteira com as atuais Áustria e Eslovênia, no norte, aos atuais Sudão e Iêmen, no sul.

Sua capital era a cidade de Constantinopla, tomada ao Império Bizantino em 29 de maio de 1453. O Império Otomano foi a única potência muçulmana a desafiar o crescente poderio da Europa Ocidental entre os séculos XV e XIX. Declinou marcadamente ao longo do século XIX e terminou por ser dissolvido após sua derrota na Primeira Guerra Mundial. Ao final do conflito, o governo otomano desmoronou e o seu território foi partilhado. O cerne político-geográfico do império transformou-se na República da Turquia, após a guerra de independência turca.

A partir de 1517, o sultão otomano era também o Califa do Islão, e o Império Otomano era entre 1517 e 1922 (ou 1924) o sinônimo de Califado, o Estado Islâmico. O auge do Império Otomano foi durante o governo de Solimão, o Magnífico, no qual seus exércitos chegaram às portas de Viena, e Constantinopla foi transformada em capital cultural e política. Durante este breve período, o Califado atingiu sua máxima extensão, estendendo-se do oceano Atlântico até o Índico; do norte do Sudão até o sul da Rússia. Foi também durante o seu governo que ocorreram as batalhas de Rodes, Tabriz, Malaca, Manila e o Cerco de Viena.

Expansão e Apogeu (1453-1566)

A conquista otomana de Constantinopla consolidou o status do império como uma força em potencial no sudeste da Europa e no Mediterrâneo oriental. Durante este tempo, o Império Otomano entrou em um período de conquistas e expansão ampliando suas fronteiras mais longe na Europa e no norte da África. 

As conquistas em terra foram orientadas pela disciplina e inovação do exército otomano, e sobre o mar, a marinha otomana ajudou nesta expansão significativamente. A marinha também bloqueou as principais rotas comerciais marítimas, em concorrência com as cidades-estado italianas no mar Negro, mar Egeu e mar Mediterrâneo e com possessões portuguesas no mar Vermelho e oceano Índico. 

O Estado também prosperou economicamente, graças ao seu controle das rotas de maior tráfego entre a Europa e a Ásia. Este bloqueio sobre o comércio entre a Europa Ocidental e a Ásia é frequentemente citado como um fator primário de motivação para que os reis da Espanha financiassem a viagem de Cristóvão Colombo para encontrar outra rota de navegação para a Ásia.



O império prosperou sob o domínio de uma linha de sultões empenhada e eficaz. O sultão Selim I (1512-1520) expandiu as fronteiras leste e sul do império, derrotando Shah Ismail do Império Safávida, na Batalha de Chaldiran. Selim I estabeleceu a presença otomana no Egito e criou uma presença naval no mar Vermelho. Após esta expansão otomana, uma competição começou entre o Império Português e o Império Otomano para se tornar a potência dominante na região.

Sucessor de Selim, Solimão I, o Magnífico (1520-1566), alargou ainda mais as fronteiras do império. Após a tomada de Belgrado em 1521, Solimão conquistou o sul e o centro do Reino da Hungria (ao passo que as regiões ocidental, norte e nordeste não foram conquistadas) e estabeleceu o domínio otomano, no território da Hungria atual (exceto parte ocidental) e outros territórios da Europa Central, após sua vitória na Batalha de Mohács em 1526. Ele então liderou o cerco de Viena em 1529, mas não conseguiu tomar a cidade após o início do inverno, forçando sua retirada. Em 1532, outro ataque a Viena com um exército planejado para ter mais de 250.000 homens foi repelido a 97 quilômetros ao sul da cidade, na fortaleza de Güns. Depois de mais avanços pelos otomanos em 1543, o governante Habsburgo Ferdinand oficialmente reconheceu a ascendência otomana na Hungria em 1547. 

Durante o reinado de Solimão, a Transilvânia, a Valáquia e, intermitentemente, a Moldávia, tornaram-se principados do Império Otomano. No leste, os otomanos tomaram Bagdá a partir da Mesopotâmia em 1535, ganhando o controle da Mesopotâmia e acesso naval ao golfo Pérsico. Até o final do reinado de Solimão, a população do império atingiu a marca de cerca de 15.000.000 pessoas.

quarta-feira, 29 de maio de 2013

A Guerra das Rosas

A Guerra das Rosas ou Guerra das Duas Rosas foi uma série de lutas dinásticas pelo trono da Inglaterra, ocorridas ao longo de trinta anos (entre 1455 e 1485) de forma intermitente, durante os reinados de Henrique VI, Eduardo IV e Ricardo III. Em campos opostos encontravam-se as casas de York e de Lancaster, ambas originárias da dinastia Plantageneta e descendentes de Eduardo III, rei da Inglaterra entre 1327 e 1377.

A Guerra das Rosas foi resultado dos problemas sociais e financeiros decorrentes da Guerra dos Cem Anos, combinados com o reinado considerado fraco de Henrique VI, que perdeu muitas das terras francesas conquistadas por seu pai e foi severamente questionado pela nobreza. Seu final ocorreu quando um candidato Lancastre relativamente remoto, Henrique Tudor, derrotou o último rei de York, Ricardo III, e assumiu o trono, casando-se com Isabel de Iorque, filha de Eduardo IV, para unir as duas casas. O nome do conflito deve-se aos símbolos das duas facções - a rosa branca da casa de York e a vermelha da de Lancastre, embora a última tenha sido adotada apenas mais tarde. Essa denominação passou a ser usada anos depois da guerra, por historiadores.

terça-feira, 28 de maio de 2013

Descobrimento da América: Cristóvão Colombo

Cristóvão Colombo (República de Génova, 1451 — Valladolid, 1506) foi um navegador e explorador genovês, responsável por liderar a frota que alcançou o continente americano em 12 de Outubro de 1492, sob as ordens dos Reis Católicos de Espanha, no chamado descobrimento da América. Empreendeu a sua viagem através do Oceano Atlântico com o objectivo de atingir a Índia, tendo na realidade descoberto as ilhas das Caraíbas (Antilhas) e, mais tarde, a costa do Golfo do México na América Central. 

As Quatro Viagens ao Mundo

Santa Maria
Na noite de 3 de agosto de 1492, Colombo partiu de Palos de la Frontera, com três navios: uma nau maior, Santa María, apelidada Gallega, e duas caravelas menores, Pinta e Santa Clara, apelidada de Niña em homenagem a seu proprietário Juan Niño de Moguer. Eram propriedade de Juan de la Cosa e dos irmãos Pinzón (Martín Alonso e Vicente Yáñez), mas os monarcas forçaram os habitantes de Palos a contribuir para a expedição. Colombo navegou inicialmente para as ilhas Canárias, que eram propriedade da Castela, onde reabasteceu as provisões e fez reparos. Em 6 de setembro, partiu de San Sebastián de la Gomera para o que acabou por ser uma viagem de cinco semanas através do oceano. 

Primeira Viagem

Ilustração do desembarque
de Colombo em São Salvador
nas Bahamas.
A terra foi avistada às duas horas da manhã de 12 de outubro de 1492, por um marinheiro chamado Rodrigo de Triana (também conhecido como Juan Rodríguez Bermejo) a bordo de Pinta. Colombo chamou a ilha (no que é agora Bahamas) San Salvador, enquanto os nativos a chamavam Guanahani. Exatamente qual era a ilha nas Bahamas é um assunto não resolvido. As candidatas principais são Samana Cay, Plana Cays e San Salvador (assim chamada em 1925, na convicção de que era a San Salvador de Colombo).

Os indígenas que encontrou, os lucaians, taínos ou aruaques, eram pacíficos e amigáveis. Desde a entrada em 12 de outubro de 1492 em seu diário, Colombo escreveu sobre eles: "Muitos dos homens que já vi têm cicatrizes em seus corpos, e quando eu fazia sinais para eles para descobrir como isso aconteceu, eles indicavam que pessoas de outras ilhas vizinhas chegavam a San Salvador para capturá-los e eles se defendiam o melhor possível. Acredito que as pessoas do continente vêm aqui para tomá-los como escravos. Devem servir como ajudantes bons e qualificados, pois eles repetem muito rapidamente o que lhes dizemos. Acho que eles podem muito facilmente ser cristãos, porque eles parecem não ter nenhuma religião. Se for do agrado de nosso Senhor, vou tomar seis deles de Suas Altezas quando eu partir, para que possam aprender a nossa língua." 

Observou que a falta de armamento moderno e até mesmo espadas e lanças forjadas de metal era uma vulnerabilidade tática, escrevendo: "Eles nem carregam nem sabem nada sobre armas, pois eu mostrei a eles espadas, e eles a seguraram pela lâmina, e se cortaram, por pura ignorância". "São um povo adorável, sem cobiça, e preparados para qualquer coisa... não há melhor terra nem povo. Amam seus vizinhos como a si mesmos, e sua fala é a mais doce e agradável do mundo, e sempre estão sorrindo".

Bem, é claro que a primeira coisa que Colombo fez foi sondá-los para ver como podia explorá-lo. "Eles dariam ótimos criados", observou ele "Com cinquenta homens, podemos subjugá-lo todos e fazer com eles o que for preciso."

Ele então prosseguiu explorando para o sul, entrando mais fundo nas Índias Ocidentais, à procura de qualquer ouro sobrando que pudesse haver por ali. Explorou as ilhas maiores, como Cuba e Hispaniola (Haiti e Rep. Dominicana), e encontrou pouca coisa que valesse a pena roubar, a não ser mais nativos. Sempre à procura de oportunidades, observou: "Desses lugares, no nome da Santíssima Trindade, nós podemos enviar todos os escravos que puderem ser vendidos". Para provar isso, Colombo sequestrou entre 10 a 25 nativos e os levou de volta com ele. Apenas sete ou oito dos índios nativos chegaram à Espanha vivos, mas eles causaram forte impressão em Sevilha.

Segunda Viagem 

A sua segunda viagem iniciou-se em 1493, com três naus e catorze caravelas. Nela avistou as Antilhas e abordou a Martinica. Rumou depois para o norte e alcançou Porto Rico. Foi a Hispaniola onde a pequena colônia tinha sido arrasada pelos indígenas. Tendo ali deixado outro contingente de homens, navegou para o ocidente e chegou à Jamaica. Nessa viagem fundou Isabela, atual Santo Domingo, na República Dominicana, a primeira povoação européia no continente americano.

Terceira Viagem

Para a terceira viagem, partiu em 1498, com seis naus, tendo chegado à ilha da Trinidad depois de uma atribulada viagem. Rumando ao sul chegou a uma grande terra que pensou ser uma ilha, a que chamou de Terra de Gracia nel Golfo de Paria, localizado na foz do delta do rio Orinoco, (Venezuela). Rumando ao norte chegou a Santo Domingo, onde entrou em conflito com o governador, vindo ele e o irmão a ser presos e enviados para Castela.

Quarta Viagem

Na quarta viagem, saiu de Cádiz com quatro naus em 1502, propondo-se uma vez mais a chegar ao Oriente. Avistou a Jamaica e, depois de grande tempestade, chegou à Ilha de Pinos nas Honduras. Avistou depois as costas da Nicarágua, Costa Rica e Panamá. Devido ao péssimo estado das naus teve de regressar a Hispaniola, de onde voltou para Castela.

Leões entre Coiotes

Seria errado caracterizar os espanhóis como leões entre carneiros, mas eles eram, definitivamente, leões entre coiotes, ambos animais predadores, mas em categorias bem diferentes. Os nativos americanos podiam ser tão cruéis e ferozes quanto qualquer outro povo do mundo. Os astecas estavam sacrificando 15 mil outros seres humanos no alto de suas pirâmides todo ano. Até mesmo antes da chegada de Colombo, os pacíficos tainos vinham sendo gradualmente expulsos de suas ilhas pelos caribenhos, que deram seu nome não apenas ao mar, mas também à sua dieta característica: o canibalismo. Os incas sacrificavam crianças atirando-as de penhascos. Os iroqueses se deliciavam em retalhar e queimar prisioneiros.

Seja como for, a maioria dos nativos não tinha muito do que é necessário para se tornarem incontroláveis máquinas de matar. A guerra dos astecas era uma atividade ritualística, como propósito de capturar prisioneiros vivos para serem sacrificados. Os índios das planícies americanas tornaram-se conhecidos pelo "golpe da etiqueta", o ritual de bravura, no qual eles atacavam o inimigo apenas para marcá-lo, não para matá-lo. Os espanhóis levavam a guerra muito mais a sério.

As Índias Ocidentais

Sabemos muito pouco sobre Cristóvão Colombo. Não sabemos quando nem onde nasceu, qual foi o primeiro lugar onde desembarcou nas Américas, qual era sua aparência ou onde foi enterrado. Obviamente que isso não evitou que procurássemos preencher as lacunas com palpites, imaginação e especulações, mesmo que contradigam o pouco que sabemos. Não importa o que os historiadores nos contem, continuamos a acreditar no Cristóvão Colombo que queremos, não naquele que existiu. Isso é igualmente verdadeiro, quer queiramos um Colombo herói ou um vilão.

A fonte primária mais importante do pouco que conhecemos da vida de Colombo são os escritos de Bartolomeu de las Casas, padre dominicano e zeloso defensor dos índios. Originalmente ele admirava Colombo, e estava entre as multidões alucinadas que saudaram seu retorno à Espanha, mas, depois que foi para a América, Las Casas fez do objetivo de sua vida tornar público e denunciar as crueldades que seus patrícios infligiram aos índios. 

Colombo passara tanto tempo de sua vida como capitão de navio que preferia governar por decreto e punição imediata. Por fim, suas execuções sumárias de espanhóis ocasionais aborreceram os colonos. Também dividiram a colônia desavenças sobre se tratar os nativos como escravos, que era o ponto de vista de Colombo, ou como súditos leais, ponto de vista da Coroa. Quando chegou um auditor da Espanha, entre as primeiras visões que teve foi a de cadáveres balançando das forcas. Os irmãos Colombo foram agrilhoados e enviados de volta para a Europa, para responder às acusações. A Coroa ainda manteve bastante fé em Colombo para perdoá-lo e continuar a usá-la como explorador, mas ele nunca mais recebeu o comando de uma colônia em terra.

Colombo e a Sífilis na Europa

Colombo e os seus marinheiros não se limitaram a descobrir o Novo Mundo, e a introduzir as doenças do continente europeu no americano. Também trouxeram da América para a Europa a sífilis. Embora essa teoria não seja nova, um estudo atual emprendido por uma equipe com elementos de três universidades estadunidenses - Emory, Columbia e Mississipi State -, confirma-o. A doença, uma infecção sexualmente transmissível causada pela bactéria "Treponema pallidum", sem tratamento, pode causar danos ao coração, cérebro, olhos e ossos e até a morte, razões pelas quais foi estigmatizada e temida por séculos. 

A primeira epidemia de sífilis de que há notícia na Europa ocorreu em 1495, dois anos após o regresso de Colombo de sua viagem de descobrimento, coincidência temporal que deu origem à teoria no passado. Estudos genéticos da bactéria, levados a cabo em 2008 deram maior força à hipótese.

Morte de Colombo

Túmulo de Colombo
na Catedral de Sevilha.
Os restos mortais são carregados
pelos reis de Castela, Leão,
Aragão e Navarra
Colombo morreu em Valhadolid a 20 de Maio de 1506, com cerca de 55 anos, com uma considerável riqueza proveniente do ouro que os seus homens haviam acumulado em Hispaniola. À data da sua morte, Colombo estava ainda convencido que as suas expedições tinham sido realizadas ao longo da costa oriental da Ásia. De acordo com um estudo publicado em Fevereiro de 2007, realizado por Antonio Rodriguez Cuartero, do Departmento de Medicina Interna da Universidade de Granada, Colombo morreu de paragem cardíaca causada por artrite reactiva. Segundo os seus diários pessoais e anotações deixadas pelos seus contemporâneos, os sintomas desta doença (ardor doloroso quando se urina, dor e inchamento das pernas, e conjuntivite) eram claramente evidentes nos três últimos anos da sua vida.

segunda-feira, 27 de maio de 2013

Caminho Marítimo Para a Índia

Desde o início do século XV, impulsionados pelo Infante D. Henrique, os portugueses vinham aprofundando o conhecimento sobre o litoral Africano. A partir da década de 1460, a meta tornara-se conseguir contornar a extremidade sul do continente africano para assim aceder às riquezas da Índia – pimenta preta e outras especiarias – estabelecendo uma rota marítima de confiança. A República de Veneza dominava grande parte das rotas comerciais entre a Europa e a Ásia, e desde a tomada de Constantinopla pelos otomanos limitara o comércio e aumentara os custos. Portugal pretendia usar a rota iniciada por Bartolomeu Dias para quebrar o monopólio do comércio mediterrânico.

Quando Vasco da Gama tinha cerca de dez anos, esses planos de longo prazo estavam perto de ser concretizados: Bartolomeu Dias tinha retornado de dobrar o Cabo da Boa Esperança, depois de explorar o "Rio do Infante" (Great Fish River, na actual África do Sul) e após ter verificado que a costa desconhecida se estendia para o nordeste.

Em simultâneo foram feitas explorações por terra durante o reinado de D. João II de Portugal, suportando a teoria de que a Índia era acessível por mar a partir do Oceano Atlântico. Pero da Covilhã e Afonso de Paiva foram enviados via Barcelona, Nápoles e Rodes até Alexandria, porta para Aden, Ormuz e Índia.

Faltava apenas um navegador comprovar a ligação entre os achados de Bartolomeu Dias e os de Pero da Covilhã e Afonso de Paiva, para inaugurar uma rota de comércio potencialmente lucrativa para o Oceano Índico. A tarefa fora inicialmente atribuída por D. João II a Estevão da Gama, pai de Vasco da Gama. Contudo, dada a morte de ambos, em Julho de 1497 o comando da expedição foi delegado pelo novo rei D. Manuel I de Portugal a Vasco da Gama, possivelmente tendo em conta o seu desempenho ao proteger os interesses comerciais portugueses de depredações pelos franceses ao longo da Costa do Ouro Africana.

A chamada Primeira Armada da Índia seria financiada em parte pelo banqueiro florentino Girolamo Sernige.

A viagem

Era uma expedição essencialmente exploratória que levava cartas do rei D. Manuel I para os reinos a visitar, padrões para colocar, e que fora equipada por Bartolomeu Dias com alguns produtos que haviam provado ser úteis nas suas viagens, para as trocas com o comércio local. O único testemunho presencial da viagem consta num diário de bordo anônimo, atribuído a Álvaro Velho:

Contava com cerca de cento e setenta homens, entre marinheiros, soldados e religiosos, distribuídos por quatro embarcações:

* São Gabriel, uma nau de 27 metros de comprimento e 178 toneladas, construída especialmente para esta viagem, comandada pelo próprio Vasco da Gama;

* São Rafael, de dimensões semelhantes à São Gabriel, também construída especialmente para esta viagem, comandada por Paulo da Gama, seu irmão; no regresso, com a tripulação diminuída, foi abatida em Melinde, prosseguindo na Bérrio e São Gabriel.

* Bérrio, uma nau ligeiramente menor que as anteriores, oferecida por D. Manuel de Bérrio, seu proprietário, sob o comando de Nicolau Coelho;

* São Miguel, uma nau para transporte de mantimentos, sob o comando de Gonçalo Nunes, que viria a ser queimada na ida, perto da baía de São Brás, na costa oriental africana.

A expedição partiu de Lisboa, acompanhada por Bartolomeu Dias que seguia numa caravela rumo à Mina, seguindo a rota já experimentada pelos anteriores exploradores ao longo da costa de África, através de Tenerife e do Arquipélago de Cabo Verde. Após atingir a costa da atual Serra Leoa, Vasco da Gama desviou-se para o sul em mar aberto, cruzando a linha do Equador, em demanda dos ventos vindos do oeste do Atlântico Sul, que Bartolomeu Dias já havia identificado desde 1487. Esta manobra de "volta do mar" foi bem sucedida e, a 4 de Novembro de 1497, a expedição atingiu novamente o litoral Africano. Após mais de três meses, os navios tinham navegado mais de 6.000 quilômetros de mar aberto, a viagem mais longa até então realizada em alto mar.

A 16 de Dezembro, a frota já tinha ultrapassado o chamado "rio do Infante" ("Great Fish River", na atual África do Sul) – de onde Bartolomeu Dias havia retornado anteriormente – e navegou em águas até então desconhecidas para os europeus. No dia de Natal, Gama e sua tripulação batizaram a costa em que navegavam o nome de Natal (actual província KwaZulu-Natal da África do Sul).

A 2 de Março de 1498, completando o contorno da costa africana, a armada chegou à costa de Moçambique, após haver sofrido fortes temporais e de Vasco da Gama ter sufocado com mão de ferro uma revolta da marinhagem. Na costa Leste Africana, os territórios controlados por muçulmanos integravam a rede de comércio no Oceano Índico. Em Moçambique encontram os primeiros mercadores indianos. Inicialmente são bem recebidos pelo sultão, que os confunde com muçulmanos e disponibiliza dois pilotos. Temendo que a população fosse hostil aos cristãos, tentam manter o equívoco mas, após uma série de mal entendidos, foram forçados por uma multidão hostil a fugir de Moçambique, e zarparam do porto disparando os seus canhões contra a cidade.

O piloto que o sultão da ilha de Moçambique ofereceu para os conduzir à Índia havia sido secretamente incumbido de entregar os navios portugueses aos mouros em Mombaça. Um acaso fez descobrir a cilada e Vasco da Gama pôde continuar.

Na costa do actual Quénia a expedição saqueou navios mercantes árabes desarmados. Os portugueses tornaram-se conhecidos como os primeiros europeus a visitar o porto de Mombaça, mas foram recebidos com hostilidade e logo partiram.

Pilar de Vasco da Gama
em Melinde
Em Fevereiro de 1498, Vasco da Gama seguiu para norte, desembarcando no amistoso porto de Melinde – rival de Mombaça – onde foi bem recebido pelo sultão que lhe forneceu um piloto árabe, conhecedor do Oceano Índico, cujo conhecimento dos ventos de monções permitiu guiar a expedição até Calecute, na costa sudoeste da Índia. As fontes divergem quanto à identidade do piloto, identificando-o por vezes como um cristão, um muçulmano e um guzerate. Uma história tradicional descreve o piloto como o famoso navegador árabe Ibn Majid, mas relatos contemporâneos posicionam Majid noutro local naquele momento.

Chegada a Calecute 

Chegada de Vasco da
Gama a Calecute, Índia a
20 de Maio de 1498
Em 20 de Maio de 1498, a frota alcançou Kappakadavu, próxima a Calecute, no actual estado indiano de Kerala, ficando estabelecida a Rota do Cabo e aberto o caminho marítimo dos Europeus para a Índia.

No dia seguinte à chegada, entre a multidão reunida na praia, foram saudados por dois mouros de Tunes (Tunísia), um dos quais dirigiu-se em castelhano "Ao diabo que te dou; quem te trouxe cá?". E perguntaram-lhe o que vínhamos buscar tão longe; e ele respondeu: "Vimos buscar cristãos e especiaria.", conforme relatado por Álvaro Velho. Ao ver as imagens de deuses Hindus, Gama e os seus homens pensaram tratar-se de santos cristãos, por contraste com os muçulmanos que não tinham imagens. A crença nos "cristãos da Índia", como então lhes chamaram, perdurou algum tempo mesmo depois do regresso.

Contudo, as negociações com o governador local, Samutiri Manavikraman Rajá, samorim de Calecute, foram difíceis. Os esforços de Vasco da Gama para obter condições comerciais favoráveis foram dificultados pela diferença de culturas e pelo baixo valor de suas mercadorias, com os representantes do samorim a escarnecerem das suas ofertas, e os mercadores árabes aí estabelecidos a resistir à possibilidade de concorrência indesejada. As mercadorias apresentadas pelos portugueses mostraram-se insuficientes para impressionar o samorim, em comparação com os bens de alto valor ali comerciados, o que gerou alguma desconfiança. Os portugueses acabariam por vender as suas mercadorias por baixo preço para poderem comprar pequenas quantidades de especiarias e jóias para levar para o reino.

Por fim o samorim mostrou-se agradado com as cartas de D. Manuel I e Vasco da Gama conseguiu obter uma carta ambígua de concessão de direitos para comerciar, mas acabou por partir sem aviso após o Samorim e o seu chefe da Marinha Kunjali Marakkar insistirem para que deixasse todos os seus bens como garantia. Vasco da Gama manteve os seus bens, mas deixou alguns portugueses com ordens para iniciar uma feitoria.

Regresso a Portugal

Vasco da Gama iniciou a viagem de regresso a 29 de Agosto de 1498. Na ânsia de partir, ignorou o conhecimento local sobre os padrões da monção que lhe permitiria velejar. Na Ilha de Angediva foram abordados por um homem que se afirmava cristão mas que se fingia de muçulmano ao serviço de Hidalcão, o sultão de Bijapur. Suspeitando que era um espião, açoitaram-no até que ele confessou ser um aventureiro judeu polaco no Oriente. Vasco da Gama apadrinhou-o, nomeando-o Gaspar da Gama.

Na viagem de ida, cruzar o Índico até à Índia com o auxílio dos ventos de monção demorara apenas 23 dias. A de regresso, navegando contra o vento, consumiu 132 dias, tendo as embarcações aportado em Melinde a 7 de Janeiro de 1499. Nesta viagem cerca de metade da tripulação sobrevivente pereceu, e muitos dos restantes foram severamente atingidos pelo escorbuto, por isso dos 148 homens que integravam a armada, só 55 regressaram a Portugal. Apenas duas das embarcações que partiram do Tejo conseguiram voltar a Portugal, chegando, respectivamente em Julho e Agosto de 1499. A caravela Bérrio, sendo a mais leve e rápida da frota, foi a primeira a regressar a Lisboa, onde aportou a 10 de Julho de 1499, sob o comando de Nicolau Coelho e tendo como piloto Pêro Escobar, que mais tarde acompanhariam a frota de Pedro Álvares Cabral na viagem em que se registrou o descobrimento do Brasil em Abril de 1500.

Vasco da Gama regressou a Portugal em Setembro de 1499, um mês depois de seus companheiros, pois teve de sepultar o irmão mais velho Paulo da Gama, que adoecera e acabara por falecer na ilha Terceira, nos Açores. No seu regresso, foi recompensado como o homem que finalizara um plano que levara oitenta anos a cumprir. Recebeu o título de "almirante-mor dos Mares das Índia", sendo-lhe concedida uma renda de trezentos mil réis anuais, que passaria para os filhos que tivesse. Recebeu ainda, conjuntamente com os irmãos, o título perpétuo de Dom e duas vilas, Sines e Vila Nova de Milfontes.

Segunda viagem à Índia (1502)

A 12 de Fevereiro de 1502, Vasco da Gama comandou nova expedição com uma frota de vinte navios de guerra, com o objetivo de fazer cumprir os interesses portugueses no Oriente. Fora convidado após a recusa de Pedro Álvares Cabral, que se desentendera com o monarca acerca do comando da expedição. Esta viagem ocorreu depois da segunda armada à Índia, comandada por Pedro Álvares Cabral em 1500, que ao desviar-se da rota descobrira o Brasil. Quando chegou à Índia, Cabral soube que os portugueses que haviam sido aí deixados por Vasco da Gama na primeira viagem para estabelecer um posto comercial haviam sido mortos. Após bombardear Calecute, rumou para o sul até Cochim, um pequeno reino rival, onde foi calorosamente recebido pelo Rajá, regressando à Europa com seda e ouro.

Gama tomou e exigiu um tributo à ilha de Quíloa na África Oriental, um dos portos de domínio árabe que haviam combatido os portugueses, tornando-a tributária de Portugal. Com ouro proveniente de 500 moedas trazidas por Vasco da Gama do régulo de Quíloa (actual Kilwa Kisiwani, na Tanzânia), como tributo de vassalagem ao rei de Portugal, foi mandada criar, pelo rei D. Manuel I para o Mosteiro dos Jerónimos, a Custódia de Belém.

Nesta viagem ocorreu o primeiro registo europeu conhecido do avistamento das ilhas Seychelles, que Vasco da Gama nomeou Ilhas Amirante (ilhas do Almirante) em sua própria honra.

Vasco da Gama partira com o objectivo de instalar o centro português e uma feitoria em Cochim, após esforços consecutivos de Pedro Álvares Cabral e João da Nova. Bombardeou Calecute e destruiu postos de comércio árabes.

Depois de chegar ao norte do Oceano Índico, Vasco da Gama aguardou até capturar um navio que retornava de Meca, o Mîrî, com importantes mercadores muçulmanos, apreendendo todas as mercadorias e incendiando-o. Ao chegar a Calecute, a 30 de Outubro 1502, o samorim estava disposto a assinar um tratado, num acto de ferocidade que chocou até os cronistas contemporâneos, que o consideraram um acto e vingança pelos portugueses mortos em Calecute da sua primeira viagem.

Em 1 de Março de 1503 inicia-se a guerra entre o samorim de Calecute e o rajá de Cochim. Os seus navios assaltaram navios mercantes árabes, destruindo também uma frota de 29 navios de Calecute. Após essa batalha, obteve então concessões comerciais favoráveis do Samorim. Vasco da Gama fundou a colônia portuguesa de Cochim, na Índia, regressando a Portugal em Setembro de 1503. Vasco da Gama voltou a pátria em 1513 e levou vida retirada, em Évora, apesar da consideração de que gozava junto do rei.

Terceira viagem à Índia (1524)

Em 1519 foi feito primeiro Conde da Vidigueira pelo rei D. Manuel I, com sede num terreno comprado a D. Jaime I, Duque de Bragança, que a 4 de Novembro cedera as vilas da Vidigueira e Vila de Frades a Vasco da Gama, seus herdeiros e sucessores, bem como todos os rendimentos e privilégios relacionados, sendo o primeiro Conde português sem sangue real.

Tendo adquirido uma reputação de temível "solucionador" de problemas na Índia, Vasco da Gama foi enviado de novo para o subcontinente indiano em 1524. O objectivo era o de que ele substituísse o Duarte de Meneses, cujo governo se revelava desastroso, mas Vasco da Gama contraiu malária pouco depois de chegar a Goa. Como vice-rei atuou com rigidez e conseguiu impor a ordem, mas veio a falecer na cidade de Cochim, na véspera de Natal em 1524.

Túmulo de Vasco da Gama
no Mosteiro dos Jerónimos,
Lisboa.
Foi sepultado na Igreja de São Francisco (Cochim). Em 1539 os seus restos mortais foram transladados para Portugal, mais concretamente para a Igreja de um convento carmelita, conhecido actualmente como Quinta do Carmo (hoje propriedade privada), próximo da vila alentejana da Vidigueira, como conde da Vidigueira de juro e herdade (ou seja, a si e aos seus descendentes) desde 1519.

Aqui estiveram até 1880, data em que ocorreu a trasladação para o Mosteiro dos Jerónimos, que foram construídos logo após a sua viagem, com os primeiros lucros do comércio de especiarias, ficando ao lado do túmulo de Luís Vaz de Camões. Há quem defenda, porém, que os ossos de Vasco da Gama ainda se encontram na vila alentejana. Como testemunho da trasladação das ossadas, em frente à estátua do navegador na Vidigueira, existe a antiga Escola Primária Vasco da Gama (cuja construção serviu de moeda de troca para obter permissão para efectuar a trasladação à época), onde se encontra instalado o Museu Municipal de Vidigueira.

Legado

O comércio de especiarias viria a ser um trunfo para a economia portuguesa, e a viagem de Vasco da Gama deixou clara a importância da costa leste da África para os interesses portugueses: os seus portos forneciam água potável, víveres e madeira, serviam para reparos e como abrigo para os navios esperarem em tempos desfavoráveis (aguardando a monção, ou abrigando-se de ataques). Um resultado significativo desta exploração foi a colonização de Moçambique pela Coroa Portuguesa.

Embora o rei D. Manuel tenha compreendido a importância das suas mercadorias, apesar de escassas, as conquistas de Vasco da Gama foram um pouco obscurecidas pelo seu fracasso em trazer bens comerciais de interesse para as nações da Índia. Além disso, a rota de mar estava repleta de perigos – a sua frota levou mais de trinta dias sem ver terra e apenas 60 dos seus 180 companheiros, numa das suas três naus, regressaram a Portugal em 1498. No entanto, esta jornada abriu a rota do cabo direta para a Ásia.

Na segunda armada à Índia, de Pedro Álvares Cabral, seria feita uma demonstração de poder, com tripulação dez vezes maior e 9 navios a mais.

P.S.: O poema épico "Os Lusíadas" (1572) de Luís Vaz de Camões, centra-se em grande parte nas viagens de Vasco da Gama.  

domingo, 26 de maio de 2013

Descobrimento da America: America Central e Pacífico

Viagem de Balboa em 1513
Em 1502, o irmão Nicolau de Ovando, de uma Ordem religiosa espanhola, chegou a Hispaniola com 2.500 colonos. Convidou todos os chefes nativos para um esplêndido banquete na sua própria casa e depois os matou. Escravizou facilmente os líderes nativos remanescentes, deixados sem liderança. No ano seguinte, Ponde de Leon esmagou uma rebelião na extremidade daquela ilha, com o massacre de 7 mil tainos. Os espanhóis se espalharam por toda aquela área, e a população registrada da ilha rapidamente declinou de 60 mil, em 1509, para 11 mil, em 1518.

Com os nativos morrendo de excesso de trabalho, doenças incomuns para eles e a disciplina férrea, os espanhóis começaram a fazer incursões nas ilhas vizinhas para angariar mão de obra nova. Quando essas ilhas também ficaram esgotadas de gente, eles foram para a ilha seguinte e depois outra, até que todos os indígenas das Índias Ocidentais estavam ou escravizados ou, em proporção cada vez maior, mortos.

A América Central

Durante diversos anos os navegadores haviam esbarrado numa grande massa de terra a sudoeste das Índias Ocidentais, uma delas com um rio tão grande que deveria drenar água de um continente inteiro. Uma tentativa inicial de colonizar a região foi abandonada logo que os espanhóis viram a selva e seus nativos ameaçadores. A bordo estava Vasco de Balboa que, em vez de continuar a exploração, decidiu se estabelecer em Hispaniola, onde não teve muito sucesso como fazendeiro.

Em 1508, quando outra grande força espanhola partiu para conquistar o continente ocidental, Balboa se escondeu como clandestino entre os suprimentos da expedição, a fim de escapar de seus credores. Embora o primeiro impulso do comandante da frota fosse de abandonar o clandestino na ilha seguinte, Balboa convenceu-o de que sua experiência anterior no continente poderia lhe ser útil.

A expedição desembarcou no Panamá, fundou uma cidade, matou alguns nativos e começou a explorar os arredores, apoderando-se de ouro sempre que encontravam. Quando o comandante da empreitada começou a cobrar impostos sobre o ouro dos colonos, Balboa chefiou um motim que o levou ao comando. Logo chegou o novo governador, vindo de Hispaniola, para assumir o controle da colônia, mas Balboa o aprisionou e o empurrou para o mar numa canoa fazendo água, a qual nunca mais foi vista.

Chegada ao Pacífico

Enquanto explorava a fundo o interior da terra, trocando ou roubando quinquilharias e joias de ouro dos indígenas, Balboa ouviu histórias de outro oceano, além da terra firme, onde havia abundância de ouro, talvez relacionado com o Império Inca do Peru. Após esta notícia, Balboa organizou uma expedição espanhola de 190 (que era Francisco Pizarro) e 800 índios que primeiro atravessou o istmo do Panamá para verificar se aquela poderia ser uma nova passagem para a Ásia. 

Gravura de Theodor de Bry (1594):
Vasco Núñez de Balboa 'larga'
seus cães de ataque por cima
de homossexuais masculinos
efeminados da terra.
Abriu caminho a custo, lutando com tribo após tribo, e despojando-as de ouro e pérolas. Quando descobriu que os homens de uma tribo se vestiam de mulheres, ele fez com que seus cães de caça os despedaçassem. Finalmente, no dia 25 de setembro de 1513 avistou o cobiçado mar, que ele chamou de Mar del Sur por causa da direção seguida pela expedição do ponto de partida, mas foi mais tarde chamado o Oceano Pacífico através da emissão de Fernão de Magalhães (1520) por causa do suave vento soprando ventos alísios na mesma. Depois de tomar posse do mar em nome da Espanha, Balboa e seus homens retornaram para Darien em janeiro de 1514

Esse foi o zênite de sua carreira. Um novo governador enviado pela Coroa, Pedrarias, logo substituiu e fez decapitar Balboa. Esse homem mostrou ser mais cruel do que Balboa, varrendo de cena quase todos os indígenas locais, à procura de ouro.

sábado, 25 de maio de 2013

Descobrimento da América: México

Hernán Cortês
Diversas expedições ao México, tanto planejadas quanto acidentais, já haviam se dado mal ao se defrontarem com a hostilidade dos nativos, mas o governador de Cuba, Velásquez, quis tentar de novo. Em 1519, ele pediu a Hernán Cortês, um dos colonos mais ricos da ilha, para investigar histórias de uma misteriosa terra para oeste. Cortês deveria fazer contato, estabelecer comércio e relatar o que viu, mas conforme os preparativos progrediam, Velásquez notou que Cortês estava entusiasmado demais com a missão, equipando uma expedição muito maior e com armamento muito mais poderoso do que aquele que o governador tinha em mente.

Finalmente, Velásquez percebeu que o primeiro homem a alcançar o México teria uma terra virgem para saquear, e que ele havia justamente entregue essa oportunidade a um rival pouco confiável. No último minuto, ele tentou retirar a permissão para a expedição, mas o cunhado de Cortês fez com que o emissário do governador se perdesse e o matou, o que deu a Cortês a oportunidade de escapar. No momento, tecnicamente amotinado contra a autoridade legal, Cortês não tinha lugar para ir, a não ser seguir adiante.

México

Logo depois de desembarcar no México, na península de Yucatã, os espanhóis encontraram um compatriota extraviado, de uma fracassada expedição anterior, e que conhecia a região, bem como a língua maia local. Esse homem levou Cortês para o norte, na direção do Império Asteca. Conforme navegavam acompanhando o litoral, uma aldeia nativa recebeu Cortês de bom grado, e lhe deu diversas mulheres para que ele fizesse com elas o que quisesse, uma das quais, Malinche, mostrou-se extremamente útil. Ela falava tanto maia quanto nahuatl, a língua dos astecas, e depois aprendeu espanhol. O mais importante é que, depois de ter sido vendida para ser escrava por seu padastro e passado por diversas mãos, ela não foi especialmente leal para com seu povo. Todos os relatos a descrevem como linda e inteligente, participando ao lado de Cortês, em todas as reuniões sussurrando conselhos no ouvido do comandante. Por fim, ela teve um filho de Cortês e desapareceu da história.

Vera Cruz

Desembarcando finalmente em Vera Cruz, os espanhóis seguiram a pé. Durante a marcha para o interior, Cortês e seus quinhentos soldados derrotaram os exércitos reunidos dos tlaxcalas, inimigos mortais dos astecas. Aterrorizados pela demonstração de força dos espanhóis, aquela tribo rapidamente mudou-se para o lado vencedor, e aceitou Cortês como seu aliado. Em outubro de 1519, Cortês reencetou a marcha, agora reforçado com 3 mil nativos. Ele atacou a cidade sagrada asteca de Choluta, matando 3 mil habitantes e incendiando-a.

Por fim, Cortês entrou com seu exército por uma larga avenida na capital asteca de Tenochtitlán, uma magnificente cidade de pirâmides, lagos com peixes e jardins, ao longo de canais interligados. A cidade se erguia em ilhas no centro de um lago. Viam-se por toda parte braceletes, quinquilharias e ornamentos de ouro. Embora ninguém realmente saiba quantas pessoas viviam ali, todos os historiadores concordam que Tenochtitlán era maior que qualquer cidade europeia da época, exceto Constantinopla.

Encontrando-se com Montezuma

Palácio de Montezuma
Na primeira reunião, o imperador asteca, Montezuma, convidou Cortês para ficar hospedado no seu palácio, como convidado de honra, mas no decorrer das semanas seguintes Cortês começou a restringir e controlar os movimentos do imperador, transformando-o num títere aprisionado. Depois chegaram notícias de que outra força espanhola desembarcara no litoral, com ordem de Velásquez para colocar Cortês sob seu comando. Cortês voltou rapidamente e derrotou os recém-chegados numa batalha, mas suas histórias de uma grande cidade de ouro convenceram os sobreviventes a se juntarem a ele.

Nesse ínterim, a guarnição que Cortês deixara em Tenochtitlán interrompera um festim religioso, ou para assassinar, ou para roubar os ricos astecas, conforme a história contada pelos nativos, ou para evitar sacrifícios humanos, conforme a história contada pelos espanhóis. Quando voltou, Cortês encontrou os astecas em estado de rebelião e seus compatriotas sitiados e morrendo de inanição no palácio. Cortês colocou Montezuma num balcão e apelou para a calma, mas o imperador foi alvejado com pedras e morto. Então Cortês se viu escorraçado da cidade, batalhando para fugir. A maior parte dos espanhóis foi capturada e sacrificada durante a retirada. Seus gritos, ao terem o corpo aberto pelos sacerdotes, podiam ser ouvidos à noite por seus companheiros que fugiam.

A Batalha da
Noite Triste, em 1520.
"Ouvia-se o sinistro bater dos tambores, e de muitas outras conchas, cornetas de chifre e coisas como trombetas, e o som delas todas era aterrorizante, e nós todos olhávamos na direção da alta pirâmide... e vimos que nossos companheiros... estavam sendo carregados à força pelos degraus acima...
Nós os vimos colocar plumas na cabeça de muitos deles, e com coisas como leques nas mãos eles o forçaram a dançar diante deles, e depois que haviam dançado, eles imediatamente os colocaram deitados de costas em pedras bem estreitas... e com algumas facas abriram seus peitos e tiraram seus corações palpitantes e os ofereceram a seus ídolos.
Jogaram os corpos degraus abaixo, aos pontapés, e os carniceiros indígenas que esperavam embaixo cortaram seus braços e pernas, e arrancaram a pele dos rostos e a prepararam depois como couro de luvas, ainda com a barba... e a carne deles eles a comeram."

Segundo a lenda, após a batalha, o líder espanhol Hernán Cortés teria sentado embaixo de uma árvore e chorado a morte de grande parte de seus soldados. Por isso essa batalha ficou conhecida como Noite Triste.

Varíola

Enquanto os remanescentes espanhóis se recuperavam entre os tlaxcalas, um aliado invisível destruiu os astecas para eles. A varíola é uma doença do Velho Mundo que deixa os sobreviventes com cicatrizes, mas que os torna imunes a infecções posteriores. Por gerações, os europeus vinham herdando desses sobreviventes a resistência contra a doença, e por volta do século XVI a varíola era uma doença infantil na Europa. Adultos raramente morriam por sua causa, a menos que pertencessem a uma população que nunca fora exposta a ela anteriormente. Bem, a varíola e outras doenças infecciosas, como o sarampo, a gripe, a tuberculose, por exemplo, estavam varrendo do mapa populações suscetíveis do hemisfério ocidental. A epidemia que atingiu os astecas matou o novo rei e milhares de pessoas.

Vingança 

Os espanhóis construíram uma frota de barcos portáteis e voltaram a Tenochtitlán com 80 mil tlaxcalanos aliados. A força de Cortês atacou, então, através dos lagos e canais de Tenochtitlán contra uma defesa determinada, casa a casa. Cortês foi abrindo caminho, derrotando todas as resistências, desmantelando a cidade conforme progredia. Cerca de 200 mil astecas morreram na luta para salvar sua cidade. Quando terminou a batalha, os canais estavam entupidos de cadáveres, e Cortês extinguira uma importante civilização mundial, mas estava mais rico do que jamais poderia imaginar. 

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Descobrimento da América: Peru e os Incas

O Império Inca, que se estendia ao longo da espinha dorsal montanhosa da América do Sul, era a entidade nativa mais adiantada das Américas. Tendo mais quilômetros de comprimento do que os Estados Unidos em largura, o Peru incaico era uma terra de Ihamas e alpacas, fortalezas de pedra e fazendas em terraços construídos gradualmente nas encostas das montanhas. Durante suas primeiras décadas no Novo Mundo, os espanhóis nem mesmo sabiam de sua existência, até que Francisco Pizarro, um ex-auxiliar de Balboa, analfabeto, partiu de navio do Panamá para o sul. Encontrando um barco de comércio nativo, ele arregimentou uns poucos indígenas para servir como guias e tradutores. Logo depois entrou no porto peruano de tumbes e foi recebido amistosamente. Soube então do vasto Império Inca, que se estendia para cima e para baixo, ao longo da costa, mas, o que é mais importante, Pizarro percebeu como esses povos eram ricos e vulneráveis.

Depois de uma agradável visita, os europeus se despediram de seus anfitriões nativos, e a corrida começou. O governador da cidade enviou mensageiros ao rei inca levando notícias dos estrangeiros, enquanto Pizarro voltava à Espanha com seu relato.

Permissão Para Conquistar os Incas

O rei da Espanha deu a Pizarro permissão para conquistar os incas, e, em 1531, ele refez o itinerário anterior. Dessa vez, entretanto, Pizarro descobriu que os tumbes haviam sido saqueados e massacrados. Ao marcharem na direção do interior, sem oposição, os espanhóis perceberam que nas aldeias no seu caminho não havia homens. A varíola chegara antes dos espanhóis. Mais ou menos na época da primeira visita de Pizarro, a varíola estava se espalhando pelo interior, matando o rei inca e seu herdeiro presuntivo. Os dois filhos sobreviventes haviam passado grande parte daqueles anos de ausência dos espanhóis lutando pelo controle do império e recrutando todo homem fisicamente capaz que podia capturar. O vencedor, Atahualpa, esperava que os espanhóis chegassem a qualquer momento, mas ele os considerava menos perigosos do que os membro de sua própria família.

Francisco Pizarro e duzentos espanhóis conquistaram a cidade deserta de Cajamarca. Combinaram um encontro com Atahualpa, que chegou à praça principal com 80 mil soldados, num enorme esplendor, marchando com tambores, penachos, lanças e machados de pedra.

Entretanto os nativos encontraram a praça misteriosamente vazia. Um frade dominicano se aproximou para negociar, oferecendo a Atahualpa uma escolha: converter-se ao cristianismo ou ser atacado. Essa era a oferta legal padrão que precedia todas as guerras contra os pagãos. Os cristãos eram proibidos de lutar contra outros cristãos sem uma boa razão ou, pelo menos, uma desculpa plausível, mas os pagãos, a qualquer tempo, eram uma presa fácil, de modo que a regra era simples: confirmar o paganismo deles e depois atacar.

Quando Atahualpa não levou a sério essa ameaça, partida de duzentos estrangeiros sujos, os espanhóis, escondidos, varreram a praça com o fogo de suas armas e atacaram os incas amontoados com cavalos e sabres, matando 8 mil nativos sem praticamente sofrer nenhuma baixa. Pizarro aprisionou Atahualpa pessoalmente e arrancou-o de sua liteira, levando-o para o cativeiro. Forçado a comprar sua liberdade, Atahualpa concordou em encher uma sala com ouro e prata, como resgate. Preciosas peças artísticas, reunidas pelo império durante séculos, foram entregues aos espanhóis, que as derreteram e as quebraram a golpes de martelo para ficarem mais fáceis de transportar.

Mesmo depois de pago o resgate, os espanhóis mantiveram o imperador preso. Este percebeu que era descartável, desde que outros governantes em potencial continuassem livres e vivos, de modo que enviou ordens para eliminar a família imperial, por todo o império  Seu irmão e rival, Huascar, estava entre os que foram mortos. Esse ato não apenas de nada adiantou, mas também deu a Pizarro uma desculpa para se livrar de Atahualpa. O rei inca foi sentenciado a ser queimado vivo, mas disseram-lhe que, se se convertesse ao cristianismo, receberia uma pena mais leve. Atahualpa concordou, de modo que, em vez de levá-lo à fogueira, os espanhóis o estrangularam.


Machu Picchu

Foram necessários muitos anos de dura luta para os espanhóis assumirem o controle de todo o Peru. Um príncipe rebelde dos incas se refugiou na fortaleza montanhosa de Machu Picchu e os espanhóis tiveram de conquistar seu território passo a passo. Nesse ínterim, um fluxo constante de novos conquistadores chegou para participar da ação. Antes mesmo do Peru ser pacificado, os conquistadores começaram a brigar entre si, mas, com o tempo, a Espanha passou a controlar toda a região.

Depois, em 1549, os espanhóis descobriram uma montanha de minério de prata em Potosi, hoje no sul da Bolívia. Ao longo das gerações que se seguiram, os trabalhadores indígenas foram sistematicamente recrutados nas áreas vizinhas para cavar a montanha, até que caíssem exaustos. Os acidentes nas minas matavam dezenas de cada vez, enquanto os vapores de mercúrio destruíam o sistema nervoso de outros mineiros. Os trabalhadores morreram às dezenas de milhares, mas a prata de Potosi financiou as ambições da Espanha por todo o século.

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Descobrimento da América: Brasil

O descobrimento do Brasil refere-se à chegada, em 22 de abril de 1500, da frota comandada por Pedro Álvares Cabral ao território onde hoje se localiza o Brasil. O termo "descobrir" é utilizado nesse caso em uma perspectiva eurocêntrica, referindo-se estritamente à chegada de europeus, mais especificamente portugueses, às terras de "Vera Cruz", o atual Brasil, que já eram habitadas por vários povos indígenas. Tal descoberta faz parte dos descobrimentos portugueses.

Embora quase exclusivamente utilizado em relação à viagem de Pedro Álvares Cabral, o termo "descoberta do Brasil", também pode referir-se à suposta chegada de outros navegantes europeus antes dele. Esse é o caso das possíveis expedições de Duarte Pacheco Pereira em 1498 e mais tarde do espanhol Vicente Yáñez Pinzón em 26 de janeiro de 1500.

A armada

Para selar o sucesso da viagem de Vasco da Gama de descobrimento do caminho marítimo para a Índia - que permitia contornar o Mediterrâneo, então sob domínio dos mouros e das nações italianas, o Rei D. Manuel I se apressou em mandar aparelhar uma nova frota para as Índias. Uma vez que a pequena frota de Vasco da Gama tivera dificuldades em impor-se e comerciar, esta seria a maior até então constituída, sendo composta por treze embarcações e mais de mil homens. Com exceção dos nomes de duas naus e de uma caravela, não se sabe como se chamavam os navios comandados por Cabral. Estima-se que a armada levasse mantimentos para cerca de dezoito meses.

Rota seguida por Cabral
para a Índia em 1500 (em vermelho)
e a rota de retorno (em azul).
Aquela era a maior esquadra até então enviada para singrar o Atlântico: dez naus, três caravelas e uma naveta de mantimentos. Embora não se saiba o nome da nau capitânia, a nau sota-capitânia, capitaneada pelo vice-comandante da armada, Sancho de Tovar se chamava El Rei. A outra cujo nome permaneceu é a Anunciada, comandada por Nuno Leitão da Cunha. Esta última pertencia a Dom Álvaro de Bragança, filho do duque de Bragança, e fora equipada com os recursos de Bartolomeu Marchionni e Girolamo (ou Jerônimo) Sernige, banqueiros florentinos que residiam em Lisboa e investiam no comércio de especiarias. As cartas que eles trocaram com seus sócios e acionistas italianos preservaram o nome do navio.

Conservou-se ainda o nome da caravela capitaneada por Pero de Ataíde, a São Pedro. A outra caravela, comandada por Bartolomeu Dias, teve o seu nome perdido. A armada era completada por uma naveta de mantimentos, comandada por Gaspar de Lemos. Coube a ela retornar a Portugal com as notícias sobre a descoberta do Brasil.

Baseado em documento incompleto que localizou na Torre do Tombo, em Lisboa, Francisco Adolfo de Varnhagen identificou cinco das dez naus que compunham a frota cabralina. Seriam elas Santa Cruz, Vitória, Flor de la Mar, Espírito Santo e Espera. A fonte citada por Varnhagen nunca foi reencontrada, portanto a maioria dos historiadores prefere não adotar os nomes por ele listados. A armada, assim, continua quase anônima.

Outros historiadores do século XIX declararam que a nau capitânia de Cabral era a lendária São Gabriel, a mesma comandada por Vasco da Gama na histórica viagem em que se descobriu o caminho marítimo para as Índias, três anos antes. Entretanto, não existem documentos para comprovar a tese.

Pouco antes da partida, el-Rei mandou rezar uma missa, no Mosteiro de Belém, presidida pelo bispo de Ceuta, D. Diogo de Ortiz, em pessoa, onde benzeu uma bandeira com as armas do Reino e entregou-a em mãos a Cabral, despedindo-se o rei do fidalgo e dos restantes capitães.

Vasco da Gama teria tecido considerações e recomendações para a longa viagem que se chegava: a coordenação entre os navios era crucial para que não se perdessem uns dos outros. Recomendou então ao capitão-mor disparar os canhões duas vezes e esperar pela mesma resposta de todos os outros navios antes de mudar o curso ou velocidade (método de contagem ainda atualmente utilizado em campo de batalha terrestre), dentre outros códigos de comunicação semelhantes.

A chegada a Vera Cruz

Desembarque de Cabral
em Porto Seguro (óleo sobre tela),
autor: Oscar Pereira da Silva, 1904.
Acervo do Museu Histórico Nacional, Rio de Janeiro.
No dia 24 de Abril, Andreza Balbino e Cabral receberam os nativos no seu navio. Então, acompanhado de Sancho de Tovar, Simão de Miranda, Nicolau Coelho, Aires Correia e Pero Vaz de Caminha, recebeu o grupo de índios que reconheceram de imediato o ouro e a prata que se fazia surgir no navio — nomeadamente um fio de ouro de D. Pedro e um castiçal de prata — o que fez com que os portugueses inicialmente acreditassem que havia muito ouro naquela terra. Entretanto, Caminha, em sua carta, confessa que não sabia dizer se os índios diziam mesmo que ali havia ouro, ou se o desejo dos navegantes pelo metal era tão grande que eles não conseguiram entender diferentemente. Posteriormente, provou-se que a segunda alternativa era a verdadeira.

O encontro entre portugueses e índios também está documentado na carta escrita por Caminha. O choque cultural foi evidente. Os indígenas não reconheceram os animais que traziam os navegadores, à exceção de um papagaio que o capitão trazia consigo; ofereceram-lhes comida e vinho, os quais os índios rejeitaram. A curiosidade tocou-lhes pelos objectos não reconhecidos - como umas contas de rosário, e a surpresa dos portugueses pelos objetos reconhecidos - os metais preciosos. Fez-se curioso e absurdo aos portugueses o fato de Cabral ter vestido-se com todas as vestimentas e adornos os quais tinha direito um capitão-mor frente aos índios e estes, por sua vez, terem passado por sua frente sem diferenciá-lo dos demais tripulantes.

Os indígenas começaram a tomar conhecimento da fé dos portugueses ao assistirem a Primeira Missa, rezada por Frei Henrique de Coimbra, em um domingo, 26 de abril de 1500. Logo depois de realizada a missa, a frota de Cabral rumou para as Índias, seu objetivo final, mas enviou um dos navios de volta a Portugal com a carta de Caminha. No entanto, posteriormente, com a chegada de frotas lusitanas com o objetivo de permanecer no Brasil - e a tentativa de evangelizar os índios de fato -, os portugueses perceberam que a suposta facilidade na cristianização dos indígenas na verdade traduziu-se apenas pela curiosidade destes com os gestos e falas ritualísticos dos europeus, não havendo um real interesse na fé católica, o que forçou os missionários a repensarem seus métodos de conquista espiritual.

Os povos nativos

Os povos que habitavam o Brasil na época da chegada de Cabral viviam na Idade da Pedra, entre a passagem do Paleolítico para o Neolítico, uma vez que praticavam uma incipiente agricultura (milho e mandioca) e domesticação de animais (porco do mato e capivara). Isso significa que estavam entre 300.000 e 12.000 anos atrás dos europeus. Contudo, tinham amplo conhecimento da produção de bebidas alcoólicas fermentadas (mais de 80), utilizando como matéria prima raízes, tubérculos, cascas, frutos, etc. O impacto causado pela chegada dos portugueses é o mesmo que causaria hoje a chegada de nave de extraterrestres pertencentes a uma civilização milhares de anos mais avançada do que a nossa.

Quando da chegada ao Brasil pelos portugueses, o litoral baiano era ocupado por duas nações indígenas do grupo linguístico tupi: os tupinambás, que ocupavam a faixa compreendida entre Camamu e a foz do Rio São Francisco; e os tupiniquins, e que se estendiam de Camamu até o limite com o atual estado brasileiro do Espírito Santo. Mais para o interior, ocupando a faixa paralela àquela apropriada pelos tupiniquins, estavam os aimorés.

No início do processo de colonização do Brasil, os tupiniquins apoiaram os portugueses, enquanto seus rivais, os tupinambás, apoiaram os franceses, que durante os séculos XVI e XVII realizaram diversas ofensivas contra a América Portuguesa. A presença dos europeus incendiou mais o ódio entre as duas tribos, ódio relatado por Hans Staden, viajante alemão, em seu sequestro pelos tupinambás. Ambas as tribos possuíam cultura antropofágica com relação aos seus rivais, característica que durante séculos não fora compreendida pelos europeus, o que resultou na posterior caça àqueles que se recusassem a mudar esse hábito.

Polêmica

Existem outros navegadores que teriam chegado ao Brasil em datas anteriores a Pedro Álvares Cabral, entre eles Vicente Yáñez Pinzón, Diego de Lepe, João Coelho da Porta da Cruz e Duarte Pacheco Pereira. Este últimos teriam estado na costa do Brasil, respectivamente em 1493 e 1498.

No ano 2000, comemorou-se o aniversário de 500 anos do Descobrimento do Brasil, o que provocou polêmica em redor da data. Para muitos, a comemoração implicaria que a história do Brasil completou o quinto centenário no ano 2000, uma perspectiva vista como eurocêntrica, desconsiderando os povos nativos.