segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Godos

Os godos eram um povo germânico originário, segundo Jordanes, das regiões meridionais da Escandinávia. Nenhuma outra fonte primária menciona esta longa migração, que poderia ter-se iniciado no Báltico ou no mar Negro e é possível que os godos tenham se desenvolvido como um povo distinto dos demais bárbaros nas fronteiras do Império Romano. Os godos, segundo Jordanes, distinguiam-se por usarem escudos redondos e espadas curtas e obedecerem fielmente a seus reis.

A única fonte da história inicial dos godos é a Getica de Jordanes (publicada em 551), um resumo de Libri XII De Rebus Gestis Gothorum, história escrita por Cassiodoro, em doze volumes, por volta de 530. A obra de Cassiodoro perdeu-se e Jordanes nem mesmo devia tê-la em mãos para consulta, portanto esta fonte primária deveria ser considerada com cuidado. Cassiodoro estava no lugar certo para escrever sobre os godos, por ser ele um dos principais ministros de Teodorico, o Grande, que certamente havia ouvido algumas das canções góticas que falavam de suas origens tradicionais.

Outras fontes principais para a sequência da história gótica incluem a "Historiae" de Amiano Marcelino, que menciona o envolvimento gótico na guerra civil entre os imperadores Procópio e Valente em 365 e relata a crise dos refugiados e a guerra gótica de 377-382 e o "de Bello Gothico" de Procópio de Cesareia, que descreve as Guerras Góticas de 535-554.

Origens

Os godos originalmente eram formados por dois povos: os tervingos (povo gótico do qual possivelmente se originaram os visigodos) e os grutungos (povo gótico do qual possivelmente se originaram os ostrogodos). Alguns povos como os vândalos e os gépidas tinham parentesco com os godos.

A região de origem dos godos era chamada de Götaland (actual Suécia). A partir do século I os godos instalaram-se na região do Vístula (actual Polónia) em torno da cultura Wielbark, substituindo a cultura Oksywie que se encontrava na região.

A substituição aconteceu quando um assentamento escandinavo foi estabelecido na zona de separação entre a cultura Oksywie e a provavelmente cultura Przeworsk vândala.

Todavia, durante o final da Idade do Bronze Nórdica e o começo da Idade do Ferro Pré-romana (1300 a.C. - 300 a.C.), esta região sofreu influências do sul da Escandinávia. De fato, a influência escandinava na Pomerânia e no actual norte da Polónia a partir de 1300 a.C. foi a partir daí tão considerável que esta região é às vezes incluída na cultura da Idade do Bronze Nórdica.

Acredita-se que os godos tenham cruzado o mar Báltico em algum momento entre o fim da Idade do Bronze Nórdica (300 a.C.) e o ano 100 de nossa era. De acordo com pesquisas antigas, na tradicional província sueca de Östergötland, evidências arqueológicas mostram que houve uma despovoação geral durante este período. No entanto, isto não é confirmado nas publicações recentes.

Os assentamentos na actual Polônia provavelmente correspondem à introdução de tradições funerárias escandinavas, tais como círculos de pedra e menires, que indicam que os primeiros godos preferiam sepultar seus mortos de acordo com as tradições escandinavas. O arqueólogo polaco Tomasz Skorupka afirma que a migração a partir da Escandinávia é uma questão confirmada:

Apesar das muitas hipóteses controversas quanto à localização da Scandia (por exemplo, na ilha de Gotland e nas províncias deVästergötland e Östergötland), o facto é que os godos chegaram ao que hoje é a Polónia vindos do norte cruzando o mar Báltico em barcos.

No entanto, a cultura gótica também parece ter tido continuidade a partir das antigas culturas da região, o que sugere que os imigrantes se mesclaram com as populações nativas, talvez fornecendo sua aristocracia em separado. O académico de Oxford, Heather, sugere que foi uma migração relativamente pequena a partir da Escandinávia. Este cenário tornaria a migração através do Báltico similar a muitos outros movimentos populacionais na história, tal como a invasão anglo-saxã, onde os imigrantes impuseram suas próprias cultura e língua sobre as locais. A cultura Willenberg/Wielbark deslocou-se para sudeste em direção à região do mar Negro a partir da metade do século II. Foi a parte mais antiga da cultura Wielbark, localizada a oeste do Vístula e que possuía tradições funerárias escandinavas, que iniciou o deslocamento. Na Ucrânia, eles impuseram-se como governantes da cultura Zarubintsy local, provavelmente eslava, formando a cultura Chernyakhov.

Os assentamentos Chernyakhov ficavam nos campos abertos nos vales dos rios. As casas incluem residências subterrâneas, residências de superfície e barracas. O maior assentamento conhecido (Budesty) possuía 35 hectares. A maioria dos assentamentos era aberto e não fortificado. Algumas fortalezas são também conhecidas.

Os cemitérios Chernyakhov incluem funerais de cremação e de inumação; entre os últimos, a cabeça está para o norte. Alguns túmulos foram deixados vazios. Objetos encontrados nas tumbas incluem cerâmica, pentes de osso e ferramentas de ferro, mas quase nunca qualquer arma.

A partir do século III os godos já estavam bem assentados e a partir dai começaram a fazer incursões para o sul em direção aos Bálcãs. A partir de 263 os godos começaram a penetrar nos Bálcãs e a atacar diversas regiões romanas, saqueando Bizâncio em 267. Dois anos depois, os godos sofreram uma esmagadora derrota na Batalha de Naissus (269) onde acabaram por serem repelidos de volta para o mar Negro.

Apesar da maioria dos guerreiros nômades demonstrassem serem sanguinários, os godos eram temerosos porque os cativos capturados nas batalhas eram sacrificados ao seu deus da guerra, Tyr, e as armas tomadas eram penduradas em árvores como oferendas. Seus reis e sacerdotes eram procedentes de uma aristocracia separada e seus reis míticos do passado eram honrados como deuses.

Reino godo no mar Negro 

O godo Athanerik é considerado o primeiro rei godo. Em torno do ano 300 unificou todas as tribos godas sob sua soberania e formou o primeiro reino godo em terras da atual Ucrânia e Rússia, terras até então pertencentes à cultura Chernyakhov. Não se sabe em que data seu sucessor assumiu, porém sabe-se que seu sucessor foi Achiulfo.

Durante o governo de Achiulfo, os godos ocuparam as terras que rodeiam o Volga e submetendo os sármatas, citas e gépidas. Em 350 Achiulfo foi sucedido por Hermenerico.

Hermenerico, também conhecido pelas variantes Hermanarico e Ermanrico, foi o ultimo rei dos godos unificados, às vésperas das invasões bárbaras do Império Romano. Embora os limites exatos de seu território ainda sejam obscuros, ele parece ter se estendido a partir do sul dos pântanos de Pripet, entre os rios Don e Dniester.

Sabe-se com alguma segurança apenas que os feitos militares de Hermenerico fizeram com que ele fosse temido pelos povos vizinhos, e que cometeu suicídio ao desesperar-se por não poder resistir com sucesso aos hunos, que invadiram seu território a partir de 370. Seu reino foi destruído e seu povo acabou dividindo-se em visigodos e ostrogodos. Os visigodos se mantiveram sob o rei Fritigerno e os ostrogodos com o rei Vitimiro.

Tanto os ostrogodos quanto os visigodos nitidamente se romanizaram durante o século IV pela influência do comércio com os bizantinos, e por sua participação em um pacto militar com o Império Bizantino para ajuda militar mútua. Eles se converteram ao arianismo durante esta época.

Significado simbólico 

A relação dos godos com a Suécia se tornou uma parte importante do nacionalismo sueco, e até o século XIX a opinião de que os suecos eram os descendentes diretos dos godos era comum. Hoje, acadêmicos suecos identificam isso como um movimento cultural chamado goticismo, o qual inclui um entusiasmo por assuntos em geral do norueguês antigo.

Na Espanha medieval e moderna, os visigodos são considerados como sendo a origem da nobreza espanhola. De alguém agindo com arrogância, seria dito que está "haciéndose los godos" ("fazendo a si mesmo descendente dos godos"). Por causa disto, no Chile, Argentina e Ilhas Canárias, godo era uma ofensa étnica usada contra espanhóis europeus, que no início do período colonial se sentiam superiores às pessoas nascidas nas colônias (criollos).

Esta reivindicação espanhola de origens góticas conduziu a um confronto com a delegação sueca no Concílio de Basileia em 1434. Antes que a assembleia de cardeais e delegações pudessem iniciar as discussões teológicas, eles tinham que decidir como se sentar durante os procedimentos. As delegações das nações mais importantes estavam sentadas mais próximo do papa, e havia também disputas para quem ficaria com as melhores cadeiras e quem teria seus assentos em esteiras. 

Neste conflito, o bispo deVäxjö, Nicolaus Ragvaldi invocou que os suecos eram descendentes dos grandes godos, e que o povo de Västergötland (Westrogothia em latim) eram os visigodos e que o povo de Östergötland (Ostrogothia em latim) eram os ostrogodos. A delegação espanhola então respondeu afirmando que apenas os godos "preguiçosos" e "sem iniciativas" haviam ficado na Suécia, enquanto que os godos "heroicos", por outro lado, tinham deixado a Suécia, invadido o Império Romano e se estabelecido na Espanha.

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