sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Julio Cesar

Caio Julio César (13 de julho, 100 a.C. – 15 de março de 44 a.C.), foi um patrício, líder militar e político romano. Desempenhou um papel crítico na transformação da República Romana no Império Romano. 

As suas conquistas na Gália estenderam o domínio romano até o oceano Atlântico: um feito de consequências dramáticas na história da Europa. No fim da vida, lutou numa guerra civil com a facção conservadora do senado romano, cujo líder era Pompeu. Depois da derrota dos optimates, tornou-se ditador (no conceito romano do termo) vitalício e iniciou uma série de reformas administrativas e econômicas em Roma. 

A guerra não apenas cobrira César de glória e riquezas, mas também o deixara com um exército veterano de tamanho sem rival, inteiramente subordinado a seu favor pela distribuição dos saques efetuados na Gália. Embora ninguém em Roma pudesse evitar que ele se tornasse ditador, ainda decorreriam alguns anos de guerra civil antes que todos os que duvidavam fossem convencidos. Entretanto, exatamente quando se estabeleceu na cidade para gozar dos frutos de sua vitória, César foi assassinado. Seus imediatos no comando lutaram entre si durante mais alguns anos, mas por fim o último desses que restaram, seu sobrinho otaviano, herdou o manto do poder sob o título de Augusto, e Roma tornou-se um verdadeiro império. 

Assassinato

Nos idos de março (15 de março no Calendário romano) de 44 a.C., César foi comparecer a uma sessão do Senado. Marco Antônio, tendo ouvido falar sobre o complô de um libertador assustado chamado Servilius Casca, e temendo o pior, foi avisar César. Os conspiradores, contudo, anteciparam isso, e enviaram Trebônio para intercepta-lo enquanto ele se aproximava do Teatro de Pompeu, onde a sessão aconteceria, para para-lo. Ao ver a agitação no senado (no momento do assassinato), Antônio fugiu.

Um grupo de senadores
cercam Júlio César, em uma pintura feita por
Karl von Piloty.
De acordo com Plutarco, quando César chegou, o senador Tílio Cimber lhe apresentou uma petição para revogar o exílio imposto ao seu irmão. Os outros conspiradores se aproximaram sob o pretexto de oferecer apoio e cercaram César. Segundo Plutarco e Suetônio, César dispensou o pedido mas Cimber o agarrou pelo ombro e puxou ele pela túnica. César então berrou para Cimber: "Por que, isso é violência!" ("Ista quidem vis est!"). Ao mesmo tempo, Casca pegou sua adaga e partiu para o pescoço de César. Este, contudo, se virou rapidamente e pegou Casca pelo braço. De acordo com Plutarco, César teria dito, em latim, "Casca, seu vilão, o que você está fazendo?" Casca, assustado, gritou em grego "Ajuda, irmão!". Poucos momentos depois, todos do grupo, incluindo Bruto, atacaram o ditador. César tentou se afastar mas, cego pelo sangue que escorria da cabeça, tropeçou e caiu. Mesmo no chão, no pórtico, ele continuou a ser esfaqueado. De acordo com Eutrópio, cerca de 60 homens participaram do assassinato. César teria sido esfaqueado 23 vezes.

O historiador Suetônio afirmou que um médico que examinou o corpo teria dito que apenas um ferimento, o infligido no peito, teria sido letal. Não se sabe quais foram as últimas palavras de César e isso ainda é assunto de debate entre historiadores e acadêmicos até os dias atuais. Suetônio disse que pessoas da época afirmaram que as últimas palavras de César, proferidas em grego, foram "Até você, criança?". Contudo, até Suetônio tem dúvidas e ele crê que César disse nada.

Plutarco também afirma que César não pronunciou algo antes de morrer, mas puxou sua toga sobre a cabeça quando ele viu Bruto entre os conspiradores. A versão mais famosa sobre o que Júlio César teria dito antes da morte é a célebre frase em latim "Et tu, Brute?" ("E você, Bruto?", comumente referida como "Até tu, Bruto?"); esta fala na verdade vem da peça Julius Caesar, pelo dramaturgo inglês William Shakespeare. Esta frase não tem qualquer base histórica e o uso do latim por Shakespeare aqui vai de encontro a maioria das versões, que afirmam que César teria pronunciado palavras em grego. Mas de fato, a frase Et tu, Brute? já era popular antes mesmo da peça.

De acordo com Plutarco, após o assassinato, Bruto deu um passo adiante como se ele fosse falar algo para os colegas senadores. Eles, contudo, fugiram as pressas do prédio. Brutos e seus companheiros próximos foram então pelas ruas gritando pela cidade: "Povo de Roma, nós somos novamente livres!" Contudo, com a história do que havia ocorrido se espalhando rapidamente, a maioria da população resolveu se trancar dentro de casa. O corpo de César permaneceu no chão do senado por mais três horas antes que fosse removido.

O cadáver de César foi posteriormente cremado. No local onde a pira funerária ocorreu, foi erguido o Templo de César alguns anos mais tarde (a leste da praça principal do Fórum romano). Apenas o altar do templo está preservado até os dias atuais. Uma estátua de cera foi mais tarde erguida no Fórum, exibindo as 23 feridas. Ao contrário do que os conspiradores acreditavam, a morte de César não ressuscitou a República Romana, com a nação se tornando um Império menos de duas décadas depois. Muitos dos conspiradores morreriam nos eventos posteriores, incluindo Bruto e Cássio. Assim, o legado político de César perduraria.

Eventos Após Sua Morte

A série de eventos que aconteceu após a morte de César pegou os seus assassinos de surpresa. A morte do ditador não reergueu a República. Pelo contrário, ela acabaria sedimentando o caminho para a transição para o Império. As classes média e baixa da sociedade romana, com o qual César era tremendamente popular, ficaram enfurecida pelo fato de que um pequeno grupo de aristocratas mataram o seu amado líder. Marco Antônio, que na verdade vinha se afastando de César, capitalizou na dor da plebe e ameaçou soltá-las em cima dos Optimates, talvez com o intuito de tentar tomar o poder total em Roma para si. Porém, para seu espanto, César havia nomeado um sucessor em testamento, seu sobrinho-neto Otaviano, dando a ele o posto de chefe da família (herdeiro do nome de César) e além disso lhe dava acesso a sua gigantesca fortuna.

Após sua morte, Antônio foi um dos que tentaram se aproveitar do legado político de César e tentou usa-lo, sem sucesso, para conseguir o poder máximo em Roma.

Durante o funeral de César, as coisas literalmente esquentaram. Na enorme pira funerária feita para ele, o povo compareceu em massa, jogando madeira no fogo, móveis e até roupas para alimentar as chamas. O fogo acabou ficando muito alto, danificando o fórum e causando danos. A multidão então atacou as casas de Bruto e Cássio, que são obrigados a fugir para a Macedônia. Os aristocratas acusaram Antônio de jogar o povo contra eles, levando a uma nova ruptura na liderança política romana, o que precipitaria em uma nova guerra civil. Contudo, os rumos deste conflito não terminaria bem para nenhum desses dois, com a figura do sobrinho-neto e herdeiro vindo a proeminência. Otaviano, que tinha apenas 18 anos quando César morreu, mostrou-se um político habilidoso, e enquanto Antônio se preparava para enfrentar Décimo Bruto na primeira fase da guerra civil, ele igualmente se preparava para sua ascensão na vida pública.

Bruto e Cássio, líderes da facção aristocrática anti-César, estavam reunindo um exército na Grécia para recuperar o poder em Roma. Para combate-los, Antônio precisa de sua própria tropa, além de dinheiro e de legitimidade, algo que ele pretendia conquistar no legado de César. Com inimigos em comum, Antônio e Otaviano, junto com o comandante Lépido, se aliam, confrontam os assassinos de César e seus simpatizantes no senado e se saem vitoriosos. 

Em 27 de novembro de 43 a.C., é formalizada a lex Titia que cria o Segundo Triunvirato ("Governo de Três"). Então eles oficialmente deificaram César como Divus Iulius, em 42 a.C., o que fez de César Otaviano o Divi filius ("Filho de um deus").

Já que a clemência de César para perdoar ex inimigos acabou custando sua vida, o Segundo Triunvirato traz de volta a proscrição, abandonada no governo de Sula. Isso levou a uma série de assassinatos políticos para assim poderem pagar por suas legiões e vencer a guerra contra Bruto e Cássio. Em seguida, Otaviano, Antônio e Lépido se tornam os governantes de Roma, sem qualquer rival.

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Augusto César

Augusto (Roma, 23 de setembro de 63 a.C. - Nuvlana (atual Nola) 19 de agosto de 14) foi o fundador do Império Romano e seu primeiro imperador, governando de 27 a.C. até sua morte em 14 d.C. Nascido Caio Otaviano, pertenceu a um rico e antigo ramo equestre da família plebeia dos Otávios. Depois do assassinato de seu tio-avô Júlio César em 44 a.C., o testamento de César nomeou Otaviano como seu filho adotivo e herdeiro. Junto com Marco Antônio e Lépido, formou o Segundo Triunvirato e derrotou os assassinos de César. Após a vitória deles em Filipos, o triunvirato dividiu a República Romana entre eles, que passaram a governar como ditadores militares. O triunvirato foi posteriormente posto de lado sob as ambições conflitantes de seus membros: Lépido foi enviado em exílio e despojado de sua posição, e Antônio cometeu suicídio a seguir a sua derrota na batalha de Áccio por Augusto em 31 a.C.

Após o fim do Segundo Triunvirato, Augusto restaurou a fachada externa da república livre, com o poder governamental investido no senado romano, os magistrados executivos, e as assembleias legislativas. Porém, na realidade, manteve seu poder autocrático sobre a república como um ditador militar. Por lei, Augusto reteve um conjunto de poderes garantidos a ele em vida pelo senado, incluindo o comando militar supremo, e aqueles do tribuno e censor. Levou vários anos para Augusto desenvolver o quadro em que um estado formalmente republicado poderia ser liderado sob seu governo único. Rejeitou os títulos monárquicos, e em vez disso chamou-se "primeiro cidadão do Estado" (Princeps Civitatis). O quadro constitucional resultante tornou-se conhecido como principado, a primeira fase do Império Romano.

O reinado de Augusto iniciou uma era de relativa paz conhecida como Pax Romana ("Paz Romana"). Apesar de contínuas guerras de expansão nas fronteiras imperiais e uma guerra civil de um ano sobre a sucessão imperial, o mundo romano esteve amplamente livre de conflitos em larga escala por mais de dois séculos. Augusto dramaticamente aumentou o império, anexando Egito, Dalmácia,Panônia, Nórica e Récia, expandindo as possessões da África e Germânia e completando a conquista da Hispânia. Além das fronteiras, protegeu o império com uma região tampão composta por Estados clientes, e fez paz com o Império Parta via diplomacia. Reformou o sistema romano de tributação, desenvolveu redes de estradas com um sistema de correio oficial, estabeleceu um exército permanente, bem como a guarda pretoriana, criou serviços oficiais de policiais e bombeiros, e reconstruiu muito da cidade de Roma durante seu reinado.

Augusto morreu em 14 d.C., com 75 anos. Ele pode ter morrido de causas naturais, embora haja rumores não confirmados que sua esposa Lívia Drusa o teria envenenado. Foi sucedido como imperador por seu filho adotivo (também enteado e antigo cunhado),Tibério. Foi o soberano com maior tempo de mandato de Roma, com 41 anos. 

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Tibério

Tibério Cláudio Nero César (16 de novembro de 42 a.C. – 16 de março de 37 d.C.), foi imperador romano 18 de setembro de 14 até a sua morte, a 16 de março de 37. Era filho de Tibério Cláudio Nero e Lívia Drusa. Foi o segundo imperador de Roma pertencente à dinastia júlio-claudiana, sucedendo ao padrasto Augusto. Foi durante o seu reinado que, na província romana da Palestina, Jesus Cristo foi crucificado.

A sua família aparentou-se com a família imperial quando a sua mãe, com dezenove anos e grávida, se divorciou do seu pai e contraiu matrimônio com Otaviano (38 a.C.), o futuro imperador Augusto. Mais tarde, ele casou-se com a filha de Augusto, Júlia, a Velha. Foi adotado formalmente por Augusto a 26 de junho de 4 d.C., passando a fazer parte da gens Júlia. Após a adoção, foram-lhe concedidos poderes tribunícios por dez anos.

Ao longo da sua vida, Tibério viu desaparecer progressivamente todos os seus possíveis rivais na sucessão graças a uma série de oportunas mortes. Os descendentes de Augusto e Tibério continuariam a governar o império durante os próximos quarenta anos, até a morte de Nero.

Tibério converteu-se num dos maiores generais de Roma. Nas suas campanhas na Panônia, Ilírico, Récia e Germânia, Tibério assentou as bases daquilo que posteriormente se tornaria a fronteira norte do império. Contudo, Tibério chegou a ser recordado como um obscuro, recluído e sombrio governante, que realmente nunca quis ser imperador; Plínio, o Velho chamou-o de "tristissimus hominum" ("o mais triste dos homens"). Após a morte de seu filho, Júlio César Druso em 23, a qualidade do seu governo declinou e o seu reinado terminou em terror. Em 26 d.C., Tibério auto-exilou-se de Roma e deixou a administração nas mãos dos seus dois prefeitos pretorianos Lúcio Élio Sejano e Quinto Névio Cordo Sutório Macro. Tibério adotou o seu sobrinho-neto Calígula para que o sucedesse no trono.

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Calígula

Caio Júlio César Augusto Germânico, também conhecido como Caio César ou Calígula, foi imperador romano de 16 de março de 37 até o seu assassinato, em 24 de janeiro de 41. Foi o terceiro imperador romano e membro da dinastia júlio-claudiana, instituída por Augusto. Ficou conhecido pela sua natureza extravagante e cruel. Foi assassinado pela guarda pretoriana, em 41, aos 28 anos. A sua alcunha Calígula, à qual significa "botinhas" em português, foi posta pelos soldados das legiões comandadas pelo pai, que achavam graça em vê-lo mascarado de legionário, com pequenas caligae (sandálias militares) nos pés.

Era o filho mais novo de Germânico que, por sua vez, era sobrinho do imperador Tibério. Germânico é considerado um dos maiores generais da história de Roma. Já a mãe de Calígula era Agripina. O futuro imperador cresceu com a numerosa família (tinha dois irmãos e três irmãs) nos acampamentos militares da Germânia Inferior, onde o pai comandava o exército imperial (14 – 16). Após a celebração em Roma do triunfo do seu progenitor, marchou com ele para o Oriente. Germânico viria a falecer durante a sua estadia em Antioquia, em 19. Após enterrar o seu pai, Calígula regressou com mãe e os irmãos para Roma, onde a incomodidade que a sua presença gerava no imperador degenerou em inimizade, causadora provável das estranhas mortes de uma série de parentes do futuro imperador, entre os quais, dois dos seus tios. As suas relações com Tibério pareceram melhorar quando este se mudou para Capri e foi designado pontifex maximus. À sua morte —a 16 de março de 37—, Tibério ordenou que o império devia ser governado conjuntamente por Calígula e Tibério Gemelo.

Após desfazer-se de Gemelo, o novo imperador tomou as rédeas do império. A sua administração teve uma época inicial pontuada por uma crescente prosperidade e uma gestão impecável; porém, a grave doença pela qual passou o imperador marcou um ponto de inflexão no seu jeito de reinar. Apesar de que uma série de erros na sua administração derivaram numa crise econômica e numa fome, empreendeu um conjunto de reformas públicas e urbanísticas que acabaram por esvaziar o tesouro. Apressado pelas dívidas, pôs em funcionamento uma série de medidas desesperadas para restabelecer as finanças imperiais, entre as que se destaca pedir dinheiro à plebe.

Militarmente, o seu reinado esteve caracterizado pela anexação da província da Mauritânia (a cujo monarca assassinou numa das suas visitas a Roma), pelo insucesso na conquista da Britânia e pelas tensões que açoitaram as províncias orientais do império. No Oriente, deu amostras da sua graça mediante a concessão dos territórios de Bataneia e Traconítide ao seu amigo Herodes Agripa I, e da sua megalomania ao ordenar que fosse erigida uma estátua na sua honra no Templo de Jerusalém; enquanto no Ocidente deu-as da sua demência ao pedir o exército que em vez de atacar as tribos britanas se pusesse a recolher conchas, o tributo que segundo ele essas águas lhe deviam ao monte Capitolino e ao monte Palatino.

Segundo determinados historiadores, nos seus últimos anos de vida esteve envolvido numa série de escândalos entre os quais se destacam manter relações incestuosas com as suas irmãs e até mesmo obrigá-las a prostituir-se. A 24 de janeiro de 41, foi assassinado pelos executores de uma conspiração integrada por pretorianos e senadores, e liderados pelo seu praefectus, Cássio Querea. O desejo de alguns conspiradores de restaurar a república viu-se frustrado quando, no mesmo dia do assassinato de Calígula, o seu tio Cláudio foi declarado imperador pelos pretorianos. Uma das primeiras ações de Cláudio como imperador foi ordenar a execução dos assassinos do seu sobrinho.

Existem poucas fontes sobreviventes que descrevam o seu reinado, nenhuma das quais refere de maneira favorável. Pelo contrário, as fontes centram-se na sua crueldade, extravagância e perversidade sexual, apresentando-o como um tirano demente. Embora a fiabilidade destas fontes seja difícil de avaliar, de acordo com o conhecido com certeza a respeito do seu reinado, trabalhou incansavelmente a fim de aumentar a autoridade do princeps; tendo de fazer face a várias conspirações surgidas com o objeto de derrocá-lo e lutando a fim de reduzir a influência do senado, esmagando a oposição que este órgão legislativo continuava exercendo. Tornou-se o primeiro imperador em apresentar-se frente do povo como um deus.

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Cláudio (Tio de Calígula)

Tibério Cláudio César Augusto Germânico (1 de agosto de 10 a.C. — Roma, 13 de outubro de 54 d.C.) foi o quarto imperador romano da dinastia júlio-claudiana, e governou de 24 de janeiro de 41 d.C. até a sua morte em 54. Nascido em Lugduno, na Gália (atual Lyon), foi o primeiro imperador romano nascido fora da Península Itálica.

Permaneceu apartado do poder pelas suas deficiências físicas, coxeadura e tartamudez, até o nomear seu sobrinho Calígula, após tornar-se imperador, como cônsul e senador. A sua pouca atuação no terreno político, que representava a sua família ,serviu-lhe para sobreviver nas diferentes conjuras que provocaram a queda de Tibério e Calígula.

Nesta última conjura, os pretorianos que assassinaram o seu sobrinho encontraram-no atrás duma cortina, onde se escondera acreditando que o iam matar. Após a morte de Calígula, Cláudio era o único homem adulto da sua família. Este motivo, junto à sua aparente debilidade e a sua inexperiência política, fizeram que a guarda pretoriana o proclamasse imperador, pensando talvez que seria um títere fácil de controlar.

Em que pesem as suas taras físicas, a sua falta de experiência política e ser considerado tolo e padecera complexos de inferioridade por causa de burlas desde a sua infância e estigmatizado pela sua própria mãe, Cláudio foi um brilhante estudante, governante e estrategista militar, além de ser querido pelo povo.

O seu governo foi de grande prosperidade na administração e no terreno militar. Durante o seu reinado, as fronteiras do Império Romano foram expandidas, produzindo-se a conquista da Britânia. O imperador tomou um interesse pessoal no Direito, presidindo juízos públicos e chegando a promulgar vinte éditos por dia.

Em qualquer caso, foi visto como uma personagem vulnerável, especialmente entre a aristocracia. Cláudio viu-se obrigado a defender constantemente a sua posição descobrindo sedições, o que se traduziu na morte de muitos senadores romanos.

Cláudio também enfrentou sérios reveses na sua vida familiar, um dos quais poderia ter suposto o seu assassinato. Estes eventos danificaram a sua reputação entre os escritores antigos, se bem que os historiadores mais recentes têm revisado estas opiniões.

Agripina

Agripina, a Jovem, era bisneta do imperador romano Augusto e irmã do imperador Calígula. No ano 39, Calígula exilou-a por conspirar contra ele, mas permitiu-lhe voltar a Roma dois anos depois. Em 49, Agripina viu sua grande oportunidade, e a aproveitou. Envenenando o segundo marido, Passieno Crispo, ela desposou seu tio, o imperador Cláudio, então um homem idoso e fraco, e assumiu o controle. 

Agripina logo pressionou Cláudio para que adotasse seu filho, Nero, e fortaleceu a posição deste casando-o com Otávia, filha de Cláudio. Paralelamente, envenenou todos os rivais potenciais. É bastante provável que também tenha assassinado Cláudio, que morreu em 54 depois de ter comido cogumelos envenenados, e também Britânico, filho e herdeiro do imperador. Nero assumiu o trono, mas Agripina conservou o poder como regente, assumindo o título de Augusta, que significa “divina”, “imperatriz”. Nero logo compreendeu que não estava a salvo da sede de poder da mãe. Ele tentou envenená-la três vezes. Depois, enviou-a à baía de Nápoles a bordo de um navio que deveria afundar, mas ela nadou até o litoral. Nero terminou por mandar soldados à villa de Agripina, que foi espancada até a morte.

domingo, 25 de novembro de 2012

Nero (Enteado de Cláudio)

Nero Cláudio César Augusto Germânico (15 de dezembro de 37 d.C), foi um imperador romano que governou de 13 de outubro de 54 até a sua morte, a 9 de junho de 68. Ascendeu ao trono após a morte do seu tio Cláudio, que o nomeara o seu sucessor.

Durante o seu governo, focou-se principalmente na diplomacia e no comércio, e tentou aumentar o capital cultural do império. Ordenou a construção de diversos teatros e promoveu os jogos e provas atléticas. Diplomática e militarmente, o seu reinado caracterizou-se pelo sucesso contra o Império Parta, a repressão da revolta dos britânicos (60–61) e uma melhora das relações com Grécia. Em 68 ocorreu um golpe de estado de vários governadores, após o qual, aparentemente, foi forçado a suicidar-se. 

O reinado de Nero é associado habitualmente à tirania e à extravagância. É recordado por uma série de execuções sistemáticas, incluindo a da sua própria mãe e o seu meio-irmão Britânico, e sobretudo pela crença generalizada de que, enquanto Roma ardia, ele estaria compondo com a sua lira, além de ser um implacável perseguidor dos cristãos.

Revolta na Judeia

Em 66 estourou uma revolta na Judeia derivada da crescente tensão religiosa entre gregos e judeus. Em 67, Nero enviou Vespasiano a sufocar a rebelião, coisa que fez satisfatoriamente em 70, dois anos depois da morte do próprio Nero. Durante o conflito, os romanos destruíram a cidade de Jerusalém e destroçaram o seu Templo.

O Grande Incêndio de Roma

Durante a noite de 31 de julho de 64, ocorreu em Roma um incêndio que devastou a cidade. O fogo começou a sudeste do Circo Máximo, onde se localizavam uns postos que vendiam produtos inflamáveis.

Segundo Tácito, o fogo estendeu-se depressa e durou cinco dias. Foram destruídos por completo quatro dos quatorze distritos da cidade e outros sete ficaram muito danificados. O único historiador que viveu durante essa época e que descreveu o incêndio foi Plínio o Velho, enquanto os demais historiadores da época Flávio Josefo, Dião Crisóstomo, Plutarco e Epiteto, não mencionem o acontecimento nas suas obras.

Não está claro qual foi a causa do incêndio, quer um acidente, quer premeditado. Suetônio e Dião Cássio defendem a teoria de que foi o próprio Nero que o causou com o objetivo de reconstruir a cidade ao seu gosto. Tácito menciona que os cristãos foram declarados culpáveis do delito, embora não se saiba se esta confissão teria sido induzida sob tortura. Contudo, os incêndios acidentais foram comuns na Roma Antiga. Sob os reinados de Vitélio (69) e de Tito Flávio Sabino Vespasiano (80), estouraram outros dois mais.

Segundo Suetônio e Dião Cássio, enquanto Roma ardia, Nero estava cantando o Iliupersis. Contudo, segundo Tácito, Nero estava em Anzio durante o incêndio e, ao ter notícias do mesmo, viajou depressa para Roma para se encarregar do desastre, utilizando o seu próprio tesouro para entregar ajuda material. Após a catástrofe, abriu as portas do seu palácio às pessoas que perderam o seu lar e abriu um fundo para pagar alimentos que seriam entregues entre os sobreviventes. A partir do incêndio, Nero desenvolveu um novo plano urbanístico dentro do qual projetou a construção de um novo palácio, conhecido como a Domus Aurea, em uns terrenos que o fogo despejara. Para conseguir os fundos necessários para a construção do suntuoso complexo, Nero aumentou os impostos das províncias imperiais.

Tácito relata que, depois do incêndio, a população buscou um bode expiatório e começaram a circular rumores de que Nero era o responsável. Para afastar as culpas, Nero acusou os cristãos e ordenou que alguns fossem jogados aos cães, enquanto outros fossem queimados vivos e crucificados.

Morte

No fim de 67 ou princípios de 68, Caio Júlio Víndice, governador da Gállia Lugdunensis, rebelou-se contra a política fiscal de Nero. O imperador enviou Lúcio Vergínio Rufo, governador da Germânia Superior, a sufocar a revolta e Víndex, com o objetivo de solicitar aliados, pediu apoio a Galba, governador da Hispânia Tarraconense. Vergínio Rufo, porém, derrotou Víndice e este suicidou-se, enquanto Galba, pela sua vez, acabou sendo declarado inimigo público.

Nero recuperara o controle militar do império, mas isto foi utilizado na sua contra pelos seus inimigos em Roma. Em junho de 68, o senado votou que Galba fosse proclamado como imperador e declarou Nero inimigo público. utilizando para isso a Guarda Pretoriana, que fora subornada, e ao seu prefeito Ninfídio Sabino, que ambicionava tornar-se imperador.

Segundo Suetônio, Nero fugiu de Roma através da Via Salária. Contudo, apesar de ter fugido, Nero preparou-se para se suicidar com ajuda do seu secretário Epafrodito, que o apunhalou quando um soldado romano se aproximava. Segundo Dião Cássio, as últimas palavras de Nero demonstraram o seu amor pelas artes. "Que artista falece comigo!" 

Com a sua morte desapareceu a dinastia júlio-claudiana e o império submergiu-se numa série de guerras civis conhecidas como o ano dos quatro imperadores.

Os Quatro Imperadores

Na história romana, o ano dos quatro imperadores refere-se ao período aproximado de um ano, entre 68 d.C. e 69 d.C. no qual quatro homens sucederam-se como imperadores romanos.

Em 68 d.C., após o suicídio do imperador Nero, seguiu-se um breve período de guerra civil (a primeira guerra civil romana desde a morte de Marco António em 31 a.C.). Entre junho de 68 d.C. e dezembro de 69 d.C., Roma testemunhou a ascensão e queda de Galba, Otão e Vitélio e a ascensão final de Vespasiano, fundador da dinastia flaviana.

sábado, 24 de novembro de 2012

Vespasiano

Tito Flávio Sabino Vespasiano (em latim: Titus Flavius Vespasianus, perto de Rieti, 17 de novembro de 9 — Água Cutília, 23 de junho 79), foi um imperador romano, o primeiro da dinastia flaviana, que ocupou o poder em 69, logo após o suicídio de Nero (68) e o conturbado ano dos quatro imperadores (69). Foi proclamado imperador pelos seus próprios soldados em Alexandria. Sucederam-lhe sucessivamente dois dos seus filhos, Tito e Domiciano.

De origem modesta, descendia de uma família do ordo equester que atingira o classe senatorial durante os reinados dos imperadores da dinastia júlio-claudiana. Designado cônsul em 51, ganhou renome como comandante militar, destacando-se na invasão romana da Britânia (43). Comandou as forças romanas que fizeram face à primeira guerra judaico-romana de 66 Quando se dispunha a sitiar Jerusalém, a capital rebelde, o imperador Nero suicidou-se, mergulhando o império num ano de guerras civis conhecido como o "ano dos quatro imperadores". Após a rápida sucessão e falecimento de Galba e Otão e a ascensão ao poder de Vitélio, os exércitos das províncias do Egito e Judeia proclamaram Vespasiano imperador a 1 de julho de 69 No seu caminho para o trono imperial, Vespasiano aliou-se com o governador da província da Síria, Caio Licínio Muciano, quem conduziu as tropas de Vespasiano contra Vitélio, enquanto o próprio Vespasiano tomava o controle sobre a província do Egito. A 20 de dezembro, Vitélio foi derrotado e ao dia seguinte Vespasiano foi proclamado imperador pelo senado.

Anfiteatro Flávio.
Iniciado durante o reinado de
Vespasiano e terminado pelo seu
filho Tito.
Pouca informação sobreviveu aos dez anos de governo de Vespasiano. Destaca-se o programa de reformas financeiras que promoveu, tão necessário após a queda da dinastia júlio-claudiana, a sua bem-sucedida campanha militar na Judeia e os seus ambiciosos projetos de construção como o Anfiteatro Flávio, conhecido popularmente como o Coliseu Romano.

Reformulou o senado e a Ordem Equestre e desenvolveu um sistema educativo mais amplo. Reprimiu a sublevação da Gália, mas incompatibilizou-se com os meios senatoriais.

O período de seu governo ficou marcado por uma eficaz administração econômica quer na capital do império quer nas províncias, com um aumento significativo do tributo anual e a implementação de medidas econômicas muito mais severas, o que permitiu atingir níveis de progresso assinaláveis nas finanças do Estado, tendo inclusive angariado fundos para a construção do templo dedicado a Júpiter Capitolino e para o Coliseu de Roma. Após a sua morte a 23 de junho de 79, foi sucedido no trono pelo seu filho maior, Tito.

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Tito

Tito Flávio Vespasiano Augusto (Roma, 30 de dezembro de 39 — Aquae Cutiliae, Sabina, 13 de setembro de 81) foi imperador romano entre os anos de 79 e 81. Foi o filho mais velho e sucessor de Vespasiano.

Antes de ser proclamado imperador, alcançou renome como comandante militar ao servir sob as ordens do seu pai na Judeia, durante o conflito conhecido como a primeira guerra judaico-romana (67 — 70). Esta campanha sofreu uma breve pausa após a morte do imperador Nero (9 de junho de 68), quando Vespasiano foi proclamado imperador pelas suas tropas (21 de dezembro de 69). Neste ponto, Vespasiano iniciou a sua participação no conflito civil que assolou o império durante o ano da sua nomeação como imperador, conhecido como o ano dos quatro imperadores. Após essa nomeação, recaiu sobre Tito a responsabilidade de acabar com os judeus sediciosos, tarefa realizada satisfatoriamente após sitiar e destruir Jerusalém (70), cujo templo foi demolido no incêndio. A sua vitória foi recompensada com um triunfo e comemorada com a construção do Arco de Tito. Seu pai o associou, a partir de 71, ao poder tribunício.

O Arco de Tito,
situado na Via Sacra,
a sudeste do Fórum Romano,
em Roma.
Sob o reinado do seu pai, Tito coletou receios entre os cidadãos de Roma devido ao seu serviço como prefeito do corpo de guarda-costas do imperador, conhecido como a guarda pretoriana, bem como devido à sua intolerável relação com a rainha Berenice de Cilícia. Apesar destas faltas à moral romana, Tito governou com grande popularidade após a morte de Vespasiano a 23 de junho de 79 d.C. e é considerado como um bom imperador por Suetônio e outros historiadores contemporâneos.

O mais importante do seu reinado foi o seu programa de construção de edifícios públicos em Roma. A enorme popularidade de Tito também foi devida à sua grande generosidade com as vítimas dos desastres que sofreu o império durante o seu breve reinado: a erupção do Vesúvio em 79 d.C. e o incêndio de Roma de 80 d.C. Após dois anos no cargo, Tito faleceu sofrendo de febre, a 13 de setembro de 81 d.C. A grande popularidade de Tito fez com que o senado o deificasse.

Prometia ser um imperador à altura do seu pai, mas o seu breve reinado foi marcado por catástrofes. Em 24 de agosto de 79, o vulcão Vesúvio destruiu as cidades de Pompeia e Herculano e, em 80, Roma foi de novo consumida por um incêndio.

Estabeleceu um governo indulgente, respeitando os privilégios do senado e realizando grandes obras públicas. Uma das ações mais importantes como imperador foi inaugurar, em 80 d.C., a obra que seu pai, Vespasiano, iniciara, o anfiteatro Flávio, conhecido habitualmente como Coliseu), embora este ainda estivesse incompleto.

Tito foi sucedido pelo seu irmão menor, Domiciano.

Campanha da Judeia

Em 66 d.C., os judeus da província de Judeia rebelaram-se contra o Império Romano. Céstio Galo, o governador da província da Síria, foi derrotado na batalha de Beth-Horon e forçado a se retirar de Jerusalém. O rei pró-romano Herodes Agripa II e a sua irmã Berenice fugiram para a Galileia. Nero designou a Vespasiano para esmagar a rebelião, este marchou imediatamente à região com a V e X legiões. Vespasiano uniu-se a Tito e à XV legião em Acre. Com uma força de 60.000 soldados profissionais, os romanos dispuseram-se a varrer a rebelião através de Galileia e marchar sobre Jerusalém.

A guerra foi coberta pelo historiador judeu-romano Flávio Josefo na sua obra "A Guerra dos Judeus". Josefo serviu como comandante na defesa da cidade de Jotapata quando o exército romano invadiu a Galileia em 67 d.C. Após um duro sítio de 47 dias, a cidade caiu, deixando cerca de 40 000 prisioneiros, que foram assassinados, enquanto o restante dos resistentes se suicidaram. O próprio Josefo rendeu-se a Vespasiano, que o liberou ao observar a sua inteligência. Durante 68 d.C. toda a costa e o norte da Judeia caíram sob o controle romano. Esta expedição serviu para que Tito se distinguisse como um general competente.

Ano dos quatro imperadores

A última e importante fortaleza que resistia era a cidade judaica de Jerusalém. Contudo, a campanha sofreu uma pausa quando chegaram notícias de Roma da morte do imperador Nero e da nomeação de Galba pelo senado como sucessor. Vespasiano decidiu enviar Tito a apresentar os seus respeitos ao novo imperador. Contudo, quando Tito se aproximava à cidade, recebeu notícias da morte de Galba e da nomeação de Otão como sucessor, além da marcha para Roma desde a Germânia de Vitélio. Não querendo arriscar-se a ser capturado por nenhum dos dois bandos, Tito cancelou a viagem e voltou a unir-se ao seu pai na Judeia.

Enquanto isso, Otão fora derrotado na batalha de Bedriacum e suicidara-se tão nobremente que emocionara Roma. Quando chegaram notícias aos exércitos das províncias de Judeia e Egito, estes decidiram nomear Vespasiano como imperador a a 1 de julho de 69 d.C. Vespasiano aceitou, e mediante intensas negociações levadas por Tito, uniu-se ao governador da Síria, Caio Licínio Muciano, formando uma força muito importante no Oriente. Esta força mudou-se para Roma liderada por Muciano, enquanto Vespasiano marchou para Alexandria, ficando Tito ao comando para que acabasse com a rebelião. No fim de 69 d.C. as tropas de Vitélio foram derrotadas e o Senado declarou Vespasiano como imperador a 21 de dezembro, finalizando desse modo o Ano dos quatro imperadores.

Destruição de Jerusalém

Destruição do Templo de Jerusalém,
Francesco Hayez (1867).
Enquanto isso, os judeus encontravam-se num conflito civil entre eles, dividindo a resistência entre os sicários, liderados por Simão bar Kokhba e os fanáticos conduzidos por João de Giscala. Tito aproveitou então a oportunidade de começar o assalto sobre Jerusalém. Ao exército romano uniu-se a XII Legião, que fora derrotada sob o comando de Céstio Galo. Desde Alexandria, Vespasiano enviou Tibério Júlio Alexandre para que agisse como segundo de Tito. Tito rodeou a cidade no comando de três legiões (V, XII e XV) sobre o lado oeste e enviou a X legião sobre o Monte das Oliveiras, a leste. Tito cortou os alimentos e a água à cidade, depois permitiu a entrada de alguns judeus para celebrar a Páscoa negando depois a saída. O exército romano era acossado continuamente pelos judeus e numa ocasião estes quase capturaram Tito.

Após as tentativas de Josefo de negociar uma rendição, os romanos retomaram as hostilidades e rapidamente destroçaram as primeiras fases da muralha. Para intimidar a resistência, Tito crucificou os desertores judeus em torno das muralhas. Neste ponto, os judeus estavam a ponto de se renderem por causa da fome e os romanos aproveitaram a debilidade para irromper na cidade após quebrar a última fase da muralha. Os romanos penetraram na cidade, capturaram a Fortaleza Antônia e iniciaram um assalto frontal sobre o Templo. Segundo Josefo, Tito ordenara que o Templo não fosse destruído, porém, durante a batalha pela cidade, um soldado lançou uma tocha para o interior do Templo e este ardeu depressa. O cronista Sulpício Severo, no entanto, afirma que Tito ordenou a destruição do Templo. Fosse o que for, o Templo foi totalmente destruído e a cidade saqueada, após o qual os soldados proclamaram-no Imperador no campo de batalha. 

Ps.: O candelabro de ouro de um metro e meio de altura, com sete braços, que adornava o templo, foi levado para Roma e exibido triunfalmente numa parada para a população.

Imperador

Vespasiano faleceu em 23 de junho de 79 d.C. por causa de uma infecção e foi sucedido pelo seu filho Tito. Os romanos, por causa dos seus supostos vícios, temiam que Tito se tornasse outro Nero. Contra todos os prognósticos, Tito demonstrou ao povo que era um imperador eficaz e foi muito querido por todos os romanos. Um dos seus primeiros atos como imperador foi ordenar publicamente suspender os juízos baseados em traição. A lei de traição, ou a lei de maestas, a princípio foi usada para processar os que tinham prejudicado as pessoas e a majestade de Roma por qualquer ação revolucionária. Contudo, sob o reinado de César Augusto, esta lei também fora aplicada para condenar os escritos difamatórios. Sob o reinado de Tibério, Calígula e Nero utilizou-se para justificar as execuções, criando uma rede de informantes que fez tremer a administração romana durante décadas. Tito acabou com esta prática, declarando: É impossível que eu seja insultado ou ultrajado. Eu nada faço que mereça ser censurado, e não me importam as falsidades que sobre mim sejam escritas. "E, quanto aos imperadores que já estão mortos e enterrados, já se vingarão por si mesmos caso alguém lhes fazer algum mal, se em verdade são semideuses e possuem algum poder." 

Portanto, nenhum dos senadores foi assassinado durante o seu reinado; Tito manteve assim a sua promessa de que assumiria o cargo de Pontifex maximus com o objetivo de manter "as mãos limpas". Os informantes públicos foram castigados e desterrados da cidade. Como imperador, Tito ficou conhecido pela sua generosidade, e Suetônio declara que para compreender que ele não tirara nenhuma benefício de ninguém durante um dia inteiro ele comentou, "Amigos, perdi um dia".

Desafios

Consequências da erupção do Vesúvio:
Jardim dos Fugitivos, Pompeia.
Embora o seu reinado ficasse livre de conflitos militares ou políticos, Tito teve de afrontar um grande número de desastres. A 24 de agosto de 79 d.C., apenas dois meses depois da sua ascensão ao trono, o monte Vesúvio entrou em erupção, causando a quase completa destruição das cidades da baía de Nápoles. As cidades de Pompeia e Herculano foram sepultadas sob toneladas de pedra e lava causando a morte de um grande número de pessoas. Tito designou dois ex-cônsules para dirigir as tarefas de reconstrução e doou uma grande quantidade de dinheiro do tesouro imperial a fim de ajudar as vítimas do vulcão. O próprio Tito visitou Pompeia após a erupção e depois outra vez mais no ano seguinte.

Durante a segunda visita, um incêndio que durou três dias estourou em Roma. Embora o grau de destruição não fosse tão desastroso quanto o do grande incêndio do 64 d.C., Dião Cássio registrou uma longa lista de edifícios públicos danificados parcialmente ou consumidos totalmente pelo fogo. Entre eles, estavam o Panteão de Agripa, o Templo de Júpiter, o Diribitorium, o Teatro de Pompeu e a Saepta Júlia, entre outros. De novo, Tito pagou do seu bolso os danos ocasionados pelo fogo. Aparentemente houve uma praga durante o incêndio, embora se desconheça a natureza da doença e o número de falecidos.

Enquanto isso, a guerra continuara na Britânia, onde Cneu Júlio Agrícola se internou na Caledônia e dirigiu o estabelecimento de várias fortificações. Como consequência das suas ações, Tito foi aclamado Imperator pela décima-quinta vez.

O seu reinado também sofreu a rebelião de Terêncio Máximo, um de vários "Neros" falsos que continuaram aparecendo ao longo dos anos 70. Embora Nero seja conhecido nomeadamente como um tirano, chegaram escritos que informam que foi enormemente popular nas províncias orientais durante o seu reinado.

Segundo Dião Cássio, Terêncio Máximo seria parecido com Nero na voz e no aspecto e, como ele, tocava a lira. Terêncio estabeleceu-se na Ásia Menor, mas pronto foi forçado a escapar para além de Eufrates, tomando refúgio entre os Partas. Além disso, as fontes antigas declaram que Tito descobriu que o seu irmão Domiciano conspirava contra ele, mas recusou a opção de assassiná-lo ou desterrá-lo.

Obras Públicas

A construção de Anfiteatro Flávio, conhecido habitualmente como o Coliseu de Roma, começou na década de 70 sob o reinado de Vespasiano e finalizou sob o reinado de Tito nos anos 80. Além das espetaculares dimensões, que ofereciam um grande entretenimento para a população romana, o Coliseu representava também os sucessos militares dos Flávios durante as guerras judaico-romanas. Os jogos inaugurais duraram cem dias, e foram sumamente elaborados, incluindo combates de gladiadores, pelejas de animais selvagens, representações de batalhas navais (para as que foi inundado o teatro), corridas de cavalos e de carros. Durante os jogos, passaram entre o público umas bolas de madeira, inscritas com vários prêmios com os que os ganhadores eram obsequiados.

Junto ao anfiteatro, dentro do recinto da Domus Aurea de Nero, Tito ordenara a construção de novos banhos públicos públicos, que deviam levar o seu nome. A construção deste edifício terminou de pressa para que coincidisse com a finalização das obras do Anfiteatro Flávio.

A prática do culto imperial foi ressuscitada por Tito, embora aparentemente isto encontrou algumas dificuldades, pois Vespasiano não foi deificado senão seis meses depois da sua morte. Para honra e glória da dinastia dos Flávios, começaram as obras do Templo de Tito e Vespasiano que finalizaria durante o governo de Domiciano.

Morte

Ao finalizar os jogos, Tito dedicou oficialmente ao povo a construção do anfiteatro e os banhos, o que foi seu último ato como imperador. Tito partiu para os territórios dos sabinos mas caiu enfermo e faleceu por causa de febres, aparentemente no mesmo imóvel que o seu pai. Segundo parece, as últimas palavras que pronunciou Tito foram "somente cometi um erro". Tito governara o Império Romano durante dois anos, da morte do seu pai em 79 d.C. até a sua morte a 13 de setembro do 81 d.C. Tito foi sucedido por Domiciano cujo primeiro ato foi deificar o seu irmão.

Os historiadores especularam muito sobre a morte de Tito e do erro ao qual se refere nas suas últimas palavras, Filóstrato defende que foi envenenado por Domiciano e que a sua morte fora prognosticada por Apolônio de Tiana. Suetônio e Dião Cássio sustêm que faleceu de causas naturais, mas acusam Domiciano de abandonar o seu irmão enfermo e segundo Dião, o erro ao que Tito refere é o de não ter executado o seu irmão, mesmo sabendo de sua participação no complô contra ele.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Adriano

Museu Arqueológico Nacional de Atenas.
Públio Élio Trajano Adriano (24 de janeiro de 76 — 10 de julho de 138), mais conhecido apenas como Adriano, foi imperador romano de 117 a 138. Pertence à dinastia dos Antoninos, sendo considerado um dos chamados "cinco bons imperadores". Em Roma, ele reconstruiu o Panteão e construiu o Templo de Vénus e Roma. Além de ser imperador, Adriano era um humanista e foi philhellene em todos os seus gostos. Durante seu reinado, Adriano viajou para quase todas as províncias do Império. Um ardente admirador da Grécia, ele procurou fazer de Atenas a capital cultural do Império e ordenou a construção de muitos templos opulentos na cidade. Adriano foi educado em vários assuntos específicos para jovens aristocratas do dia, e gostava tanto de aprender a literatura grega que ele foi apelidado de Graeculus ("Greekling").

Adriano entrou para expedição de Trajano contra Pártia como um legado na equipe de Trajano. Nem durante a primeira fase vitoriosa, nem durante a segunda fase da guerra, quando a rebelião foi arrastado à Mesopotâmia, Adriano nada faz de digno. No entanto, quando o governador da Síria teve que ser enviado para resolver problemas renovados na Dácia, Adriano foi apontado como um substituto, dando-lhe um comando independente.

Logo após a morte de Trajano, consta que teria sido adotado por este em seu leito de morte como filho e sucessor na dignidade imperial. Muitos dizem, no entanto, que tal adoção teria sido uma farsa engendrada pela viúva de Trajano, a imperatriz Plotina. Seja como for, a ascensão de Adriano ao trono imperial foi imediatamente seguida pela execução sumária de quatro importantes ex-cônsules - entre eles o príncipe mouro e comandante de um contingente de cavalaria moura no exército romano Lúsio Quieto - expoentes da política de conquistas militares de Trajano. Estas execuções, ordenadas pelo imperador sem o acordo prévio do senado, fizeram muito para alienar a velha assembleia do imperador e deram o tom da política imperial subsequente, que foi dirigida no sentido de ampliar a base de apoio do principado para além de Roma, mediante o contato direto do imperador com as elites provinciais, em oposição à velha política de manutenção de Roma como cidade imperial hegemônica.

Talvez por entender que o império esgotara sua capacidade de expansão, Adriano abandonou a política de conquistas de Trajano, adotando outra nitidamente defensiva, optando pela via diplomática para resolver questões relativas ao relacionamento com povos vizinhos. Na prática, isso significou renunciar às conquistas recentes - e, a esta altura, pouco mais do que teóricas - de Trajano na Mesopotâmia. Adriano também retificou os limites de uma outra conquista de Trajano, esta já antiga, a Dácia (atual Roménia), cedendo aos sármatas a planície do Baixo Danúbio e concentrando a ocupação romana na região da Transilvânia, protegida pela barreira natural dos Cárpatos.

Segundo Dião Cássio, Adriano teria também ordenado a demolição da ponte construída por Trajano sobre o Danúbio, de forma a evitar uma invasão das províncias danubianas tradicionais a partir da Dácia.

Trecho da Muralha de Adriano,
no atual Reino Unido.
Com o intuito de proteger as demais fronteiras romanas contra os bárbaros, construiu grande número de fortificações contínuas na Germânia e na Inglaterra (por exemplo, mandou construir, em 122, a chamada Muralha de Adriano, que marcou durante séculos a fronteira entre a Inglaterra e a Escócia).

Adriano implementou uma profunda reforma na administração, transformando o conselho do príncipe um órgão de governo, e procurou unificar a legislação (Édito Perpétuo). Durante o seu reinado, foi um viajante incansável, visitando as várias províncias do império: parece ter passado 12 anos do seu reinado fora de Roma.


A cultura e arte

Letrado, Adriano era um grande admirador da cultura grega, sendo um dos responsáveis pela propagação do helenismo no mundo antigo. Realizou grandes viagens pelo império, realizando obras e melhorando a infraestrutura e a economia das províncias. Como gesto simbólico, ordenou uma série de emissões monetárias honrando as províncias, que eram representadas nestas moedas por alegorias femininas que lhes davam uma personalidade moral distinta. Estas alegorias seriam mais tarde representadas como uma série de estátuas que, após a morte de Adriano, seriam colocadas no seu templo em Roma.

Foi o arquiteto responsável pela construção do Panteão de Roma, reconstruindo um antigo prédio muito menor erguido por Marco Vipsânio Agripa, porém mantendo a velha fachada com o nome do antigo construtor. Construiu perto de Roma a grande villa que leva seu nome (Villa Adriana).

Foi um imperador ambulante, viajava sempre e por onde passava ia levantando cidades, construindo estradas, erigindo monumentos. Estes monumentos tinham um significado político: sua construção geralmente significava uma aliança em pé de igualdade abstrata entre Roma e a cidade onde eram erguidos. Assim, Adriano mandou completar em Atenas a construção de um gigantesco templo a Zeus, o Olympeion, cuja construção já se arrastava desde a época do tirano Pisístrato, do século VI a.C.. Nas vizinhanças desta construção, organizou um bairro dentro do estilo romano de urbanismo, de maneira a poder igualar-se a um rei mítico de Atenas, Teseu. Esta Atenas "romana" era separada da antiga cidade por um pórtico na entrada do qual estava inscrito: "Esta é a cidade de Adriano, e não a de Teseu".

Ao mesmo tempo, Adriano fez de Atenas a sede de um fórum regional de discussão de assuntos comuns das cidades helênicas, o Panhellenion (131-132). Esta reelaboração da legitimidade política do império em torno não mais da hegemonia da cidade de Roma e do seu senado e da Itália, mas como um império ecumênico dotado de uma cultura helênica comum, que prenunciava já de certa forma o Império Bizantino, permitiu ao historiador francês Paul Veyne chamar Adriano de "um Nero bem sucedido", que soube transformar sua mania da cultura helênica num programa político. Por isto, tal política encontrou sua maior contestação entre o povo que havia oposto, historicamente, maior resistência a esta matriz cultural grega: na Judeia, os judeus reuniam-se preparando uma nova (e última) revolta contra o elemento greco-romano.

Relação com os Judeus

Por volta de 132, o imperador Adriano baniu a mutilação genital em todo o império, o que soa como uma excelente ideia, até que nos lembremos de que o judaísmo exige a circuncisão. Adriano rapidamente revogou a ordem, fazendo uma exceção para os judeus. infelizmente, o imperador escolheu também o momento para reconstruir Jerusalém como uma moderna cidade romana, com um templo dedicado a Júpiter onde se ergia do templo do Senhor.

Revolta dos Judeus

Essa guerra estalou porquanto Adriano mandara reconstruir Jerusalém, destruída por Tito em 70 d.C., como uma cidade grega, e os judeus de então sentiam que a sua cidade sagrada estava sendo profanada por estrangeiros. De fato, em toda parte surgiam estátuas, banhos públicos, centros ruidosos de vida profana. Durante o final do reinado de Adriano, um movimento armado anti-romano estourou no interior da Judeia, comandado pelo rebelde messiânico que viria a ser conhecido pelo nome de Bar Kochba ("o Filho da Estrela").

Assim que Adriano soube do levante dos judeus, determinou que as legiões localizadas nas províncias vizinhas atacassem os judeus e os destruíssem. Não se sabe com certeza se Adriano participou ativamente da guerra judaica, e em que medida. O certo é que esta guerra foi longa e terrível. Após mais de dois anos de combates, as tropas romanas acabaram por sufocar a revolta. O exército romano sofreu um tal desgaste que Adriano teria, segundo Dião Cássio, eliminado dos seus despachos militares ao senado a fórmula usual de abertura: "o exército e o imperador vão bem".

Os sobreviventes foram vendidos como escravos. Roma decretou a exclusão dos judeus de Jerusalém, que foi reconstruída como cidade grega e passou a chamar-se Élia Capitolina. No lugar do antigo templo judaico ergueu-se a estátua de Zeus e junto ao Gólgota (onde, segundo a tradição bíblica, teria sido crucificado Jesus) ergueu-se um templo à deusa grega Afrodite. A antiga província da Judeia passou a chamar-se Palestina - forma de tentar apagar a memória da presença judaica na região pela recordação dos filisteus, também antigos habitantes da região nos tempos bíblicos.

Por isso, no Talmud, essa revolta ficou sendo chamada "a guerra do extermínio". De fato, por mais que a diáspora judaica tivesse-se iniciado séculos antes de Adriano, e que as narrativas sobre a guerra judaica tenham-se cedo revestido de características legendárias, é certo que a guerra eliminou definitivamente qualquer possibilidade de renascimento de um judaísmo centrado no Templo de Jerusalém e na sua casta sacerdotal, dando origem, assim, ao judaísmo como uma expressão puramente religiosa e cultural, e não mais política, situação esta que se perpetuaria até o surgimento do sionismo no século XIX.

Quando terminou a luta, a maioria dos judeus na Palestina foi morta, exilada ou escravizada, e dessa vez os romanos tomaram providência para que não houvesse mais nenhuma revolta. Esvaziaram de habitantes grande parte dos território e levaram para lá etnias mais cooperadoras. Os judeus foram exilados da Palestina, e começou a Diáspora, a dispersão dos judeus por todo o globo.

Morte e sucessão

Adriano morreu em 138, em Roma. Seu corpo foi depositado num mausoléu, que veio a ser o castelo de Santo Ângelo, em Roma. A sucessão de Adriano foi complicada: a princípio ele havia pensado em adotar como filho e sucessor um dos seus muitos antigos favoritos (tal como o adolescente grego Antínoo), Lúcio Élio Vero - e efetivamente o fez, mas tendo Élio falecido prematuramente, Adriano acabou por adotar o senador T. Aurélio Fúlvio Boiônio Antonino - que tornou-se depois o imperador Antonino Pio - sob a condição, no entanto, de que este adotasse como seu filho e sucessor o parente distante de Adriano, o jovem Marco Ânio Vero, o futuro imperador Marco Aurélio, assim como o filho do falecido Lúcio Ceiônio, Lúcio Vero, que viria a ser co-imperador junto com Marco Aurélio. Entrementes, Adriano acabou por ordenar o suicídio de outro dos seus parentes, o nonagenário senador Lúcio Júlio Urso Serviano - ou Serviano Urso - de quem ele desconfiava que buscaria a sucessão imperial para seu neto (que também foi obrigado a suicidar-se). Tal decisão fez muito para confirmar a alienação mútua entre Adriano e o senado romano, que levaria, após sua morte, a uma tentativa fracassada do senado de invalidar seus atos, o que foi impedido por Antonino Pio. A hostilidade duradoura entre o senado e Adriano seria reconhecida pelo seu contemporâneo mais jovem, o senador, orador e correspondente de Marco Aurélio, Frontão, que comparava Adriano ao deus da guerra Marte e ao deus dos mortos Dis Pater - ambos deuses que se deve tentar apaziguar, mas sem poder realmente amá-los.

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Diocleciano

Caio Aurélio Valério Diocleciano (Diocleia, c. 22 de dezembro de 2443 – Espalato, 3 de dezembro de 311), foi imperador romano de 284 a 305.

Nascido numa família ilíria de baixo status social, na província romana da Dalmácia, Diocleciano ascendeu socialmente pela via militar e se tornou comandante de cavalaria do imperador Caro. Após as mortes de Caro e de seu filho, Numeriano, durante uma campanha militar contra o Império Sassânida, Diocleciano foi aclamado imperador. O título também era disputado pelo outro filho de Caro, Carino, que foi derrotado por Diocleciano na Batalha do Margo. 

Com sua ascensão ao poder, Diocleciano pôs um fim à Crise do terceiro século. Indicou um oficial, seu colega militar, Maximiano, para o cargo de "augusto", na prática co-imperador, em 285, e em 1 de março de 293 indicou Galério e Constâncio como "césares", co-imperadores de menor estatura. Sob esta "Tetrarquia", ou "governo de quatro", cada imperador tinha autoridade sobre um quarto do império, embora fosse um governo conjunto. 

Durante campanhas contra os sármatas e tribos do Danúbio (285-290), os alamanos (288) e usurpadores na província do Egito (297-298), Diocleciano defendeu as fronteiras do império e expulsou delas quaisquer ameaças a seu poder. Em 299, conduziu negociações com os sassânidas, o tradicional inimigo do império no Oriente, obtendo uma paz duradoura e favorável aos romanos. 

Diocleciano separou e ampliou os serviços militar e civil do império e reorganizou as divisões provinciais, implementando o maior e mais burocrático governo na história do Império Romano. Fundou novos centros administrativos em Nicomédia (atual İzmit), Mediolano (atual Milão), Antioquia e Augusta Treveroro (atual Tréveris), mais próximos às fronteiras imperiais do que a tradicional capital, em Roma. 

A partir da tendência ao absolutismo comum aos governantes do século III, passou a se denominar um autocrata, elevando-se acima das massas do império com formas imponentes de cerimonial na sua corte e através da arquitetura. O crescimento burocrático e militar, suas constantes campanhas e projetos de construção aumentaram os gastos estatais, e levaram a uma necessária reforma tributária. A partir de 297, os impostos imperiais foram padronizados e tornados mais equitativos, e, de um modo geral, passaram a consistir de taxas mais altas.

Nem todos os planos de Diocleciano tiveram sucesso. O Édito sobre os Preços Máximos, de 301, sua tentativa de controlar a inflação através do controle de preços, foi malsucedido, contraproducente e rapidamente ignorado. Embora tenha sido bem-sucedido enquanto esteve em vigor, o sistema tetrárquico de Diocleciano ruiu logo após sua abdicação, diante das disputas dinásticas rivais de Magêncio e Constantino, filhos de Maximiano e Constâncio, respectivamente. 

A Perseguição de Diocleciano (303-311), a última, maior e mais sangrenta perseguição oficial do cristianismo a ser implementada pelo império, não só não conseguiu destruir a comunidade cristã como ainda a deixou mais fortalecida. Após 324, a religião tornou-se a predileta do império, especialmente depois de seu primeiro imperador cristão, Constantino. Apesar de seus insucessos, as reformas de Diocleciano alteraram fundamentalmente a estrutura do governo imperial romano, e ajudaram a estabilizar o império econômica e militarmente, permitindo que ele continuasse essencialmente intacto pelos próximos cem anos, apesar de ter chegado muito perto do colapso total durante a juventude de Diocleciano. 

Em 1 de maio de 305, enfraquecido pela doença, Diocleciano abandonou o palácio imperial e se tornou o primeiro imperador romano a abdicar voluntariamente de seu cargo. Viveu os últimos anos de sua vida em seu palácio na costa da Dalmácia, cuidando de suas hortas e jardins. Seu palácio posteriormente se tornou o centro da cidade moderna croata de Split.

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Constantino

Constantino I, também conhecido como Constantino Magno ou Constantino, o Grande (em latim Flavius Valerius Constantinus; Naisso, 272 — 22 de maio de 337), foi um imperador romano, proclamado Augusto pelas suas tropas em 25 de julho de 306, que governou uma porção crescente do Império Romano até a sua morte.

Constantino derrotou os imperadores Magêncio e Licínio durante as guerras civis. Ele também lutou com sucesso contra os francos e alamanos, os visigodos e os sármatas durante boa parte de seu reinado, mesmo depois do reassentamento de Dácia (Romênia), que havia sido abandonada durante o século anterior. Constantino construiu uma nova residência imperial em lugar de Bizâncio, chamando-o de Nova Roma. No entanto, em honra de Constantino, as pessoas chamavam-na de Constantinopla, que viria a ser a capital do Império Romano do Oriente por mais de mil anos. Devido a isso, ele é considerado como um dos fundadores do Império Romano do Oriente.

Reformas Religosas, Militares e Administrativas

Cristograma de
Constantino.
Constantino legalizou e apoiou fortemente a cristandade por volta do tempo em que se tornou imperador, com o Édito de Milão, mas também não tornou o paganismo ilegal ou fez do cristianismo a religião estatal única. Na sua posição de Pontifex maximus — cargo tradicionalmente ocupado por todos os imperadores romanos, e que tinha a ver com a regulação de toda e qualquer prática religiosa no império — estabeleceu as condições do seu exercício público e interferiu na organização da hierarquia quando convocado, seguindo uma prática, no que diz respeito aos cristãos, que já havia sido inaugurada por um imperador pagão, Aureliano, que fora chamado a arbitrar uma querela entre o bispado de Antioquia e o bispado de Roma, que excomungara Paulo de Samosata, bispo de Antioquia, por heresia. O Imperador reafirmara o que já era do direito circunscricional da Igreja Romana — ou seja, que as igrejas cristãs locais, no que diz respeito a sua organização administrativa — inclusive quanto a eleição dos bispos — deveriam reportar-se à igreja de Roma, a capital.

Apesar de a Igreja ter prosperado sob o auspício de Constantino, ela própria decaiu no primeiro de muitos cismas públicos. Constantino, após ter unificado o mundo romano, convocou o Primeiro Concílio de Niceia, em um grande centro urbano da parte oriental do império, em 325, um ano depois da queda de Licínio, a fim de unificar a Igreja cristã, pois com as divergências desta, o seu trono poderia estar ameaçado pela falta de unidade espiritual entre os romanos. Duas questões principais foram discutidas em Niceia (atual İznik): a questão da Heresia Ariana que dizia que Cristo não era divino, mas o mais perfeito das criaturas, e também a data da Páscoa, pois até então não havia um consenso sobre isto.

Constantino só foi batizado e cristianizado no final da vida. Ironicamente, Constantino poderá ter favorecido o lado perdedor da questão ariana, uma vez que ele foi batizado por um bispo ariano, Eusébio de Nicomédia (que não deve ser confundido com o biógrafo do imperador, Eusébio de Cesareia). A inclinação que Constantino e seu filho e sucessor na condição de augusto único, Constâncio II, demonstraram pelo arianismo, é bastante explicável, na medida em que ambos tentaram apresentar a figura do imperador como um análogo do Cristo ariano: uma emanação divina, reflexo terreno do Verbo. A tempestuosa relação de Constantino com a Igreja da época dá conta dos limites da sua atuação no estabelecimento da Ortodoxia: pouco antes de sua morte, em 335, ele mandou exilar, na capital imperial de Trier, o patriarca de Alexandria Atanásio, campeão da ortodoxia, por suas violentas atitudes antiarianas, e apesar do fato de que Atanásio continuou a ser perseguido pelos sucessores de Constantino, o abertamente ariano Constâncio II e o pagão Juliano, o Apóstata, foi a sua visão teológica que acabou por prevalecer.

Fundação de Constantinopla

Constantino: mosaico em
Hagia Sofia.
Para resolver definitivamente o problema logístico da distância entre a capital e as principais frentes militares da época, sem recorrer ao expediente de uma residência imperial "interina", Constantino reconstruiu a antiga cidade grega de Bizâncio, que dedicou em 11 de maio de 330 chamando-a de Nova Roma, dotando-a de um Senado e instituições cívicas (catorze regiões, um fórum, distribuições de trigo, um Prefeito do pretório) semelhantes aos da antiga Roma. Tratava-se, no entanto, de uma cidade puramente cristã, dominada pela Igreja dos Santos Apóstolos, junto a qual encontrava-se o mausoléu onde Constantino seria sepultado. Os templos pagãos de Bizâncio foram nela preservados, mas neles foram proibidos os sacrifícios e o culto das imagens dos deuses. Após a morte de Constantino, Bizâncio foi renomeada Constantinopla, tendo-se gradualmente tornado a capital permanente do império. A fundação de Constantinopla foi complementada pelo tratado (foedus) realizado entre Constantino e seus descendentes com os godos, que, a partir de 332, passaram a defender a fronteira do Danúbio e fornecer homens ao exército romano, em troca de abastecimentos. A mudança da capital imperial enfraqueceu a influência do papado de Roma e fortaleceu a influência do bispo de Constantinopla sobre o Oriente, um dos eventos notáveis que provocariam futuramente o Grande Cisma do Oriente.

A limes danubiana e oriental no tempo de Constantino,
com os territórios conquistados no curso das campanhas
germano-sarmáticas (de 306 a 337).
O mapa representa também o Império Romano pouco depois
da morte de Constantino (337), com os territórios "repartidos"
entre os seus três filhos (Constante I, Constantino II e Constâncio II).
Sucessão

Um ano depois do Primeiro Concílio de Niceia, em (326), portanto, durante uma viagem solene a Roma para a comemoração dos seus vinte anos de reinado, Constantino mandou matar seu próprio filho e sucessor designado Crispo, um general competente que provavelmente foi suspeito de intrigar para derrubar o pai. Pouco depois, sufocaria sua segunda mulher Fausta num banho sobreaquecido, provavelmente por suspeitar que ela tivesse intrigado contra seu enteado Crispo. Mandou também estrangular o cunhado Licínio, que havia se rendido a ele em troca da vida e chicotear até a morte o seu filho (e sobrinho do próprio Constantino). Foi sucedido por seus três filhos com Fausta: Constantino II, Constante I e Constâncio II, os quais dividiram entre si a administração do império até que, depois de uma série de lutas confusas, Constâncio II emergiu como augusto único.