sexta-feira, 22 de março de 2013

Dinastia Comnena

O imperador Aleixo I Comneno,
 fundador da dinastia comnena
A dinastia comnena ou dos Comnenos desempenhou um papel importante na história do Império Romano do Oriente ( Império Bizantino ), e interrompeu o declínio político do império a partir de 1081 até o ano de 1185, tanto assim que os historiadores chamaram esse período de "renascimento do império".

Dinastia Comnena e as Cruzadas 

O período entre 1081 a 1185 é muitas vezes conhecido como período comneno. Juntos, os cinco imperadores da dinastia (Aleixo I, João II, Manuel I, Aleixo II e Andrônico I) reinaram por 104 anos, presidindo uma constante, embora incompleta, restauração da posição militar, econômica e política do Império Bizantino. Embora os turcos seljúcidas tenham ocupado o coração do império na Anatólia, foi contra as potências ocidentais que os esforços militares bizantinos foram direcionados, particularmente contra os normandos.

O império sob os Comnenos desempenhou um papel fundamental na história das Cruzadas na Palestina, que Aleixo I ajudou a trazer, ao mesmo tempo que exerceu enorme influência cultural e política na Europa, Oriente Próximo e nas terras ao redor do mar Mediterrâneo sob João e Manuel. O contato entre Bizâncio e o Ocidente "latino", incluindo os estados cruzados, aumentou significativamente durante o período comneno. Comerciantes italianos, nomeadamente venezianos, começaram a residir em Constantinopla e no resto do império em grande número (havia cerca de 60 000 latinos só em Constantinopla, fora a população de 300 a 400 mil locais) e a presença deles, juntamente com os numerosos mercenários latinos que foram contratados por Manuel, ajudou a difundir a tecnologia bizantina, arte, literatura e cultura em todo o Ocidente latino, ao mesmo tempo que provocou um fluxo de ideias e costumes ocidentais para o império.

Em termos de prosperidade e vida cultural, o período comneno foi um dos picos na história bizantina, e Constantinopla permaneceu a principal cidade do mundo cristão em termos de tamanho, riqueza e cultura. Assistiu-se a um renovado interesse pela filosofia grega clássica, bem como a um aumento na produção literária em grego vernacular. A arte bizantina e literatura mantiveram uma posição proeminente na Europa e o impacto cultural de ambas no Ocidente foi enorme e de longa duração.

Aleixo I e a Primeira Cruzada 

Cerco de Jerusalém
durante a Primeira Cruzada.
Após a batalha de Manziquerta, seguiu-se uma recuperação parcial (conhecida como a Restauração Comnena), graças aos esforços da dinastia comnena. O primeiro imperador foi Aleixo I (1081–1118). No início de seu reinado, ele enfrentou um ataque formidável dos normandos de Roberto Guiscardo e de seu filho, Boemundo de Tarento, que capturaram Dirráquio e Corfu, e sitiaram Lárissa na Tessália. A morte de Roberto Guiscardo em 1085 diminuiu temporariamente o problema. No ano seguinte, o sultão seljúcida morreu e o Sultanato de Rum foi dividido por rivalidades internas. Por sua iniciativa, Aleixo derrotou os pechenegues, que foram apanhados de surpresa e aniquilados na batalha de Levúnio em 28 de abril de 1091.

Tendo alcançado a estabilidade no Ocidente, Aleixo pôde voltar sua atenção para as graves dificuldades econômicas e para a desintegração das defesas tradicionais do império. No entanto, ele ainda não tinha pessoal suficiente para recuperar os territórios perdidos na Ásia Menor e para avançar contra os turcos seljúcidas. No Concílio de Placência em 1095, os enviados de Aleixo falaram com o papa Urbano II sobre o sofrimento dos cristãos do Oriente e salientaram que, sem a ajuda do Ocidente, eles continuariam a sofrer sob o domínio muçulmano. Urbano viu no pedido de Aleixo uma oportunidade dupla: estabelecer vínculos de amizade na Europa Ocidental e reforçar o poder papal. Em 27 de novembro de 1095, o papa Urbano II convocou o Concílio de Clermont e exortou todos os presentes a pegar em armas sob o símbolo da cruz e iniciar uma peregrinação armada para recuperar Jerusalém e o Oriente dos muçulmanos.

Aleixo esperava a ajuda na forma de forças mercenárias do Ocidente, mas estava totalmente despreparado para a imensa e indisciplinada força que chegou rapidamente ao território bizantino. Não lhe agradou nada saber que quatro dos oito líderes do corpo principal da Cruzada eram normandos, entre eles Boemundo de Tarento. Depois de a Cruzada passar por Constantinopla, no entanto, o imperador conseguiu algum controle sobre ela e exigiu que seus líderes lhe jurassem devolver ao império quaisquer cidades ou territórios que pudessem conquistar dos turcos a caminho da Palestina. Em troca, deu-lhes guias e uma escolta militar. Aleixo logrou recuperar um número importante de cidades e ilhas, e, na prática, grande parte da porção ocidental da Ásia Menor. No entanto, os cruzados entenderam que seus juramentos perderam a validade quando Aleixo não os ajudou durante o cerco de Antioquia (atual Antakya). Na realidade, ele tinha previsto entrar em Antioquia, mas foi convencido a recuar por Estevão II de Blois, que lhe garantiu que tudo estava perdido e que a expedição havia falhado. Boemundo, que se estabelecera como príncipe da Antioquia, entrou brevemente em guerra com os bizantinos, mas concordou em tornar-se vassalo ao abrigo do Tratado de Devol, em 1118, que marcou o fim da ameaça normanda durante o reinado de Aleixo I.

João II, Manuel I e a Segunda Cruzada

Chegada da Segunda Cruzada a
Constantinopla, por Jean Fouquet.
(1455-1460)
O sucessor de Aleixo foi seu filho João II Comneno (1118–1143). João foi um imperador piedoso e dedicado, determinado a reparar os danos que seu império sofreu na batalha de Manziquerta meio século antes. Famoso por sua piedade e seu governo moderado e justo, João foi um exemplo único de um governante moral, numa época em que a crueldade era a normal. Sua primeira medida foi recusar-se a renovar o acordo comercial de 1082 com Veneza, o que provocou retaliações por parte dos venezianos, que sitiaram muitas ilhas do Egeu, forçando o imperador a reconsiderar. No vigésimo quinto ano de seu reinado, João fez alianças com o Sacro Império no Ocidente, derrotou decisivamente os pechenegues na batalha de Beroia e liderou pessoalmente numerosas campanhas contras os turcos na Ásia Menor. As suas campanhas mudaram fundamentalmente o equilíbrio do poder no Oriente, forçando os turcos a manterem-se na defensiva, e devolveram aos bizantinos muitas cidades e fortalezas. Ele também repeliu as ameaças dos magiares e sérvios durante a década de 1120 e, em 1130, aliou-se com o sacro imperador Lotário III (1133–1137) contra o rei normando Rogério II da Sicília (1130–1154).

Na parte final de seu reinado, João focou suas atividades no Oriente. Retomou as cidades de Laodiceia e Sozópolis, restabelecendo as ligações terrestres para Constantinopla, derrotou o Emirado Danismendida de Melitene e reconquistou as cidades de Tarso, Adana e Mopsuéstia do Reino Armênio da Cilícia, aprisionando, em 1138, Leão I e a maior parte de sua família. Além disso, forçou Raimundo de Poitiers (1136–1149), príncipe de Antioquia, a reconhecer a suserania bizantina. Em um esforço para demonstrar o papel do imperador como líder do mundo cristão, João marchou em direção à Terra Santa como chefe das forças combinadas do império e dos Estados cruzados; no entanto, apesar do grande vigor com que ele impulsionou a campanha, as expectativas de João foram frustradas pela traição de seus aliados cruzados. Em 1142, João retornou para pressionar suas reivindicações em Antioquia, mas morreu na primavera de 1143, depois de um acidente de caça. Raimundo foi encorajado a invadir a Cilícia, mas foi derrotado e forçado a ir a Constantinopla implorar misericórdia ao imperador.

O herdeiro escolhido de João foi seu quarto filho, Manuel I Comneno (1143–1180), que realizou agressivas campanhas contra seus vizinhos no oriente e no ocidente. Na Anatólia, iniciou uma campanha punitiva contra o Sultanato de Rum, atacando sua capital, Icônio (atual Konya), e aniquilando a cidade fortificada de Filomélio. Além disso, expulsou os turcos da Isáuria. Na Palestina, aliou-se ao Reino de Jerusalém e enviou uma grande frota para participar de uma invasão combinada do Califado Fatímida. Manuel reforçou sua posição como senhor dos estados cruzados, com sua hegemonia sobre Antioquia e Jerusalém garantida pelo acordo com Reinaldo, o príncipe de Antioquia, e Amalrico (1162–1174), o rei de Jerusalém, respectivamente.

Após retomar Corfu dos normandos com a ajuda de tropas de Conrado III (1138–1152) e dos venezianos, Manuel aproveitou-se da instabilidade política ocasionada pela sucessão de Rogério II da Sicília por seu filho Guilherme I (1154–1166) e lançou, em 1155, uma invasão ao sul da Itália sob o comando de Miguel Paleólogo e João Ducas. Foram alcançados resultados rapidamente e uma aliança foi estabelecida entre Manuel e o papa Adriano IV. Porém, disputas dentro da coalizão levaram ao posterior fracasso da campanha. Apesar deste revés militar, os exércitos de Manuel invadiram com sucesso o Reino da Hungria em 1167, derrotando os húngaros na batalha de Sirmio. No ano seguinte, quase toda a costa oriental do Adriático estava nas mãos do império. Manuel fez várias alianças com o papa e com os reinos cristãos ocidentais, e tratou com sucesso da passagem da Segunda Cruzada através de seu império.

No leste, no entanto, Manuel sofreu uma grande derrota na batalha de Miriocéfalo, em 1176, contra os turcos. Contudo, as perdas foram rapidamente recuperadas e, no ano seguinte, as forças de Manuel infligiram uma derrota a uma força de "turcos escolhidos". O comandante bizantino João Comneno Vatatzes, que esmagou os invasores turcos na batalha de Hiélio e Leimocheir, conseguiu, além das tropas que levou da capital, reunir um exército ao longo do caminho, um sinal de que o exército bizantino se mantinha forte e que a defesa do oeste da Ásia Menor ainda era eficaz.
O Império Bizantino sob Manuel I Comneno em 1180
Renascimento do século XII

João e Manuel adotaram políticas militares ativas, ambos dispendendo recursos consideráveis em cercos e em defesas de cidades; políticas de fortificação agressiva estiveram no centro das suas políticas militares imperiais. Apesar da derrota em Miriocéfalo, as políticas de Aleixo, João e Manuel resultaram em grandes conquistas territoriais, no aumento da estabilidade da fronteira na Ásia Menor e asseguraram a estabilização das fronteiras europeias do império. De 1081 a 1180, o exército de Comneno garantiu a segurança do império, permitindo o florescimento da civilização bizantina.

Isto permitiu que as províncias ocidentais conseguissem uma recuperação econômica, que continuou até o final do século. Tem sido argumentado que Bizâncio sob o governo Comneno foi mais próspero do que em qualquer outro período desde a invasão persa no século VII. Durante o século XII, os níveis populacionais elevaram-se e grandes extensões de novas terras agrícolas foram colocadas em produção. Evidências arqueológicas da Europa e Ásia Menor mostram um aumento considerável do tamanho dos assentamentos urbanos, juntamente com o aumento notável de novas cidades. O comércio também floresceu; venezianos, genoveses e outros abriram os portos do mar Egeu para o comércio, o transporte de mercadorias dos reinos cruzados de Ultramar e do Califado Fatímida para o ocidente e o comércio com o Império Bizantino via Constantinopla.

Em termos artísticos, houve um ressurgimento de mosaicos e as escolas regionais de arquitetura começaram a produzir estilos distintos que se basearam em uma série de influências culturais. Durante o século XII, os bizantinos desenvolveram o seu modelo precoce de humanismo, com um renascimento do interesse em autores clássicos. Em Eustáquio de Tessalônica, o humanismo bizantino encontrou sua expressão mais característica.

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