domingo, 31 de março de 2013

Idade Média

A Idade Média (adj. medieval) é um período da história da Europa entre os séculos V e XV. Inicia-se com a Queda do Império Romano do Ocidente (476) e termina com a conquista de Constantinopla pelos turcos em 1453. A Idade Média é o período intermédio da divisão clássica da História ocidental em três períodos: a Antiguidade, Idade Média e Idade Moderna, sendo frequentemente dividido em Alta e Baixa Idade Média.

Durante a Alta Idade Média verifica-se a continuidade dos processos de despovoamento, regressão urbana, e invasões bárbaras iniciadas durante a Antiguidade tardia. Os ocupantes bárbaros formam novos reinos, apoiando-se na estrutura do Império Romano do Ocidente. No século VII, o Norte de África e o Médio Oriente, que tinham sido parte do Império Romano do Oriente tornam-se territórios islâmicos depois da sua conquista pelos sucessores de Maomé. O Império Bizantino sobrevive e torna-se uma grande potência. No Ocidente, embora tenha havido alterações significativas nas estruturas políticas e sociais, a rutura com a Antiguidade não foi completa e a maior parte dos novos reinos incorporaram o maior número possível de instituições romanas pré-existentes. 

O cristianismo disseminou-se pela Europa ocidental e assistiu-se a um surto de edificação de novos espaços monásticos. Durante os séculos VII e VIII, os Francos, governados pela dinastia carolíngia, estabeleceram um império que dominou grande parte da Europa ocidental até ao século IX, quando se desmoronaria perante as investidas de Vikings do norte, Magiares de leste e Sarracenos do sul.

Durante a Baixa Idade Média, que teve início depois do ano 1000, verifica-se na Europa um crescimento demográfico muito acentuado e um renascimento do comércio, à medida que inovações técnicas e agrícolas permitem uma maior produtividade de solos e colheitas. É durante este período que se iniciam e consolidam as duas estruturas sociais que dominam a Europa até ao Renascimento: o senhorialismo – a organização de camponeses em aldeias que pagam renda e prestam vassalagem a um nobre – e o feudalismo — uma estrutura política em que cavaleiros e outros nobres de estatuto inferior prestam serviço militar aos seus senhores, recebendo como compensação uma propriedade senhorial o direito a cobrar impostos em determinado território. 

As Cruzadas, anunciadas pela primeira vez em 1095, representam a tentativa da cristandade em recuperar dos muçulmanos o domínio sobre a Terra Santa, tendo chegado a estabelecer alguns estados cristãos no Médio Oriente. A vida cultural foi dominada pela escolástica, uma filosofia que procurou unir a fé à razão, e pela fundação das primeiras universidades. A obra de Tomás de Aquino, a pintura de Giotto, a poesia de Dante e Chaucer, as viagens de Marco Polo e a edificação das imponentes catedrais góticas estão entre as mais destacadas façanhas artísticas deste período.

Os dois últimos séculos da Baixa Idade Média ficaram marcados por várias guerras, adversidades e catástrofes. A população foi dizimada por sucessivas carestias e pestes; só a peste negra foi responsável pela morte de um terço da população europeia entre 1347 e 1350. O Grande Cisma do Ocidente no seio da Igreja teve consequências profundas na sociedade e foi um dos fatores que esteve na origem de inúmeras guerras entre estados. Assistiu-se também a diversas guerras civis e revoltas populares dentro dos próprios reinos. O progresso cultural e tecnológico transformou por completo a sociedade europeia, concluindo a Idade Média e dando início à Idade Moderna.

sábado, 30 de março de 2013

Invasão Vicking na Grã-Bretanha

Inglaterra por volta de
800.
A Crônica Anglo-Saxônica registra a incursão de 793 contra o mosteiro de Lindisfarne como ponto de partida na longa história de ataques vikings contra a Grã-Bretanha.

Após um período de saques e incursões, os vikings começaram a colonizar a Inglaterra e ali comercializar. Chegaram em barcos com bons exércitos, em sua maioria dinamarqueses, e tomaram para si praticamente todos os reinos ingleses, que eram independentes. A partir do fim do século IX, governavam parte considerável do território inglês, no que era conhecido como o Danelaw.

Alfredo, o Grande impediu a invasão dos vikings em seu reino, Wessex, por meio da construção de diversas fortalezas. Seu sucesso contra as incursões vikings e a reorganização do reino por ele empreendida fizeram com que a história lhe outorgasse o epíteto "o Grande".

O desafio Viking e a ascensão de Wessex

De acordo com as Crônicas Anglo-Saxãs, o primeiro ataque viking na Grã-Bretanha ocorreu em 793 no monastério de Lindisfarne. Entretanto, nesta época, os vikings já se encontravam, quase com certeza, bem estabelecidos em Orkney e Shetland, desta forma, é provável que muitos outros ataques (não registrados) tenham ocorrido antes. Registros mostram que o primeiro ataque viking em Iona ocorreu em 794. A chegada dos vikings, em especial do grande exército dinamarquês, desorganizou a geografia política e social da Grã-Bretanha e da Irlanda. A vitória de Alfred, o Grande em Edington em 878 estancou o ataque dinamarquês, entretanto, naquela altura Nortúmbria tinha se transformado em Bernicia e um reino viking, Mércia tinha sido dividida ao meio e Ânglia Oriental tinha deixado de existir como uma organização política anglo-saxônica. Os vikings tiveram efeitos semelhantes sobre os vários reinos escoceses, pictos e, em menor grau, galeses. Certamente, no norte da Grã-Bretanha os vikings foram uma das razões por trás da formação do Reino de Alba, que finalmente evoluiu para a Escócia.

A conquista da Nortúmbria, noroeste da Mércia e Ânglia Oriental pelos dinamarqueses difundiu assentamentos dinamarqueses nestas áreas em larga escala. No início do século X, os governantes noruegueses de Dublin assumiram o controle do reino dinamarquês de York. Assentamentos dinamarqueses e noruegueses tiveram impacto suficiente para deixar marcas significativas na língua inglesa, muitas palavras fundamentais do inglês moderno são derivadas do nórdico antigo, apesar das 100 palavras mais usadas no inglês moderno serem, em sua grande maioria, originárias do inglês antigo. Da mesma forma, muitos nomes de lugares em áreas de colonização dinamarquesa e norueguesa possuem raízes escandinavas.

Ao final do reinado de Alfred, em 899, ele era o único rei inglês remanescente, tendo reduzido Mércia a uma dependência de Wessex, governado por seu genro Aethelred. A Cornualha (Kernow) estava sujeita ao domínio de Wessex e os reinos galeses reconheceram Alfred como seu suserano.

Unificação inglesa

Alfredo de Wessex morreu em 899 e foi sucedido por seu filho Eduardo, o Velho. Eduardo, e seu cunhado Etelredo, a partir do que sobrou da Mércia, iniciou um programa de expansão, construção de fortalezas e cidades em um modelo Alfrediano. Com a morte de Etelredo, sua esposa Ethelfleda, irmã de Eduardo, governou como "Senhora dos Mercianos" e continuou com a expansão. Parece que Eduardo teve seu filho Athelstane criado na corte da Mércia, e com a morte de Eduardo, Athelstane o sucedeu no reino de Mércia e, depois de algumas incertezas, em Wessex.

Athelstane continuou a expansão de seu pai e sua tia e foi o primeiro rei a alcançar regência direta do que nós consideramos hoje a Inglaterra. Os títulos atribuídos a ele em documentos e moedas sugerem um domínio ainda mais amplo. Sua expansão despertou mal-estar entre os outros reinos da Grã-Bretanha, em função disto, Athelstane derrotou um exército combinado escocês-viking na Batalha de Brunanburh. No entanto, a unificação da Inglaterra não era uma certeza. Sob governo dos sucessores de Athelstane, Edmund e Edred, os reis ingleses repetidamente perderam e reconquistaram o controle da Nortúmbria. No entanto, Edgar, que governou o mesmo território de Athelstane, consolidou o reino, que se manteve unido posteriormente.

sexta-feira, 29 de março de 2013

Conquista Normanda da Inglaterra

Conquista normanda da Inglaterra foi a invasão e ocupação do Reino da Inglaterra no século XI por um exército normando, bretão e francês liderado pelo duque Guilherme II da Normandia, mais tarde Guilherme, o Conquistador

A reivindicação de Guilherme ao trono inglês vinha de sua relação familiar com o rei anglo-saxão Eduardo, o Confessor (1042–1066), que não tinha filhos, e que pode ter encorajado suas esperanças ao trono. Eduardo morreu em janeiro de 1066 e foi sucedido pelo cunhado Haroldo Godwineson. O rei norueguês Haroldo III invadiu o norte da Inglaterra em setembro de 1066, saindo vitorioso na Batalha de Fulford, porém o rei inglês derrotou e matou o norueguês na Batalha de Stamford Bridge em 25 de setembro. 

Poucos dias depois, Guilherme desembarcou na Inglaterra. Haroldo II foi para o sul a fim de enfrentá-lo, deixando uma boa parte de seu exército no norte. Os exércitos de Haroldo e Guilherme se encontraram no dia 14 de outubro na Batalha de Hastings; as forças de Guilherme derrotaram as de Haroldo, que morreu na batalha.

Apesar de seus principais rivais terem sido mortos, Guilherme mesmo assim enfrentou rebeliões nos anos seguintes e apenas assegurou completamente o trono em 1072. As terras dos resistentes ingleses foram confiscadas; alguns membros da elite foram para o exílio. Para controlar seu novo reino, Guilherme entregou terras aos seus seguidores e construiu castelos para comandar pontos de importância militar. 

Outros efeitos da conquista incluíram a corte e o governo, a introdução da língua normanda como o idioma da nova elite e mudanças na composição das classes altas, já que Guilherme manteve o direito de diretamente entregar terras como feudos. Mudanças graduais afetaram as classes agrárias e a vida nos vilarejos: a principal mudança parece ter sido a abolição formal da escravidão, que pode ou não estar ligada à invasão. Houve poucas mudanças na estrutura do governo, já que os novos administradores normandos assumiram muitas formas de governo dos anglo-saxões.

quarta-feira, 27 de março de 2013

Império Bizantino

O Império Bizantino (395 – 1453) foi a continuação do Império Romano durante a Antiguidade Tardia e Idade Média. Sua capital foi Constantinopla (moderna Istambul), originalmente conhecida com Bizâncio. Inicialmente parte oriental do Império Romano (frequentemente chamada de Império Romano do Oriente no contexto), sobreviveu à fragmentação e ao colapso do Império Romano do Ocidente no século V e continuou a prosperar, existindo por mais mil anos até sua queda diante da expansão dos turcos otomanos em 1453. 

Como a distinção entre o Império Romano e o Império Bizantino é em grande parte uma convenção moderna, não é possível atribuir uma data de separação. Vários eventos do século IV ao século VI marcaram o período de transição durante o qual as metades oriental e ocidental do Império Romano se dividiram. 

Em 285, o imperador Diocleciano (r. 284–305) dividiu a administração imperial em duas metades. Entre 324 e 330, Constantino (r. 306–337) transferiu a capital principal de Roma para Bizâncio, conhecida mais tarde como Constantinopla ("Cidade de Constantino") e Nova Roma. Sob Teodósio I (r. 379–395), o cristianismo tornou-se a religião oficial do império e, com sua morte, o Estado romano dividiu-se definitivamente em duas metades, cada qual controlada por um de seus filhos. E finalmente, sob o reinado de Heráclio (r. 610–641), a administração e as forças armadas do império foram restruturadas e o grego foi adotado em lugar do latim. Em suma, Bizâncio se distingue da Roma Antiga na medida em que foi orientado para a cultura grega em vez da latina e caracterizou-se pelo cristianismo ortodoxo em lugar do politeísmo romano.

As fronteiras do império mudaram muito ao longo de sua existência, que passou por vários ciclos de declínio e recuperação. Durante o reinado de Justiniano (527–565), alcançou sua maior extensão após reconquistar muito dos territórios mediterrâneos antes pertencentes à porção ocidental do Império Romano, incluindo o norte da África, península Itálica e parte da península Ibérica. Durante o reinado de Maurício (582–602), as fronteiras orientais foram expandidas e o norte estabilizado. Contudo, seu assassinato causou um conflito de duas décadas com o Império Sassânida que exauriu os recursos do império e contribuiu para suas grandes perdas territoriais durante as invasões muçulmanas do século VII. Durante a dinastia macedônica (século X–XI), o império expandiu-se novamente e viveu um renascimento de dois séculos, que chegou ao fim com a perda de grande parte da Ásia Menor para os turcos seljúcidas após a derrota na batalha de Manziquerta (1071).
Império Bizantino em 600.
No século XII, durante a Restauração Comnena, o império recuperou parte do território perdido e restabeleceu sua dominância. No entanto, após a morte de Andrônico I Comneno (r. 1183–1185) e o fim da dinastia comnena no final do século XII, o império entrou em declínio novamente. Recebeu um golpe fatal em 1204, no contexto da Quarta Cruzada, quando foi dissolvido e dividido em reinos latinos e gregos concorrentes. Apesar de Constantinopla ter sido reconquistada e o império restabelecido em 1261, sob os imperadores paleólogos, o império teve que enfrentar diversos estados vizinhos rivais por mais 200 anos para sobreviver. Paradoxalmente, este período foi o mais produtivo culturalmente de sua história. Sucessivas guerras civis no século XIV minaram ainda mais a força do já enfraquecido império e mais territórios foram perdidos nas guerras bizantino-otomanas, que culminaram na Queda de Constantinopla e na conquista dos territórios remanescentes pelo Império Otomano no século XV.

terça-feira, 26 de março de 2013

Era Justiniana

Justiniano em um dos famosos 
mosaicos da Basílica 
de São Vital, Ravena.
Flávio Pedro Sabácio Justiniano, conhecido simplesmente como Justiniano I ou Justiniano, o Grande, foi imperador bizantino desde 1 de agosto de 527 até a sua morte, em 14 de novembro de 565.

Justiniano nasceu em 483 de uma família de camponeses, em algum lugar nos Bálcãs, e sempre falou o grego do Império do Oriente com sotaque bárbaro. Ele teria passado desconhecido na história se seu tio, Justino, não tivesse se integrado à guarda palaciana em Constantinopla, e ascendido de posição até se tornar comandante daquele grupo. Dali o tio Justino proclamou-se facilmente imperador em 518, quando o velho imperador morreu sem ter tido filhos.

Não tendo filhos ele próprio, Justino adotou seu sobrinho Justiniano como principal assistente e herdeiro. Quando Justino começou a ficar senil, Justiniano tornou-se o verdadeiro governante do império, bem antes de herdar oficialmente com a idade de 44 anos. Culto, ambicioso, dotado de grande inteligência, o jovem Justiniano parecia talhado para o cargo. O Império Bizantino brilhou durante seu governo. 

Na Páscoa de 527, ele e sua esposa, Teodora, foram solenemente coroados. Sobre Teodora sabe-se que era filha de um tratador de ursos do hipódromo e que tivera uma juventude desregrada, escandalizando a cidade com suas aventuras de atriz e dançarina. Não se sabe exatamente como Justiniano a conheceu. Seu matrimônio com a antiga bailarina de circo e prostituta teria grande importância, uma vez que ela iria influenciar decisivamente em algumas questões políticas e religiosas. Justiniano cercou-se de um estreito grupo de colaboradores, entre eles Triboniano, Belisário, João da Capadócia e Narses. Segundo Procópio, um escritor daquele tempo, Justiniano aspirava a recuperar o antigo esplendor de Roma, motivo pelo qual realizou toda a ampla série de campanhas posteriores.

A Revolta de Nika

A intransigência com que Justiniano se aplicou na perseguição de seus objetivos provocou uma série de rebeliões no império. A mais violenta delas, a revolta (ou sedição) de Nika, ocorreu em 532, em Constantinopla.

Ela eclodiu porque houve uma dúvida sobre qual dos cavalos vencera a corrida, "Nika" era o cavalo pelo qual a população torcia, e que chegara quase que empatado com outro concorrente, o do time do Imperador. Consultado para resolver o dilema, Justiniano declarou que o vencedor era o seu cavalo. A plebe, enfurecida, se rebelou e começou uma discussão entre as várias classes sociais.

A revolta, de facto, não se deu simplesmente por causa do resultado de uma corrida de cavalos, mas sim por uma série de motivos que já estavam acontecendo há muitos anos e incomodavam a população. A fome, a falta de moradia e, sobretudo, os altos impostos eram os maiores motivos de revolta da população.

Em Bizâncio, existiam organizações esportivas rivais, que defendiam suas cores no hipódromo, onde a rivalidade esportiva refletia divergências sociais, políticas, e religiosas. Eram os Verdes, os Azuis, os Brancos e os Vermelhos. Esses grupos haviam se transformado em "partidos políticos". Os Azuis reuniam representantes dos grandes proprietários rurais e da ortodoxia da Igreja Romana. Já os Verdes, em matéria política, eram partidários da democracia pura ou anárquica, e tinham, em suas fileiras altos funcionários nativos das províncias orientais, comerciantes, artesãos e adeptos da doutrina monofisista (que queria ver em Jesus Cristo apenas a natureza divina), condenada pelo Concílio de Calcedônia.

Até então, os imperadores tinham tentado enfraquecer um grupo, apoiando o outro. Justiniano recusou essa solução, o que provocou a união dos Verdes e Azuis, que se rebelaram. A rebelião se propagou rapidamente por toda a capital e ganhou grandes proporções.

A população queria uma diminuição dos altos impostos cobrados. Aos gritos de "Nika!" (quer dizer "Vitória"), os rebeldes massacraram a guarda real e dominaram quase toda a cidade, proclamando um novo imperador. Como descreve Auguste Bailly, a populaça atacou os edifícios que por sua majestade ou riqueza lhe pareciam simbolizar a ordem social que queria abater. Assim foi incendiada quase totalmente a Basílica de Santa Sofia, e o Palácio Imperial sofreu grandes devastações. Diante da gravidade da situação, Justiniano ameaçou deixar o trono, mas foi aconselhado por sua mulher Teodora. A altiva imperatriz disse:

"Ainda mesmo que a fuga seja a única salvação, não fugirei, pois aqueles que usam a coroa não devem sobreviver à sua perda. Se quiseres fugir, César, foge. Tens dinheiro, teus navios estão prontos e o mar aberto. Eu, porém, fico. Gosto desta velha máxima: a púrpura é uma bela mortalha." 
— Teodora, esposa de Justiniano

Diante disso, Justiniano decidiu reagir e encarregou o general Belisário de cercar o hipódromo e aniquilar os revoltosos. A revolta foi rapidamente reprimida pelo general, que, ao lado de seu exército, degolou cerca de trinta mil pessoas. Com a oposição controlada, Justiniano pôde, a partir de então, reinar como um autocrata.

Administração de Justiniano

Para garantir a centralização administrativa, Justiniano combateu o poder local dos grandes proprietários de terra e estabeleceu leis sólidas e eficazes, cujo cumprimento era rigorosamente fiscalizado pela burocracia, que contava com os militares.

Em seu governo, foi redigido o Código Justiniano, um sistema de leis básico que afirmava o poder ilimitado do imperador e, ao mesmo tempo, garantia a submissão dos escravos e colonos a seus senhores. Em seu governo, o regime político do império pode ser caracterizado como autocrático e burocrático. Autocrático, porque o imperador controlava todo o sistema político e religioso. Burocrático, porque uma vasta camada de funcionários públicos, dependentes e obedientes ao imperador, vigiava e controlava todos os aspectos da vida dos habitantes do império. Esse poder não chegava a ser totalitário, porque o império era vasto e composto por povos de naturalidades e línguas diferentes, que conseguiam escapar do controle das autoridades imperiais e manter certas tradições culturais particulares.

Justiniano também se destacou como construtor: fortificações em torno de todas as fronteiras, estradas, pontes, templos e edifícios públicos foram algumas de suas obras.

Internamente, os maiores problemas enfrentados pelo império foram os senhores locais e as heresias. Estas quebravam a unidade da Igreja de Constantinopla e, em geral, surgiam em províncias do império, adquirindo, assim, um caráter de luta autonomista diante do poder central.

Os assuntos religiosos

Basílica de Santa Sofia - reconstruída
sob supervisão pessoal de
Justiniano I.
Justiniano tinha grande interesse pelas questões teológicas. Seu objetivo maior era unir o Oriente com o Ocidente por meio da religião. Seu programa político pode ser sintetizado numa breve fórmula: "Um Estado, uma Lei, uma Igreja". Justiniano procurou solidificar o monofisismo (doutrina elaborada por Eutiques, segundo a qual só havia natureza, a divina, em Cristo). Essa doutrina tornou-se forte na Síria (patriarca de Antioquia) e no Egito (patriarca de Alexandria), que tinham aspirações emancipacionistas. Os seguidores dessa heresia tinham na imperatriz Teodora uma partidária. Esta tentou conciliar ortodoxos e heréticos, com relativo êxito. Autoritário, Justiniano combateu e perseguiu judeus, pagãos e heréticos, ao mesmo tempo que interveio em todos os negócios da Igreja, a fim de mantê-la como sustentáculo do Império e sob seu controle. A Academia de Platão, último baluarte do paganismo, foi fechada. As catedrais dos Santos Apóstolos e de Santa Sofia foram construídas durante seu governo, para evidenciar o poder imperial.

Em 529, Justiniano fechou a Academia de Platão, Em 540 d.C. também considerou extinta o Talmude nas sinagogas. Em 550, eliminou o reduto dos mistérios egípcios na Ilha de Filac.

Reconstituição territorial do império 

No plano externo, a política de Justiniano teve como objetivo fundamental a tentativa de reconstrução do fragmentado Império Romano. Uma vez estabilizado o perigo persa na zona oriental graças a um tratado de não-agressão pactuado com Cosroes I, no qual se comprometia a pagar um tributo anual ao sassânida, Justiniano empreendeu a recuperação do Ocidente. Seu primeiro objetivo foi acabar com os vândalos, no norte da África (533 - 534). O general Belisário dirigiu as campanhas com eficiência, conquistando Cartago, a Sicília, as ilhas Baleares e parte da costa levantina peninsular.
Império Bizantino em 550. 
A parte mais clara representa as conquistas de Justiniano (527-565).
General Belisário

Belisário,
por Jacques-Louis David, 1781.
Entre os historiadores, Justiniano tinha a reputação de escolher auxiliares extremamente talentosos, aparentemente tirando-os do nada. Logo no início de seu reinado, ele começou a cobrir de favores um oficial pouco graduado, que servia na frente persa, Belisário, promovendo-o na frente de oficiais mais experientes. 

Belisário nunca o deixou na mão. Lançou uma armada contra o reino vândalo no norte da África, com 15 mil soldados, 32 mil marinheiros, sua esposa, Antonina, como braço direito na administração, e o historiador Procópio como espião-mestre. 

Os romanos desembarcaram no litoral desértico, longe do centro de poder dos vândalos, mas Belisário logo esmagou toda resistência e tomou Cartago. Eliminou o primeiro reino inimigo de sua lista, e voltou para Constantinopla a fim de receber os elogios do soberano. 

Na parada triunfal que se seguiu, ele transportava o candelabro de ouro maciço que Tito levara para Roma e os vândalos haviam carregado para Cartago. Temeroso da maldição que parecia acompanhar o tesouro do templo por toda parte, Justiniano mandou o troféu de volta a Jerusalém, e foi a última vez que se ouviu falar desse candelabro.

Justiniano ordenou ao general Belisário que se lançasse à conquista da Itália, onde Teodorico, o Grande havia estabelecido um reino dos ostrogodos. Belisário dirigiu-se à península Itálica com o mesmo ânimo e rapidez das campanhas anteriores. Conquistou Roma (539) com relativa dificuldade devido à resistência ostrogoda e Ravena um ano mais tarde. Por um momento pareceu que as glórias do Império Romano poderiam reviver. Entretanto, os acontecimentos das décadas seguintes demonstraram que não seria assim. 

Peste Bubônica

No ano 542, uma grande peste deu um devastador golpe nas ainda populosas cidades do Mediterrâneo Oriental. O restante do território italiano ofereceu importantes resistências dirigidas por Totila. Belisário caiu em desgraça perante Justiniano, e foi obrigado a aposentar-se, sendo substituído pelo eunuco Narses.

Narses chegou para assumir a guerra em 552. Matou Tolita (rei dos godos) na batalha e retomou Roma. O próximo rei dos godos também foi derrotado e morto no ano seguinte. Aproveitando-se do caos, os francos e álamos invadiram a Itália a partir do norte, em agosto de 553. Narses também os derrotou e assentou o restante da horda invasora na Itália. Finalmente, com os romanos no controle da situação, a guerra chegou ao fim.

Obstáculos à política de Justiniano

O descomunal esforço de reforma econômica e institucional despendido por Justiniano esbarrou numa infinidade de obstáculos. A desigualdade entre os mais ricos e os mais pobres se aprofundou, tornando-se um problema constante para o soberano. No campo das agressões externas, uma das ameaças permanentes para o império foi representada por um ataque dos persas, que, reunificados sob a dinastia Sassânida, não escondiam a ambição de ocupar a Armênia, a Mesopotâmia e a Síria. Em duas ocasiões Justiniano se viu obrigado a comprar a paz de seus vizinhos, o que lhe obrigou a dispor de imensas quantidades de ouro.

Morte

O autoritarismo e os altos impostos fizeram com que a população respirasse aliviada com a notícia do morte de Justiniano (Constantinopla, 565). Foi sepultado ao lado de sua amada imperatriz Teodora na Igreja dos Santos Apóstolos (igreja onde repousavam as relíquias dos apóstolos, imperatrizes e imperadores bizantinos, patriarcas da Igreja Ortodoxa Grega) em Constantinopla. A data da morte do imperador é tradicionalmente considerada o termo final do direito romano.

segunda-feira, 25 de março de 2013

Dinastia Heracliana

Império Bizantino nos anos 650.
A dinastia heracliana governou o Império Bizantino entre 610 e 711, um período marcado por importantes eventos que marcaram a história do império e da região. No período inicial, o império ainda era conhecido como "Império Romano do Oriente", dominava o Mediterrâneo e se orgulhava de sua próspera civilização urbana da Antiguidade Tardia. Sucessivas invasões destruíram esse cenário e resultaram em grandes perdas territoriais, colapso financeiro e epidemias que esvaziaram as cidades enquanto controvérsias religiosas e revoltas civis enfraqueciam ainda mais o império.

No final do período, um estado bem diferente emergiu: Bizâncio medieval, uma sociedade primordialmente agrária e dominada pelos militares ocupados por uma longa disputa com os novos inimigos muçulmanos do Califado. Porém, este novo estado era também muito mais homogêneo e estava agora reduzido às regiões centrais falantes do grego e fervorosamente calcedonianas, o que permitiu que o império sobrevivesse à tempestade e entrasse num período de estabilidade sob a dinastia isáurica.

Epidemias

Durante os séculos VI e VII, o império foi atingido por uma série de epidemias, que foram devastadoras para a população e contribuíram para um declínio econômico significativo e e para o enfraquecimento do império. Sob Tibério II, o excedente do tesouro que havia sido acumulado desde Justino II foi gasto com sua magnanimidade e campanhas, o que forçou Maurício a adotar medidas fiscais estritas e cortes nos pagamentos do exército, ocasionando vários motins. O último deles, em 602, causou o assassinato de Maurício pelo oficial trácio Focas (602–610). Depois do assassinato de Maurício, Cosroes II (rei sassânida da Pérsia) usou este pretexto para recomeçar as hostilidades com o Império Bizantino.

Focas, um governante impopular invariavelmente descrito em fontes bizantinas como um "tirano", foi alvo de conspirações lideradas pelo senado. Acabou sendo deposto em 610 por Heráclio, que rumou para Constantinopla de Cartago com um ícone posto na proa de seu navio.

Guerra Bizantino-sassânida 

A guerra bizantino-sassânida de 602-628 foi a última e mais devastadora de uma série de guerras travadas entre o Império Bizantino e o Império Sassânida. A guerra anterior entre estas potência havia terminado em 591 após o imperador Maurício I ajudar o rei sassânida Cosroes II a recuperar seu trono. Em 602 Maurício foi assassinado por seu rival político Focas, e Cosroes, como consequência, declarou guerra, aparentemente para vingar a sua morte. Isto tornou-se um conflito de décadas, o mais logo da série, e foi travado em todo o Oriente Médio e Europa Oriental: no Egito, Levante, Mesopotâmia, Cáucaso, Anatólia, e mesmo diante das próprias muralhas de Constantinopla. 

Enquanto os persas mostraram largamente sucesso durante o primeiro estágio da guerra, de 602 a 622, conquistando muito do Levante, Egito e partes da Anatólia, a ascensão do imperador Heráclio em 610 levou, apesar dos contratempos iniciais, a derrota persa. A campanha de Heráclio em territórios persas entre 622 e 626 forçou-os a manter-se na defensiva permitindo que suas forças recuperassem o momentum. Aliados com os avaros, os persas fizeram uma tentativa final de tomar Constantinopla em 626, mas foram derrotados. Em 627 Heráclio invadiu o coração de seu território o que os levou a pedir paz. 

Até o final do conflito ambos os lados tinham esgotado seus recursos humanos e materiais. Consequentemente, eles estavam vulneráveis ao surgimento repentino do Califado Rashidun, cujas forças invadiram ambos os impérios apenas poucos anos após a guerra. As forças muçulmanas rapidamente conquistaram o Império Sassânida por completo e privaram o Império Bizantino de seus territórios no Levante, Cáucaso, Egito e Magrebe. Ao logo dos séculos seguintes, metade do Império Bizantino e o Império Sassânida ficaram sob domínio muçulmano.

Os romanos sofreram uma esmagadora derrota para os árabes na batalha de Jarmuque, em 636, e Ctesifonte caiu em 637. 

Fogo Grego, usado pela primeira vez
pela marinha bizantina durante as
guerras bizantino-árabes.
Escilitzes de Madrid, Biblioteca
Nacional da Espanha.
A partir de 649, os árabes começaram a fazer ataques navais contra o império, chegando a controlar Chipre. Os árabes, já firmemente controlando a Síria e o Levante, enviaram frequentes incursões às profundezas da Anatólia, e entre 674 e 678 fizeram um cerco a Constantinopla. A frota árabe foi repelida através do uso do fogo grego, e foi assinada uma trégua de trinta anos entre o Império Bizantino e o Califado Omíada. Contudo, as incursões árabes na Anatólia perduraram e aceleraram o fim da cultura urbana clássica, com os habitantes de muitas cidades refortificando áreas muito menores no interior das muralhas, ou se mudando para fortalezas próximas. Constantinopla regrediu consideravelmente em tamanho, com a população diminuindo de 500 mil habitantes para apenas 40 a 70 mil. Isso se deveu principalmente ao fim das remessas grátis de cereais do Egito, primeiro devido à perda temporária daquela região para os persas (618–628) e depois à conquista definitiva pelos árabes em 642. 

O vazio deixado pelo desaparecimento das velhas instituições cívicas semi-autônomas foi preenchido pelo sistema das temas, que implicou a divisão da Anatólia em "províncias" ocupadas por exércitos distintos, que assumiram a autoridade civil e respondiam diretamente ao governo imperial. Este sistema pode ter tido suas raízes em determinadas medidas pontuais adotadas por Heráclio, mas ao longo do século VII se transformou em um sistema totalmente novo de governo imperial. Tem sido dito que a reestruturação cultural e institucional maciça do império, na sequência das perdas territoriais do século VII, causou a ruptura decisiva entre o antigo Estado romano e aquele dos bizantinos, sendo que ele passou a ser entendido com um estado sucessor, em vez de uma continuação do Império Romano.

Mosaico na Basílica de Santo Apolinário,
em Ravena, retratando o imperador
Constantino IV e sua corte.
Foi durante seu reinado
que os búlgaros invadiram
 pela primeira vez o Império Bizantino.
A retirada de um grande número de tropas dos Bálcãs para combater os persas e os árabes no Oriente abriu as portas para a expansão gradual dos povos eslavos para a Grécia e, como na Anatólia, muitas cidades regrediram para pequenos povoados fortificados. Na década de 670, os búlgaros foram empurrados do sul do Danúbio com a chegada dos cazares, e em 680 forças bizantinas que tinham sido enviadas para dispersar esses novos assentamentos foram derrotadas. No ano seguinte, Constantino IV Pogonato (668–685) assinou um tratado com o cã búlgaro Asparuch (668–695), e o Império Búlgaro assumiu a soberania sobre algumas tribos eslavas que anteriormente, pelo menos nominalmente, tinham reconhecido a soberania bizantina. Em 687–688, o imperador Justiniano II (685-695; 705-711) liderou uma expedição contra os eslavos e os búlgaros, obtendo vitórias significativas, porém o fato de ele precisar combater em seu regresso da Trácia para a Macedônia demonstra o grau de deterioração do poder bizantino na região norte dos Bálcãs.

O último imperador heracliano, Justiniano II, tentou quebrar o poder da aristocracia urbana através de uma tributação severa e da nomeação de "estrangeiros" para cargos administrativos. Foi expulso do poder em 695, e se exilou primeiro junto dos cazares e posteriormente dos búlgaros. Nos anos seguintes, mais precisamente até 698, os últimos territórios bizantinos do Norte da África seriam conquistados pelos árabes, concluindo o processo iniciado em 647. Em 705, Justiniano II retornou a Constantinopla com os exércitos do cã búlgaro Tervel (695–715), retomou o trono e instituiu um regime de terror contra seus inimigos. Com sua queda final em 711, mais uma vez apoiada pela aristocracia urbana, a dinastia heracliana chegou ao fim.

domingo, 24 de março de 2013

Dinastia Isáurica

Mapa do Império Bizantino
no final da dinastia heracliana (717).
A dinastia isáurica (ou isáuria ou isauriana), também chamada de dinastia síria, governou o Império Bizantino entre 711 e 802. Os imperadores isáuricos conseguiram defender e consolidar o território do império frente à ameaça do Califado Omíada e seu sucessor, o Califado Abássida depois do massacre inicial durante a expansão muçulmana no século VII. Contudo, eles tiveram menos sucesso na Europa, onde foram derrotados diversas vezes pelo Império Búlgaro, tiveram que ceder o Exarcado de Ravena e perderam toda a influência sobre a Itália e o Papado para o Reino Franco.

A dinastia isáurica também é fortemente associada com a crise religiosa do Iconoclasma, uma tentativa de recuperar a graça divina purificando a fé de uma suposta e excessiva adoração aos ícones e que provocou grandes tumultos por todo o império.

No final da era isáurica, em 802, os bizantinos continuavam lutando contra árabes e búlgaros para conseguir sobreviver e a situação política havia se complicado sobremaneira pela ressurreição do Império Romano do Ocidente na forma do Império Carolíngio de Carlos Magno.

Imperadores

Leão III, o Isáurio (717–741) voltou a combater os árabes em 718, alcançando a vitória com a importante ajuda do cã búlgaro Tervel, que matou 32 mil árabes com seu exército. Ele também se dirigiu à tarefa de reorganizar e consolidar os temas da Ásia Menor. Seu sucessor, Constantino V Coprônimo (741–775), alcançou notáveis vitórias no norte da Síria, e minou completamente o poder do Império Búlgaro. Em 797, Irene (797–802) tornou-se a primeira mulher a ocupar o trono. No Natal do ano 800, com o pretexto da ausência de um imperador do sexo masculino no trono de Constantinopla, e por razões de conveniência, o papa Leão III coroou Carlos Magno (768–814) como imperador do Ocidente. Em Constantinopla, isto foi visto como sacrilégio. Em 802, Carlos Magno enviou embaixadores a Constantinopla propondo casamento com Irene, mas, de acordo com Teófanes o Confessor, o plano foi frustrado por Aécio, um dos favoritos de Irene. 

Nicéforo I, o Logóteta (802–811), por não reconhecer Carlos Magno como imperador, provocou uma deterioração nas relações externas entre bizantinos e francos, o que provocou uma guerra por Veneza entre 806-810. A consequente Pax Nicephori acordou que o Ducado de Veneza pertenceria explicitamente aos domínios bizantinos, enquanto a Croácia dálmata, com exceção das ilhas e cidades bizantinas, pertenceria aos francos.

Sob a liderança do imperador Krum (803–811), a ameaça búlgara também reapareceu: cidades como Sérdica (atual Sófia) e Adrianópolis foram sitiadas e tomadas, enquanto nas batalhas campais de Pliska (811) e Versinikia (813) os bizantinos foram decisivamente derrotados; em 814, o filho de Krum, Omurtag (814–831), negociou a paz com o Império Bizantino. Aproveitando-se da fraqueza do império, após a revolta de Tomás, o Eslavo no início da década de 820, o Califado Abássida capturou Creta em 824, atacou com sucesso a Sicília, sitiando Siracusa e conquistando Palermo (831), e destruiu Amório em 838. Porém, através das operações militares dos imperadores Teófilo (829–842) e Miguel III, o Ébrio (842–867), o Império Bizantino conquistou as cidades de Tarso (831), Melitene e Arsamosata (837), destruiu Sozópetra (837) e derrotou decisivamente os árabes em Lalacão (863).

Nos séculos VIII e IX, o império foi dominado pela polêmica e divisão religiosa causada pela política iconoclasta. Os ícones foram banidos em 726 por Leão III, levando à revolta dos iconódulos (apoiantes dos ícones) em todo o império. Após os esforços da imperatriz Irene, o Concílio de Niceia se reuniu em 787 e afirmou que os ícones podiam ser venerados mas não adorados. Em 813, Leão V, o Armênio (813–820) restaurou a política da iconoclastia, mas em 843, Teodora restaurou a veneração dos ícones com a ajuda do patriarca Metódio. A iconoclastia desempenhou o seu papel na alienação posterior do Oriente e Ocidente, que se agravou durante o chamado Cisma de Fócio, quando o papa Nicolau I desafiou a elevação de Fócio para o patriarcado.

sábado, 23 de março de 2013

Dinastia Macedônica

O Império Bizantino em 867
A dinastia macedônica governou o Império Bizantino do século IX ao século XI. É de fato uma família de origem armênia, possivelmente um ramo menor da família nobre armênia de Mamicônio. O fundador da dinastia foi Basílio I . O pai de Basílio I, assentado em Adrianópolis (atual Edirne, na Turquia), foi deportado pelos búlgaros em 813 para a região do Thema da Macedônia (na Trácia e que não tem relação com a região histórica da Macedônia), razão pela qual depois a dinastia adquiriria como nome a referência a esse lugar.

História

A ascensão de Basílio I, o Macedônio (867–886) marcou o começo da dinastia macedônica, que governaria nos dois séculos e meio seguintes. Esta dinastia incluiu alguns dos imperadores bizantinos mais competentes, e o período é marcado pelo renascimento sócio-cultural e militar. O império mudou de uma posição defensiva para uma agressiva que, além de possibilitar a reconquista de muitos territórios perdidos, fez com que o Estado bizantino se reafirmasse como potência militar e autoridade política. Além disso, durante esse período se assistiu a um renascimento cultural em áreas como a filosofia e as artes. Houve um esforço consciente de restaurar o brilho do período anterior às invasões eslavas e árabes, o que levou a que o período macedônico fosse apelidado de "Idade do Ouro" de Bizâncio.

Guerras contra os muçulmanos 

Nos primeiros anos do reinado de Basílio I, os raides árabes na costa da Dalmácia foram repelidos com sucesso, e a região passou mais uma vez a estar sob forte controle bizantino. Isto permitiu que os missionários bizantinos penetrassem no interior e convertessem os sérvios e os principados das atuais Herzegovina e Montenegro ao cristianismo ortodoxo. Contudo, uma tentativa de retomar Malta terminou desastrosamente quando a população local aliou-se com os árabes e massacrou a guarnição bizantina. Por contraste, a posição bizantina no sul da Itália foi gradualmente consolidada, de modo que em 873 Bari passou para o domínio bizantino, enquanto a maior parte do sul da Itália pertenceu ao império durante os 200 anos seguintes. Na importante frente oriental, o império reconstruiu suas defesas e partiu para a ofensiva. Os paulicianos foram derrotados e a sua capital, Tefrique, foi tomada, enquanto a ofensiva contra o Califado Abássida começou com a recaptura de Samósata.

Sob Leão VI, o Sábio (886–912), as vitórias no Oriente contra o então enfraquecido Califado Abássida continuaram. Contudo, a Sicília foi perdida para os árabes em 902, e em 904 Tessalônica foi saqueada por uma frota árabe liderada pelo renegado bizantino Leão de Trípoli. A fraqueza do império na esfera naval foi rapidamente corrigida, de modo que alguns anos mais tarde a marinha bizantina reocupou Chipre, perdido no século VII, e também invadiu Laodiceia (atual Kadesh), na Síria. Apesar desta vingança, os bizantinos ainda eram incapazes de dar um golpe decisivo contra os muçulmanos, os quais infligiram uma derrota esmagadora sobre as forças imperiais quando estas tentaram recuperar Creta, em 911.

Imperador Basílio II
(970-1025)
A morte do tsar búlgaro Simão I (893–927) enfraqueceu severamente os búlgaros, permitindo que os bizantinos se concentrassem na frente oriental. Melitene foi permanentemente reconquistada em 934 e, em 943, o famoso general João Curcuas continuou as ofensivas na Mesopotâmia, com algumas vitórias notáveis que culminaram na reconquista de Edessa (atual Şanlıurfa). Curcuas foi especialmente celebrado ao retornar para Constantinopla trazendo a venerável Imagem de Edessa (Mandylion), uma relíquia na qual supostamente estava impresso um retrato de Cristo. Os imperadores soldados Nicéforo II Focas (963–969) e João I Tzimisces (969–976) expandiram o império para a Síria, derrotando os emires do noroeste do atual Iraque. A grande cidade de Alepo foi tomada por Nicéforo em 962 e os árabes foram decisivamente expulsos de Creta no ano seguinte. A recaptura de Creta colocou um fim aos raides árabes no mar Egeu, permitindo que o continente grego florescesse novamente. O Chipre foi permanentemente retomado em 965 e os êxitos de Nicéforo culminaram em 969 na recaptura de Antioquia, que ele incorporou como uma província imperial. Seu sucessor, João Tzimisces, recapturou Damasco, Beirute, Acre, Sídon, Cesareia e Tiberíades, colocando os exércitos bizantinos a pouca distância de Jerusalém, embora os centros de poder muçulmanos no Iraque e Egito tenham sido deixados intactos. Após muitas campanhas no norte, na última ameaça árabe a Bizâncio, a rica província da Sicília foi alvo, em 1025, de um ataque de Basílio II (976–1025), porém ele morreu antes de poder completar a expedição. No entanto, por essa altura o império se estendia desde o estreito de Messina ao Eufrates e do Danúbio à Síria.

Guerras contra o Império Búlgaro

Derrota Bizantina em Bulgarófigo.
A luta tradicional com a Sé de Roma continuou até o período macedônico, estimulada pela questão da supremacia religiosa sobre a recém-cristianizada Bulgária. Após 80 anos de paz entre os dois Estados, o poderoso tsar búlgaro Simão I invadiu o império em 854, mas foi repelido pelos bizantinos, que usaram a sua frota para atacar a retaguarda búlgara navegando pelo mar Negro e contando com o apoio dos magiares. Contudo, os bizantinos foram derrotados na batalha de Bulgarófigo em 896 e concordaram em pagar tributos anuais para os búlgaros. Com a morte de Leão VI, o Sábio em 912, as hostilidades logo recomeçaram, com Simão marchando sobre Constantinopla à frente de um grande exército. Embora as muralhas da cidade fossem inexpugnáveis, a administração bizantina estava em desordem e Simão foi convidado para a cidade, onde lhe foi concedida a coroa de basileu (imperador) da Bulgária e o jovem imperador Constantino VII Porfirogênito (913–959) foi prometido em casamento a uma de suas filhas. Quando uma revolta em Constantinopla suspendeu seu projeto dinástico, Simão invadiu novamente a Trácia e conquistou Adrianópolis. O império enfrentava agora o problema de um poderoso Estado cristão a uma distância de poucos dias de marcha de Constantinopla, além de ter que lutar em duas frentes.

Uma grande expedição militar bizantina sob Leão Focas e Romano I Lecapeno (920–944) terminou novamente com uma derrota esmagadora na batalha de Anquialo (917) e no ano seguinte os búlgaros estavam livres para devastar o norte da Grécia até Corinto. Adrianópolis foi novamente capturada em 923 e um exército búlgaro cercou Constantinopla em 924. A situação dos Bálcãs só melhorou após a morte súbita de Simão em 927 e o subsequente colapso do poder búlgaro. A Bulgária e o Império Bizantino entraram então em um longo período de relações pacíficas, o que libertou o império para se concentrar na frente oriental contra os muçulmanos. Em 968, a Bulgária foi invadida pelos Rus'¹ sob Sviatoslav I de Kiev (960–972), mas três anos depois o imperador João I Tzimisces os derrotou na batalha de Dorostolo e incorporou o leste da Bulgária ao império.

A resistência búlgara se reacendeu sob os dinastia Cometopuli ("filhos do conde"), mas o novo imperador Basílio II (976–1025) fez da submissão dos búlgaros seu objetivo principal. Sua primeira expedição contra a Bulgária, no entanto, resultou em uma derrota humilhante nas Portas de Trajano. Nos anos seguintes, o imperador esteve preocupado com revoltas internas na Anatólia, enquanto os búlgaros expandiam seu reino nos Bálcãs. A guerra se prolongou por quase 20 anos. As vitórias bizantinas de Esperqueu e Escópia enfraqueceram decisivamente o exército búlgaro, e Basílio metodicamente reduziu as fortalezas búlgaras em campanhas anuais. Posteriormente, na batalha de Clídio, em 1014, os búlgaros foram completamente derrotados. Em 1018, os últimos redutos dos búlgaros tinham se rendido e a região se tornou parte do Império Bizantino. Essa vitória restaurou a fronteira do Danúbio, algo que não ocorria desde os tempos do imperador Heráclio.

Nota1: Rus' é uma designação introduzida durante a Alta Idade Média para as populações da Europa Oriental que viviam nas regiões que hoje fazem parte da Ucrânia e da Rússia.

Relações com o Principado de Kiev

Entre 850 e 1100, o império desenvolveu uma relação mista com o novo Estado que surgiu ao Norte além do mar Negro, o Principado de Kiev. Esta relação teria repercussões duradouras na história dos eslavos do leste, e o império rapidamente se tornou o principal parceiro comercial e cultural de Kiev. Os rus' lançaram seu primeiro ataque a Constantinopla em 860, pilhando os subúrbios da cidade. Em 941, eles apareceram na costa asiática do Bósforo, mas desta vez foram esmagados, um indicativo das melhorias na posição militar após 907, quando apenas a diplomacia foi capaz de repelir os invasores. Basílio II não podia ignorar o poder emergente dos rus' e, seguindo o exemplo de seus antecessores, usou a religião como meio para a consecução de fins políticos. As relações rus'-bizantinas tornaram-se mais próximas após o casamento de Ana Porfirogênita com Vladimir, o Grande (980–1015) em 988 e a subsequente cristianização dos rus'. Padres, arquitetos e artistas bizantinos foram convidados a trabalhar em numerosas catedrais em território rus', expandindo ainda mais a influência cultura bizantina, enquanto numerosos rus' serviram ao exército bizantino como mercenários, nomeadamente a famosa guarda varegue.

Contudo, após a cristianização dos rus' as relações não foram sempre amigáveis. O conflito mais sério foi a guerra de 968-971 na Bulgária. Além disso, há registro de vários raides rus' contra as cidades bizantinas na costa do mar Negro e à própria Constantinopla. Embora a maioria destes ataques tenha sido repelido, eles frequentemente foram seguidos por tratados geralmente favoráveis aos rus', como o que celebrou o fim da guerra de 1043, no qual os rus' mostram as suas ambições de competir com os bizantinos como um poder independente.

O ápice

Por 1025, a data da morte de Basílio II, o Império Bizantino se estendia da Armênia, no Oriente, à Calábria, no sul da Itália, no Ocidente. Muitos sucessos foram alcançados, desde a conquista da Bulgária à anexação de partes da Geórgia e Armênia, e a reconquista de Creta, Chipre e da importante cidade de Antioquia. Mais do que meros ganhos táticos temporários, estes êxitos foram reconquistas de longo prazo. Sob os imperadores macedônicos, a cidade de Constantinopla floresceu, tornando-se a maior e mais rica cidade da Europa, com uma população de aproximadamente 400 000 habitantes nos séculos IX e X. Durante este período, o Império Bizantino empregou um forte serviço público formado por aristocratas competentes, que supervisionavam a cobrança de impostos, a administração doméstica e a política externa. Os imperadores macedônicos também aumentaram a riqueza do império, promovendo o comércio com a Europa Ocidental, nomeadamente através da venda de seda e a metalurgia.

Durante o reinado de Leão VI foi completada a codificação completa do direito romano em grego. Este trabalho monumental de 60 volumes tornou-se a base de todo o direito bizantino subsequente e é estudado até hoje. Leão também reformou a administração do império, redesenhando os limites das subdivisões administrativas (os temas) e regulamentando o sistema de classes e privilégios, bem como o funcionamento de várias corporações comerciais de Constantinopla. As reformas de Leão fizeram muito para reduzir a fragmentação anterior do império, que doravante tinha um centro de poder, Constantinopla. Contudo, o crescente sucesso militar do império enriqueceu grandemente a capacidade da nobreza provincial em relação ao campesinato, que em essência foi reduzido ao estado de servidão.

Durante o período macedônico também ocorreram eventos de importante significado religioso. A conversão de búlgaros, sérvios e rus' ao cristianismo oriental mudou permanentemente o mapa religioso da Europa que ainda hoje vigora. Os santos Cirilo, e Metódio, dois irmãos gregos bizantinos de Tessalônica, contribuíram significativamente para a cristianização dos eslavos e no processo criaram o alfabeto glagolítico, ancestral do alfabeto cirílico. Em 1054, as relações entre as tradições oriental e ocidental da Igreja Cristã chegou a uma crise terminal, conhecida como Grande Cisma. Embora tenha havido uma declaração formal de separação institucional, em 16 de julho, quando três legados papais entraram em Santa Sofia durante a Divina Liturgia em uma tarde de sábado e colocaram uma bula de excomunhão sobre o altar, o chamado Grande Cisma foi, na verdade, a culminação de séculos de separação gradual. Foi com este cisma que surgiram a Igreja Ortodoxa Grega, com sede em Constantinopla, e a Igreja Católica Apostólica Romana, com sede em Roma.

Crise e fragmentação

Alp Arslan humilhando o imperador
romano IV Diógenes.
O Império Bizantino logo caiu em um período de dificuldades, causado, em grande medida, pelo enfraquecimento do sistema dos temas e da negligência dos militares. Nicéforo II Focas, João I Tzimisces e Basílio II alteraram a função das divisões militares, de unidades de resposta rápida, primariamente defensivas e formadas por cidadãos para exércitos profissionais, enquanto que os exércitos das campanhas passaram a ser cada vez mais constituídos por mercenários. Contudo, eles eram caros e a ameaça de invasão retrocedeu no século X, assim como a necessidade de manter grandes guarnições e fortificações dispendiosas. Basílio II deixou um grande tesouro após a sua morte, mas negligenciou planos para sua sucessão. Nenhum dos seus sucessores imediatos tinha algum talento militar ou político e a administração imperial caiu cada vez mais nas mãos do serviço civil. Esforços para reanimar a economia bizantina só resultaram em inflação e a moeda de ouro se desvalorizou. O exército passou a ser visto tanto como uma despesa desnecessária como uma ameaça política, levando à demissão das tropas nativas, substituídas por mercenários estrangeiros com contratos específicos.

Ao mesmo tempo, o império foi confrontado por novos inimigos ambiciosos. As províncias bizantinas no sul da Itália enfrentaram os normandos, que chegaram à Itália no início do século XI. Durante o período de conflito entre Constantinopla e Roma que terminou com o Grande Cisma, os normandos começaram a avançar, lenta, mas firmemente, na Itália bizantina. Régio, a capital do tagma da Calábria, foi capturada em 1060 por Roberto Guiscardo, seguido por Otranto em 1068. Bari, a principal fortaleza bizantina na Apúlia, foi sitiada em agosto de 1068 e caiu em abril de 1071. Os bizantinos também perderam sua influência sobre as cidades costeiras da Dalmácia para Pedro Cresimiro IV (1058–1074/5) do Reino da Croácia em 1064. 

Porém, seria na Ásia Menor que o maior desastre aconteceria. Os turcos seljúcidas fizeram suas primeiras explorações do outro lado da fronteira bizantina na Armênia em 1065 e em 1067. A emergência deu peso à aristocracia militar na Anatólia que, em 1068, garantiu a eleição de um dos seus, Romano IV Diógenes (1068–1071), como imperador. No verão de 1071, Romano realizou uma campanha maciça no leste para atrair os seljúcidas para uma batalha geral contra o exército bizantino, que ocorreu em agosto do mesmo ano em Manziquerta. Nessa batalha, além de sofrer uma surpreendente derrota frente ao sultão Alp Arslan (1063–1072), Romano foi capturado. Alp Arslan o tratou com respeito e não impôs condições pesadas aos bizantinos. Em Constantinopla, no entanto, um golpe de Estado ocorreu em favor de Miguel VII Ducas (1068–1078), que logo enfrentou a oposição de Nicéforo Briênio (1077–1078) e Nicéforo III Botaneiates (1078–1081). Até 1081, os seljúcidas expandiram seu domínio sobre quase todo o planalto da Anatólia e Armênia a leste da Bitínia, e no ocidente fundaram, em 1077, o Sultanato de Rum, com capital em Niceia, a apenas 88 km de Constantinopla.

sexta-feira, 22 de março de 2013

Dinastia Comnena

O imperador Aleixo I Comneno,
 fundador da dinastia comnena
A dinastia comnena ou dos Comnenos desempenhou um papel importante na história do Império Romano do Oriente ( Império Bizantino ), e interrompeu o declínio político do império a partir de 1081 até o ano de 1185, tanto assim que os historiadores chamaram esse período de "renascimento do império".

Dinastia Comnena e as Cruzadas 

O período entre 1081 a 1185 é muitas vezes conhecido como período comneno. Juntos, os cinco imperadores da dinastia (Aleixo I, João II, Manuel I, Aleixo II e Andrônico I) reinaram por 104 anos, presidindo uma constante, embora incompleta, restauração da posição militar, econômica e política do Império Bizantino. Embora os turcos seljúcidas tenham ocupado o coração do império na Anatólia, foi contra as potências ocidentais que os esforços militares bizantinos foram direcionados, particularmente contra os normandos.

O império sob os Comnenos desempenhou um papel fundamental na história das Cruzadas na Palestina, que Aleixo I ajudou a trazer, ao mesmo tempo que exerceu enorme influência cultural e política na Europa, Oriente Próximo e nas terras ao redor do mar Mediterrâneo sob João e Manuel. O contato entre Bizâncio e o Ocidente "latino", incluindo os estados cruzados, aumentou significativamente durante o período comneno. Comerciantes italianos, nomeadamente venezianos, começaram a residir em Constantinopla e no resto do império em grande número (havia cerca de 60 000 latinos só em Constantinopla, fora a população de 300 a 400 mil locais) e a presença deles, juntamente com os numerosos mercenários latinos que foram contratados por Manuel, ajudou a difundir a tecnologia bizantina, arte, literatura e cultura em todo o Ocidente latino, ao mesmo tempo que provocou um fluxo de ideias e costumes ocidentais para o império.

Em termos de prosperidade e vida cultural, o período comneno foi um dos picos na história bizantina, e Constantinopla permaneceu a principal cidade do mundo cristão em termos de tamanho, riqueza e cultura. Assistiu-se a um renovado interesse pela filosofia grega clássica, bem como a um aumento na produção literária em grego vernacular. A arte bizantina e literatura mantiveram uma posição proeminente na Europa e o impacto cultural de ambas no Ocidente foi enorme e de longa duração.

Aleixo I e a Primeira Cruzada 

Cerco de Jerusalém
durante a Primeira Cruzada.
Após a batalha de Manziquerta, seguiu-se uma recuperação parcial (conhecida como a Restauração Comnena), graças aos esforços da dinastia comnena. O primeiro imperador foi Aleixo I (1081–1118). No início de seu reinado, ele enfrentou um ataque formidável dos normandos de Roberto Guiscardo e de seu filho, Boemundo de Tarento, que capturaram Dirráquio e Corfu, e sitiaram Lárissa na Tessália. A morte de Roberto Guiscardo em 1085 diminuiu temporariamente o problema. No ano seguinte, o sultão seljúcida morreu e o Sultanato de Rum foi dividido por rivalidades internas. Por sua iniciativa, Aleixo derrotou os pechenegues, que foram apanhados de surpresa e aniquilados na batalha de Levúnio em 28 de abril de 1091.

Tendo alcançado a estabilidade no Ocidente, Aleixo pôde voltar sua atenção para as graves dificuldades econômicas e para a desintegração das defesas tradicionais do império. No entanto, ele ainda não tinha pessoal suficiente para recuperar os territórios perdidos na Ásia Menor e para avançar contra os turcos seljúcidas. No Concílio de Placência em 1095, os enviados de Aleixo falaram com o papa Urbano II sobre o sofrimento dos cristãos do Oriente e salientaram que, sem a ajuda do Ocidente, eles continuariam a sofrer sob o domínio muçulmano. Urbano viu no pedido de Aleixo uma oportunidade dupla: estabelecer vínculos de amizade na Europa Ocidental e reforçar o poder papal. Em 27 de novembro de 1095, o papa Urbano II convocou o Concílio de Clermont e exortou todos os presentes a pegar em armas sob o símbolo da cruz e iniciar uma peregrinação armada para recuperar Jerusalém e o Oriente dos muçulmanos.

Aleixo esperava a ajuda na forma de forças mercenárias do Ocidente, mas estava totalmente despreparado para a imensa e indisciplinada força que chegou rapidamente ao território bizantino. Não lhe agradou nada saber que quatro dos oito líderes do corpo principal da Cruzada eram normandos, entre eles Boemundo de Tarento. Depois de a Cruzada passar por Constantinopla, no entanto, o imperador conseguiu algum controle sobre ela e exigiu que seus líderes lhe jurassem devolver ao império quaisquer cidades ou territórios que pudessem conquistar dos turcos a caminho da Palestina. Em troca, deu-lhes guias e uma escolta militar. Aleixo logrou recuperar um número importante de cidades e ilhas, e, na prática, grande parte da porção ocidental da Ásia Menor. No entanto, os cruzados entenderam que seus juramentos perderam a validade quando Aleixo não os ajudou durante o cerco de Antioquia (atual Antakya). Na realidade, ele tinha previsto entrar em Antioquia, mas foi convencido a recuar por Estevão II de Blois, que lhe garantiu que tudo estava perdido e que a expedição havia falhado. Boemundo, que se estabelecera como príncipe da Antioquia, entrou brevemente em guerra com os bizantinos, mas concordou em tornar-se vassalo ao abrigo do Tratado de Devol, em 1118, que marcou o fim da ameaça normanda durante o reinado de Aleixo I.

João II, Manuel I e a Segunda Cruzada

Chegada da Segunda Cruzada a
Constantinopla, por Jean Fouquet.
(1455-1460)
O sucessor de Aleixo foi seu filho João II Comneno (1118–1143). João foi um imperador piedoso e dedicado, determinado a reparar os danos que seu império sofreu na batalha de Manziquerta meio século antes. Famoso por sua piedade e seu governo moderado e justo, João foi um exemplo único de um governante moral, numa época em que a crueldade era a normal. Sua primeira medida foi recusar-se a renovar o acordo comercial de 1082 com Veneza, o que provocou retaliações por parte dos venezianos, que sitiaram muitas ilhas do Egeu, forçando o imperador a reconsiderar. No vigésimo quinto ano de seu reinado, João fez alianças com o Sacro Império no Ocidente, derrotou decisivamente os pechenegues na batalha de Beroia e liderou pessoalmente numerosas campanhas contras os turcos na Ásia Menor. As suas campanhas mudaram fundamentalmente o equilíbrio do poder no Oriente, forçando os turcos a manterem-se na defensiva, e devolveram aos bizantinos muitas cidades e fortalezas. Ele também repeliu as ameaças dos magiares e sérvios durante a década de 1120 e, em 1130, aliou-se com o sacro imperador Lotário III (1133–1137) contra o rei normando Rogério II da Sicília (1130–1154).

Na parte final de seu reinado, João focou suas atividades no Oriente. Retomou as cidades de Laodiceia e Sozópolis, restabelecendo as ligações terrestres para Constantinopla, derrotou o Emirado Danismendida de Melitene e reconquistou as cidades de Tarso, Adana e Mopsuéstia do Reino Armênio da Cilícia, aprisionando, em 1138, Leão I e a maior parte de sua família. Além disso, forçou Raimundo de Poitiers (1136–1149), príncipe de Antioquia, a reconhecer a suserania bizantina. Em um esforço para demonstrar o papel do imperador como líder do mundo cristão, João marchou em direção à Terra Santa como chefe das forças combinadas do império e dos Estados cruzados; no entanto, apesar do grande vigor com que ele impulsionou a campanha, as expectativas de João foram frustradas pela traição de seus aliados cruzados. Em 1142, João retornou para pressionar suas reivindicações em Antioquia, mas morreu na primavera de 1143, depois de um acidente de caça. Raimundo foi encorajado a invadir a Cilícia, mas foi derrotado e forçado a ir a Constantinopla implorar misericórdia ao imperador.

O herdeiro escolhido de João foi seu quarto filho, Manuel I Comneno (1143–1180), que realizou agressivas campanhas contra seus vizinhos no oriente e no ocidente. Na Anatólia, iniciou uma campanha punitiva contra o Sultanato de Rum, atacando sua capital, Icônio (atual Konya), e aniquilando a cidade fortificada de Filomélio. Além disso, expulsou os turcos da Isáuria. Na Palestina, aliou-se ao Reino de Jerusalém e enviou uma grande frota para participar de uma invasão combinada do Califado Fatímida. Manuel reforçou sua posição como senhor dos estados cruzados, com sua hegemonia sobre Antioquia e Jerusalém garantida pelo acordo com Reinaldo, o príncipe de Antioquia, e Amalrico (1162–1174), o rei de Jerusalém, respectivamente.

Após retomar Corfu dos normandos com a ajuda de tropas de Conrado III (1138–1152) e dos venezianos, Manuel aproveitou-se da instabilidade política ocasionada pela sucessão de Rogério II da Sicília por seu filho Guilherme I (1154–1166) e lançou, em 1155, uma invasão ao sul da Itália sob o comando de Miguel Paleólogo e João Ducas. Foram alcançados resultados rapidamente e uma aliança foi estabelecida entre Manuel e o papa Adriano IV. Porém, disputas dentro da coalizão levaram ao posterior fracasso da campanha. Apesar deste revés militar, os exércitos de Manuel invadiram com sucesso o Reino da Hungria em 1167, derrotando os húngaros na batalha de Sirmio. No ano seguinte, quase toda a costa oriental do Adriático estava nas mãos do império. Manuel fez várias alianças com o papa e com os reinos cristãos ocidentais, e tratou com sucesso da passagem da Segunda Cruzada através de seu império.

No leste, no entanto, Manuel sofreu uma grande derrota na batalha de Miriocéfalo, em 1176, contra os turcos. Contudo, as perdas foram rapidamente recuperadas e, no ano seguinte, as forças de Manuel infligiram uma derrota a uma força de "turcos escolhidos". O comandante bizantino João Comneno Vatatzes, que esmagou os invasores turcos na batalha de Hiélio e Leimocheir, conseguiu, além das tropas que levou da capital, reunir um exército ao longo do caminho, um sinal de que o exército bizantino se mantinha forte e que a defesa do oeste da Ásia Menor ainda era eficaz.
O Império Bizantino sob Manuel I Comneno em 1180
Renascimento do século XII

João e Manuel adotaram políticas militares ativas, ambos dispendendo recursos consideráveis em cercos e em defesas de cidades; políticas de fortificação agressiva estiveram no centro das suas políticas militares imperiais. Apesar da derrota em Miriocéfalo, as políticas de Aleixo, João e Manuel resultaram em grandes conquistas territoriais, no aumento da estabilidade da fronteira na Ásia Menor e asseguraram a estabilização das fronteiras europeias do império. De 1081 a 1180, o exército de Comneno garantiu a segurança do império, permitindo o florescimento da civilização bizantina.

Isto permitiu que as províncias ocidentais conseguissem uma recuperação econômica, que continuou até o final do século. Tem sido argumentado que Bizâncio sob o governo Comneno foi mais próspero do que em qualquer outro período desde a invasão persa no século VII. Durante o século XII, os níveis populacionais elevaram-se e grandes extensões de novas terras agrícolas foram colocadas em produção. Evidências arqueológicas da Europa e Ásia Menor mostram um aumento considerável do tamanho dos assentamentos urbanos, juntamente com o aumento notável de novas cidades. O comércio também floresceu; venezianos, genoveses e outros abriram os portos do mar Egeu para o comércio, o transporte de mercadorias dos reinos cruzados de Ultramar e do Califado Fatímida para o ocidente e o comércio com o Império Bizantino via Constantinopla.

Em termos artísticos, houve um ressurgimento de mosaicos e as escolas regionais de arquitetura começaram a produzir estilos distintos que se basearam em uma série de influências culturais. Durante o século XII, os bizantinos desenvolveram o seu modelo precoce de humanismo, com um renascimento do interesse em autores clássicos. Em Eustáquio de Tessalônica, o humanismo bizantino encontrou sua expressão mais característica.