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O Império Bizantino em 867 |
A dinastia macedônica governou o Império Bizantino do século IX ao século XI. É de fato uma família de origem armênia, possivelmente um ramo menor da família nobre armênia de Mamicônio. O fundador da dinastia foi Basílio I . O pai de Basílio I, assentado em Adrianópolis (atual Edirne, na Turquia), foi deportado pelos búlgaros em 813 para a região do Thema da Macedônia (na Trácia e que não tem relação com a região histórica da Macedônia), razão pela qual depois a dinastia adquiriria como nome a referência a esse lugar.
História
A ascensão de Basílio I, o Macedônio (867–886) marcou o começo da dinastia macedônica, que governaria nos dois séculos e meio seguintes. Esta dinastia incluiu alguns dos imperadores bizantinos mais competentes, e o período é marcado pelo renascimento sócio-cultural e militar. O império mudou de uma posição defensiva para uma agressiva que, além de possibilitar a reconquista de muitos territórios perdidos, fez com que o Estado bizantino se reafirmasse como potência militar e autoridade política. Além disso, durante esse período se assistiu a um renascimento cultural em áreas como a filosofia e as artes. Houve um esforço consciente de restaurar o brilho do período anterior às invasões eslavas e árabes, o que levou a que o período macedônico fosse apelidado de "Idade do Ouro" de Bizâncio.
Guerras contra os muçulmanos
Nos primeiros anos do reinado de Basílio I, os raides árabes na costa da Dalmácia foram repelidos com sucesso, e a região passou mais uma vez a estar sob forte controle bizantino. Isto permitiu que os missionários bizantinos penetrassem no interior e convertessem os sérvios e os principados das atuais Herzegovina e Montenegro ao cristianismo ortodoxo. Contudo, uma tentativa de retomar Malta terminou desastrosamente quando a população local aliou-se com os árabes e massacrou a guarnição bizantina. Por contraste, a posição bizantina no sul da Itália foi gradualmente consolidada, de modo que em 873 Bari passou para o domínio bizantino, enquanto a maior parte do sul da Itália pertenceu ao império durante os 200 anos seguintes. Na importante frente oriental, o império reconstruiu suas defesas e partiu para a ofensiva. Os paulicianos foram derrotados e a sua capital, Tefrique, foi tomada, enquanto a ofensiva contra o Califado Abássida começou com a recaptura de Samósata.
Sob Leão VI, o Sábio (886–912), as vitórias no Oriente contra o então enfraquecido Califado Abássida continuaram. Contudo, a Sicília foi perdida para os árabes em 902, e em 904 Tessalônica foi saqueada por uma frota árabe liderada pelo renegado bizantino Leão de Trípoli. A fraqueza do império na esfera naval foi rapidamente corrigida, de modo que alguns anos mais tarde a marinha bizantina reocupou Chipre, perdido no século VII, e também invadiu Laodiceia (atual Kadesh), na Síria. Apesar desta vingança, os bizantinos ainda eram incapazes de dar um golpe decisivo contra os muçulmanos, os quais infligiram uma derrota esmagadora sobre as forças imperiais quando estas tentaram recuperar Creta, em 911.
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Imperador Basílio II (970-1025) |
A morte do tsar búlgaro Simão I (893–927) enfraqueceu severamente os búlgaros, permitindo que os bizantinos se concentrassem na frente oriental. Melitene foi permanentemente reconquistada em 934 e, em 943, o famoso general João Curcuas continuou as ofensivas na Mesopotâmia, com algumas vitórias notáveis que culminaram na reconquista de Edessa (atual Şanlıurfa). Curcuas foi especialmente celebrado ao retornar para Constantinopla trazendo a venerável Imagem de Edessa (Mandylion), uma relíquia na qual supostamente estava impresso um retrato de Cristo. Os imperadores soldados Nicéforo II Focas (963–969) e João I Tzimisces (969–976) expandiram o império para a Síria, derrotando os emires do noroeste do atual Iraque. A grande cidade de Alepo foi tomada por Nicéforo em 962 e os árabes foram decisivamente expulsos de Creta no ano seguinte. A recaptura de Creta colocou um fim aos raides árabes no mar Egeu, permitindo que o continente grego florescesse novamente. O Chipre foi permanentemente retomado em 965 e os êxitos de Nicéforo culminaram em 969 na recaptura de Antioquia, que ele incorporou como uma província imperial. Seu sucessor, João Tzimisces, recapturou Damasco, Beirute, Acre, Sídon, Cesareia e Tiberíades, colocando os exércitos bizantinos a pouca distância de Jerusalém, embora os centros de poder muçulmanos no Iraque e Egito tenham sido deixados intactos. Após muitas campanhas no norte, na última ameaça árabe a Bizâncio, a rica província da Sicília foi alvo, em 1025, de um ataque de Basílio II (976–1025), porém ele morreu antes de poder completar a expedição. No entanto, por essa altura o império se estendia desde o estreito de Messina ao Eufrates e do Danúbio à Síria.
Guerras contra o Império Búlgaro
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Derrota Bizantina em Bulgarófigo. |
A luta tradicional com a Sé de Roma continuou até o período macedônico, estimulada pela questão da supremacia religiosa sobre a recém-cristianizada Bulgária. Após 80 anos de paz entre os dois Estados, o poderoso tsar búlgaro Simão I invadiu o império em 854, mas foi repelido pelos bizantinos, que usaram a sua frota para atacar a retaguarda búlgara navegando pelo mar Negro e contando com o apoio dos magiares. Contudo, os bizantinos foram derrotados na batalha de Bulgarófigo em 896 e concordaram em pagar tributos anuais para os búlgaros. Com a morte de Leão VI, o Sábio em 912, as hostilidades logo recomeçaram, com Simão marchando sobre Constantinopla à frente de um grande exército. Embora as muralhas da cidade fossem inexpugnáveis, a administração bizantina estava em desordem e Simão foi convidado para a cidade, onde lhe foi concedida a coroa de basileu (imperador) da Bulgária e o jovem imperador Constantino VII Porfirogênito (913–959) foi prometido em casamento a uma de suas filhas. Quando uma revolta em Constantinopla suspendeu seu projeto dinástico, Simão invadiu novamente a Trácia e conquistou Adrianópolis. O império enfrentava agora o problema de um poderoso Estado cristão a uma distância de poucos dias de marcha de Constantinopla, além de ter que lutar em duas frentes.
Uma grande expedição militar bizantina sob Leão Focas e Romano I Lecapeno (920–944) terminou novamente com uma derrota esmagadora na batalha de Anquialo (917) e no ano seguinte os búlgaros estavam livres para devastar o norte da Grécia até Corinto. Adrianópolis foi novamente capturada em 923 e um exército búlgaro cercou Constantinopla em 924. A situação dos Bálcãs só melhorou após a morte súbita de Simão em 927 e o subsequente colapso do poder búlgaro. A Bulgária e o Império Bizantino entraram então em um longo período de relações pacíficas, o que libertou o império para se concentrar na frente oriental contra os muçulmanos. Em 968, a Bulgária foi invadida pelos Rus'¹ sob Sviatoslav I de Kiev (960–972), mas três anos depois o imperador João I Tzimisces os derrotou na batalha de Dorostolo e incorporou o leste da Bulgária ao império.
A resistência búlgara se reacendeu sob os dinastia Cometopuli ("filhos do conde"), mas o novo imperador Basílio II (976–1025) fez da submissão dos búlgaros seu objetivo principal. Sua primeira expedição contra a Bulgária, no entanto, resultou em uma derrota humilhante nas Portas de Trajano. Nos anos seguintes, o imperador esteve preocupado com revoltas internas na Anatólia, enquanto os búlgaros expandiam seu reino nos Bálcãs. A guerra se prolongou por quase 20 anos. As vitórias bizantinas de Esperqueu e Escópia enfraqueceram decisivamente o exército búlgaro, e Basílio metodicamente reduziu as fortalezas búlgaras em campanhas anuais. Posteriormente, na batalha de Clídio, em 1014, os búlgaros foram completamente derrotados. Em 1018, os últimos redutos dos búlgaros tinham se rendido e a região se tornou parte do Império Bizantino. Essa vitória restaurou a fronteira do Danúbio, algo que não ocorria desde os tempos do imperador Heráclio.
Nota1: Rus' é uma designação introduzida durante a Alta Idade Média para as populações da Europa Oriental que viviam nas regiões que hoje fazem parte da Ucrânia e da Rússia.
Relações com o Principado de Kiev
Entre 850 e 1100, o império desenvolveu uma relação mista com o novo Estado que surgiu ao Norte além do mar Negro, o Principado de Kiev. Esta relação teria repercussões duradouras na história dos eslavos do leste, e o império rapidamente se tornou o principal parceiro comercial e cultural de Kiev. Os rus' lançaram seu primeiro ataque a Constantinopla em 860, pilhando os subúrbios da cidade. Em 941, eles apareceram na costa asiática do Bósforo, mas desta vez foram esmagados, um indicativo das melhorias na posição militar após 907, quando apenas a diplomacia foi capaz de repelir os invasores. Basílio II não podia ignorar o poder emergente dos rus' e, seguindo o exemplo de seus antecessores, usou a religião como meio para a consecução de fins políticos. As relações rus'-bizantinas tornaram-se mais próximas após o casamento de Ana Porfirogênita com Vladimir, o Grande (980–1015) em 988 e a subsequente cristianização dos rus'. Padres, arquitetos e artistas bizantinos foram convidados a trabalhar em numerosas catedrais em território rus', expandindo ainda mais a influência cultura bizantina, enquanto numerosos rus' serviram ao exército bizantino como mercenários, nomeadamente a famosa guarda varegue.
Contudo, após a cristianização dos rus' as relações não foram sempre amigáveis. O conflito mais sério foi a guerra de 968-971 na Bulgária. Além disso, há registro de vários raides rus' contra as cidades bizantinas na costa do mar Negro e à própria Constantinopla. Embora a maioria destes ataques tenha sido repelido, eles frequentemente foram seguidos por tratados geralmente favoráveis aos rus', como o que celebrou o fim da guerra de 1043, no qual os rus' mostram as suas ambições de competir com os bizantinos como um poder independente.
O ápice
Por 1025, a data da morte de Basílio II, o Império Bizantino se estendia da Armênia, no Oriente, à Calábria, no sul da Itália, no Ocidente. Muitos sucessos foram alcançados, desde a conquista da Bulgária à anexação de partes da Geórgia e Armênia, e a reconquista de Creta, Chipre e da importante cidade de Antioquia. Mais do que meros ganhos táticos temporários, estes êxitos foram reconquistas de longo prazo. Sob os imperadores macedônicos, a cidade de Constantinopla floresceu, tornando-se a maior e mais rica cidade da Europa, com uma população de aproximadamente 400 000 habitantes nos séculos IX e X. Durante este período, o Império Bizantino empregou um forte serviço público formado por aristocratas competentes, que supervisionavam a cobrança de impostos, a administração doméstica e a política externa. Os imperadores macedônicos também aumentaram a riqueza do império, promovendo o comércio com a Europa Ocidental, nomeadamente através da venda de seda e a metalurgia.
Durante o reinado de Leão VI foi completada a codificação completa do direito romano em grego. Este trabalho monumental de 60 volumes tornou-se a base de todo o direito bizantino subsequente e é estudado até hoje. Leão também reformou a administração do império, redesenhando os limites das subdivisões administrativas (os temas) e regulamentando o sistema de classes e privilégios, bem como o funcionamento de várias corporações comerciais de Constantinopla. As reformas de Leão fizeram muito para reduzir a fragmentação anterior do império, que doravante tinha um centro de poder, Constantinopla. Contudo, o crescente sucesso militar do império enriqueceu grandemente a capacidade da nobreza provincial em relação ao campesinato, que em essência foi reduzido ao estado de servidão.
Durante o período macedônico também ocorreram eventos de importante significado religioso. A conversão de búlgaros, sérvios e rus' ao cristianismo oriental mudou permanentemente o mapa religioso da Europa que ainda hoje vigora. Os santos Cirilo, e Metódio, dois irmãos gregos bizantinos de Tessalônica, contribuíram significativamente para a cristianização dos eslavos e no processo criaram o alfabeto glagolítico, ancestral do alfabeto cirílico. Em 1054, as relações entre as tradições oriental e ocidental da Igreja Cristã chegou a uma crise terminal, conhecida como Grande Cisma. Embora tenha havido uma declaração formal de separação institucional, em 16 de julho, quando três legados papais entraram em Santa Sofia durante a Divina Liturgia em uma tarde de sábado e colocaram uma bula de excomunhão sobre o altar, o chamado Grande Cisma foi, na verdade, a culminação de séculos de separação gradual. Foi com este cisma que surgiram a Igreja Ortodoxa Grega, com sede em Constantinopla, e a Igreja Católica Apostólica Romana, com sede em Roma.
Crise e fragmentação
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Alp Arslan humilhando o imperador romano IV Diógenes. |
O Império Bizantino logo caiu em um período de dificuldades, causado, em grande medida, pelo enfraquecimento do sistema dos temas e da negligência dos militares. Nicéforo II Focas, João I Tzimisces e Basílio II alteraram a função das divisões militares, de unidades de resposta rápida, primariamente defensivas e formadas por cidadãos para exércitos profissionais, enquanto que os exércitos das campanhas passaram a ser cada vez mais constituídos por mercenários. Contudo, eles eram caros e a ameaça de invasão retrocedeu no século X, assim como a necessidade de manter grandes guarnições e fortificações dispendiosas. Basílio II deixou um grande tesouro após a sua morte, mas negligenciou planos para sua sucessão. Nenhum dos seus sucessores imediatos tinha algum talento militar ou político e a administração imperial caiu cada vez mais nas mãos do serviço civil. Esforços para reanimar a economia bizantina só resultaram em inflação e a moeda de ouro se desvalorizou. O exército passou a ser visto tanto como uma despesa desnecessária como uma ameaça política, levando à demissão das tropas nativas, substituídas por mercenários estrangeiros com contratos específicos.
Ao mesmo tempo, o império foi confrontado por novos inimigos ambiciosos. As províncias bizantinas no sul da Itália enfrentaram os normandos, que chegaram à Itália no início do século XI. Durante o período de conflito entre Constantinopla e Roma que terminou com o Grande Cisma, os normandos começaram a avançar, lenta, mas firmemente, na Itália bizantina. Régio, a capital do tagma da Calábria, foi capturada em 1060 por Roberto Guiscardo, seguido por Otranto em 1068. Bari, a principal fortaleza bizantina na Apúlia, foi sitiada em agosto de 1068 e caiu em abril de 1071. Os bizantinos também perderam sua influência sobre as cidades costeiras da Dalmácia para Pedro Cresimiro IV (1058–1074/5) do Reino da Croácia em 1064.
Porém, seria na Ásia Menor que o maior desastre aconteceria. Os turcos seljúcidas fizeram suas primeiras explorações do outro lado da fronteira bizantina na Armênia em 1065 e em 1067. A emergência deu peso à aristocracia militar na Anatólia que, em 1068, garantiu a eleição de um dos seus, Romano IV Diógenes (1068–1071), como imperador. No verão de 1071, Romano realizou uma campanha maciça no leste para atrair os seljúcidas para uma batalha geral contra o exército bizantino, que ocorreu em agosto do mesmo ano em Manziquerta. Nessa batalha, além de sofrer uma surpreendente derrota frente ao sultão Alp Arslan (1063–1072), Romano foi capturado. Alp Arslan o tratou com respeito e não impôs condições pesadas aos bizantinos. Em Constantinopla, no entanto, um golpe de Estado ocorreu em favor de Miguel VII Ducas (1068–1078), que logo enfrentou a oposição de Nicéforo Briênio (1077–1078) e Nicéforo III Botaneiates (1078–1081). Até 1081, os seljúcidas expandiram seu domínio sobre quase todo o planalto da Anatólia e Armênia a leste da Bitínia, e no ocidente fundaram, em 1077, o Sultanato de Rum, com capital em Niceia, a apenas 88 km de Constantinopla.