Qin Shi Huang Di (Novembro/Dezembro 260 a.C. - 10 de Setembro, 210 a.C.), foi rei do Estado chinês de Qin de 247 a.C. a 221 a.C., e posteriormente tornou-se o primeiro imperador de uma China unificada, de 221 a.C. a 210 a.C., reinando sob a alcunha de Primeiro Imperador.
Tendo unificado a China, ele e seu primeiro-ministro, Li Si, iniciaram uma série de reformas significativas com o intuito de fortificar e estabilizar a unidade política chinesa, ordenando projetos de construção gigantescos, como a própria Muralha da China - ainda não em suas dimensões máximas. Apesar de Qin Shi Huang ser considerado ainda hoje como um dos fundadores da China unificada, que assim permaneceria, com certas interrupções e diferenças territoriais, por mais de dois milênios, o imperador também é lembrado como um tirano autocrático.
Quando Qin Shi Huang Di Ainda era Zheng
Em 247 a. C., com a idade de 13 anos, o príncipe Zheng foi alçado ao trono de Qin, quanto morreu o rei, seu pai. A maioria dos membros da corte esperava manipular facilmente o jovem, de modo que as conspirações brotavam por toda parte em torno dele. Sua mãe, a rainha viúva Zhao Ji, renomada por ser uma grande beldade e excelente dançarina, recebeu o controle do governo até que Zheng chegasse à maioridade. Ela compartilhava a regência com o primeiro ministro Lu Buwei, que, diziam os boatos, era o verdadeiro pai de Zheng.
Para livrar-se de suas ligações com a rainha viúva, o primeiro-ministro “encontrou um homem chamado Lao Ai, que tinha o pênis inusitadamente grande, e empregou-o como serviçal em sua casa. Depois, quando se apresentou a ocasião, ele fez tocar uma música sugestiva e, instruindo Lao Ai para meter o pênis no centro de uma roda feita de uma madeira chamada paulownia, e o fez caminhar com aquilo, assegurando-se de que o feito chegaria aos ouvidos da rainha viúva, de modo a suscitar seu interesse.
A rainha viúva logo se apaixonou por Lao, o que expôs o feliz casal a grandes riscos, de modo que eles imaginaram um plano para manter o romance secreto.
Lao conseguiu ser acusado de um crime cuja punição era a castração, mas ele e a rainha subornaram o castrador para deixar intacta a poderosa genitália de Lao e, em vez disso, raspar sua barba. Agora que todos pensavam que ele era um eunuco, Lao podia aberta e legalmente agregar-se à corte da rainha.
No fim, eles geraram dois filhos, mantidos cuidadosamente escondidos do filho dela, o rei. Sabendo do perigo que corriam, eles planejaram um golpe contra Zheng e tomaram pessoalmente o comando das tropas aquarteladas ali perto, usando documentos forjados. Infelizmente Zheng estava muito à frente deles. Quando os soldados de Lao chegaram à câmara real, o rei Zheng tinha seus homens prontos para uma emboscada. Lao escapou por pouco da tocaia e fugiu. Com a cabeça posta a prêmio por 1 milhão de moedas de cobre, porém, ele foi logo capturado e condenado à morte. A rainha viúva foi forçada a assistir, enquanto seu amante era despedaçado por carros de guerra. Seus dois filhos secretos foram amarrados, metidos em sacos e espancados até a morte.
Havia mais a acontecer. Muitas histórias da juventude do rei Zheng o mostram sobrevivendo por pouco a complôs assassinos, ou então descobrindo espertamente essas conspirações. Um matador, o cortesão Jing Ke, foi pego quando uma adaga caiu de um mapa que ele desenrolava. Um alaudista cego, Gao Jianli, tentou golpear Zheng com o instrumento cheio de chumbo quando ele se aproximou o bastante, mas errou.
O Primeiro Imperador
Ao se tornar senhor de toda a China, Zheng inventou um título novo em folha, pelo qual é conhecido na história: Primeiro (shi) Augusto (Huang) Imperador (Di) da China (Quin)
460 Estudiosos Enterrados Vivos
Sempre que Shi Huang Di tentava fazer mudanças, os acadêmicos reagiam e insistiam que não havia precedente; a lei proibia. Bom, a solução óbvia era remover todos esses incômodos precedentes e partir do zero. Ele ordenou que lhe trouxessem cada livro da China, e incinerou todos, com exceção de uns poucos manuais técnicos. Quando os estudiosos puseram a boca no mundo, ele enterrou 460 deles vivos, para não precisar mais ouvir suas reclamações. Muitos anos mais tarde, com Shi Huang Di havia muito desaparecido, os estudiosos se reuniram e tentaram reescrever tudo que pudessem lembrar da literatura perdida.
Criando Muros
O primeiro imperador necessitava proteger a fronteira norte contra as incursões de cavaleiros nômades, conhecidos como xiongnus (que já foram considerados precursores dos hunos, mas atualmente não são). Ele uniu as diversas muralhas locais que bloqueavam desfiladeiros em uma única grande muralha, dividindo o mundo conhecido em Nós e Eles. Para construir essa muralha, enviou um general para a fronteira com 300 mil soldados e 1 milhão de trabalhadores recrutados à força, a maioria dos quais teria morrido durante a construção. Um fluxo permanente de trabalhadores viajava para o norte a fim de substituir os mortos. Diz a lenda que cada pedra da muralha custou uma vida humana.
O objetivo da grande muralha não era evitar que os xiongnus cruzassem a fronteira. Era muito fácil para eles apoiar uma escada sobre qualquer trecho desguarnecido da construção. Mas os pretensos invasores não podiam fazer seus cavalos ultrapassarem a barreira, de modo que tinham de avançar a pé, sem a vantagem militar que os tornava tão formidáveis.
Embora Si Huang Di tenha sido o primeiro a construir uma grande muralha na China, não foi ele que construiu a Grande Muralha da China. A muralha já fora expandida, destruída, negligenciada e reconstruída tantas vezes nos 2 mil anos anteriores que a atual muralha, que se estende pelo norte da China, é mais nova, tendo meros quinhentos anos ou aproximadamente isso, e frequentemente segue um caminho diferente da muralha original.
A Busca Pelo Segredo da Vida Eterna
Quando deu a si mesmo o título de primeiro imperador, Shi Huang Di pretendia que todos os imperadores subsequentes continuassem a usar essa nomenclatura. Seu filho se tornaria Er Shi Huang Di (segundo imperador), seguido pelo terceiro, quarto e assim por diante. Entretanto, no fundo, Shi Huang Di realmente queria se tornar o imperador único, e fez grandes esforços procurando a imortalidade.
O alquimista da corte disse ao imperador que o mercúrio era a chave para a vida eterna, e forneceu-lhe poções que a garantiriam para ele. Shi Huang Di também mandou o feiticeiro taoista XuFu viajar para o leste à procura do segredo da imortalidade. Acreditava-se que Oito Imortais, santos taoistas que haviam aprendido os segredos do universo, viviam na montanha Penglai, além dos mares orientais. Xu Fu recebeu uma frota de sessenta navios com 5 mil tripulantes, acompanhados de 3 mil meninos e meninas virgens, porque acreditava-se que sua pureza ajudaria na busca. Vários anos depois de ter desaparecido no horizonte, Xu Fu retornou e relatou que um grande e amedrontador monstro do mar bloqueava a passagem, de modo que Shi Huang Di enviou uma embarcação cheia de arqueiros para matar o monstro. Então Xu Fu tentou novamente, mas nunca mais chegaram notícias dele.
Os historiadores modernos, tentando entender essa história, sugerem que Xu Fu simplesmente descobriu o Japão e lá se estabeleceu. A arqueologia mostra que a cultura chinesa começou a aparecer no Japão por volta dessa época.
O Fracasso na Busca Pela Vida Eterna
Quando Shi Huang Di morreou, em 210 a. C., numa viagem pelas províncias e possivelmente envenenado pelo mercúrio de seu elixir mágico, Li Si manteve a notícia em segredo durante dois meses, até poder voltar a capital e tomar algumas providências. Entre elas estava tirar do comando um general perigosamente conservador, e forçar o filho mais velho de falecido imperador a cometer suicídio. Para evitar que o império se desintegrasse no caos, Li Si fingia que o governante estava vivo, chegando à carruagem do imperador todo dia e colocando a cabeça para dentro da janela, atrás da cortina, a fim de consulta-lo. Uma carroça cheia de peixe ficava por perto a fim de disfarçar o cheiro do cadáver.
Exércitos de Soldados Terracota
O primeiro imperador começara a construir seu túmulo muitos anos antes, empregando 700 mil trabalhadores no projeto e levando muitos deles à morte. O complexo que encerrava a tumba media 4.800 metros de largura, e dizia-se que era protegido por armadilhas compostas por balistas. Para proteger a localização secreta, os homens que instalaram as armadilhas foram também trancados na tumba. Em 1974 as escavações revelaram um exército subterrâneo de 8 mil soldados de terracota guardando o túmulo, e isso pode ser apenas uma pequena parte dos tesouros enterrados ali. Diz-se que a tumba contém uma réplica do mundo flutuando num mar de mercúrio, e uma análise do solo, feita em 2006, sugere que uma quantidade substancial de mercúrio continua enterrada na seção inda não escavada.
Quanta Maldade Ele Fez?
Como acontece com muitos personagens da Antiguidade, há apenas um punhado de fontes originais, todas filtradas através de séculos de cópias, recopias, censuras, ficcionalização, moralização e sensacionalização, de modo que há grande probabilidade de que tudo que conhecemos sobre Shi Huang Di seja errado, ou ao menos mais complicado do que somos levado a crer. Quem sai por aí enterrando estudiosos vivos não se dará bem nos escritos dos acadêmicos que vieram depois.
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