sexta-feira, 8 de março de 2013

Guerra Eduardiana (1337-1360)

Coroação de Eduardo III.
Desde a época da Conquista Normanda da Inglaterra, em 1066, a Inglaterra vinha sendo governada por franceses, para sermos sinceros. Os historiadores os chamam de ingleses, mas a maior parte da nobreza inglesa falava francês como sua primeira língua. As leis do país eram escritas em francês. A nobreza inglesa tinha grandes propriedades e casas de verão na França, e o rei da Inglaterra frequentemente possuía tantas terras na França quanto o rei francês. Eles eram franceses em tudo, exceto na geografia.

Quando o rei da França morreu, sem deixar filhos, em 1328, seu primo-irmão, o rei Eduardo III da Inglaterra reivindicou o trono para si. Em vez de aceitar a reivindicação, a nobreza francesa escolheu um nobre fraco, que eles podiam dominar, em vez de um rei poderoso, tal como seria Eduardo da Inglaterra. É claro que ele ficou furioso.

Como as guerras e intrigas locais o deixavam ocupados, Eduardo não se lançou à guerra para fazer valer seus direitos senão depois de decorridos dez anos. Por essa época, ele já tinha uma impressionante nova arma no seu arsenal. Ele vira pela primeira vez o arco longo ao caçar faisões nas fronteiras selvagens com o País de Gales. Feito de árvore chamada teixo e da altura de um homem, o arco exigia enorme força física para ser vergado, mas com ele um arqueiro treinado poderia, com uma flecha, atravessar três centímetros de carvalho sólido, a duzentos metros de distância, e uma couraça de armadura a cem metros. Impressionado como o arco comprido matava facilmente seus melhores cavalheiros e quebrara o ímpeto de seus ataques, Eduardo fez com que esses arqueiros constituíssem uma parte integral de seu próprio exército.

Batalha de Sluys, em 1340.
Como a guerra medieval raramente era secreta, os franceses, cientes do conflito que se aproximava, haviam reunido uma armada e se aprontaram para atacar primeiro, mas a frota inglesa encurralou os navio franceses em Sluys, no porto de Bruges, em 1340. Arqueiros apinhados a bordo dos navios ingleses varreram as tripulações dos barcos franceses, e deixaram os ingleses com o controle do Canal da Mancha. "Os peixes beberam tanto sangue francês, foi dito depois, que, se Deus lhes tivesse dado o dom da fala, eles teriam falado francês".

Depois que os ingleses desembarcaram na França em 1346, os dois exércitos ficaram manobrando, um em torno do outro, no norte daquele país por diversos meses, tentando encurralar o outro no campo de batalha mais desvantajoso. O rei Eduardo percebeu que o melhor uso tático de sua força era dispor cavaleiros desmontados, soldados de infantaria e arqueiros em uma linha defensiva tipo porco espinho, eriçada de lanças, espadas e machados de batalha, e depois fazer com que os franceses atacassem. 

Crecy

Batalha de Crecy,
em 26 de agosto de 1346
Finalmente, em Crecy, os ingleses tomaram uma forte posição no alto de uma colina e esperaram os franceses chegar. Quando começou a batalha, os franceses estavam tão ansiosos de atacar os ingleses que, para chegar às linhas de frente, eles atropelaram seus próprios arqueiros que recuavam. No primeiro embate, seus grandes e pesados corcéis de batalha viraram alvos ideais para os arqueiros ingleses. Depois os cavaleiros franceses, desmontados e com pesadas armaduras, se estafaram, escorregando e se esfolando para subir os aclives lamacentos, todo o tempo acossados pelos arqueiros ingleses. Quando a refrega chegou ao fim, as perdas francesas eram espantosas, deixando as fileiras da nobreza fortemente desfalcadas. 

O avanço e a conquista inglesa só não foram maiores porque após a batalha de Crécy, ocorreu a chamada "Peste Negra", que dizimou praticamente um terço da população europeia. A peste foi responsável por interromper a guerra.

Calais

Cerco de Calais, em 1346.
Para consolidar seu controle sobre o norte da França, os ingleses colocaram o porto de Calais, no Canal da Mancha, sob longo e frustrante sítio. Finalmente, os líderes da cidade, que morria de inanição, ofereceram se render. Os ingleses estavam planejando o costumeiro massacre dos defensores, como castigo por lhes terem dado tanto trabalho, mas aqueles líderes se ofereceram para serem mortos, desde que fossem poupadas as vidas dos habitantes. Sua coragem comoveu o coração da rainha inglesa, que obviamente não conhecia nada sobre a maneira adequada de se fazer a guerra. Ela insistiu com o marido para que mostrasse misericórdia. Eduardo cedeu, provavelmente com um suspiro de cansaço, de modo que os líderes e a população de Calais foram expulsos da cidade, em vez de serem mortos. Em seguida, a cidade foi inteiramente anglicizada.

O Príncipe Negro e a Batalha de Poitiers
Eduardo III e o Príncipe Nego.

Com o norte sob controle, a guerra se moveu para o sul. Em 1356, o filho do rei, Eduardo, o Príncipe, saiu saqueando o país a partir da Equitânia, região francesa controlada pelos ingleses na costa oeste. Chefiando seu exército, ele atravessou 420 quilômetros do centro da França, queimando cidades e castelos, a fim de provocar o rei francês, desafiando-o para a batalha. Quando chegaram ao rio Loire, entretanto, os ingleses descobriram que os franceses haviam destruído as pontes, ficando os ingleses sem recursos, a 250 quilômetros do Canal da Mancha. Os invasores fizeram meia volta para retornar a seu país, mas o exército francês os alcançou em efetivo na proporção de cinco para um. 

Batalha de Poitiers.
Como os cavalos eram alvos grandes, vulneráveis para os arqueiros ingleses, os franceses decidiram avançar a pé. Sua primeira onda chegou exausta e foi massacrada. Enquanto tentavam recuar, os soldados tropeçaram na segunda onda, que também virou um caos. Finalmente o rei João I, da França, reagrupou e liderou a terceira e maior onda na direção da posição inglesa, exatamente na hora em que os ingleses faziam uma sortida, para se aproveitar da vantagem que tinham. Os ingleses sobrepujaram a nobreza francesa e a lançaram numa retirada precipitada na direção da segurança da cidade de Poitiers, mas quando chegaram lá os franceses encontraram os portões fechados. A cavalaria inglesa se aproximou e facilmente massacrou os cansados sobreviventes da batalha. A França estava ficando com escassez de nobres e de opções.

Entre os cativos da Batalha de Poitiers estavam o rei João da França e seu filho, os quais foram levados para a Inglaterra. O Príncipe Negro os levou em uma parada real, onde foram ovacionados pela população. Apenas pelo fato de os depois países estarem em guerra, não havia razão para ser mal educado com um hóspede. As negociações para a soltura dos reféns não foram adiante, e o rei francês morreu ainda como prisioneiro, em Londres, em 1364.

Depois de negociada uma trégua em 1360, o exército inglês deveria levantar acampamento e voltar para casa, mas um grande número de mercenários subitamente desempregados não tinha um lar aconchegante para onde voltar. Eles haviam gostado de viver às custas dos franceses conquistados e recusaram-se a desistir. Em vez disso, ficaram na França e percorreram o interior com exércitos predatórios, saqueando, estuprando e extorquindo a população.

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