quinta-feira, 21 de março de 2013

Dinastia Ângelo

A dinastia Ângelo de imperadores governou de 1185 até 1204 o Império Bizantino. Sucedeu à dinastia Comneno. Os ângelos eram uma família nobre. 

Neste período o fato mais significativo foi a Segunda Cruzada (1191), na qual foi conquistado São João de Acre. Durante a Quarta Cruzada (1204) os latinos, em lugar de se dirigirem a Terra Santa, invadiram e saquearam Constantinopla, depondo o último imperador ângelo.

Dinastia Ângelo 

Manuel morreu em 24 de setembro de 1180 e deixou seu filho de 11 anos, Aleixo II Comneno (1180–1183), no trono. Aleixo se mostrou incompetente na função, mas o que fez a sua regência impopular foi a sua mãe, Maria de Antioquia, que era de origem "franca" (que era como os bizantinos chamavam todos os latinos). Finalmente, Andrônico I Comneno, um neto de Aleixo I, lançou uma revolta contra seu jovem parente e conseguiu derrubá-lo em um violento golpe de Estado. Aproveitando-se de sua boa aparência e de sua imensa popularidade com o exército, Andrônico marchou para Constantinopla em agosto de 1182 e incitou um massacre dos latinos da cidade. Depois de eliminar seus rivais em potencial, coroou-se como co-imperador em setembro de 1183, eliminando Aleixo II e casando com sua esposa Inês da França, de 12 anos.

Embora tenha começado seu reinado com um golpe, Andrônico foi elogiado pelos historiadores devido às medidas bem sucedidas para reformar o governo. Sob seu comando, a venda de cargos cessou, sendo a seleção baseada no mérito e os salários foram adequados para evitar a tentação pelo suborno; nas províncias, suas reformas produziram uma melhora rápida e acentuada. No campo militar, contudo, Andrônico teve muitos revezes: Isaac Comneno proclamou a independência de Chipre, Bela III (1172–1196) reintegrou os territórios croatas na Hungria, Estêvão Nêmania da Ráscia (1166–1196) declarou-se independente do Império Bizantino e Guilherme I da Sicília enviou uma expedição em 1185 com 300 navios e 80 000 homens que, além de conquistar Dirráquio (atual Durrës), sitiou Tessalônica. Porém, o aumento da oposição política por parte da aristocracia levou Andrônico a adotar uma postura tirânica, marcada por execuções, atos violentos contra seus adversários e medidas cada vez mais implacáveis para escorar seu regime. Andrônico acabou destronado por Isaac Ângelo, que o mandou executar.

O reinado de Isaac II (1185–1195) e, mais ainda, de seu irmão Aleixo III (1195–1203), assistiram ao colapso do que restava da máquina centralizada do governo e da defesa bizantinos. Mesmo os normandos tendo sido sido expulsos da Grécia após uma derrota decisiva na batalha de Demetritzes em 7 de novembro de 1085, em 1186, valáquios e búlgaros começaram uma rebelião que levaria à formação do Segundo Império Búlgaro. A política interna dos Ângelos foi caracterizada pelo esbanjamento do tesouro público e pela má administração fiscal. A autoridade bizantina foi seriamente enfraquecida e o vácuo crescente no poder central do império encorajou a fragmentação. Há evidências de que alguns herdeiros comnenos teriam criado um estado semi-independente em Trebizonda antes de 1204. De acordo com Alexander Vasiliev, "A Dinastia Ângelo, gregos em sua origem, [...] acelerou a ruína do império, já enfraquecido e com desunião interna".

Quarta Cruzada

Queda de Constantinopla
frente aos cruzados em 1204
em uma miniatura do século XV
Em 1198, o papa Inocêncio III abordou o assunto de uma nova cruzada por meio de legados e cartas encíclicas. A intenção declarada da cruzada era conquistar o Egito aiúbida, agora o centro do poder dos muçulmanos no Levante. O exército cruzado que chegou a Veneza no verão de 1202 era um pouco menor do que tinha sido previsto e não havia fundos suficientes para pagar os venezianos, cuja frota fora contratada pelos cruzados para levá-los ao Egito. A política da República de Veneza, governada pelo envelhecido e cego, mas ambicioso, doge Enrico Dandolo estava potencialmente em desacordo com o papa e os cruzados, pois a cidade estava intimamente relacionada comercialmente com o Egito. Os cruzados aceitaram a proposta de pagar a dívida ajudando os venezianos a capturar o porto de Zara (atual Zadar, na Dalmácia), cidade vassala da República de Veneza que havia se rebelado e se colocado sob a proteção do Reino da Hungria em 1186. A cidade caiu em novembro de 1202 após um breve cerco. Inocêncio, que foi informado tardiamente do plano e teve seu veto desconsiderado, estava preocupado em não comprometer a cruzada e acabou absolvendo os cruzados — exceto os venezianos — do desvio de planos.

Após a morte de Teobaldo III, Conde de Champagne, a liderança da cruzada passou a Bonifácio de Montferrat, um amigo de Filipe da Suábia, da família Hohenstaufen. Ambos — Bonifácio e Filipe — estavam ligados à família imperial bizantina pelo casamento. O cunhado de Filipe, Aleixo Ângelo, era filho do imperador deposto e cego Isaac II Ângelo, tinha aparecido na Europa buscando ajuda e contatou os cruzados oferecendo a reunificação das igrejas, um pagamento de 200 000 marcos de prata e ainda todos os suprimentos necessários, para que eles pudessem chegar ao Egito.

Saque de Constantinopla pelos cruzados

Após se apoderarem de Corfu, os cruzados chegaram à capital bizantina no verão de 1204. Eles derrotaram as tropas terrestres da cidade, que foram forçadas a recuar, e bombardearam a torre de Gálata. Aleixo III fugiu da capital e Aleixo Ângelo foi elevado ao trono como Aleixo IV, juntamente com seu pai, o cego Isaac. No entanto, os dois não conseguiram manter suas promessas e foram depostos por Aleixo V Ducas quando os cruzados foram repelidos para fora da cidade. 20 000 homens cercaram novamente a cidade. O primeiro assalto começou em 9 de abril e a cidade finalmente sucumbiu após novo assalto em 13 de abril, no qual os venezianos usaram seus navios como fortalezas para as escadas que foram erguidas nas muralhas. 

Constantinopla foi pilhada e massacrada durante três dias. Muitos ícones, relíquias e outros objetos de valor inestimável foram enviados para a Europa Ocidental, grande parte deles para Veneza. Nicetas Coniates relata que uma prostituta foi posta no trono patriarcal de Santa Sofia. Quando o papa Inocêncio III soube da conduta de seus cruzados, ele os castigou em termos inequívocos, mas a situação estava fora de seu controle, especialmente depois de ter libertado os cruzados de seus juramentos na marcha para a Terra Santa. Quando a ordem foi restabelecida, os cruzados e venezianos implementaram seu acordo; Balduíno de Flandres foi eleito imperador e o veneziano Tomás Morosini foi escolhido para o recém-criado patriarcado latino. As terras distribuídas entre os líderes não incluíram todas as antigas possessões bizantinas e os bizantinos continuaram reinando em Niceia, Trebizonda e no Épiro.

Queda

Depois do saque de Constantinopla de 1204 pelos cruzados latinos, dois estados sucessores bizantinos foram estabelecidos: o Império de Niceia e o Despotado do Épiro. Um terceiro, o Império de Trebizonda, tinha sido criado algumas semanas antes do saque por Aleixo I. Destes três estados sucessores, Épiro e Niceia ficaram em melhores condições para recuperar Constantinopla. O Império de Niceia lutou para sobreviver nas décadas seguintes e, em meados do século XIII, perdeu muito do sul da Anatólia. O enfraquecimento do Sultanato de Rum após a invasão mongol de 1242–1243 permitiu que muitos beis e gazis criassem seus próprios principados (beilhiques) na Anatólia, enfraquecendo a posição bizantina na região.

Reconquista de Constantinopla

O Império de Niceia, fundado pela dinastia lascarina, conseguiu reconquistar Constantinopla aos latinos em 1261 e derrotar o Despotado do Épiro. Depois de uma recuperação de curta duração das finanças bizantinas sob Miguel VIII Paleólogo (r1259–1282), o império foi devastado pela guerra por estar mal equipado para lidar com os inimigos que agora o cercavam. A fim de manter suas campanhas contra os latinos, Miguel retirou suas tropas da Ásia Menor e passou a cobrar impostos exorbitantes sobre o campesinato, que causaram muito descontentamento. Em vez de explorar suas possessões na Ásia Menor, Miguel decidiu expandir o império, no que obteve um sucesso de curta duração. Para evitar outro saque da capital pelos latinos, ele forçou a Igreja a se submeter a Roma (a chamada "União das Igrejas" do Segundo Concílio de Lyon, em 1274), uma solução temporária que aumentou o ódio a Miguel entre os camponeses e na população de Constantinopla, hostis aos latinos. Os esforços de Andrônico II (1282–1328) e, mais tarde, de seu neto Andrônico III (1321–1341) marcaram as últimas tentativas genuínas de restaurar a glória do império. No entanto, o uso de mercenários por Andrônico II foi uma péssima ideia, com a Companhia Catalã assolando os campos e aumentando o ressentimento contra Constantinopla.

Ascensão dos otomanos e queda de Constantinopla

O cerco de Constantinopla
em 1453, de acordo
com uma miniatura francesa
do século XV
A situação piorou para o império durante as guerras civis que se seguiram à morte de Andrônico III. Uma guerra civil de seis anos devastou o império, possibilitando que o governante sérvio Estêvão IV Duchan (1331–1346) invadisse a maioria dos territórios bizantinos restantes nos Bálcãs e criasse um Império Sérvio de curta duração. Em 1354, um terremoto em Galípoli devastou a fortaleza, o que permitiu que os otomanos, que tinham sido contratados como mercenários durante a guerra civil por João VI Cantacuzeno (1347–1354), se instalassem na Europa. Quando as guerras civis terminaram, os otomanos haviam derrotado os sérvios e os subjugado como vassalos e, depois da batalha do Kosovo, grande parte dos Bálcãs estava nas mãos dos otomanos.

Os imperadores bizantinos pediram ajuda ao Ocidente, mas o papa só enviaria ajuda em troca de uma reunião da Igreja Ortodoxa com a Sé de Roma. Essa união foi considerada e finalmente realizada por decreto imperial, mas os cidadãos e o clero ortodoxos ressentiram-se intensamente da autoridade de Roma e do rito latino. Algumas tropas ocidentais chegaram para reforçar a defesa de Constantinopla, mas a maioria dos governantes ocidentais, distraídos com seus próprios assuntos, nada fez em relação aos avanços dos otomanos, que foram tomando os territórios bizantinos que restavam.

Nessa época, a cidade de Constantinopla estava despovoada e em ruínas. A população havia se reduzido de tal forma que a cidade não passava de um aglomerado de vilas separadas por campos. Em 1402, o império experimentou algum desafogo da ameaça otomana quando Tamerlão (1370–1405) derrotou os otomanos na batalha de Ancara. Porém, isso não impediu que, em 2 de abril de 1453, o sultão Maomé II, o Conquistador (1451–1481) lançasse um ataque contra Constantinopla com um exército de 80 000 homens. Apesar da defesa desesperada de última hora pelas tropas cristãs (cerca de 7 000 homens, dos quais 2 000 eram estrangeiros), Constantinopla finalmente caiu em 29 de maio de 1453, depois de dois meses de cerco. As muralhas da cidade, poderosas e inexpugnáveis por séculos, não conseguiram deter o avanço otomano. O último imperador bizantino, Constantino XI Paleólogo (1449–1453), foi visto pela última vez despojando-se de suas insígnias imperiais, antes de lançar-se em combate corpo a corpo depois de as muralhas da cidade terem sido tomadas.

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