segunda-feira, 13 de maio de 2013

Guerra dos Trinta Anos - Part II

As Fases Boêmias e Dinamarquesas:

A Batalha da Montanha Branca,
numa litografia da época
Na prática, os outros príncipes protestantes no império não estavam a fim de arriscar tudo para apoiar o conde do Palatinado, de modo que votaram por Fernando, dos Habsburgo, e abandonaram a Boêmia à sua sorte. Um exército católico, sob o comando do general da Bavária Johannes Tilly, se pôs a caminho para recuperar a Boêmia e punir os protestantes revoltosos. Uma vingativa política de terra arrasada reduziu a Boêmia a um deserto fumegante. Finalmente, a Batalha da Montanha Branca, em novembro de 1620, impôs uma derrota fragorosa às forças do Palatinado. O rei Frederico foi expulso, e Albrecht von Wallenstein foi instalado como governador militar Habsburgo da Boêmia. Os principais chefes da rebelião foram executados na praça central de Praga. As propriedades devastadas dos nobres rebeldes foram confiscadas e distribuídas a legalistas fiéis aos Habsburgos.

Depois os exércitos católicos se voltaram contra o Palatinado, para punir Frederico por tentar afastar a Boêmia do restante do império. Sua principal cidade, Heidelburg, foi conquistada e saqueada, enquanto Frederico buscava asilo na Holanda. Os Habsburgo entregaram o Palatinado a seu aliado, o duque da Bavária, católico. Isso amedrontou os outros Estados protestantes. Embora houvessem ficado quietos, e deixado os católicos restaurar os status quo na Boêmia, a eliminação do Palatinado não fazia parte do acordo.

Cristiano IV, 
rei da Dinamarca e Noruega, 
apoiou os protestantes alemães, 
principalmente, por razões não 
religiosas.
Quando as fortunas dos protestantes começaram a minguar, reinos externos ao império foram convocados para apoiar a causa luterana, Em 1625, o rei Cristiano, da Dinamarca, invadiu a Alemanha com seu exército, mas foi completamente derrotado pelo exército católico de Wallenstein, onde Tilly esmagou também um novo exército reunido pelos príncipes protestantes da Alemanha. Em seguida, os católicos avançaram sobre o norte da Alemanha e o Estado peninsular da Dinamarca. Os Dinamarqueses fugiram para suas ilhas, salvando-se apenas por não haver uma frota imperial no mar Báltico. 
Aproveitando a maré alta da vitória, a Áustria partiu para desfazer a reforma. O Édito de restituição, de 1629, ordenava que toda a propriedade, antes pertencente à Igreja Católica Romana, conquistada pelos príncipes protestantes nos últimos 77 anos, deveria ser devolvida à Igreja. O calvinismo foi declarado ilegal em todo o império.

A Fase Sueca

Com os exércitos imperiais marchando para o Báltico e acampados no seu litoral, os Habsburgo estavam agora ameaçando o território sueco. Primeiro os suecos triplicaram o efetivo do seu exército graças a subsídios da França, que não queria ver um Sacro Império Romano germânico que realmente funcionasse como um império. Depois os suecos cruzaram o mar Báltico e partiram para a batalha em julho de 1630.

Estudiosos da história militar conhecem essa fase da guerra como a era de Gustavo Adolfo, enérgico rei da Suécia e lendário gênio militar. Tendo já prova de sua têmpera em uma série de guerras contra a Dinamarca, a Rússia e a Polônia, ele estava se tornando um desses generais lendários, como Frederico, o Grande, e Napoleão, que travavam batalhas como se fosse um jogo de xadrez.

Na primavera de 1631, um exército católico sob o comando de Tilly tentou tomar a fortaleza protestante de Magdeburgo, uma cidade alemã, que defendia a travessia do rio Elba. Depois de demorado sítio, a cidade foi tomada e completamente destruída. Dos 30 mil habitantes, não mais do que 5 mil sobreviveram, a maioria mulheres, que foram levadas embora pelos soldados para que as usassem depois. A cidade queimou durante três dias, deixando uma cena dantesca de carnificina. Seis mil cadáveres foram atirados no rio como parte da limpeza para a entrada triunfal de Tilly.

Gustavo Adolfo,
na Batalha de Breinterfeld.
Em setembro de 1631, Gustavo Adolfo infligiu uma importante derrota aos católicos em Breitenfeld, empurrando a guerra do norte protestantes para dentro do sul, católico. A vitória sueca pôs os protestantes de volta ao jogo e não permitiu que houvesse paz durante os 18 anos seguintes. 

Na primavera, os suecos derrotaram o exército imperial novamente, matando Tilly no decorrer da batalha. Finalmente, em novembro de 1632, Gustavo conseguiu seu maior triunfo contra Wallenstein, na Batalha de Lutzen, mas foi morto quando se aventurava à frente de suas próprias linhas. Os católicos aproveitaram a oportunidade para se recuperar.

A morte de Gustavo Adolfo fez estancar o  renovado impulso protestante, mas Walleinsten não se aproveitou da vantagem dessa virada de sorte. Em vez disso, começou a jogar seu próprio jogo, abrindo negociações provisórias com o inimigo, e só os combatendo quando eles ficaram relutantes em levar a sério suas ofertas de paz. Ele estava claramente manobrando para deixar os Habsburgo de lado e se impor como governante da Alemanha. O imperador soube dessas manobras e convocou alguns dos oficiais mais graduados de Wallenstein para assassiná-lo.

Como se não bastasse a guerra e a fome, a queima de Bruxas na fogueira atingiu o pico durante a Guerra dos Trinta Anos. Diziam que o bispo de Wurzburgo mandou queimar 9 mil feiticeiras entre 1625 e 1628. Mil delas foram queimadas no principado silesiano de Neisse em 1640-41. Contrariamente à ideia que comumente se tem, a grande caça às Bruxas não foi uma relíquia da superstição e da ignorância medieval. A prática crescia principalmente das paixões inflamadas pelos conflitos religiosos do início da Era Moderna. Durante séculos de guerras santas, comunidades por toda a Europa extirpavam e exterminavam os perigosos infiéis que viviam entre os habitantes, tanto reais (protestantes e católicos) como imaginários (feiticeiras e demônios).

A Fase Francesa

Como a maioria das grandes e confusas guerras civis por toda a história, a guerra na Alemanha foi atraindo para o conflito todos os Estados vizinhos, e por fim tornou-se parte de um confronto maior, entre as duas nações-alfa da Europa na época, a Espanha e a França. A Espanha era governada por um ramo menor da família Habsburgo, e seus territórios incluíam a Bélgica, a Borgonha e cerca de metade da Itália. A Espanha desejava auxiliar seus primos austríacos na eliminação de seus inimigos protestantes na Alemanha, mas, em compensação, queriam a ajuda austríaca para esmagar os inimigos protestantes na Espanha e na Holanda. Os franceses, sendo inimigos naturais dos espanhóis subsidiavam todos os inimigos dos Habsburgo, independentemente de raça, religião ou nacionalidade.

Comandado por piloto automático durante os anos seguintes, o exército sueco organizado por Gustavo Adolfo continuou a colecionar vitórias, até que o império o derrotou fragorosamente em Nordlingen, em 1634. Como os escandinavos fracassaram na tentativa de vencer a guerra na Alemanha, os franceses então interviram diretamente no conflito. Embora fossem católicos, temiam a emergência de uma Alemanha forte e unida, na sua fronteira leste, ligada por laços dinásticos à Espanha, na fronteira sul, a qual tinha exércitos na Holanda, fronteira norte. Na verdade, a intervenção da França na Guerra dos Trinta Anos, em 1634, representa provavelmente o exato momento em que terminava a idade das guerras religiosas, e a Europa voltava a travar apena porque não tinha outra coisa para fazer.

Cardeal Richelieu
Embora os suecos continuassem a lutar por toda a região central do império, o foco da guerra agora mudara para a chamada Estrada Espanhola,  trilha de possessões e territórios aliados por onde a Espanha costumava deslocar suas tropas a partir do Mediterrâneo e a partir das concentrações de mercenários católicos da Itália. Esse caminho atravessava os Alpes e descia o rio Reno até os campos de batalha na Holanda espanhola, atualmente a Bélgica. O cardeal Richelieu, primeiro ministro da França, decidiu interromper esse fluxo de uma vez por todas, mas foi uma peleja dura. Com comboios anuais de prata chegando constantemente das minas das colônias do Novo Mundo, a Espanha era o único país da Europa capaz de manter um exército nacional com efetivo máximo e em tempo integral.

A guerra seguiu esporadicamente ao longo das margens do Reno durante alguns anos, os exércitos alemães e holandeses subsidiados pelos franceses acossando os espanhóis, e pequenas forças francesas atacando fracamente a fronteira sul da Holanda espanhola. Finalmente, em 1643, um exército francês, organizado ara se equiparar aos padrões da Espanha, encurralou e destruiu a principal força espanhola na Batalha de Rocroi. Foi preciso um dia inteiro de matança sinistra e sistemática, mas, quando terminou, o exército espanhol estava sem condições de emprestar soldados para seus primos austríacos. A Espanha precisou manter suas tropas remanescentes perto de casa, para manter à distância os franceses que avançavam.

Curiosidade: o Uso da Gravata


Até uma época recente, imaginava-se que os romanos fossem os pioneiros no uso da gravata, como ilustra a famosa coluna de Trajano, em que pode ser visualizada ao nível do pescoço uma peça semelhante à gravata, conhecida como focale. Acredita-se que este acessório tenha sido utilizado pelos oradores romanos com o objetivo de aquecer suas gargantas. Atribui-se a introdução da gravata aos soldados mercenários croatas à serviço da França durante a Guerra dos Trinta Anos. Os pedaços de tecidos, atados ao pescoço dos soldados com distintivos laços, teriam causado enorme alvoroço em toda a sociedade parisiense. Tal acessório era usado como distintivo militar pelos croatas, sendo de tecido rústico para os soldados e de algodão ou seda para os superiores.

Esses acontecimentos encontram-se no livro francês “La Grande Histoire de la Cravate” (Flamarion, Paris, 1994), conforme a seguinte passagem:

Luis XIV,
com uma gravata primitiva,
em 1667.
“Por volta do ano 1635, cerca de seis mil soldados e cavaleiros vieram a Paris para dar suporte ao rei Luis XIV e ao Cardeal Richelieu. Entre eles, estava um grande número de mercenários croatas. O traje tradicional destes soldados despertou interesse por causa dos cachecóis incomuns e pitorescos enlaçados em seu pescoço. Os cachecóis eram feitos de vários tecidos, variando de material grosseiro para soldados comuns a seda e algodão para oficiais”. Os franceses logo se encantaram com esse adereço elegante e desconhecido, que chamaram de cravat, que significa croata. O próprio rei Luis XIV ordenou que seu alfaiate particular criasse uma peça semelhante ao dos croatas e que a incorporasse aos trajes reais.

Resultados

As estimativas do número de mortos na Guerra dos Trinta Anos vêm caindo com o passar dos anos. Logo depois da guerra, dizia-se que a Alemanha ficara quase despovoada, e que mais de 12 milhões de habitantes, ou três quartos de sua população, desapareceram. Depois, conforme foram estudando os registros feitos pelas igrejas, por coletores de impostos e pelas cortes, os historiadores frequentemente descobriam que as pessoas que haviam desaparecido de uma região da Alemanha apareciam em outra região, vivas e com saúde, ou pelo menos vivas.  

O Tratado de Westfália, assinado em 1648, pôs um ponto final no conflito e fez muitos ajustamentos nas fronteiras e nas relações dos feudos alemães, mas a maioria desses arranjos se tornou irrelevante. Isso aconteceu há muito tempo e você não tem que se preocupar com ele. O resultado mais duradouro da Guerra dos Trinta Anos é que a Europa finalmente percebeu como era estúpido guerrear por causa da religião. Em menos de um século, os conflitos religiosos haviam devastado a França, a Alemanha, a Inglaterra e a Holanda. Por fim, muitas nações, exauridas de recursos, decidiram permitir que a escolha de crença fosse um assunto pessoal, e isso tornou um dos alicerces da civilização ocidental.

Hoje, lutar por causa da religião é considerado uma coisa tão ridícula que muitos historiadores ocidentais ficam muito envergonhados em admitir que tal coisa chegou a acontecer. É como ter um avô que possuía escravos. A civilização ocidental é única em tornar a religião um assunto particular, e isso é baseado nas duras lições aprendidas na era das guerras religiosas.

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