quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Luta Entre Gladiadores

O combate entre gladiadores é uma atividade tão incompreensivelmente estranha a nossos costumes que geralmente buscamos esportes análogos para descrevê-lo. É verdade que alguns gladiadores ficaram famosos como os atuais jogadores de futebol, mas a maioria morreu vergonhosa e anonimamente. A finalidade dos jogos era celebrar a morte de marginais. Uma luta habilidosa era meramente uma diversão adicional.

O Começo 

Os combates entre gladiadores começaram em algum lugar da Itália nos distantes nevoeiros do tempo, como ritos para homenagear os mortos. Os romanos alegavam ter aprendido a prática com seus vizinhos, os estruscos, mas não há outras evidências dessa origem, de modo que hoje em dias os historiadores preferem culpar outro povo italiano extinto, os samnitas, que realmente deixou evidências de combates entre gladiadores.

Um Espetáculo Romano

Os romanos transformaram os jogos em parte integral da vida civil, um espetáculo que calejava os cidadãos para a visão de sangue e dor, ao mesmo tempo que eliminava os excedentes de prisioneiros de guerra e criminosos. Como povo belicoso, com inimigos por todos os lados, os romanos tinham de se acostumar com a morte violenta em idade precoce. Os jogos ensinavam, pelo exemplo, a enfrentar a morte com coragem e dignidade, reforçavam a importância de ser romano, ao mostra os odiados escravos, criminosos e estrangeiros sendo despedaçados.

Como Funcionava

Os jogos eram geralmente organizados para homenagear a memória de algum romano importante e nobre. Um patrocinador de alto nível pagava as despesas e oferecia entradas gratuitas aos espectadores. A plateia era dividida e acomodada em classes: o camarote imperial, os senadores juntos nas primeiras filas, os cidadãos romanos emancipados com seus pares, e as mulheres nas fileiras de trás, bem no alto.

Lutas registradas 

A primeira luta registrada consistiu em três embates entre seis escravos para homenagear Bruto Pera, depois de uma batalha em 264 a.C.. Com o tempo, o tamanho dos confrontos foi crescendo. Um século depois, Tito Flamínio apresentou 74 lutas, e Júlio César planejou 320 pares de gladiadores em 65 a.C.. 

Como acontece com tudo que se torna popular demais, o proposito original foi se diluindo. Quando a república entrou em decadência, os jogos ganharam um tom mais de entretenimento do que de ritual, com políticos ambiciosos competindo para oferecer espetáculos mais brilhantes ao público. Eles tinham esperança de que um espetáculo especialmente grandioso seria lembrado pelos eleitores quando chegasse a época de eleição. 

Júlio César era um político hábil e um mestre em agradar as multidões. Às vezes ele armava os lutadores com armas exóticas ou com armaduras folheadas a outo. Organizava batalhas simuladas, com derramamento real de sangue, inclusive com a encenação da queda de Troia. Foi um dos primeiros patrocinadores a reencenar batalhas navais em lagos artificiais, e realmente o primeiro a apresentar uma girafa aos romanos.

Anfiteatro Flaviano

A arena era geralmente a maior construção em qualquer cidade romana, e a importância dos combates na vida dos romanos foi enfatizada em 80 d.C., com a construção da maior arena já vista, o anfiteatro Flaviano, ou Coliseu, em Roma. Sendo o mais visível e destacado símbolo da magnificência romana, o Coliseu podia abrigar 60 mil espectadores sentados. Até os nazistas construírem seus campos de extermínio, o Coliseu talvez tenha sido o menor lugar com o maior número de mortes da história, com mais mortes por hectares do que qualquer campo de batalha ou prisão. 

Um Dia na Arena

A manhã de um dia de festival começava geralmente com animais interessantes vindos de todo o mundo conhecido: crocodilos, elefantes, leopardos, hipopótamos, alces, avestruzes, renas ou rinocerontes, que eram trazidos para a arena, apresentados e sacrificados às dezenas ou centenas. Ursos, touros, leões e lobos ferozes eram postos a lutar uns contra os outros como espetáculos, ou eram mortos por caçadores com arcos e lanças para alegria da multidão. A matança de animais na arena tinha a finalidade adicional de permitir que o patrocinador fornecesse ao povo um esplêndido festim com carne de touro, veado ou elefante. A carne era servida à multidão em banquetes ao ar livre, depois do espetáculo.

A demanda por tais espetáculos levou à extinção as mais imponentes espécies do império. Os últimos leões europeus foram mortos por volta de 100 d.C.. O elefante do norte da África desapareceu no século II d.C. Tigres hircanianos, auroques, bisões europeus e leões da Barbária mal sobreviveram à era romana, confinados a umas poucas áreas desérticas, mas nunca mais se recuperaram e finalmente foram extintos nos séculos que se seguiram.

Por volta do meio-dia, executavam-se os criminosos publicamente, como um aviso para outros, geralmente pelo fogo ou por feras soltas em cima deles. Às vezes os criminosos eram apenas jogados juntos em grandes grupos, com armas simples e ordens de se matarem uns aos outros. Outras vezes, a imaginação romana criava punições animadas, condizendo com o crime. Alguns prisioneiros eram executados encenando os mais horrendo mitos: Hércules em chamas, Ícaro caindo do céu, Hipólito arrastado por cavalos, Acteão transformado num veado e despedaçado por cães. Essas cenas eram consideradas valiosas lições sobre os desígnios misteriosos dos deuses.

O verdadeiro espetáculo só começava à tarde, quando os gladiadores habilidosos eram apresentados. Eles começavam como criminosos, escravos ou prisioneiros de guerra, mas eram treinados em escolas especiais para que fizessem a melhor apresentação possível. Às vezes o combate era apenas uma questão de fazer gauleses lutarem contra cem árabes, numa batalha encenada, que treinava cidadãos soldados para aquilo que os esperava na fronteira; entretanto na maior parte do tempo os gladiadores lutavam individualmente, de modo que a plateia pudesse apreciar as habilidades belicosas sem distrações. 

Os jogos começavam com o editor examinando as armas para ver se eram reais. As couraças dos gladiadores eram projetadas para diminuir o risco de ferimentos de pequena monta, em favor de uma morte direta; protegiam os braços e o rosto, mas deixavam expostos o peito e o pescoço. Capacetes com viseiras escondiam o rosto dos gladiadores, mantendo anônimos e impessoais as mortes na arena. 

Quando um gladiador vencia o oponente, a plateia nas arquibancadas decidia a sorte do vencido, fazendo gestos com os polegares. Se a multidão estava convencida de que o lutador derrotado dera o melhor de si, sua vida era quase sempre poupada. 

Um evento raro, mas especial, era o munera sine missione, "oferendas sem anistia", série de combates de que só um gladiador saía vivo. No início do século I d.C., Augusto baniu a prática, considerando cruel proibir que um lutador corajoso fosse anistiado, mas imperadores posteriores a reviveram pelo seu apelo dramático. 

Fim de Jogo

Os gladiadores eram treinados a morre com elegância. Um lutador derrotado deveria oferecer o pescoço para o golpe final, sem atos constrangedores, como chorar, fugir ou pedir misericórdia. 
Depois de cada luta que terminasse em morte, auxiliares disfarçados como deuses do submundo apareciam e se certificavam de que o homem morto não estava fingindo. Mercúrio (Hermes), com um chapéu e sandálias alados, espetava o perdedor com um ferro em brasa para ver se ele se encolhia. Caronte golpeava a testa do homem caído com uma marreta. Então os escravos carregavam o corpo para fora e jogavam areia fresca sobre as poças de sangue. 

Fora da vista da multidão, no necrotério da arena, auxiliares que trabalhavam sob a severa vigilância de um supervisor retiravam a valiosa armadura do corpo, e cotavam a garganta do lutador para ter certeza de que não estavam sendo enganados. Como os gladiadores eram escravos ou criminosos, seus corpos eram geralmente atirados em vazadouros de lixo, mas uma vantagem de ser um gladiador vencedor era a perspectiva de um enterro decente, pago por fãs, patrocinadores agradecidos ou lutadores que juntavam dinheiro em associações funerárias.

Como os romanos consideravam a compaixão uma fraqueza, seus filósofos raramente se opunham aos jogos, por essa razão. Em alguns de seus escritos, Cícero queixa-se de que os combates simulados eram vulgares e sádicos, mas mesmo assim ele aprovava os combates reais, que enfatizavam os valores romanos de força e honra. 

Fim da Popularidade

Os jogos perderam popularidade quando o império adotou o cristianismo, e a compaixão passou a ser considerada uma virtude. Constantino tentou abolir o combate de gladiadores num édito de 325 d.C., mas a abolição só era cumprida esporadicamente. Depois que os invasores germânicos desmantelaram o Império Romano do Ocidente, porém, os romanos perderam a necessidade de se calejar vendo homens morrerem. Os novos reis bárbaros punham fim aos combates de gladiadores sempre que assumiam o poder. A última luta registrada no Coliseu ocorreu em 435 d.C., embora as lutas públicas entre animais continuassem por quase um século mais.

Espártaco: Um Gladiador Rebelde

Espártaco (120 a.C. – ca. 70 a.C.) foi um gladiador de origem trácia (antiga Bulgária), líder da mais célebre revolta de escravos na Roma Antiga, conhecida como "Terceira Guerra Servil", "Guerra dos Escravos" ou "Guerra dos Gladiadores". Espártaco liderou, durante a revolta, um exército rebelde que contou com quase 100 mil ex-escravos. 

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