sábado, 18 de maio de 2013

Guerras Religiosas na França - Part IV

As Guerras religiosas na França constituem uma série de oito conflitos que devastaram o reino da França na segunda metade do século XVI, opondo católicos e protestantes, marcando um período de declínio do país.

Períodos de conflitos 

As guerras religiosas ocorrem entre 1562 e a promulgação do Édito de Nantes (1599), entrecortadas por curtos períodos de paz, conforme segue:

Primeira: 1562–1563
Segunda: 1567–1568
Terceira: 1568-1570
Quarta: 1572–1573
Quinta: 1574–1576
Sexta: 1576–1577
Sétima: 1579–1580

Oitava: 1585–1598

Quarta Guerra

Quando se reiniciou a guerra, o irmão mais moço do rei, Henrique, liderou o exército católico na conquista do bastião protestante de La Rochelle. Um feroz cerco estendeu-se por meses, de 1572 até o ano seguinte. Sapadores tentaram minar as fortificações e explodi-las com barris de pólvora, enquanto a artilharia bombardeava as muralhas, sem eficácia. Estava parecendo que as tropas fora das muralhas ficariam sem comida e munição antes que isso acontecesse com os defensores do bastião. Então o príncipe Henrique foi eleito rei da Polônia, o que lhe deu a desculpa de levantar o sítio sem passar vergonha. 

Quinta, Sexta e Sétima Guerra

O rei Carlos vinha sendo atormentado por culpa desde que autorizara o Massacre do Dia de São Bartolomeu, e sua saúde se deteriorou. Quando morreu, em 1574, com a idade de 23 anos, o trono passou para seu irmão, o rei Henrique da Polônia, de 22 anos. Henrique escapuliu da Polônia com o tesouro nacional escondido no comboio de bagagens e foi para Paris, aceitar a promoção.

Henrique III
O novo rei, Henrique III, era o favorito de Catarina de Médici e seu filho mais inteligente. Era um católico devoto, que gostava de se vestir de mulher, e que às vezes se apresentava nas funções oficiais em trajes femininos. Henrique tinha um círculo de jovens bem-apessoados, chamados de Queridinhos (Mignons). Tinha uma coleção de cãezinhos e se escondia das trovoadas no sótão. A mãe tentou, sem sucesso, atraí-lo para a heterossexualidade oferecendo-lhe criadas nuas em festas especiais que ela dava para diverti-lo, mas o truque não funcionou.

Entretanto, mais perigoso ainda era a tendência intermitente do rei para o fanatismo católico, quando procurava penitenciar-se das excentricidades sexuais. Nessas ocasiões, Henrique punha em perigo sua saúde com jejuns e mortificações extremadas. Finalmente, Catarina mandou matar, num beco, o amigo do rei que o encorajava a adotar esses rituais e que ela suspeitava ser um agente espanhol.

Da mesma maneira que acontecia com a maioria dos governantes que se defrontavam com a guerra civil, por toda a história, tudo que o rei Henrique fazia parecia se voltar contra ele. Quando restaurou a liberdade religiosa para os huguenotes, Henrique de Navarra aproveitou-se desse novo clima de tolerância da lei para fugir da corte e se converter ao protestantismo, ao se pôr em segurança e fora de alcance. Nesse ínterim Henrique de Guise, enfurecido com a fraqueza do rei e com o apoio espanhol, formou a Liga Católica, independente.

O rei Henrique III estava ficando sem dinheiro, de modo que convocou o Parlamento na esperança de obter dele um aumento de impostos. O Parlamento recusou a proposta, mas o rei conseguiu reunir um número suficiente de soldados para algumas pequenas campanhas no vale do rio Loire.

Henriques Demais

Como o rei atual era assumidamente gay, o próximo soberano provavelmente não seria um rebento seu. A sucessão apontava para o mais jovem dos irmãos Valois, Francisco, mas em 1584, ele morreu de febre e enquanto conspirava contra os protestantes na Holanda. Sem outros descendentes masculinos do rei Henrique II, a lei recuou, até encontrar outra linhagem masculina direta, vinda de um rei anterior. Quando seguiram esse novo ramo, visando encontrar o descendente mais velho, os genealogistas reais viram que o próximo na linha de sucessão para o trono na França era o cunhado do rei, Henrique de Navarra, da família Bourbon e líder dos huguenotes.

Então começou a Guerra dos Três Henriques, no qual o rei Henrique III e Henrique de Guise tentaram forçar Henrique de Navarra a renunciar ao seu direito de sucessão. Como o que estava em jogo era o trono, as batalhas foram particularmente sangrentas. Dois mil católicos foram mortos na Batalha de Coutras, outros 6 mil na Batalha de Ivry. As perdas dos protestantes foram comparáveis a essas, e nenhum dos lados obteve vantagem.

Contra a Liga Católica

A Liga Católica odiava o rei Henrique por ele não esmagar os huguenotes. Para seus membros, um católico moderado não era melhor do que um protestante. A liga agitou os cidadãos parisienses, que levantaram barricadas e expulsaram o rei Henrique III da cidade. Em seu exílio rural, o rei foi forçado a convocar o Parlamento para se aconselhar sobre sua sucessão. Quando o Parlamento sugeriu um herdeiro que eram obviamente, um títere dos Guise, o rei decidiu resolver seu problema com aquela família de uma vez por todas.

Dois dias antes do Natal, o rei Henrique III convidou Henrique de Guise para uma rápida conversa, mas quando seu convidado entrou na sala, as portas foram subitamente fechadas com violência e aferrolhadas atrás dele. Soldados invadiram correndo o recinto; Guise desembainhou a espada e lutou bravamente, mas mesmo assim os homens do rei o abateram. Seu irmão, o arcebispo católico, que também visitava o rei, foi morto na manhã do dia seguinte. Foram esquartejados e os restos lançados numa lareira flamejante. O rei então se aliou aos Bourbon contra a Liga Católica.

Mortes - Catarina e Henrique III

Em 5 de janeiro de 1589, Catarina morreu com sessenta de nove anos de idade, provavelmente de pleurisia. L'Estoile escreveu: "pessoas próximas a ela acreditavam que sua vida foi encurtada pelo descontentamento com as ações de seu filho." Ele acrescentou que ela não tinha morrido mais cedo quanto poderia dado que ela recebia tanta consideração quanto uma cabra morta. 

Seu filho teve o mesmo destino logo depois. Em julho daquele ano, um frade dominicano, enraivecido com o rei Henrique por ele ter traído o catolicismo, esfaqueou-o no estômago. Depois da morte do rei, lenta e demorada, por hemorragia e infecção, o protestante Henrique de Navarra tornou-se rei da França, acabando com quase três séculos de domínio Valois e iniciando a dinastia Bourbon.

"Eu governo com minha bunda na sela e a pistola na mão", declarou Henrique IV, e seguiu para reconquistar sua capital, que estava nas mãos da Liga Católica.

Sítio a París

O sítio a Paris, que começou em maio de 1590, foi brutal. Mês após mês, os 220 mil residentes da maior cidade da Europa ficaram trancados dentro dela com suprimentos que diminuíam sempre. Conforme passou o tempo, os cachorros, gatos e ratos desapareceram das ruas. 

Então a Liga Católica convocou o Parlamento em Paris para escolher um rei católico que se opusesse a Henrique de Navarra, mas, quando os espanhóis ofereceram sua própria princesa, filha de uma irmã da família Valois, muitos franceses ficaram estarrecidos. Começava a surgir neles a ideia de que ser francês era provavelmente mais importante do que ser católico. Talvez um rei Bourbon fosse melhor do que deixar que a França se tornasse um satélite da Espanha. 

Subitamente, em 1593, Henrique de Navarra, que chefiara os exércitos protestantes em muitas refregas duras, anunciou que, bem, se isso era tão importante para eles, que ele seguiria em frente e se converteria ao catolicismo. Não queria causar problemas. "Paris bem vale uma missa" foi o boato que correu como sua explicação.

Isso clareou o caminho para um rei ser bem-aceito e consagrado, e, antes que qualquer um pudesse aparecer com novas objeções, a paz foi selada. Em 1598, o rei Henrique IV publicou o Édito de Nantes, declarando a tolerância para com todas as crenças cristãs. Sua nova dinastia, a dos Bourbon, queria começar a governar a partir de uma página em branco. "A lembrança de tudo que um lado infligiu ao outro... durante o precedente período de perturbações fica apagada e esquecida, como se tais coisas não houvessem acontecido". Ou nas palavras do Rei de Castelo do Pântano, de Monty Python: "Não vamos ficar reclamando e discutindo sobre quem matou quem".

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