quinta-feira, 15 de agosto de 2013

I Guerra Mundial - Part II

É mais fácil pensar na Primeira Guerra Mundial como um braco negro ou uma fogueira: uma linha de trincheiras estática cortando a Europa ocidental, devorando, faminta, os recursos de um mundo inteiro. Não foram apenas as nações na linha de frente, isto é, Alemanha, França e Inglaterra, que lançaram seus filhos na fogueira. Jovens foram importados de todo o mundo, da America do Norte, Austrália, Índia, Senegal, par alimentar o monstro.

É claro que essa não é toda a história, e a guerra mundial certamente fez jus a seu nome. A Turquia otomana, que controlava a maior parte do Oriente Médio, entrou na briga para evitar que sua velha inimiga, a Rússia, ganhasse alguma vantagem nos Bálcãs. isso atraiu pequenos exércitos coloniais britânicos que passaram a fustigar as bordas do Império Otomano, tentando romper as linhas de frente e fazer contato com a Rússia. Os britânicos entraram na Palestina vindos do Egito, capturando Jerusalém e, incidentalmente, travando uma batalha em Armagedom, que, se você não sabe, é um lugar real. Um exército da Índia britânica invadiu a Mesopotâmia, mas foi encurralado e sitiado em Kut. Depois de vários meses se alimentando de cavalos, ratos e seus próprios cintos, a guarnição se rendeu aos turcos. 

Campanha de Gallipoli 
(de 25 de abril de 1915 a 9 de janeiro de 1916)

Os esforços mais ambiciosos contra a Turquia começou com um ataque naval britânico entrando diretamente no estreito de Dardanelos para capturar Constantinopla e abrir o acesso aos portos russos do mar negro, em fevereiro de 1915. O plano foi um fracasso desde o início, principalmente porque os britânicos não haviam considerado a possibilidade de que essa via de transporte crucial, penetrando no coração do território inimigo, poderia estar bem guarnecida. Os Aliados então decidiram que precisavam desembarcar um exército completo na península de Gallipoli, e dominar a artilharia costeira turca, mas foram chacinados quanto tentavam ampliar sua cabeça na praia, e mais uma vez chacinados quando subiam as colinas, avançando contra os defensores. Depois de se confrontarem inutilmente com os turcos durante diversos meses, os Aliados desistiram e embarcaram de volta. 

Itália Entra na Guerra

Depois de cerca de um ano de neutralidade, a Itália correu o pires para ver quem oferecia mais, e ficou com os Aliados quanto eles ofereceram aos italianos os Alpes e o litoral do Adriático, que pertencia ao Império Austo- Húngaro. Como grande parte da curta fronteira entre a Itália e a Áustria é formada de montanhas escarpadas, essa frente de combate logo se transformou em outra linha estática que desgastou os exércitos em uma frouxa ofensiva após outras.

A maior parte dos Balcãs foi por fim conquistada pelas Potências Centrais. Séria, Montenegro, Albânia e Romênia foram surradas, saqueadas e ficaram à beira da inanição enquanto os exércitos passavam por cima delas, seguidas pelas forças de ocupação. A Grécia quase se juntou às Potências Centrais, mas um golpe de Estado patrocinado pelos Aliados destronou o rei do país, pró-Alemanha.

Armênia Sobre a Ira da Turquia

Em 1915, uma ofensiva turca contra os russos nas montanhas do Cáucaso fracassou por completo, e eles tinham de pôr a culpa em alguém pela derrota. Quando olharam em volta procurando um bode expiatório conveniente, os generais turcos iram os armênios cristãos vivendo bem ao lado da zona de guerra. Obviamente fora a traição dos armênios que minara o esforço de guerra turco. Mas provas surgiram quando esses súditos cristãos do sultão saudaram o contra-ataque russo como se fosse uma liberação.

Conforme o Império Otomano enfraquecia, os turcos foram ficando cada vez mais paranoicos sobre o nacionalismo entre suas minorias subjugadas, e qualquer atividade suspeita podia ocasionar um avassalador massacre prevenido. Eles haviam matado 200 mil armênios sem qualquer razão em 1894, e depois mataram outros 30 mil em 1905, mas agora decidiram que permitir uma minoria cristã insatisfeita tão perto das linhas de frente era muito perigoso. Tinham de se livrar dos armênios inteiramente, de uma vez por todas, de modo que avançaram e sistematicamente apagaram a presença armênia do Império Otomano. Também erradicaram a comunidade dos assírios, isto é, cristãos siríacos, já que estavam com a mão na massa. 

Armênios que haviam sido convocados para o exército turco foram desarmados e designados para batalhões de trabalho forçado, onde labutavam até a morte. Em abril de 1915, os armênios foram expulsos de Constantinopla. Em junho, 15 mil armênios na cidade de Bitlis foram cercados, levados para o campo e mortos; outros 17 mil foram retirados da cidade de Trebizonda e massacrados em julho. Depois os soldados turcos começaram a esvaziar os vilarejos armênios nas províncias do nordeste e os vilarejos assírios no sul. Os homens eram cercados e fuzilados. As mulheres, crianças e velhos foram levados para o sudoeste e reassentados, embora crianças e moças bonitas fossem às vezes conduzidas para residências turcas, para serem criadas como muçulmanas ou mantidas como empregadas ou esposas. 

Alemanha Versus Grã-Bretanha 

Para quebrar o impasse militar, as potências em guerra puseram pressão sobre as populações civis. Por puro despeito, os alemães fabricaram um gigantesco canhão para despejar granadas aleatoriamente sobre Paris, a 120 quilômetros de distância, matando um total de 259 inermes cidadãos. Também enviaram zepelins para despejar bombas na Inglaterra, matando 550 civis. Nenhuma dessas duas armas chegou nem perto de afetar o resultado da guerra; entretanto, o bloqueio naval alemão conseguiu isso. 

Esperando dobrar os ingleses pela inanição, os submarinos alemães afundavam qualquer navio que surpreendiam aproximando-se das ilhas britânicas. Durante algum tempo, a estratégia quase funcionou devido às novas tecnologias desenvolvidas durante as décadas anteriores. Os submarinos tornaram possível se esgueirar, sem serem percebidos, até uma distância em que pudessem atacar, e os torpedos tornaram possível afundar navios com um único disparo bem colocado. 

Assim como a guerra aérea na Segunda Guerra Mundial, a guerra marítima na Primeira Guerra Mundial existiu em uma zona cinzenta, sombria, de ambiguidade moral. A lei internacional desenvolvera regras complexa de engajamento entre vasos de guerra e embarcações civis. Por exemplo, navios mercantes desarmados tinham de ser parados e revistados, as tripulações, evacuadas, mas colocar armas de defesa em um navio civil o tornava presa de ataque imediato. Tudo isso soava bem na teoria, mas era grandemente impossível de pôr em prática. Os submarinos eram muito inferiores aos navios de superfície no que tange à velocidade, a armamento e a alcance das armas; eram inferiores em tudo, a não ser no fator surpresa. Se fosse à superfície, desafiassem e demorassem a atacar a fim de revistar o navio suspeito de contrabando, eles perderiam sua única vantagem. Portanto, eles precisavam afundar qualquer navio suspeito imediatamente, sempre que surgisse a oportunidade.

Naturalmente, o afundamento indiscriminado de qualquer navio que estivesse se aproximando de águas britânicas mandou muitos passageiros inofensivos para o fundo do oceano. No dia 7 de maio de 1915, o transatlântico Lusitânia, chegando de Nova York, foi afundado perto da irlanda, matando 1.200 passageiros e a tripulação. A revolta entre os americanos neutros foi tão grande que o programa dos submarinos foi interrompido durante algum tempo.

Por fim, os britânicos começaram a organizar comboios, tornando mais difícil para os submarinos inimigos encontrar alvos, porque os navios ficavam reunidos em poucos grupos, em vez de dispersos por todo o Atlântico. Mesmo que um submarino encontrasse um comboio vulnerável, ele não poderia disparar senão uns poucos torpedos antes que os navios de superfície, mais rápidos, se pusessem fora do alcance. O que é mais importante, os alemães superestimaram até onde os britânicos dependiam das importações. Conforme o comércio oceânico ficou mais arriscado, os britânicos acrescentaram mais terras para cultivo em seu próprio território, para compensar o déficit.

O bloqueio britânico aos portos alemães foi feito principalmente com campos de minas e navios de patrulha de superfície. Como essa medida geralmente obedecia às leis marítimas, houve menos reclamações internacionais, mas, no plano mais geral, ela foi muito eficaz. A posição da Alemanha em relação ao mar do Norte oferecia alguns pontos de estrangulamento favoráveis aos britânicos, que foram mais eficazes em produzir uma escassez de alimentos. 

As potências beligerantes fizeram tudo que foi possível para minar a estabilidade de seus oponentes. Quando o governo russo começou a balançar em 1917, os alemães despacharam o líder comunista Lênin, então exilado na Suíça, de volta à Rússia, apenas para que ele causasse perturbação. Como disse Churchill: "Eles levaram Lênin num trem lacrado, como se fosse um bacili da peste, da Suíça à Rússia." Os alemães também apoiaram os rebeldes irlandeses, desencadeando a Rebelião da Páscoa, em 1916. Entre os súditos britânicos surpreendidos cooperando com os alemães em prol da causa da liberdade da Irlanda, estava Roger Casement, herói do Congo, que foi enforcado por traição. 

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