sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Gerra Civil Russa - Part III

Pogroms (Sul)

À parte a ideologia, a maioria dos russos na época odiava os judeus, de modo que os exércitos dos Brancos, Vermelhos, Verdes e Negros maltratavam os membros daquela etnia sempre que os encontravam. A perseguição era pior na Ucrânia. Circulavam boatos amplamente entre os Brancos de que a revolução bolchevista era, no cerne, um complô dos judeus, de modo que, durante todo o ano de 1919, Brancos, cossacos e nacionalistas ucranianos destruíram perto de quinhentas comunidades judaicas que encontraram em seu caminho. Entre 60 mil e 150 mil foram fuzilados, queimados vivos, afogados, espancados até a morte ou despedaçados em um massacre após outro, no mais letal surto de antissemitismo que ocorreu desde a revolução de Bar Kokhba (Guerras romano-judaicas) e o Holocausto (II Guerra Mundial).

Poloneses (Oeste)

Depois do colapso dos exércitos dos Brancos na Ucrânia, os poloneses avançaram para ocupar aquele território. Capturaram Kiev, em maio de 1920, mas a contraofensiva bolchevista rapidamente os fez recuar. Durante algum tempo parecia que a Polônia ia ser absorvida de nvo pelo Império Russo, mas a contraofensiva foi finalmente bloqueada nos arredores de Varsóvia em agosto de 1920. Os poloneses consideram esse confronto, essa batalha nos portões de Varsóvia, como um dos mais importantes marcos da história moderna. Se não fosse pelo valor do exército polonês, as hordas comunistas teriam entrado avassaladoramente por toda a Europa. Outro modo de descrever esses acontecimentos é considerar que o Exército Vermelho já estava tão desgastados que até mesmo os poloneses conseguiram derrotá-lo.

Seja como for, o contra-ataque polonês expulsou por completo os Vermelhos da Polônia, e avançou até meio caminho de Kiev, antes de serem barrados novamente pelos russos. Foi aí que ficou delineada a nova fronteira entre os dois países, colocando uns poucos milhões de ucranianos e bielorrussos na situação difícil de minorias num país estrangeiro, a Polônia. 

Vermelhos (Centro)

Defrontando com uma nação que desmoronava, a resposta de Lênin para todos os seus problemas era fuzilar alguém. Em janeiro de 1918 ele ordenou "o fuzilamento imediato de um em cada dez acusados de corpo mole no trabalho". Mais tarde decretou "a prisão e fuzilamento de todo mudo que aceitasse suborno, trapaceiros, etc."

Para nossos propósitos, o mais importante acontecimento desse capítulo. tomado individualmente, aconteceu em dezembro de 1917, logo depois que os bolcheviques assumiram o poder, quando Lênin organizou uma comissão dentro do Ministério do Interior para combater e as atividades contrarrevolucionárias. As nove palavras completas do nove oficial dessa comissão são muito difíceis de pronunciar, escrever e até mesmo lembrar, de modo que na maior parte do tempo o nome foi desbastado para o inócuo Comissão Extraordinária e mais comumente reduzido ainda mais para suas duas iniciais em russo: Che Ka.

O nome da organização mudaria ao longo dos anos, mas o terror que ela instaurou permaneceria constante. Registros que sobreviveram mostram que a Cheka executou quase 13 mil contrarrevolucionários do decurso da guerra civil, e essas são apenas mortes que podemos comprovar. Eles fuzilaram muito mais espontaneamente, sem deixar qualquer registro escrito. 

Revolução Russa

A Revolução Russa levou a uma das maiores redistribuição de riqueza jamais vista, mas, na maior parte, os comunistas não foram de porta em porta desapropriando casas, Eles simplesmente se recusaram a fazer cumprir as leis da propriedade, quando as pessoas se recuraram a fazer cumprir as leis da propriedade, quando as pessoas comuns roubavam dos ricos. Os camponeses lavravam a terra onde queriam, sabendo que o governo não os expulsaria. Os trabalhadores assumiram o controle das fábricas, e a política não os escorraçava de lá. As pessoas se apossavam do gado ou se mudavam para imóveis abandonados, e não havia nada que os proprietários pudessem fazer a respeito. Qualquer um que levantasse objeções era linchado pela multidão ou simplesmente executado pela Cheka.

Terminada a Primeira Guerra Mundial, as repúblicas soviéticas também se instalaram na Bavária e na Hungria, e por um breve momento Lênin teve a esperança, e o resto do mundo teve o temor, de que isso levaria a uma onda cataclísmica de revoluções por todo o mundo. Então o governo da Bavária desintegrou-se em maio de 1919 e o da Hungria em agosto do mesmo ano, e a epidemia do marxismo ficou confinada à Rússia.

Quando clareou a fumaça, cinco novos países em torno no litoral do mar Báltico haviam conseguido firmar independência às custas de uma Rússia enfraquecida. Em outros lugares, as tropas bolcheviques avançaram para absorver as outras pequenas repúblicas, que haviam se libertado do domínio anterior do czar. Em dezembro de 1922, todos os governos locais comunistas que tinham raízes  por todo o velho Império Russo foram oficialmente reunidos na União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, ou a URSS.

O Legado

Uma geração atrás a Revolução Russa se destacava como o mais importante acontecimento político do século XX. Todos os outros grandes ditadores haviam caído. As duas guerras mundiais tinham terminado e perdiam importância. As guerras mais recentes na história haviam sido longas e inúteis, mas a União Soviética ainda se alçava sobranceira e inexoravelmente sobre todo o século, ameaçando, lutando, crescendo e evoluindo. A convulsão que fizera nascer a URSS era o acontecimento central da história moderna.

Hoje, a Revolução Russa é um curso eletivo da história antiga. É um exemplo excelente de como as mudanças no presente ecoam para trás e mudam o passado. Com o desaparecimento da União Soviética, todo o vaivém de bolcheviques, mencheviques, Vermelhos e Brancos se tornou coisa insignificante.

Por outro lado, um acontecimento de menor importância que era grandemente ignorado nas aulas de história quando eu estava na escola tem assumido maior importância. A decisão de 1922 de organizar o ex-Império Russo em uma federação de repúblicas étnicas teoricamente autônomas costumava ser encarada como enfeite de vitrina. Ninguém acreditava seriamente que aquelas "repúblicas" eram mais do que meras províncias do Império Russo, de modo que seus nomes e fronteiras não interessavam. Nós sempre chamávamos os cidadãos da URSS de "russos", raramente de "soviéticos". Todo mundo sabia quem realmente comandava o show.

depois, em 1991, aquelas "repúblicas" declararam sua independência, e de repente ficou sendo importante se a Crimeia fazia parte da república da Rússia ou da Ucrânia, ou se a pátria dos chechenos, bielorrussos e tártaros tinha o status de uma república plena, ou como muitos armênios viviam dentro da fronteira do Azerbaijão. Quinze países surgiram da União Soviética, e o seu esfacelamento poderia ter sido muito mais complicado sem essas convenientes linhas pontilhadas ao longo das quais passavam as fonteiras. Mesmo assim, cinco pequenas guerras irromperam, porque alguém não gosto do modo como as fronteiras da ex-União Soviética foram traçadas. 

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