sábado, 31 de agosto de 2013

Idade Contemporânea

A Idade Contemporânea, também chamada de Contemporaneidade, é o período específico atual da história do mundo ocidental, iniciado a partir da Revolução Francesa (1789 d.C.).

O seu início foi bastante marcado pela corrente filosófica iluminista, que elevava a importância da razão. Havia um sentimento de que as ciências iriam sempre descobrindo novas soluções para os problemas humanos e que a civilização humana progredia a cada ano com os novos conhecimentos adquiridos.

A Contemporaneidade está marcada de maneira geral, pelo desenvolvimento e consolidação do regime capitalista no ocidente e, consequentemente pelas disputas das grandes potências europeias por territórios, matérias-primas e mercados consumidores.

Com o evento das duas grandes guerras mundiais o ceticismo imperou no mundo, com a percepção que nações consideradas tão avançadas e instruídas eram capazes de cometer atrocidades dignas de bárbaros. Decorre daí o conceito de que a classificação de nações mais desenvolvidas e nações menos desenvolvidas tem limitações de aplicação.

Atualmente está havendo uma especulação a respeito de quando essa era irá acabar, e por tabela, a respeito da eficiência atual do modelo europeu da divisão histórica.

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Revolução Francesa

A Revolução Francesa (1789-1799) foi um período de intensa agitação política e social na França, que teve um impacto duradouro na história do país e, mais amplamente, em todo o continente europeu. A monarquia absolutista que tinha governado a nação durante séculos entrou em colapso em apenas três anos. A sociedade francesa passou por uma transformação épica, quando privilégios feudais, aristocráticos e religiosos evaporaram-se sob um ataque sustentado de grupos políticos radicais de esquerda, das massas nas ruas e de camponeses na região rural do país. 

Antigos ideais da tradição e da hierarquia de monarcas, aristocratas e da Igreja Católica foram abruptamente derrubados pelos novos princípios de Liberté, Égalité, Fraternité (em português: liberdade, igualdade e fraternidade). As casas reais da Europa ficaram aterrorizadas com a revolução e iniciaram um movimento contrário que até 1814 tinha restaurado a antiga monarquia, mas muitas reformas importantes tornaram-se permanentes. O mesmo aconteceu com os antagonismos entre os partidários e inimigos da revolução, que lutaram politicamente ao longo dos próximos dois séculos.

Em meio a uma crise fiscal, o povo francês estava cada vez mais irritado com a incompetência do rei Luís XVI e com a indiferença contínua e a decadência da aristocracia do país. Esse ressentimento, aliado aos cada vez mais populares ideais iluministas, alimentaram sentimentos radicais e a revolução começou em 1789, com a convocação dos Estados Gerais em maio. O primeiro ano da revolução foi marcado pela proclamação, por membros do Terceiro Estado, do Juramento do Jogo da Péla em junho, pela Tomada da Bastilha em julho, pela aprovação da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão em agosto e por uma épica marcha sobre Versalhes, que obrigou a corte real a voltar para Paris em outubro. Os anos seguintes foram dominados por lutas entre várias assembleias liberais e de direita feitas por apoiantes da monarquia no sentido de travar grandes reformas no país.

A Primeira República Francesa foi proclamada em setembro de 1792 e o rei Luís XVI foi decapitado no ano seguinte. Sua mulher, Maria Antonieta, logo  o seguiu na guilhotina, enquanto o Delfim, seu filho e herdeiro, desapareceu misteriosamente nas masmorras da nova república. Depois que o tabu sagrado contra matar o rei foi quebrado, a França entrou em erupção. Os nobres foram arrancados de suas casas e assassinados de diversas maneiras terríveis e imaginativas. O Reino do Terror viu a decapitação de uns 40 mil inimigos do Estado, a maioria sem qualquer julgamento incômodo.

Embora todas as nações da Europa fossem envolvidas pelas guerras que acompanhavam a Revolução Francesa, só precisamos saber das cinco grandes potências: França, numa ponta da Europa; Rússia, na outra ponta; Prússia e Áustria haviam recuado do ataque à Rússia, depois de dividirem a Polônia entre si. A Inglaterra rondava o litoral. Nenhuma outra nação preocupava, porque nenhuma podia armar um exército capaz de enfrentar sozinha uma dessas grandes potências. As nações menores da Europa eram, na melhor das hipóteses, peões de xadrez, e na pior, o próprio tabuleiro.

Causas

As causas da revolução francesa são remotas e imediatas. Entre as do primeiro grupo, há de considerar que a França passava por um período de crise financeira. A participação francesa na Guerra da Independência dos Estados Unidos da América, a participação (e derrota) na Guerra dos Sete Anos, os elevados custos da Corte de Luís XVI, tinham deixado as finanças do país em mau estado.

Os votos eram atribuídos por ordem (1- clero, 2- nobreza, 3- Terceiro Estado) e não por cabeça, e só era aceito um voto para cada estado. E como clero e nobreza estavam sempre unidos, isso sempre somava dois votos contra um do povo.  

Os chamados Privilegiados estavam isentos de impostos, e apenas uma ordem sustentava o país, deixando obviamente a balança comercial negativa ante os elevados custos das sucessivas guerras, altos encargos públicos e os supérfluos gastos da corte do rei Luís XVI.

O rei Luís XVI acaba por convidar o Conde Turgot para gerir os destinos do país como ministro e implementar profundas reformas sociais e econômicas.

Assembléia Constituinte

Em maio de 1789, após a reunião da Assembléia no palácio de Versalhes, surgiu o conflito entre os privilegiados (clero e nobreza) e o povo. 

A nobreza e o clero, perceberam que o povo tinha mais deputados que os dois primeiros estados juntos, então, queria de qualquer jeito fazer valer o voto por ordem social. O povo (que levava vantagem) queria que o voto fosse individual. 

Para que isso acontecesse, seria necessário uma alteração na constituição, mas a nobreza e o clero não concordavam com tal atitude. Esse impasse fez com que o 3º estado se revoltasse e saísse dos Estados Gerais. 

Fora dos Estados Gerais, eles se reuniram e formaram a Assembléia Nacional Constituinte

O rei Luís XVI tentou reagir, mas o povo permanecia unido, tomando conta das ruas. O slogan dos revolucionários era “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”. 

Em 14 de julho de 1789 os parisienses invadiram e tomaram a Bastilha (prisão) que representava o poder absoluto do rei, já que era lá que ficavam os inimigos políticos dele. Esse episódio ficou conhecido como "A queda da Bastilha". 

O rei já não tinha mais como controlar a fúria popular e tomou algumas precauções para acalmar o povo que invadia, matava e tomava os bens da nobreza: o regime feudal sobre os camponeses foi abolido e os privilégios tributários do clero e da nobreza acabaram. 

No dia 26 de agosto de 1789 a Assembléia Nacional Constituinte proclamou a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, cujos principais pontos eram: 

- O respeito pela dignidade das pessoas 
- Liberdade e igualdade dos cidadãos perante a lei 
- Direito à propriedade individual 
- Direito de resistência à opressão política 
- Liberdade de pensamento e opinião 

Em 1790, a Assembléia Constituinte reduziu o poder do clero confiscando diversas terras da Igreja e pôs o clero sob a autoridade do Estado. Essa medida foi feita através de um documento chamado “Constituição Civil do Clero”. Porém, o Papa não aceitou essa determinação. 

Sobraram duas alternativas aos sacerdotes fiéis ao rei. 

- Sair da França 
- Lutar contra a revolução 

Muitos concordaram com essa lei para poder permanecer no país, mas os insatisfeitos fugiram da França e no exterior decidiram se unir e formar um exército para reagir à revolução. 

Em 1791, foi concluída a constituição feita pelos membros da Assembléia Constituinte. 

Principais tópicos dessa constituição 

- Igualdade jurídica entre os indivíduos 
- Fim dos privilégios do clero e nobreza 
- Liberdade de produção e de comércio (sem a interferência do estado) 
- Proibição de greves 
- Liberdade de crença 
- Separação do estado da Igreja 
- Nacionalização dos bens do clero 
- Três poderes criados (Legislativo, Executivo e Judiciário) 

O rei Luís XVI não aceitou a perda do poder e passou a conspirar contra a revolução, para isso contatava nobres emigrados e monarcas da Áustria e Prússia (que também se sentiam ameaçados). O objetivo dos contra-revolucionários era organizar um exército que invadisse a França e restabelecesse a monarquia absoluta. 

Em 1791, Luís XVI quis se unir aos contra-revolucionários e fugiu da França, mas foi reconhecido, capturado, preso e mantido sob vigilância. 

Em 1792, o exército austro-prussiano invadiu a França, mas foi derrotado pelas tropas francesas na Batalha de Valmy. Essa vitória deu nova força aos revolucionários franceses e tal fato levou os líderes da burguesia decidir proclamar a República (22 de setembro de 1792). 

Com a proclamação, a Assembléia Constituinte foi substituída pela Convenção Nacional que tinha como uma das missões elaborar uma nova constituição para a França. 

Nessa época, as forças políticas que mais se destacavam eram as seguintes: 

Girondinos: alta burguesia 

Jacobinos: burguesia (pequena e média) e o proletariado de Paris. Eram radicais e defendiam os interesses do povo. Liderados por Robespierre e Saint-Just, pregavam a condenação à morte do rei. 

Grupo da Planície: Apoiavam sempre quem estava no poder. 

Mesmo com o apoio dos girondinos, Luís XVI foi julgado e guilhotinado em janeiro de 1793. A morte do rei trouxe uma série de problemas como revoltas internas e uma reorganização das forças absolutistas estrangeiras. 

Foram criados o Comitê de Salvação Pública e o Tribunal Revolucionário (responsável pela morte na guilhotina de muitas pessoas que eram consideradas traidoras da causa revolucionária). 

Esse período ficou conhecido como “Terror”, ou "Grande Medo", pois os não-jacobinos tinham medo de perder suas cabeças. 

Começa uma ditadura jacobina, liderada por Robespierre. Durante seu governo, ele procurava equilibrar-se entre várias tendências políticas, umas mais identificadas com a alta burguesia e outras mais próximas das aspirações das camadas populares. 

Robespierre conseguiu algumas realizações significativas, principalmente no setor militar: o exército francês conseguiu repelir o ataque de forças estrangeiras. 

Durante o governo dele vigorou a nova Constituição da República (1793) que assegurava ao povo: 

- Direito ao voto 
- Direito de rebelião 
- Direito ao trabalho e a subsistência 

Continha uma declaração de que o objetivo do governo era o bem comum e a felicidade de todos. 

Quando as tensões decorrentes da ameaça estrangeira diminuíram, os girondinos e o grupo da planície uniram-se contra Robespierre que sem o apoio popular foi preso e guilhotinado em 1794. 

Após a sua morte, a Convenção Nacional foi controlada por políticos que representavam os interesses da alta burguesia. Com nova orientação política, essa convenção decidiu elaborar outra constituição para a França. 

A nova constituição estabelecia a continuidade do regime republicano que seria controlado pelo Diretório (1795 - 1799). Neste período houve várias tentativas para controlar o descontentamento popular e afirmar o controle político da burguesia sobre o país. 

Durante este período, a França voltou a receber ameaças das nações absolutistas vizinhas agravando a situação. 

Nessa época, Napoleão Bonaparte ganhou prestígio como militar e com o apoio da burguesia e do exército, provocou um golpe. 

Em 10/11/1799, Napoleão dissolveu o diretório e estabeleceu um novo governo chamado Consulado. Esse episódio ficou conhecido como 18 Brumário

Com isso ele consolidava as conquistas da burguesia dando um fim para a revolução. 

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Guerras Napoleônicas - As Quatro Coligações

Guerras Napoleônicas é a designação do conflito armado que se estendeu de 1803 a 1815, opondo a quase totalidade das nações da Europa a Napoleão Bonaparte, herdeiro da Revolução Francesa e ditador militar.

Napoleão chegou ao poder como 1 °Cônsul (1799) vindo a ser coroado imperador da França, em 1804, sob o título de Napoleão I. A partir de 1807 conduziu o governo sem atender aos corpos legislativos e com características autoritárias, imperiais e expansionistas.

As guerras, a princípio localizadas como conflitos entre soberanos, tornaram-se guerras nacionais a partir da resistência popular de Espanha e Portugal (Guerra Peninsular) aos invasores napoleónicos. Com o apoio da Grã-Bretanha, as nações europeias, derrotadas em sucessivas coligações, acabaram por se impor a Napoleão na Batalha de Waterloo (1815) e forçaram o imperador francês ao exílio.

Primeira Coligação

A Primeira Coligação (1792–1797), foi um esforço conjunto de diversas monarquias europeias contra a França revolucionária. A República Francesa formalmente declarou guerra contra a monarquia de Habsburgo da Áustria em 20 de abril de 1792. O Reino da Prússia aliou-se aos austríacos algumas semanas mais tarde. 

Estas potências lançaram uma série de campanhas militares de invasão ao território francês por terra e mar, com os prussianos e a Áustria atacando pelos Países Baixos Austríacos e pelo rio Reno, enquanto o Reino Unido apoiava as revoltas na França provincial e também lançava um cerco contra a cidade de Toulon. 

A França sofreu diversos revéses nos campos de batalha inicialmente, enquanto lidava com problemas internos com os contra-revolucionários (Guerra da Vendeia) e respondeu então com medidas extremas: o Comitê de Salvação Pública foi formado em 6 de abril de 1793 e o levée en masse foi invocado (agosto de 1793), convocando assim todos os homens entre idade de 18 e 25 anos para a luta. O novo exército francês então contra-atacou, repeliu os invasores e lançou ofensivas além de seus territórios. Na então fronteira austríaca, na região central da Alemanha, a França estabeleceu diversos estados satélites, como a República Batava. 

Em 1796, ao norte dos Alpes, Carlos da Áustria-Teschen tentou corrigir a situação na Itália e mudar a guerra em seu favor, mas o general francês Napoleão Bonaparte conseguiu forçar os austríacos a uma retirada da região, o que culminaria com o tratado de Leoben e o acordo de Campo Formio (outubro de 1797). A primeira coligação entrou em colapso, deixando assim apenas a Inglaterra em estado formal de guerra contra a França.

Segunda Coligação

A Segunda Coligação foi um conjunto de alianças e compromissos estabelecidos entre várias potências europeias (incluindo o Império Otomano) que se confrontaram com a França na fase final da Revolução Francesa. O conjunto dos confrontos entre a França e a coligação ficou conhecido como Guerra da Segunda Coligação, teve início em 1799 e prolongou-se até 1801. Formalmente, a guerra só terminou em 1802 com a assinatura do Tratado de Amiens. 

Contra a França uniram-se a Áustria, a Rússia, a Grã-Bretanha, o Império Otomano, o Reino de Nápoles e outras pequenas entidades políticas da península Itálica e da região da Alemanha, estas últimas integradas no Sacro Império Romano-Germânico. A invasão de Portugal por um exército espanhol, em 1801, no conflito que ficou conhecido como Guerra das Laranjas, está também associada a estes acontecimentos e trata-se de uma campanha que não pode deixar de ser referida no âmbito da Guerra da Segunda Coligação. 

Esta guerra, iniciada quando a França era governada pelo Diretório, terminou quando Napoleão Bonaparte era já Primeiro Cônsul. Assim, foi durante esta guerra que se realizou a transição da França Revolucionária para a França Napoleónica. As operações relativas a esta guerra decorreram em três teatros de operações: Alemanha e Países Baixos, Suíça e norte de Itália. Foi neste último teatro de operações que se realizou a Segunda Campanha de Napoleão em Itália. Quando se iniciou a Guerra da Segunda Coligação, tanto os Estados Pontifícios como o Reino de Nápoles estavam já em guerra com a França por causa da expansão desta República para sul, na península italiana. O Império Otomano encontrava-se em confronto com os franceses desde setembro de 1798, após o início da Campanha do Egito.

Terceira Coligação

Após a dissolução da Segunda Coligação (1802), a negativa da Grã-Bretanha em entregar a ilha de Malta aos Cavaleiros da Ordem de São João de Jerusalém iniciou novo conflito com os franceses. Em 1805, com a adesão da Áustria, do Nápoles, da Rússia e da Suécia ao conflito em apoio aos ingleses, originava-se a Terceira Coligação. A Espanha era então aliada da França. A ideia desta coligação era tentar deter as crescentes ambições do governante francês, Napoleão Bonaparte, que em Maio de 1804 recebera o título de imperador.

Napoleão enfrentou os austríacos, que haviam invadido a Baviera, tendo vários Estados alemães apoiado a França na ocasião. As tropas francesas derrotaram as forças austríacas na batalha de Ulm, onde fizeram vinte e três mil prisioneiros, e iniciaram o avanço, ao longo do rio Danúbio, sobre Viena. As tropas russas, lideradas pelo general Mikhail Kutuzov e pelo czar Alexandre I da Rússia, levaram reforços aos austríacos, mas foram vencidas na batalha de Austerlitz. A Áustria rendeu-se novamente, e assinou o Tratado de Presburgo (26 de dezembro de 1805).

Em consequência, foi formada a Confederação do Reno, tendo Napoleão aproveitado a situação para nomear os seus irmãos, José I, rei de Nápoles (1806), e Luís I, rei dos Países Baixos.

Enquanto isso, no mar, o almirante britânico Horatio Nelson derrotava as armadas francesa e espanhola na batalha de Trafalgar (21 de outubro de 1805). Como consequência, no ano seguinte (1806), Napoleão decretou o Bloqueio Continental, pelo qual os portos de toda a Europa seriam fechados ao comércio britânico. A superioridade naval da Grã-Bretanha e a retirada da Família Real Portuguesa para o Brasil dificultaram, na prática, a aplicação desta medida, conduzindo ao fracasso dessa política econômica europeia francesa.

Quarta Coligação

A Quarta Coligação ou Quarta Coalizão foi a aliança formada pela Grã-Bretanha e pela Rússia e Suécia - nações absolutistas -, contra a França de Napoleão Bonaparte, em 1806. A Prússia aderiu à Coligação, sendo as suas tropas derrotadas na batalha de Jena (14 de Outubro), tendo as tropas francesas ocupado Berlim. Em seguida, Napoleão derrotou as tropas russas na batalha de Friedlândia, obrigando o czar Alexandre I da Rússia a assinar o Tratado de Tilsit.

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Guerra Peninsular

A Guerra Peninsular (1807–1814) foi um conflito militar entre o Primeiro Império Francês e os aliados do Império Espanhol, do Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda e do Reino de Portugal pelo domínio da península Ibérica durante as Guerras Napoleônicas. O conflito teve início quando os exércitos franceses e espanhois invadiram e ocuparam Portugal em 1807, tendo escalado em 1808 após França se ter voltado contra Espanha, sua aliada até então. A guerra prolongou-se até à derrota de Napoleão pela Sexta Coligação em 1814, sendo vista como uma das primeiras guerras de libertação nacional e significativa na emergência da guerrilha em grande escala.

A guerra peninsular coincide com o que os historiadores hispanófilos denominam "Guerra de Independência Espanhola", a qual teve início com o levantamento de dois de maio de 1808 e terminou em 17 de abril de 1814. 

A ocupação francesa destruiu o governo da Espanha, que se fragmentou em diversas juntas provinciais que se disputavam entre si. Em 1810, o reconstruído governo de nacional, as Cortes de Cádis, fortificou-se em Cádis, embora não tenha conseguido reorganizar o exército devido ao cerco de mais de 70.000 soldados franceses. Eventualmente, as forças britânicas e portuguesas asseguraram o controle de Portugal, usando o país como ponto de partida de campanhas contra o exército francês e para o abastecimento das tropas espanholas. Ao mesmo tempo, o exército e as guerrilhas espanholas empatavam um número considerável de tropas napoleônicas. As forças aliadas, tanto regulares como irregulares, impediram os marechais franceses de subjugar as províncias espanholas rebeldes ao restringir o domínio territorial francês, fazendo com que a guerra se prolongasse por vários anos de empate.

Os longo período de combate em Espanha representou um fardo pesado para a Grande Armée (exército) francesa. Embora os franceses obtivessem vitórias em batalha, as suas comunicações e linhas de abastecimento eram sistematicamente sabotadas e as suas unidades eram frequentemente isoladas, assediadas ou dominadas por partisans que praticavam uma guerrilha intensiva de raides e emboscadas. Embora os exércitos espanhóis fossem sucessivamente derrotados e empurrados para a periferia, reagrupavam-se e perseguiam incessantemente os franceses.

As forças britânicas, sob o comando de Arthur Wellesley, organizaram diversas campanhas contra os franceses em Espanha com o apoio português. O exército português, desmoralizado na sequência das invasões napoleônicas, foi reorganizado e reequipado sob o comando do general William Carr Beresford e combatia integrado. Carr fora nomeado comandante-chefe das forças portuguesas pela família real no exílio, combatendo integrado no exército anglo-português sob o comando de Wellesley. Em 1812, quando Napoleão partiu com grande parte do exército francês para a desastrosa campanha de conquista da Rússia, um exército conjunto aliado liderado por Wellesley entrou em Espanha e conquistou Madrid. Perseguido pelo exército espanhol, britânico e português e sem apoio de França, o marechal Nicolas Jean de Dieu Soult bateu em retirada, guiando o desmoralizado e exausto exército francês pelos Pirenéus durante o inverno de 1813-14.

A guerra e a revolução contra a ocupação napoleônica levaram à redação da Constituição espanhola de 1812, um marco do liberalismo europeu. No entanto, o esforço de guerra destruiu o tecido social e econômico de Portugal e Espanha e provocou um período de instabilidade social e política e estagnação econômica. Neste período, desencadearam-se na península diversas e devastadoras guerras civis entre facções liberais e absolutistas, lideradas por oficiais treinados na guerra peninsular, e que se prolongaram até à década de 1850. As sucessivas crises provocadas pela invasão, revolução e restauração precipitaram a independência de grande parte das colónias espanholas e a independência do Brasil de Portugal.

terça-feira, 27 de agosto de 2013

Quinta Coligação

A Quinta Coligação foi a aliança formada pela Grã-Bretanha e pela Áustria, a Prússia e a Suécia - nações absolutistas -, contra a França de Napoleão Bonaparte, em 1809.

No ano de 1808, os exércitos de Napoleão dominavam praticamente toda a Europa, excepto a Rússia e a Grã-Bretanha. Na Suécia ocupada, o marechal francês Jean-Baptiste Bernadotte, foi coroado rei com o nome de Carlos XIV, tornando-se o fundador da actual dinastia. Na Espanha ocupada, entretanto, onde após ter destronado Carlos IV de Espanha, Napoleão nomeara seu irmão, José Bonaparte, como rei da Espanha, tiveram início insurreições de cunho nacionalista. Os espanhóis, revoltados, expulsaram José Bonaparte de Madrid, vindo a eclodir a chamada Guerra da Independência Espanhola (1808-1814).

Nesse contexto, constituída a Quinta Coligação, Napoleão derrotou os austríacos na batalha de Wagram (Julho de 1809) obrigando-os a assinar o Tratado de Schönbrunn. Ao mesmo tempo, divorciou-se de sua primeira mulher, Josefina de Beauharnais, e desposou Maria Luisa de Áustria, filha de Francisco I da Áustria, na esperança de evitar novas coligações da Áustria contra a França.

Apesar de boa parte das terras hereditárias dos Habsburgos continuaram em suas mãos, a França formalmente anexou a província da Carinthia, a Carníola e alguns portos no mar Adriático, enquanto a Galicia foi dado aos poloneses e a cidade de Salzburgo, em Tirol, passou para os bávaros. Devido as perdas territoriais, a Áustria perdeu de seu controle cerca de três milhões de pessoas, cerca de um quinto de sua população. Apesar da luta na península ibérica continuar, o continente europeu continuou em relativa paz até a França invadir a Rússia em 1812, dando início a Guerra da sexta Coligação.

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Campanha Russa e a Sexta Coligação

A Invasão francesa da Rússia em 1812, também conhecida como a Campanha Russa em França e Guerra Patriótica de 1812 na Rússia, foi um ponto de viragem durante as Guerras Napoleônicas. Reduziu a dimensão das forças francesas e forças aliadas (o Grande Armée) para uma pequena fracção de sua força inicial, e provocou uma grande mudança na política europeia uma vez que enfraqueceu dramaticamente a hegemonia francesa na Europa. A reputação de Napoleão como um gênio militar invencível, foi severamente abalada, enquanto antigos aliados do Império Francês, primeiro o Reino da Prússia e depois o Império Austríaco, romperam a sua aliança com a França, e trocaram de lado, desencadeando a guerra da Sexta Coligação.

A campanha começou em 24 de junho de 1812, quando as forças de Napoleão atravessaram o rio Neman. Napoleão pretendia obrigar o imperador da Rússia Alexandre I a permanecer no Bloqueio Continental do Reino Unido; um objectivo oficial era acabar com a ameaça de uma invasão russa da Polônia. Napoleão designou a campanha de Segunda Guerra Polaca (em referência à "Guerra da Primeira Guerra Polaca"); o governo russo proclamou uma Guerra Patriótica.

Quase meio milhão de homens, o Grande Armée, marchou pela Rússia Ocidental, ganhando uma série de pequenas batalhas e uma grande batalha (Batalha de Smolensk), entre 16 e 18 de Agosto. No entanto, no mesmo dia, a ala direita do exército russo, sob o comando do general Peter Wittgenstein, bloqueou parte do exército francês, liderado pelo marechal Nicolas Oudinot, na Batalha de Polotsk. Esta ação impediu os franceses de avançar sobre a capital russa de São Petersburgo; o destino da guerra tinha que ser decidida na frente de Moscovo, onde o próprio Napoleão liderou suas forças.

Embora os russos tenham utilizado a política da terra queimada, e, por vezes, tenham atacado o inimigo com a cavalaria ligeira de cossacos, o seu exército principal retirou-se por cerca de três meses. Este recuo prejudicou a confiança no marechal-de-campo Michael Andreas Barclay, levando Alexandre I a nomear um veterano, Príncipe Mikhail Kutuzov, o novo comandante-em-chefe. 

Finalmente, a 7 de setembro, os dois exércitos encontraram-se perto de Moscovo, na Batalha de Borodino. A batalha resultou na maior e mais sangrenta ação em um único dia, durante as Guerras Napoleônicas. Envolveu mais de 250 mil soldados e resultou em pelo menos 70 mil vítimas. Os franceses capturaram o campo de batalha, mas não conseguiram destruir o exército russo. Além disso, os franceses não conseguiram substituir as suas perdas, enquanto os russos o podiam fazer.

Napoleão entrou Moscovo no dia 14 de setembro, depois de o exército russo ter, novamente, recuado. Mas, por essa altura, os russos tinham já evacuado a cidade e até libertado criminosos das prisões para complicar o avanço francês. Além disso, o governador, o conde Fyodor Rostopchin, ordenou que a cidade fosse incendiada. Alexandre I recusou-se a capitular, e as conversações de paz iniciadas por Napoleão falharam. Em outubro, sem um sinal de vitória claro, Napoleão começou a sua retirada desastrosa de Moscovo, durante o período de chuvas e lama habituais no Outono russo.

Na Batalha de Maloyaroslavets, os franceses tentaram chegar a Kaluga, onde poderiam encontrar alimentos para os homens e para os animais. Mas o exército russo, bem alimentado, bloqueou a estrada, e Napoleão foi forçado a recuar pelo mesmo caminho de onde tinham vindo desde Moscovo, através das áreas fortemente devastadas ao longo da estrada de Smolensk. Nas semanas seguintes, o grande armée sofreu golpes catastróficos como o início do Inverno Russo, a falta de suprimentos e constantes ataques de camponeses russos e tropas irregulares. Quando as restantes tropas do exército de Napoleão atravessaram o rio Berezina em novembro, já só restavam 27 mil soldados; o grande armée tinha perdido 380 mil homens e 100 mil tinham sido feitos prisioneiros. Napoleão abandonou os seus homens e voltou para Paris para proteger a sua posição como Imperador e preparar-se para resistir aos avanços dos russos. A campanha terminou a 14 de dezembro de 1812, quando as últimas tropas francesas deixaram a Rússia.

Um evento de proporções épicas e de grande importância para a história da Europa, a invasão francesa da Rússia tem sido objecto de muita discussão entre os historiadores. A importância da campanha na cultura russa pode ser vista na obra de Liev Tolstoi, Guerra e Paz; na composição de Tchaikovsky, Abertura 1812; e a sua identificação com a invasão alemã de 1941-1945, que se tornou conhecida como a Grande Guerra Patriótica na União Soviética.

Sexta Coligação

A Sexta Coligação (1812-1814) foi a união militar da Áustria, Prússia, Rússia, Suécia, Reino Unido e alguns estados alemães contra o Império Francês de Napoleão Bonaparte. A coalizão conseguiu derrubá-lo do poder e forçá-lo ao exílio na Ilha de Elba.

Em 1812, Napoleão invadiu a Rússia. Após uma importante vitória na batalha de Borodino, ele conquistou Moscou mas não conseguiu capturar o imperador Alexandre I e nem subjugar o Império russo. Com a aproximação do inverno e com poucas provisões, ele ordenou uma retirada de volta a França, via Alemanha, contudo o exército francês foi duramente castigado pelo frio e pelos ataques russos à sua retaguarda enfraquecida.

A Rússia então aliou-se à Sexta Coligação. A Suécia também aderiu a coalizão, em resposta a invasão da Pomerânia sueca por tropas francesas. Em 1813, Napoleão partiu para ofensiva, derrotando as tropas aliadas em Lützen (maio) e em Bautzen. Bonaparte, que perdera boa parte do seu exército na Rússia, conseguiu reunir 250 mil homens (a maioria inexperientes). Os seus Estados satélites da Confederação do Reno forneceriam mais tropas, contudo os Aliados estavam mais preparados e em maior número. Guarnições do exército francês ainda estavam em grande número lutando na Espanha. Em agosto de 1813, Napoleão derrotou um exército com quase o dobro do tamanho do seu na batalha de Dresden, contudo ele não conseguiu explorar este sucesso pois o marechal Nicolas-Charles Oudinot foi derrotado pelos prussianos a caminho de Berlim.

Napoleão então reagrupou-se na Saxônia, mas foi forçado a bater em retirada sobre o rio Reno, após ter sido derrotado pelos Aliados na batalha de Leipzig, deixando livres os Estados alemães. Boa parte dos países da Confederação do Reno voltaram-se contra os franceses logo em seguida. Os exércitos russo, austríaco e prussiano invadiram a França pelo norte e tomaram Paris em março de 1814. Napoleão abdicou do trono e partiu para o exílio na ilha de Elba.

Os membros da Sexta Coalizão reuniram-se no Congresso de Viena para restaurar as monarquias absolutistas na Europa. No entanto, enquanto era discutido o novo mapa europeu, Bonaparte evadiu-se de seu local de exílio, regressando à França e constituindo um novo exército. Depois de vencer a batalha de Ligny e fracassar em Quatre-Bras, a 18 de junho de 1815 foi definitivamente vencido na batalha de Waterloo, que pôs fim às Guerras Napoleônicas.

domingo, 25 de agosto de 2013

Batalha de Waterloo

A Batalha de Waterloo foi um confronto militar ocorrido a 18 de Junho de 1815 perto de Waterloo, na atual Bélgica (então parte integrante do Reino Unido dos Países Baixos). Um exército do Primeiro Império Francês, sob o comando do Imperador Napoleão (72 000 homens), foi derrotado pelos exércitos da Sétima Coligação que incluíam uma força britânica liderada pelo Duque de Wellington, e uma força prussiana comandada por Gebhard Leberecht von Blücher (118 000 homens). Este confronto marcou o fim dos Cem Dias e foi a última batalha de Napoleão; a sua derrota terminou com o seu governo como Imperador. 

Cem Dias 

O período conhecido como os Cem Dias marca o período do retorno do imperador francês Napoleão I ao poder, após sua fuga do exílio na ilha de Elba. Ele chegou em Paris em 20 de março de 1815. Determinados a remove-lo do trono de uma vez por todas, diversas potências europeias, como a Inglaterra, Rússia, Prússia e Áustria, formaram uma nova coalizão (a Sétima Coligação) contra a França. A volta de Napoleão aconteceu ao mesmo tempo em que o Congresso de Viena estava em andamento. Em 13 de março, sete dias antes do imperador francês marchar na capital, os dignitários europeus em Viena declararam Bonaparte oficialmente um fora da lei.

Sétima Coligação

Depois do regresso de Napoleão ao poder em 1815, muitos dos Estados que se tinham oposto ao Imperador formaram a Sétima Coligação, dando início à mobilização dos seus exércitos. Duas forças de grande dimensão sob o comando de Wellington e de Blücher concentraram-se perto da fronteira nordeste da França. Napoleão decidiu atacar na esperança de as destruir antes que dessem início a uma invasão coordenada da França, juntamente com outros membros da coligação. O confronto decisivo da campanha de três dias de Waterloo - 16 a 19 de Junho de 1815 -, teve lugar em Waterloo. De acordo com Wellington, a batalha foi "a mais renhida que assisti na minha vida".

Monumento em Waterloo.
Napoleão atrasou o início da batalha até ao meio-dia esperando que o terreno secasse. O exército de Wellington, posicionado ao longo da estrada para Bruxelas, na escarpa de Mont-Saint-Jean, resistiu a múltiplos ataques franceses até que, no final do dia, os prussianos chegaram em força e penetraram no flanco direito de Napoleão. Naquele momento, o exército de Wellington contra-atacou provocando a desordem das tropas francesas no campo-de-batalha. Posteriormente, as forças da coligação entraram em França repondo Luís XVIII no trono francês. Napoleão abdicou, rendeu-se aos britânicos e foi exilado na ilha de Santa Helena, onde morreu em 1821. 

O campo-de-batalha fica, actualmente em território belga, a cerca de treze quilómetros a sudeste de Bruxelas, e a 1,6 km da cidade de Waterloo. No local da batalha existe hoje um enorme monumento designado por Monte do Leão (em francês Butte du Lion), construído por terra trazida do próprio terreno da batalha

sábado, 24 de agosto de 2013

Guerras do Ópio

As Guerras do Ópio, ou Guerra Anglo-Chinesa foram conflitos armados ocorridos entre a Grã-Bretanha e a China nos anos de 1839-1842 e 1856-1860.

Antecedentes

Com o fim das guerras napoleônicas, as atividades comerciais europeias voltaram-se para o Extremo Oriente, traduzindo-se numa pressão constante sobre a China, que mantinha fortes restrições sobre o comércio estrangeiro. Cantão era o único porto aberto ao comércio estrangeiro. Veio a representar o choque entre a China e o Ocidente durante as chamadas Guerras do Ópio. 

Em meados do século XIX a Grã-Bretanha era a potência mais desenvolvida do mundo, efetuando a transição para a segunda fase da Revolução Industrial. Para tanto, demandava cada vez mais matérias-primas a baixos preços e mercados consumidores maiores para os seus produtos industrializados.

A Índia e a China, países mais populosos da Ásia, despertavam grande atenção por parte da burguesia britânica. Só que, ao passo que o mercado indiano se encontrava aberto ao comércio estrangeiro, a China produtora de seda, porcelana e chá (os britânicos compraram 12.700 toneladas em 1720 e 360 mil toneladas em 1830), itens que alcançavam bons preços no mercado europeu, ao passo que a China não mostrava interesse nos produtos europeus, o que acarretava défices ao comércio britânico.

Apenas um produto, em particular, parecia despertar o interesse dos chineses: o ópio, uma substância entorpecente, altamente viciante, extraída da papoula que causa dependência química em seus usuários, introduzido ilegalmente na China por comerciantes ingleses e norte-americanos. Produzido na Índia, e também em partes do Império Otomano no início do século XIX, os comerciantes britânicos traficavam-no ilegalmente para a China e muitas vezes forçavam os cidadãos a consumir as drogas, provocando dependência química, auferindo grandes lucros e aumentando o volume do comércio em geral.

O governo de Pequim resolveu proibir o tráfico de ópio. Isso levou Londres a declarar guerra à China. Pois pretendia conservar este lucrativo comércio (nota: a balança comercial das trocas entre os dois países era deficitária a favor da Grã-Bretanha).

China Proíbe a Importação de Ópio

Ópio
Entre 1811 e 1821, o volume anual de importação de ópio na China girava em torno de 4.500 pacotes de 15 quilos cada um. Esta quantidade quadruplicou até 1835 e, quatro anos mais tarde, chegou a ponto de o país importar 450 toneladas, ou seja, um grama para cada um dos 450 milhões de habitantes da China na época, 1 grama de ópio era o suficiente para provocar dependência química em seus usuários.

A droga chegou a representar a metade das exportações britânicas para a China. O primeiro decreto proibindo o consumo de ópio datou de 1800, mas nunca chegou a ser respeitado.

Em 1839, a droga ameaçava seriamente não só a estabilidade social e financeira do país, como também a saúde dos soldados. A corrupção grassava na sociedade chinesa. Para chamar a atenção do imperador, um ministro descreveu a situação da seguinte maneira: Majestade, o preço da prata está caindo por causa do pagamento da droga. Em breve, vosso império estará falido. Quanto tempo ainda vamos tolerar este jogo com o diabo? Logo não teremos mais moeda para pagar armas e munição. Pior ainda, não haverá soldados capazes de manejar uma arma porque estarão todos viciados.

Em 18 de março de 1839, o imperador lançou um novo decreto, com um forte apelo à população. Através de um panfleto, advertiu do consumo de ópio. As firmas estrangeiras foram cercadas pelos militares chineses, que em poucos dias apreenderam e queimaram, na cidade de Cantão, mais de 20 mil caixas da droga.

A Primeira Guerra do Ópio (1839 - 1842)

Em 1839, diante do assassinato brutal de um súdito chinês por marinheiros britânicos embriagados em Cantão, o comissário imperial chinês ordenou a expulsão de todos os ingleses da cidade. Na ocasião, o governo chinês confiscou e destruiu cerca de 20 mil caixas de ópio nos depósitos britânicos, expulsando da China os seus responsáveis, súditos da Grã-Bretanha.

Esses fatos serviram de pretexto para que a Grã-Bretanha declarasse guerra à China, na chamada Primeira Guerra do Ópio (1839-1842). Em 1840, o chanceler britânico, lorde Palmerston, furioso, ordenou uma frota de 16 navios de guerra britânicos para a região. Senhora de superioridade tecnológica inquestionável, representada por modernos navios de aço movido á vapor como o Fênix Dancer, a esquadra britânica afundou boa parte dos obsoletos juncos à vela da marinha de guerra chinesa, sitiou Guangzhou (Cantão), bombardeou Nanquim e bloqueou as comunicações terrestres com a capital, Pequim.

O conflito foi encerrado em Agosto de 1842 com a assinatura do Tratado de Nanquim, o primeiro dos chamados "Tratados Desiguais", pelo qual a China aceitou suprimir o sistema de Co-Hong (companhia governamental chinesa), abrir cinco portos ao comércio de ópio britânico (Cantão, Amói, Fuchou, Ningpo e Xangai), pagar uma pesada indenização de guerra e entregar a ilha de Hong Kong, na qual ficaria sob o domínio inglês por 155 anos. Como garantia do direito de comércio de ópio assim obtido, um navio de guerra britânico ficaria permanentemente ancorado em cada um desses portos.

Apesar do acordo com a China, a situação continuou a não satisfazer as ambições imperialistas dos ingleses. O comércio de ópio não progredia tão rapidamente como o pretendido, uma vez que os mandarins locais se atrasavam na resolução dos assuntos que iam surgindo. Assim, a situação não era conforme os interesses dos ocidentais.

Segunda Guerra do Ópio (1856 - 1860)

Em 1856, oficiais chineses abordaram e revistaram o navio de bandeira britânica, Arrow. Os franceses aliaram-se aos britânicos no ataque militar lançado em 1857. As forças aliadas operaram ao redor de Cantão, de onde o vice-rei prosseguia com uma política protecionista. Mais uma vez, a China saiu derrotada e, em 1858, as potências imperialistas ocidentais exigiram que a China aceitasse o Tratado de Tianjin. De acordo com este tratado, onze novos portos chineses seriam abertos ao comércio de ópio com o Ocidente e seria garantida a liberdade de movimento aos traficantes europeus e missionários cristãos. Quando o imperador se recusou a ratificar o acordo, a capital, Pequim, foi ocupada. Após a Convenção de Pequim (1860), o Tratado de Tianjin foi aceito. A China criou um Ministério dos Negócios Estrangeiros, permitiu que se instalassem legações ocidentais na capital e renunciou ao termo "bárbaro", usado nos documentos chineses para denominar os ocidentais.

Consequências

Em 1900, o número de portos abertos ao comércio com o ocidente, chamados de "portos de tratado", chegava a mais de cinquenta, sendo que todos os países Europeus, assim como os Estados Unidos, tinham concessões e privilégios comerciais.

A ilha de Hong Kong permaneceu em poder dos britânicos até ser devolvida à China, em Julho de 1997. O estatuto de Macau, como colônia do Império Português a cerca de 60 km da colônia britânica, foi prorrogado, devolvida apenas em 20 de Dezembro de 1999.

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Rebelião Taiping

A Rebelião Taiping (1851-1864) foi um dos conflitos mais sangrentos da história, um confronto entre as forças da China imperial e um grupo inspirado por um místico autoproclamado, chamado Hong Xiuquan (1813-1864), que se dizia cristão e também intitulava-se irmão de Jesus Cristo. Seu objetivo era criar uma nova cultura, substituindo a tradição confucionista e budista por algo "novo" - moldado conforme às suas ideias.

A rebelião começou na província de Guangxi e estendeu-se rapidamente pela região do Rio Azul. Em 19 de março de 1853, os rebeldes tomaram Nanquim e fizeram daquela cidade a capital de seu movimento. Posteriormente, desfecharam um ataque malsucedido contra a Pequim. As tropas imperiais foram auxiliadas por militares ingleses e mercenários estadunidenses e esmagaram a revolta reconquistando Nanquim, num cerco onde pereceu Hong Xiuquan. A Dinastia Qing, no entanto, jamais se restabeleceu da guerra civil e a ideologia dos revoltosos de Taiping — um misto de cristianismo e teorias radicais de igualdade social — influenciou grupos revolucionários posteriores, inclusive o Partido Comunista Chinês.

Calcula-se que entre 30 e 50 milhões de pessoas morreram em consequência direta do conflito. Aliás, no período compreendido entre 1850 e 1873, a população da China foi reduzida em mais de 60 milhões de pessoas, como resultado de rebeliões, guerras, da seca e da fome.

Prelúdio: A Guerra do Ópio 

Durante grande parte da história registrada, um observador imparcial teria considerado a China a civilização tecnologicamente mais avançada do mundo. Os chineses eram auto-suficientes, auto-contidos e auto-satisfeitos. Para restringir a contaminação alienígena ao mínimo, o governo Manchu da dinastia Qing confinava os ocidentais em poucos portos. Os mercadores europeus tinham de pagar no ato e em prata, se quisessem qualquer mercadoria chinesa - principalmente chá, sedas e porcelanas. Os chineses certamente não queriam nenhuma das mercadorias de qualidade inferior dos navegantes bárbaros de Portugal, Holanda ou Inglaterra. Em longo prazo, a China estava drenando moeda demais para fora da Europa, e o Ocidente precisava arranjar algo para vender aos chineses, a fim de recuperar seu dinheiro.

Ópio era a solução perfeita. A Inglaterra era abastecida regularmente pela Índia, e a demanda chinesa por narcóticos estava crescendo, à medida que o ataque violento das ideias e tecnologias estrangeiras minava sua estrutura social. Infelizmente para o Ocidente, o governo chinês bania completamente e totalmente o ópio - a não ser quando ligado a uma propina conveniente. Isso não foi, a princípio, um grande problema. As propinas eram normalmente menores do que as taxas alfandegárias que os europeus teriam de pagar no comércio legal, mas, então, quase por acidente, a corte chinesa nomeou um comissário honesto para erradicar autoridade para combater o ópio, em vez de extorquir os mercadores. Quando ele confinou a comunidade estrangeira e destruiu 10 mil arcas de ópio, os ingleses e franceses declararam guerra.

Embora a China houvesse passado grande parte da história como a mais avançada civilização da Terra, ou europeus haviam ultrapassado os chineses, desde muito, no aspecto mais importante - a tecnologia militar. Na primeira Guerra do Ópio, as forças anglo-francesas afundaram a frota chinesa e destruíram seu exército quase sem sofrer um só arranhão. Com o tratado de paz de 1842, os chineses legalizaram o comércio do ópio e estabeleceram relações diplomáticas com os europeus em um nível de igualdade; prometeram parar de chamar os europeus de bárbaros e permitiram que eles abrissem postos de comércio (feitorias) em portos designados ao longo da costa e de rios navegáveis. Junto com os mercadores seguiram os missionários cristãos, que se espalharam pelo interior.

Cristianismo na China

Os "ataques" à sociedade da China pelo Ocidente estavam levando muitos chineses a reconsiderar antigas verdades espirituais, e o cristianismo começou a fazer avanços importantes. Isso não era completamente novo. os cristãos vinham fuçando na China havia séculos. O variantes nestoriana da religião chegara com as caravanas persas muito tempo antes. Os missionários jesuítas haviam chegado com os navegadores portugueses a partir de 1500. Ambas as tendências haviam tido sucesso limitado, mas, até a Guerra do Ópio, a cristandade nunca passara de um interessante culto estranho a que alguns excêntricos às vezes se convertiam. 

Hong Xiuquan

Hong Xiuquan
Hong Xiuquan viria a ser um desses excêntricos. Ele morava no extremo sul, no interior de Hong Kong e Cantão, onde se virava como mestre-escola. Uma noite, em 1837, enquanto Hong se recuperava de uma série de doenças, um homem de cabelos dourados, vestido com um manto preto, apareceu-lhe numa visão, mandando que ele purificasse a Terra. Como a visão não fazia sentido, Hong a tirou da cabeça por alguns anos e continuou com sua vida. Então sua carreira empacou, depois que ele foi repetidamente reprovado no exame do serviço público que era exigido para progredir na sociedade chinesa.

Um dia, em 1843, enquanto vagava pela grande cidade depois de ter fracassado mais uma vez no exame do serviço público, Hong recebeu de presente uns panfletos protestantes. Converteu-se ao cristianismo e começou a estudar com os missionários batistas americanos. Logo reconheceu os elementos cristãos da sua quase esquecida visão. Percebeu que o próprio Deus era o homem na visão, e então lembrou que Deus declarara ser ele, Hong, seu segundo filho, o irmão mais moço de Jesus.

Adoradores de Deus

Algum tempo mais tarde, Hong fundou a Sociedade dos Adoradores de Deus. A princípio ele manteve sua adoração pelo Messias em segredo, e simplesmente pregava uma fusão salvadora entre Confúcio e os principais cristãos, com uma forte ênfase nos Dez Mandamentos. Quando seus seguidores aumentaram, ele atacou os adoradores de ídolos, destruindo o confucionismo e os santuários ancestrais. Hong fundou comunidades na sua zona rural, batizando mais e mais convertidos, até que, em 1850, os Adoradores de Deus chegaram a 20 mil seguidores.

Exército Santo

Os Adoradores de Deus se afastavam tanto do comportamento tradicional chinês que os atritos se tornaram inevitáveis. Eles se organizaram como paramilitares, e o primeiro choque com as autoridades Qing foi em dezembro de 1850.

Os taipings proibiam o ópio, a prostituição, o homossexualismo e o álcool. Os homens e as mulheres eram mantidos completamente separados, embora ambos os gêneros fossem recrutados para o exército. A nova sociedade era estruturada segundo normas militares numa espécie de exército santo. Todas as terras eram compartilhadas. A produção excedente de um aldeia era usada para aliviar a deficiência em outra; "assim todas as pessoas no império podiam usufruir juntas a felicidade abundante do Pai Celestial. Se há campos, que todos possam cultivá-los; se há comida, que todos possam comer; se há roupas, que todos possam se vestir; se há dinheiro, que todos possa gastá-lo, pois assim não existirá a desigualdade em nenhum lugar, e nenhum homem estará mal alimentado ou malvestido"

A Proibições e a Hipocrisia

O novo movimento aboliu a bandagem nos pés, pela qual os pés das garotas eram apertados em pequenas, delicadas e pouco práticas formas, o que era considerado bonito entre os chineses. Aboliu também a trança que todos os homens chineses até então eram obrigados a usar como um sinal de servidão a seus mestres manchus. Isso deu aos exércitos taiping uma aparência selvagem, quando tanto os homens quanto as mulheres entravam em combate com pés desafiadoramente grandes e cabeleiras assustadoras.

Apesar de todos os ideais utópicos da sociedade taiping, a hipocrisia existia em abundância. Para a maioria dos membros do movimento, homens e mulheres eram mantidos completamente separados, mas os líderes tinham haréns dignos dos reis do Antigo testamento, para não mencionar servidores, criados e toda uma pompa apropriada às suas posições.

Buscando Apoio do Ocidente

Os taipings esperavam chegar a um acordo com os países do Ocidente. Não só compartilhavam um cristianismo nominal com os europeus, mas desde 1856 os anglo-franceses vinham travando uma Segunda Guerra do Ópio contra a China Qing.

O Ocidente considerou suas opções. Talvez fosse hora de tomar o controle total da China e substituir a corrupta e xenofóbica dinastia Qing por fantoches ocidentalizados. Por vários anos, o Ocidente considerara os taipings como cristãos decentes, merecedores ao menos de apoio moral. Quando as estranhas heresias de Hong se tornaram mais aparentes, o Ocidente voltou a apoiar o demônio já conhecido, a dinastia Qing imperial. 

Na esperança de conectar-se com seus presumidos simpatizantes no Ocidente, uma coluna de taipings saiu, em 1860, em direção a Xangai, que virara um protetorado internacional sob o controle ocidental, em 1854. ignorando as constantes mudanças de vento nas atitudes dos ocidentais, os taipings ficaram surpresos ao encontrar as forças de segurança europeias atirando contra eles das fortificações externas da cidade. Pensando que tudo fosse um engano, trezentos taipings foram mortos sem nem mesmo revidar os tiros.

Morte de Hong Xiuquan

Hong Xiuquan adoeceu e morreu em maio de 1864, mas ninguém sabe como isso aconteceu. Veneno é a causa mais provável, e a maioria dos historiadores tende pelo suicídio, mas assassinato também é aventado. Outra possibilidade é que ele tenha acidentalmente se envenenado por alguma combinação letal de elixires e poções, que tomava para aumentar o seu vigor. De qualquer forma, sua morte prematura ocorreu apenas alguns meses antes da de seus seguidores.

A rendição de Nanquim às forças do governo se deu em julho de 1864, sendo seguida por um massacre geral de seus habitantes. De acordo com o general Qing no local: "Nenhum dos 100 mil rebeldes em Nanquim se rendeu, mas em muitos casos eles se reuniram, puseram fogo em si próprios e morreram sem arrependimento. 

Legado no Cinema

Quando Hollywood começou a estudar a possibilidade de fazer um filme baseado em Devil Soldier, de Caleb Carr, a história do mercenário americano Frederick Ward na Rebelião Taiping, uma das primeiras coisas a ser mudada foi o cenário. As partes interessadas finalmente aproveitaram a ideia e fizeram o filme O Último Samurai, a história de um mercenário americano no século XIX, capturado em uma guerra civil no... bem... Japão, obviamente.

A Rebelião Taiping é o exemplo perfeito do velho adágio que diz que os livros de história são escritos pelos vencedores. A maioria dos escritores trata os taipings como pobres camponeses iludidos, que seguiam as alucinações de um louco, mas quando você vai mais fundo, é assim que a maioria das religiões começas (não a sua religião, obviamente, mas todas as outras). A única diferença entre Hong e os profetas bem-sucedidos da história é que se um professor, novelista ou cartunista desrespeitar Hong Xiuquan, multidões enfurecidas não irão pedir a sua cabeça. 

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Guerra da Criméia

Uma coisa que todo mundo deve saber sobre a Guerra da Criméia (1854 - 56) é a completa incompetência demonstrada por todos os envolvidos. A guerra da Crimeia foi a primeira guerra a ser fotografada e relatada por correspondentes de guerra para os jornais diários. Foi também a primeira guerra a chocar e horrorizar as pessoas em seus lares. A única pessoa que a história recorda com simpatia é uma mulher civil, Florence Nightingale, que decidiu por si própria atender aos soldados doentes e feridos, depois que o exército provou ser incapaz dessa tarefa. 

A guerra começou de forma estúpida. Os cleros ortodoxos e católicos disputavam, em Jerusalém, a primazia sobre os lugares sagrados. O clero ortodoxo pediu ao czar Nicolau I da Rússia que defendesse sua causa ante o sultão otomano, o governador da palestina. Os russos tiveram uma reação exagerada, insistindo em ser reconhecidos como protetores e porta-vozes de todas as minorias cristãs sob o governo turco. Isso, na verdade faria da Turquia um protetorado russo, incapaz de tomar qualquer decisão sem a permissão dos russos. Para piorar as coisas, os russos enviaram, como seu negociador, um homem que odiava o turcos desde que fora castrado por uma bala de canhão na guerra russo-turca anterior. 

Quando os turcos recusaram as exigências do czar, o exército russo voltou-se contra vassalos turcos nos Balcãs, os principados romenos da Valáquia e Moldávia, para forçar uma decisão. A esquadra russa de Sebastopol, na Crimeia, capturou e destruiu a esquadra turca perto de Sinope, na costa turca.

Claro que o restante do mundo não podia deixar a Rússua conquistar o Império Otomano sem contestação, de modo que a Inglaterra e a França reuniram uma armada e uma força expedicionária, que foram enviadas para ajudar os turcos. 

O exército turco, nesse ínterim, subira pela costa do mar Negro para enfrentar os russos e, logo ao sul do Danúbio, houve o confronto e o avanço russo foi paralisado. Então a Áustria lançou um ultimato à Rússia para que desistisse ou seria atacada também por eles. Rosnando e fumegando, os russos retrocederam. A guerra acabara.

Só que os aliados ingleses e franceses haviam feito toda aquela viagem, e não queriam voltar para casa sem explodir alguma coisa. Estavam definhando no acampamento ao longo do estreito de Dardanelos, morrendo de tifo e cólera, esperando a chance de atacar e, certamente, não deixariam que a guerra terminasse sem uma luta. Decidiram atravessar o mar Negro e destruir a base naval russa em Sebastopol, na península da Criméia.

Em setembro de 1854, os aliados aportaram ao norte da cidade e derrotaram o pequeno exército de campanha russo em Alma. Isso deixou Sebastopol exposta à invasão, mas os aliados, em vez disso, estabeleceram um cerco e esperaram. Nas batalhas de Inkerman e Balaklva, os aliados repeliram duas tentativas russas de expulsão e, então, o inverno chegou.

Ninguém estava preparado para sobreviver ao inverno russo e o exército aliado definhou com o enregelamento, a depressão e a fome. Quando a primaveram chegou, os sobreviventes não estavam em condições de apertar o cerco pra pôr fim àquilo, de modo que os exércitos adversários ficaram parados ali, mês após mês, morrendo de disenteria e febre tifoide. 

Depois de quase um ano, os exércitos, aliados haviam finalmente resolvido adequadamente os seus problemas para prosseguir, mais uma vez, com a guerra. Em setembro de 1855, um ataque francês tomou um forte crucial da frente russa e os russos abandonaram Sebastopol, destruindo as instalações navais e fugindo com a frota. Tratados de negociações se arrastaram, mas, apesar dos melhores esforços de todos, a paz retornou em março de 1856.

Dínamo

A guerra da Crimeia foi a primeira grande guerra após o advento da Revolução Industrial. As fábricas produzia com rapidez, grande número de armas idênticas, botas, balas, tendas, capas e cantis. Estradas de ferro e navios a vapor podiam suprir exércitos cada vez maiores e mais distantes. Com o grande aumento do poder de fogo, tornou-se mais difícil, para os regimentos que atacavam, alcançar as linhas inimigas. As guerras dessa era tendiam a começar com manobras e ataques em campo aberto, mas como os soldados em pé foram eliminados das batalhas com o aperfeiçoamento das armas de fogo, elas terminavam com a infantaria fortemente entrincheirada esperando em cercos enlameados, mês após mês, ao redor de importantes centros de transporte. As guerras de ação diminuíram e cessaram, enquanto os exércitos se agachavam em volta de cidades como Sebastopol¹ (1854), São Petesburgo (1864) e Paris (1871). Essa tendência chegaria finalmente ao clímax nos combates de trincheira da Primeira Guerra Mundial.

1. Sebastopol é uma cidade do sul da Ucrânia com cerca de 330.000 habitantes. Foi fundada pelos russos em 1783. Ficou célebre na Guerra da Crimeia o Cerco de Sebastopol (1854-1855). Esteve ocupada pelo exército alemão entre 3 de julho de 1942 e 9 de maio de 1944

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Guerra Franco-prussiana

A guerra franco-prussiana ou guerra franco-germânica (19 de julho de 1870 - 10 de maio de 1871) foi um conflito ocorrido entre Império Francês e o Reino da Prússia no final do século XIX. Durante o conflito, a Prússia recebeu apoio da Confederação da Alemanha do Norte, da qual fazia parte, e dos estados do Baden, Württemberg e Baviera. A vitória incontestável dos alemães marcou o último capítulo da unificação alemã sob o comando de Guilherme I da Prússia. Também marcou a queda de Napoleão III e do sistema monárquico na França, com o fim do Segundo Império e sua substituição pela Terceira República Francesa. Também como resultado da guerra ocorreu a anexação da maior parte do território da Alsácia-Lorena pela Prússia, território que ficou em união com o Império Alemão até o fim da Primeira Guerra Mundial.

O Trono Vago da Espanha

A Espanha nunca se recuperou inteiramente da ocupação napoleônica. Durante o meio século que se seguiu à restauração do antigo regime, o país foi dilacerado por uma série de guerras civis, intercaladas com frágeis períodos de cessar-fogo. Por fim, em 1868 a rainha foi expulsa, e os espanhóis começaram a procurar outro monarca.

Ironicamente, a Espanha não chegou a participar ativamente do multicídio desta guerra, mas as encrencas espanholas tendem a se irradiar e perturbar o restante do mundo. O trono vago foi oferecido a um príncipe prussiano, mas a França proibiu isso terminantemente, de modo que a Prússia resmungou, mas recuou. A França então insistiu que o rei Guilherme I da Prússia prometesse jamais considerar tal oferta novamente, uma exigência que Guilherme achou ridícula. A crise estava quase resolvida diplomaticamente, mas o chanceler prussiano Otto von Bismarck notou que o ódio pelos franceses era a única coisa que toas as pequenas nações na Alemanha tinham em comum. Uma crises suficientemente grande poderia ser usadas para unir os príncipes alemães menores sob um governo prussiano, caso todos ficassem bastante raivosos, de modo que Bismarck ficou provocado a França sobre o trono espanhol até Napoleão II, o imperador francês, declarar guerra. 

A Batalha de Sedan

Na batalha de abertura, os alemães concentraram sua ala esquerda e atacaram a ala direita dos franceses, impedindo-a em debandada para o sul. Enquanto os alemães aumentavam a cunha e rumavam para Paris, a ala esquerda dos franceses também recuou, mas na direção oposta, para o norte. Então a principal força alemã impeliu essa metade do exército francês para Metz, onde foi isolada e cercada. A antiga ala direita da França então se recompôs e se reagrupou entre os alemães e Paris. Em termos militares esse meio exército não tinha chance de derrotar os alemães, mas politicamente os franceses precisavam ao menos fazer uma tentativa. Quando eles avançaram para libertar seus compatriotas cercados em Metz, foram envolvidos e capturados pelos alemães em Sedan. Até Napoleão III caiu prisioneiro.

O Cerco de Paris 

Com seu imperador nas mãos dos alemães, o povo francês proclamou a volta da república e foi dançar nas ruas, até lembrar que os alemães continuavam avançando. Eles queriam negociar, mas o preço alemão era alto demais. O governo francês retirou-se para a cidade, mais segura, de Tours, no vale do Loire, e tentou atabalhoadamente arregimentar um exército novo nas províncias. Os parisienses criaram milícias, arrebanharam o gado dentro da cidade e se fortificaram para a chegada do exército alemão.

Os alemães cercaram Paris tão completamente que o governo foi forçado a enviar mensagens por pombos, e funcionários por balões. O cerco a Paris se arrastou por meses a fio, enquanto os habitantes acabavam com os suprimentos estocados. Depois começaram a comer ratos, insetos e vermes, animais do zoológico ou bichos de estimação. A artilharia alemã bombardeava a cidade.

Enquanto a capital morria à míngua, o governo francês vasculhava o interior em busca de homens suficientes para arregimentar outro exército. Chegaram a alinhavar dois exércitos novos para enfrentar os alemães, um no rio Loire e outro perto da fronteira suíça. Nenhum causou qualquer dano, de modo que a França finalmente desistiu.

Comuna de Paris

A Europa pode ter perdido um imperador com a queda de Napoleão III, mas ganhou um novo quando o rei Guilherme da Prússia foi promovido a imperador de todos os alemães. Enquanto isso, o caos político na França viu o primeiro governo socialista europeu, a Comuna de Paris, tomar o poder na cidade. Quando o governo nacional tentou desarmar a milícia parisiense, os membros da Comuna se recusaram, de modo que o exército francês avançou e foi erradicando a Comuna quarteirão por quarteirão. À medida que cada bolsão de resistência se rendia, os rebeldes eram enfileirados e fuzilados.