segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Alexandre, o Grande

Alexandre III da Macedônia, dito o Grande ou Magno ( 20 de julho de 356 a.C. — Babilônia, 10 de junho de 323 a.C. ) foi um príncipe e rei da Macedônia, e um dos três filhos do rei Filipe II e de Olímpia do Épiro – uma fiel mística e ardente do deus grego Dionísio.

Alexandre foi o mais célebre conquistador do mundo antigo. Em sua juventude, teve como preceptor o filósofo Aristóteles. Tornou-se o rei aos vinte anos, na sequência do assassinato do seu pai.

Vida

A sua carreira é sobejamente conhecida: conquistou um império que ia dos Bálcãs à Índia, incluindo também o Egito e a Báctria (aproximadamente o atual Afeganistão). Este império era o maior e mais rico que já tinha existido. Existem várias razões para esses grandes êxitos militares, um deles é que Alexandre era um general de extraordinária habilidade e sagacidade, talvez o melhor de todos os tempos, pois ele nunca perdeu nenhuma batalha e a expansão territorial que ele proporcionou é uma das maiores da história, a maior expansão territorial em um período bem curto de tempo. Além disso era um homem de muita coragem pessoal e de reconhecida sorte.

Ele herdou um reino que fora organizado com punho de ferro pelo pai, que tivera de lutar contra uma nobreza turbulenta que frequentemente reclamava por mais privilégios, as ligas lideradas por Atenas, e Tebas (a batalha de Queroneia representa o fim da democracia ateniense e por arrastamento das outras cidades gregas e de uma certa concepção de liberdade), revolucionando a arte da guerra.

A sua personalidade é considerada de formas diferentes segundo a percepção de quem o examina: por um lado, homem de visão, extremamente inteligente, tentando criar uma síntese entre o oriente e ocidente (encorajou o casamento entre oficiais seus e mulheres persas, além de utilizar persas ao seu serviço), respeitador dos derrotados (acolheu bem a família de Dario III e permitiu às cidades dominadas a manutenção de governantes, religião, língua e costumes) e admirador das ciências e das artes (fundou, entre algumas dezenas de cidades homónimas, Alexandria, que viria a se tornar o maior centro cultural, científico e econômico da Antiguidade por mais de trezentos anos, até ser substituída por Roma); por outro lado, profundamente instável e sanguinário (as destruições das cidades de Tebas e Persepólis, os assassinatos de Clito e de Parménio, dois de seus melhores generais, a sua ligação com um eunuco), limitando-se a usar o pessoal de valor que tinha à sua volta em proveito próprio.

De qualquer modo, fez o que pôde para expandir o helenismo: criou cidades com o seu nome com os seus veteranos feridos por todo o território e deu nome para cidade homenageando seu inseparável e famoso cavalo Bucéfalo. Abafou uma rebelião de cidades gregas sob o domínio macedônio e preparou-se para conquistar a Pérsia.

Em 334 a.C. empreendeu sua primeira campanha contra os persas na Batalha de Grânico que deu-lhe o controle da Ásia Menor (atual Turquia). No ano seguinte, derrotou o rei Dario III na Batalha de Isso. Mais um ano depois, conquistou o Egito e Tiro, em 331 a.C. Completou a conquista da Pérsia na Batalha de Gaugamela, onde derrotou definitivamente Dario III, o que lhe conferiu o estatuto de Imperador Persa.

A tendência de fusão da cultura dos macedônios com a grega provocou nestes temor quanto a um excessivo afastamento dos ideais helênicos por parte de seu monarca. Todavia, nada impediu Alexandre de continuar seu projeto imperialista em direção ao oriente. Durante cerca de dois anos Alexandre manteve-se ocupado em várias campanhas de curta duração para a consolidação do seu império. Mas, em 327 a.C., conduzindo as suas tropas por cima das montanhas Hindu Kush para o vale do rio Indo, para conquistar a Índia, país mítico para os gregos, foi forçado a regressar à Babilônia devido ao cansaço das suas tropas, e instalaria aí a capital do seu império. Deixou atrás de si novas colônias, como Niceia e Bucéfala, esta erigida em memória de seu cavalo, às margens do rio Hidaspes.

Ele tinha a intenção de fazer ainda mais conquistas. Sabe-se que planejava invadir a Arábia e, provavelmente, as regiões ao norte do Império Persa. Poderia também ter planejado outra invasão da Índia ou a conquista de Roma, Cartago e do Mediterrâneo ocidental.

Infelizmente nenhuma das fontes contemporâneas sobreviveu (Calístenes e Ptolomeu), nem sequer das gerações posteriores: apenas possuímos textos do século I que usaram fontes que copiaram os textos originais, de modo que muitos dos pormenores da sua vida são bastante discutíveis.

Alexandre morreu depois de doze anos de constante campanha militar, sem completar os trinta e três anos, possivelmente como resultado de malária, envenenamento, febre tifóide, encefalite virótica ou em consequência de alcoolismo. 

O legado de Alexandre 

Com a sua morte, os seus generais repartiram o seu império e a sua família acabou por ser exterminada. Os Epígonos iriam gastar gerações seguidas em conflitos. Apenas Seleuco esteve prestes a reunificar o império (faltando o Egito) por um curto espaço de tempo. Os seus sucessores fizeram o que puderam para manter o helenismo vivo: gregos e macedônios foram encorajados a emigrar para as novas cidades. Alexandria no Egito teve um destino brilhante devido aos cuidados dos ptolomaicos (o Egito, apesar da sua monumentalidade, nunca possuíra grandes metrópoles): tornou-se um porto internacional, um centro financeiro e um foco de cultura graças à biblioteca; mas outras cidades como Antioquia, Selêucia do Tigre e Éfeso também brilharam. Reinos no oriente, como os greco-bactrianos (Afeganistão) e greco-indianos, expandiram o helenismo geograficamente mais do que Alexandre o fizera. Quando os partas (um povo indo-europeu aparentado com os citas) ocuparam a Pérsia, esses reinos subsistiram até ao século I a.C., com as ligações cortadas ao ocidente.

Alexandre tem persistido na história e mitos tanto da cultura grega como das não-gregas. Depois de sua morte (e inclusive durante sua vida) suas conquistas inspiraram uma tradição literária na que aparece como um herói legendário, na tradição de Aquiles. Também é mencionado no livro zoroástrico de Arda Viraf como "Alexandre, o Maldito", em persa Guzastag, pela conquista do Império Persa e a destruição de sua capital, Persépolis.

Roma recuperou o legado helenístico, e a miragem do império de Alexandre: Crasso e Marco António tentaram conquistar a Pérsia com péssimos resultados. Trajano morreu a meio de uma expedição, Septímio Severo teve o bom senso de desistir a meio e só Heráclito, no período bizantino, teve uma campanha vitoriosa: debalde, pois os árabes acabaram com a Pérsia Sassânida, enfraquecida pelas longas guerras com o Império Bizantino.

O ocidente medieval viu nele o perfeito cavaleiro, incluindo no grupo dos nove bravos e estabeleceu lendas e o "Romance de Alexandre". Luís XIV apreciava vestir-se como Alexandre (à maneira do século XVII obviamente) e esse epíteto seria sempre apreciado por monarcas absolutos.

domingo, 30 de dezembro de 2012

Qin Shi Huang Di

Qin Shi Huang Di (Novembro/Dezembro 260 a.C. - 10 de Setembro, 210 a.C.), foi rei do Estado chinês de Qin de 247 a.C. a 221 a.C., e posteriormente tornou-se o primeiro imperador de uma China unificada, de 221 a.C. a 210 a.C., reinando sob a alcunha de Primeiro Imperador.

Tendo unificado a China, ele e seu primeiro-ministro, Li Si, iniciaram uma série de reformas significativas com o intuito de fortificar e estabilizar a unidade política chinesa, ordenando projetos de construção gigantescos, como a própria Muralha da China - ainda não em suas dimensões máximas. Apesar de Qin Shi Huang ser considerado ainda hoje como um dos fundadores da China unificada, que assim permaneceria, com certas interrupções e diferenças territoriais, por mais de dois milênios, o imperador também é lembrado como um tirano autocrático.

Quando Qin Shi Huang Di Ainda era Zheng 

Em 247 a. C., com a idade de 13 anos, o príncipe Zheng foi alçado ao trono de Qin, quanto morreu o rei, seu pai. A maioria dos membros da corte esperava manipular facilmente o jovem, de modo que as conspirações brotavam por toda parte em torno dele. Sua mãe, a rainha viúva Zhao Ji, renomada por ser uma grande beldade e excelente dançarina, recebeu o controle do governo até que Zheng chegasse à maioridade. Ela compartilhava a regência com o primeiro ministro Lu Buwei, que, diziam os boatos, era o verdadeiro pai de Zheng. 

Para livrar-se de suas ligações com a rainha viúva, o primeiro-ministro “encontrou um homem chamado Lao Ai, que tinha o pênis inusitadamente grande, e empregou-o como serviçal em sua casa. Depois, quando se apresentou a ocasião, ele fez tocar uma música sugestiva e, instruindo Lao Ai para meter o pênis no centro de uma roda feita de uma madeira chamada paulownia, e o fez caminhar com aquilo, assegurando-se de que o feito chegaria aos ouvidos da rainha viúva, de modo a suscitar seu interesse. 

A rainha viúva logo se apaixonou por Lao, o que expôs o feliz casal a grandes riscos, de modo que eles imaginaram um plano para manter o romance secreto. 

Lao conseguiu ser acusado de um crime cuja punição era a castração, mas ele e a rainha subornaram o castrador para deixar intacta a poderosa genitália de Lao e, em vez disso, raspar sua barba. Agora que todos pensavam que ele era um eunuco, Lao podia aberta e legalmente agregar-se à corte da rainha. 

No fim, eles geraram dois filhos, mantidos cuidadosamente escondidos do filho dela, o rei. Sabendo do perigo que corriam, eles planejaram um golpe contra Zheng e tomaram pessoalmente o comando das tropas aquarteladas ali perto, usando documentos forjados. Infelizmente Zheng estava muito à frente deles. Quando os soldados de Lao chegaram à câmara real, o rei Zheng tinha seus homens prontos para uma emboscada. Lao escapou por pouco da tocaia e fugiu. Com a cabeça posta a prêmio por 1 milhão de moedas de cobre, porém, ele foi logo capturado e condenado à morte. A rainha viúva foi forçada a assistir, enquanto seu amante era despedaçado por carros de guerra. Seus dois filhos secretos foram amarrados, metidos em sacos e espancados até a morte. 

Havia mais a acontecer. Muitas histórias da juventude do rei Zheng o mostram sobrevivendo por pouco a complôs assassinos, ou então descobrindo espertamente essas conspirações. Um matador, o cortesão Jing Ke, foi pego quando uma adaga caiu de um mapa que ele desenrolava. Um alaudista cego, Gao Jianli, tentou golpear Zheng com o instrumento cheio de chumbo quando ele se aproximou o bastante, mas errou.

O Primeiro Imperador

Ao se tornar senhor de toda a China, Zheng inventou um título novo em folha, pelo qual é conhecido na história: Primeiro (shi) Augusto (Huang) Imperador (Di) da China (Quin)

460 Estudiosos Enterrados Vivos 

Sempre que Shi Huang Di tentava fazer mudanças, os acadêmicos reagiam e insistiam que não havia precedente; a lei proibia. Bom, a solução óbvia era remover todos esses incômodos precedentes e partir do zero. Ele ordenou que lhe trouxessem cada livro da China, e incinerou todos, com exceção de uns poucos manuais técnicos. Quando os estudiosos puseram a boca no mundo, ele enterrou 460 deles vivos, para não precisar mais ouvir suas reclamações. Muitos anos mais tarde, com Shi Huang Di havia muito desaparecido, os estudiosos se reuniram e tentaram reescrever tudo que pudessem lembrar da literatura perdida. 

Criando Muros 

O primeiro imperador necessitava proteger a fronteira norte contra as incursões de cavaleiros nômades, conhecidos como xiongnus (que já foram considerados precursores dos hunos, mas atualmente não são). Ele uniu as diversas muralhas locais que bloqueavam desfiladeiros em uma única grande muralha, dividindo o mundo conhecido em Nós e Eles. Para construir essa muralha, enviou um general para a fronteira com 300 mil soldados e 1 milhão de trabalhadores recrutados à força, a maioria dos quais teria morrido durante a construção. Um fluxo permanente de trabalhadores viajava para o norte a fim de substituir os mortos. Diz a lenda que cada pedra da muralha custou uma vida humana. 

O objetivo da grande muralha não era evitar que os xiongnus cruzassem a fronteira. Era muito fácil para eles apoiar uma escada sobre qualquer trecho desguarnecido da construção. Mas os pretensos invasores não podiam fazer seus cavalos ultrapassarem a barreira, de modo que tinham de avançar a pé, sem a vantagem militar que os tornava tão formidáveis. 

Embora Si Huang Di tenha sido o primeiro a construir uma grande muralha na China, não foi ele que construiu a Grande Muralha da China. A muralha já fora expandida, destruída, negligenciada e reconstruída tantas vezes nos 2 mil anos anteriores que a atual muralha, que se estende pelo norte da China, é mais nova, tendo meros quinhentos anos ou aproximadamente isso, e frequentemente segue um caminho diferente da muralha original. 

A Busca Pelo Segredo da Vida Eterna 

Quando deu a si mesmo o título de primeiro imperador, Shi Huang Di pretendia que todos os imperadores subsequentes continuassem a usar essa nomenclatura. Seu filho se tornaria Er Shi Huang Di (segundo imperador), seguido pelo terceiro, quarto e assim por diante. Entretanto, no fundo, Shi Huang Di realmente queria se tornar o imperador único, e fez grandes esforços procurando a imortalidade. 

O alquimista da corte disse ao imperador que o mercúrio era a chave para a vida eterna, e forneceu-lhe poções que a garantiriam para ele. Shi Huang Di também mandou o feiticeiro taoista XuFu viajar para o leste à procura do segredo da imortalidade. Acreditava-se que Oito Imortais, santos taoistas que haviam aprendido os segredos do universo, viviam na montanha Penglai, além dos mares orientais. Xu Fu recebeu uma frota de sessenta navios com 5 mil tripulantes, acompanhados de 3 mil meninos e meninas virgens, porque acreditava-se que sua pureza ajudaria na busca. Vários anos depois de ter desaparecido no horizonte, Xu Fu retornou e relatou que um grande e amedrontador monstro do mar bloqueava a passagem, de modo que Shi Huang Di enviou uma embarcação cheia de arqueiros para matar o monstro. Então Xu Fu tentou novamente, mas nunca mais chegaram notícias dele. 

Os historiadores modernos, tentando entender essa história, sugerem que Xu Fu simplesmente descobriu o Japão e lá se estabeleceu. A arqueologia mostra que a cultura chinesa começou a aparecer no Japão por volta dessa época. 

O Fracasso na Busca Pela Vida Eterna 

Quando Shi Huang Di morreou, em 210 a. C., numa viagem pelas províncias e possivelmente envenenado pelo mercúrio de seu elixir mágico, Li Si manteve a notícia em segredo durante dois meses, até poder voltar a capital e tomar algumas providências. Entre elas estava tirar do comando um general perigosamente conservador, e forçar o filho mais velho de falecido imperador a cometer suicídio. Para evitar que o império se desintegrasse no caos, Li Si fingia que o governante estava vivo, chegando à carruagem do imperador todo dia e colocando a cabeça para dentro da janela, atrás da cortina, a fim de consulta-lo. Uma carroça cheia de peixe ficava por perto a fim de disfarçar o cheiro do cadáver. 

Exércitos de Soldados Terracota 

O primeiro imperador começara a construir seu túmulo muitos anos antes, empregando 700 mil trabalhadores no projeto e levando muitos deles à morte. O complexo que encerrava a tumba media 4.800 metros de largura, e dizia-se que era protegido por armadilhas compostas por balistas. Para proteger a localização secreta, os homens que instalaram as armadilhas foram também trancados na tumba. Em 1974 as escavações revelaram um exército subterrâneo de 8 mil soldados de terracota guardando o túmulo, e isso pode ser apenas uma pequena parte dos tesouros enterrados ali. Diz-se que a tumba contém uma réplica do mundo flutuando num mar de mercúrio, e uma análise do solo, feita em 2006, sugere que uma quantidade substancial de mercúrio continua enterrada na seção inda não escavada. 

Quanta Maldade Ele Fez? 

Como acontece com muitos personagens da Antiguidade, há apenas um punhado de fontes originais, todas filtradas através de séculos de cópias, recopias, censuras, ficcionalização, moralização e sensacionalização, de modo que há grande probabilidade de que tudo que conhecemos sobre Shi Huang Di seja errado, ou ao menos mais complicado do que somos levado a crer. Quem sai por aí enterrando estudiosos vivos não se dará bem nos escritos dos acadêmicos que vieram depois.

sábado, 29 de dezembro de 2012

Aníbal

Aníbal, filho de Amílcar Barca; Cartago, 248 a.C. - Bitínia, 183 ou 182 a.C., conhecido comumente apenas como Aníbal foi um general e estadista cartaginês considerado por muitos como um dos maiores táticos militares da história. Seu pai, Amílcar Barca, foi o principal comandante cartaginês durante a Primeira Guerra Púnica, travada contra Roma; seus irmãos mais novos foram os célebres Magão e Asdrúbal, e seu cunhado foi Asdrúbal, o Belo.

Sua vida decorreu no período de conflitos em que a República Romana estabeleceu supremacia na bacia mediterrânea, em detrimento de outras potências como a própria Cartago, Macedônia, Siracusa e o Império Selêucida. 

Foi um dos generais mais ativos da Segunda Guerra Púnica, quando levou a cabo uma das façanhas militares mais audazes da Antiguidade: Aníbal e seu exército, onde se incluíam elefantes de guerra, partiram da Hispânia e atravessaram os Pirenéus e os Alpes com o objetivo de conquistar o norte da península Itálica. Ali derrotou os romanos em grandes batalhas campais como a do lago Trasimeno ou a de Canas, que ainda se estuda em academias militares na atualidade. 

Apesar de seu brilhante movimento, Aníbal não chegou a capturar Roma. Existem diversas opiniões entre os historiadores, que vão desde carências materiais de Aníbal em máquinas de combate a considerações políticas que defendem que a intenção de Aníbal não era tomar Roma, senão obrigá-la a render-se. Não obstante, Aníbal conseguiu manter um exército na Itália durante mais de uma década, recebendo escassos reforços. Por causa da invasão da África por parte de Cipião, o Senado púnico lhe chamou de volta a Cartago, onde foi finalmente derrotado por Públio Cornélio Cipião Africano na Batalha de Zama.

Vitórias de Aníbal

Durante os poucos anos que se seguiram, um série de exércitos romanos tentou barrar a marcha de Aníbal, mas todos foram derrotados. Mais do que simplesmente derrotados, as forças romanas foram aniquiladas. Em Trebia, no norte da Itália, Aníbal fingiu que se retirava, o que fez os romanos saírem de uma forte posição defensiva para serem emboscados num rio raso. No lago Trasimeno, três legiões romanas foram atraídas para a estrada à margem do espelho d'água e emboscadas no nevoeiro matinal. Àquela altura os romanos já estavam alertados para os truques do inimigo e recusaram-se a enfrentá-lo em batalha durante todo um ano.

Finalmente, os romanos reuniam seu maior exército até então, oito legiões romanas mais aliados e cavalaria, 80 mil homens no total, e enfrentaram Aníbal em campo aberto, à luz plena do dia, em Cannae, no sul da Itália. Com um exército que era metade do efetivo de Roma, Aníbal fincou pé para enfrentar o inimigo. Colocou dois pesados blocos de infantaria em pequenas elevações do campo e ligou-os com uma linha flexível de infantaria ligeira no centro. Quando os romanos atacaram, os flancos cartagineses aguentaram firme, enquanto o centro era empurrado para trás. Isso criou um túnel que atraiu os romanos para o centro. A vanguarda romana empurrava os cartagineses, enquanto a retaguarda empurrava a própria vanguarda, e logo os romanos viram-se aglomerados de tal maneira que não podiam usar suas armas com eficácia. Nesse ínterim, a cavalaria de Aníbal repeliu os cavaleiros romanos e fechou a retaguarda aberta do funil, prendendo todo o exército romano em um campo mortífero apinhado de gente. Os romanos foram sistematicamente trucidados durante o resto do dia, até não restar um soldado de pé.

Legado Militar 

O historiador militar Theodore Ayrault Dodge o chamou "pai da estratégia". Foi admirado inclusive por seus inimigos — Cornélio Nepos o batizou como «o maior dos generais» —, assim sendo, seu maior inimigo, Roma, adaptou certos elementos de suas táticas militares a seu próprio arsenal estratégico. Seu legado militar o conferiu uma sólida reputação no mundo moderno, e tem sido considerado como um grande estrategista por grandes militares como Napoleão ou Arthur Wellesley, o duque de Wellington. Sua vida tem sido objeto de muitos filmes e documentários. Bernard Werber lhe rende homenagem através do personagem do «Libertador», e de um artigo em L’Encyclopédie du savoir relatif et absolu mencionada em sua obra Le Souffle des dieux.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Arquimedes

Arquimedes de Siracusa (Siracusa, 287 a.C. – 212 a.C.) foi um matemático, físico, engenheiro, inventor, eastrônomo grego. Embora poucos detalhes de sua vida sejam conhecidos, são suficientes para que seja considerado um dos principais cientistas da Antiguidade Clássica.

Entre suas contribuições à Física, estão as fundações da hidrostática e da estática, tendo descoberto a lei do empuxo e a lei da alavanca, além de muitas outras. Ele inventou ainda vários tipos de máquinas para usos militar e civil, incluindo armas de cerco, e abomba de parafuso que leva seu nome. Experimentos modernos testaram alegações de que, para defender sua cidade, Arquimedes projetou máquinas capazes de levantar navios inimigos para fora da água e colocar navios em chamas usando um conjunto de espelhos.

Arquimedes é frequentemente considerado o maior matemático da antiguidade, e um dos maiores de todos os tempos (ao lado de Newton, Euler e Gauss). Ele usou o método da exaustão para calcular a área sob o arco de uma parábola utilizando a soma de uma série infinita, e também encontrou uma aproximação bastante acurada do número π.8 Também descobriu a espiral que leva seu nome, fórmulas para os volumes de sólidos de revolução e um engenhoso sistema para expressar números muito grandes.

Durante o Cerco a Siracusa, Arquimedes foi morto por um soldado romano, mesmo após os soldados terem recebido ordens para que não o ferissem, devido à admiração que os líderes romanos tinham por ele. Anos depois, Cícero descreveu sua visita ao túmulo de Arquimedes, que era encimado por uma esfera inscrita em um cilindro. Arquimedes tinha descoberto e provado que a esfera tem exatamente dois terços do volume e da área da superfície do cilindro a ela circunscrito (incluindo as bases do último), e considerou essa como a maior de suas realizações matemáticas.

Arquimedes teve uma importância decisiva no surgimento da ciência moderna, tendo influenciado, entre outros, Galileu Galilei,Christiaan Huygens e Isaac Newton.

O Siracusia e o parafuso de Arquimedes 

Parafuso de Arquimedes
modernos..
Grande parte do trabalho de Arquimedes em engenharia surgiu para satisfazer as necessidades de sua cidade natal, Siracusa. O escritor grego Ateneu de Náucratis descreveu como o Rei Hierão II encarregou Arquimedes de projetar um grande barco, o Siracusia, que poderia ser utilizado para viagens de luxo, transporte de suprimentos, e como um navio de guerra. É dito que o Siracusia foi o maior barco construído na Antiguidade Clássica.

De acordo com Ateneu, ele era capaz de carregar 600 pessoas e nele havia jardins decorativos, um gymnasion e um templo dedicado à deusa Afrodite, dentre outras instalações. Uma vez que um navio desse tamanho deixaria passar uma quantidade considerável de água através do casco, o parafuso de Arquimedes foi supostamente inventado para remover água da sentina. A máquina de Arquimedes consistia em um parafuso giratório dentro de um cilindro. Era girada a mão, e também podia ser usada para transportar água de um corpo de água baixo até canais de irrigação. O parafuso de Arquimedes é ainda usado hoje para bombear líquidos e sólidos granulados como carvão e cereais. O parafuso de Arquimedes tal como descrito por Vitrúvio nos tempos romanos pode ter sido uma melhoria em uma bomba de parafuso que foi usada para irrigar os Jardins Suspensos da Babilônia.

A garra de Arquimedes

A garra de Arquimedes é uma arma supostamente projetada por Arquimedes a fim de defender a cidade de Siracusa. Também conhecida como "sacudidora de navios", a garra consistia em um braço de guindaste a partir do qual pendia um grande gancho de metal. Quando a garra caia sobre um navio inimigo, o braço era usado para balançar e levantar o navio para fora da água. Experimentos modernos foram realizados para testar a viabilidade da garra, e em 2005 um documentário de televisão intitulado Super-armas do Mundo Antigo (Superweapons of the Ancient World) construiu uma versão da garra e concluiu que era um dispositivo viável.

Morte

Estátua de Bronze de Arquimedes
em Berlim.
Arquimedes morreu em circa. 212 a.C. durante a Segunda Guerra Púnica, quando forças romanas sob o comando do General Marco Cláudio Marcelo capturaram a cidade de Siracusa após um cerco de dois anos. Existem diversas versões sobre sua morte. De acordo com o relato dado por Plutarco, Arquimedes estava contemplando um diagrama matemático quando a cidade foi capturada. 

Um soldado romano ordenou que ele fosse conhecer General Marcelo, mas ele se recusou, dizendo que ele tinha que terminar de trabalhar no problema. O soldado ficou furioso com isso, e matou Arquimedes com sua espada. Plutarco também oferece um relato menos conhecido da morte de Arquimedes, que sugere que ele pode ter sido morto enquanto tentava se render a um soldado romano. De acordo com essa história, Arquimedes estava carregando instrumentos matemáticos, e foi morto porque o soldado pensou que fossem itens valiosos. O General Marcelo teria ficado irritado com a morte de Arquimedes, visto que o considerava uma posse científica valiosa, e tinha ordenado que ele não fosse ferido.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Espártaco

Espártaco, Museu do Louvre.
Espártaco nasceu na Trácia (atual Bulgária) e serviu no exército romano até desertar e virar bandido. Depois de ser capturado, foi vendido para a escola de gladiadores em Cápua. Ali foi submetido ao costumeiro treinamento brutal, até que junto com cerca de setenta colegas gladiadores, escapou para o interior do país.

Seu bando cresceu rapidamente, chegando a mil escravos fugidos, e derrotou a primeira legião romana enviada para puni-los. Depois eles acamparam na fortaleza natural formada pela cratera do Vesúvio, o vulcão adormecido. Quando uma nova legão romana encurralou Espártaco no seu refúgio, os rebeldes escaparam descendo por um penhasco íngreme com cordas feitas de cipós. Então Espártaco deslocou-se furtivamente e atacou os sitiantes, que imprudentemente haviam acampado num desfiladeiro estreito. Sem tempo ou espaço para distribuir suas tropas de modo adequado, foram terrivelmente massacrados por Espártaco e seu exército.

Já convencido da gravidade da rebelião, o Senado romano enviou quatro legiões para esmagar os rebeldes. Espártaco marchou para o norte, na esperança de fugir da Itália pelos Alpes, onde seus seguidores se dividiram e coltariam para casa separadamente; entretanto, seu exército preferia ficar e saquear a Itália, de modo que Espártaco voltou novamente pela península, e derrotando todos os contingentes romanos enviados contra ele. Com cada vitória Espártaco reunia mais armas para seus seguidores, que já somavam dezenas de milhares.

Por fim Espártaco chegou à ponta mais meridional da Itália, onde planejava cruzar o estreito para a Sicília, e libertar a ilha do domínio romano. Ele negociara com piratas o transporte de seu exército em troca da permissão para eles usarem os portos sicilianos, mas no último minuto os piratas renegam o acordo, e os gladiadores ficaram perdidos no continente. Nesse ínterim, o esforço de guerra caiu sob o comando de Marco Licínio Crasso, o homem mais rico de Roma, que financiou um novo exército. Crasso construiu na ponta da bota italiana uma enorme muralha, que seus 32 mil soldados ocuparam, para mantes os 100 mil rebeldes o sul e fazê-los morrer de fome no inverno.

Espártaco crucificou um prisioneiro romano escolhido aleatoriamente diante de seus homens, para lembrá-los do horrível destino que os esperava se perdessem, e então eles tentaram romper a muralha. Não conseguiram. Tentaram de novo, mas apenas um terço dos rebeldes escapou com seu chefe. O restante foi deixado ali, para ser vagarosamente trucidado pelos romanos quando eles quisessem.

Já com suas forças seriamente enfraquecidas, Espártaco foi sendo acossado por todo o sul da Itália, enquanto seu exército se reduzia gradualmente. Um segundo general romano, Pompeu, chegou para roubar a glória de seu inimigo político, Crasso. Indo para sua última batalha com pouca esperança de sucesso, Espártaco cortou a garganta de seu cavalo, declarando que se perdesse não necessitaria de uma montaria, e que se ganhasse escolheria o melhor cavalo de Roma.

O exército do gladiador travou a última batalha e foi varrido do terreno por Crasso, mas Pompeu levou todo o crédito por colocar-se no caminho da retirada dos rebeldes e massacrá-los quando fugiam. 

Seis mil prisioneiros foram pregados em cruzes ao longo da via Ápia, a estrada que ligava Roma ao sul da Itália, para que morressem vagarosamente, com os corpos apodrecendo, até só restarem ossos espalhados, como um aviso para outros escravos descontentes. Espártaco provavelmente não estava entre eles. Nunca mais se ouviu falar dele mas seu corpo provavelmente estava entre as dezenas de milhares empilhadas no campo de batalha.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Átila

Átila, o Huno (406 – 453), também conhecido como Praga de Deus ou Flagelo de Deus, foi o último e mais poderoso rei dos hunos. Governou o maior império europeu de seu tempo desde 434 até sua morte. Suas possessões se estendiam da Europa Central até o mar Negro, e desde o Danúbio até o Báltico. Durante seu reinado foi um dos maiores inimigos dos impérios romanos Oriental e Ocidental: invadiu duas vezes os Bálcãs, esteve a ponto de tomar a cidade de Roma e chegou a sitiar Constantinopla na segunda ocasião. Marchou através da França até chegar a Orleães, antes que o obrigassem a retroceder na batalha dos Campos Cataláunicos (Châlons-sur-Marne) e, em 452, conseguiu fazer o imperador Valentiniano III fugir de sua capital, Ravena.

Átila morreu em 453, bêbado, na cama, na noite de seu casamento, depois de um violento sangramento pelo nariz

Ainda que seu império tenha morrido com ele e não tenha deixado nenhuma herança notável, tornou-se uma figura lendária da história da Europa. Em grande parte da Europa Ocidental é lembrado como o paradigma da crueldade e da rapina. Alguns historiadores, por outro lado, retrataram-no como um rei grande e nobre, e três sagas escandinavas o incluem entre seus personagens principais.