A Guerra da Sucessão Portuguesa foi travada de 1580 a 1583 durante a disputa do trono português entre Felipe II e António de Portugal, Prior do Crato, na sequência da Crise de sucessão de 1580. Foi vencida por Felipe II, iniciando a União Ibérica sob a dinastia Filipina em Portugal.
Interlúdio - Crise da Sucessão
Cardeal rei D. Henrique |
A morte do jovem rei de Portugal D. Sebastião na Batalha de Alcácer-Quibir levou a uma crise de sucessão já que o primeiro não teria deixado descendência pela sua tenra idade. Pela proximidade de parentesco, coube a governação ao cardeal D. Henrique, aclamado Rei de Portugal a 28 de Agosto de 1578.
A notícia da derrota de Alcácer-Quibir foi levada ao cardeal, então no Mosteiro de Alcobaça, pelo provincial da Companhia de Jesus e o Dr. Jorge Serrão. O cardeal, encarregado da regência do reino por proximidade de parentesco, convocou as Cortes de Lisboa de 1579 para estudar a situação decorrente da sua avançada idade e vínculo religioso. Não sendo casado e não tendo herdeiros, a sua regência seria meramente provisória.
Pretensão à Coroa
Pelas leis da época, sucederia ao Rei o seu parente mais próximo, na tentativa de preservar o Sangue Real na administração do Reino; em caso de parentes de igual proximidade, a preferência seria dada aos de sexo masculino. A verificar-se a concorrência de vários homens em igual grau de parentesco, seria preferido o mais velho.
Assim, os candidatos ao Trono de Portugal eram (pela ordem da linha da sucessão):
1. O Cardeal-Rei D. Henrique I
2. Rainúncio I Farnésio, Duque de Parma
3. Catarina, Duquesa de Bragança
4. Filipe II de Espanha
5. Emanuel Felisberto de Saboia
6. João I, Duque de Bragança
Havia ainda:
D. António, o Prior do Crato, afastado por ser tido como ilegítimo, se não o fosse estaria mesmo antes do cardeal D. Henrique na linha de sucessão
Morte do Cardeal
O Rei-Cardeal morreu em 1580, durante as Cortes de Almeirim, deixando uma Junta de cinco governadores. E destes cinco, apenas um, D. João Telo, era contrário a Filipe II de Espanha. O cardeal já havia manifestado, entretanto, a sua intenção de nomear Filipe II como sucessor ao trono, mediante um acordo que traria benefícios ao reino.
Pensa-se que muitas das figuras favoráveis D. Filipe tenham sido subornadas de alguma forma pelo rei castelhano, que sabia dos temores dos mais ricos em perder a posição privilegiada na corte. O reino manifestava assim uma avareza que renunciava à independência a favor de bens materiais e títulos de poder.
Guerra da Sucessão Portuguesa
D. António, Prior do Crato |
Durante a preparação defensiva do castelo de Santarém contra uma eventual ofensiva castelhana, o povo aclamou D. António como Rei de Portugal. Este, surpreendido, precavia-se contra a revolta da nobreza e do clero, pedindo para limitarem a aclamação a apenas Regedor e defensor do Reino. A situação era melindrosa, já que D. António se antecipava à decisão dos governadores nomeados pelo cardeal D. Henrique que tinham por missão designar, de entre os vários netos de D. Manuel I, o herdeiro legítimo da coroa.
A 24 de Julho seria coroado e governaria no continente durante cerca de vinte dias, até ter sido derrotado na Batalha de Alcântara pelos exércitos espanhóis comandados pelo Duque de Alba em 25 de agosto. A batalha terminou com uma vitória decisiva dos Habsburgos, tanto em terra como no mar. Dois dias depois, o duque de Alba capturou Lisboa.
No início de 1581, D. António fugiu para a França em busca de apoio e, como exércitos de Filipe ainda não tinham ocupado os Açores, aí se estabeleceu com um número de aventureiros franceses sob comando de Filippo Strozzi, um exilado florentino que deixou o cargo de coronel do exército ao serviço da França. As razões desta demissão prendem-se com a necessidade de evitar o envolvimento oficial da França na contenda luso-castelhana, já que Catarina de Medicis pretendia seguir uma política de duplicidade que ao mesmo tempo que mantinha a paz entre a França e Castela, tentava minar o poderio castelhano.
Assim, foi como privado, oficialmente como mercenário, embora com a bênção da rainha-mãe de França, que Fillipo Strozzi partiu em Junho de 1582 à frente de uma força luso-francesa, embora com participação minoritária portuguesa, em socorro do partido antonino acantonado na Terceira. As forças portuguesas eram comandadas por D. Francisco de Portugal, o 3.º conde de Vimioso.
A 25 de Julho de 1581, na ilha Terceira as forças leais a D. António venceram a Batalha da Salga. Mas um ano depois foi completamente derrotado no mar por uma armada Luso-Espanhola comandada por D. Álvaro de Bazán, na Batalha Naval de Vila Franca no dia 26 de julho de 1582. A 27 de Julho de 1583 no Desembarque da Baía das Mós a força luso-castelhana pôs termo à resistência da Terceira ao domínio de Filipe II de Castela.
Filipe II, de Espanha I de Portugal |
António dedicou toda a sua vida a tentar recuperar o trono. Tentou ainda o desembarque numa expedição de Inglesa, a Contra armada inglesa sob o comando de Sir Francis Drakee Sir John Norreys, às costas de Espanha e Portugal, mas a expedição falhou e a tentativa António para governar Portugal a partir de Ilha Terceira, nos Açores (onde chegou a cunhar moeda) chegou ao fim em 1583. Começava, assim, a dinastia filipina, com Filipe II de Espanha, I de Portugal.
D. António morreu em 1595, cessando assim qualquer hipótese de prolongar a dinastia de Avis. Só 60 anos depois a independência seria restaurada por D. João, duque de Bragança, aclamado D. João IV, Rei de Portugal.
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