Tradicionalmente se fala em nove Cruzadas, mas, na realidade, elas constituíram um movimento quase permanente. Nos livros de história, as Cruzadas são geralmente numeradas como eventos distintos, mas elas só pareceram assim na visão dos europeu. O que geralmente se chama de a Primeira ou a Sétima Cruzadas é realmente a primeira ou a sétima grande onda de novos recrutas arrebanhados e enviados da Europa. Isso não significa que a paz reinava na Palestina entre Cruzadas oficialmente designadas.
Cruzada Popular ou dos Mendigos (1096)
A Cruzada Popular ou dos Mendigos (1096) foi um acontecimento extra-oficial que consistiu em um movimento popular que bem caracteriza o misticismo da época e começou antes da Primeira Cruzada oficial. O monge Pedro, o Eremita, graças a suas pregações comoventes, conseguiu reunir uma multidão. Entre os guerreiros, havia uma multidão de mulheres, velhos e crianças.
Na busca de recursos financeiros para o longa viagem até a Palestina, estes cruzados buscaram infiéis ricos mais próximos de suas casas. Assim, começaram a atacar judeus europeus. As primeiras vítimas foram os judeus da Renânia. Inspirado por Pedro o Eremita, o conde Emich de Leisengen marcou a própria testa com queimadura em forma de cruz e liderou um grupo de peregrinos para atacar os judeus da cidade de Spier. Apesar da oposição do bispo católico da cidade, os peregrinos mataram muitos judeus que se recusaram a abraçar a fé cristã. O mesmo bando seguiu depois até Worms, atacou a Judengasse e matou mais de mil judeus. O grupo prosseguiu até Mogúncia, onde mais 990 judeus foram mortos.
Ataques a judeus ocorreram também na Colônia, Trier, Metz, Praga e Ratisbona e o sentimento antijudeu espalhou-se pela França e Inglaterra.
Ante a impaciência da multidão, em Oedenburg (atual Sopron), Pedro despachou seu comandante militar Walter o Impiedoso com cinco mil cruzados. Ao chegar à cidade bizantina de Belgrado, os cruzados começaram a pilhar a área rural e 150 deles morreram em confronto com a população local
Auxiliado por um cavaleiro, Guautério Sem-Haveres, os peregrinos atravessaram a Alemanha, Hungria e Bulgária, causando desordens e desacatos, sendo em parte aniquilados pelos búlgaros.
Em 1 de agosto de 1096, chegaram em péssimas condições a Constantinopla. Mal equipada e mal alimentada, essa cruzada massacrou, pilhou e destruiu. Ainda assim, o imperador bizantino Aleixo I Comneno recebeu os seguidores do eremita em Constantinopla. Prudentemente, Aleixo aconselhou o grupo a aguardar a chegada de tropas mais bem equipadas. Mas a turba começou a saquear a cidade.
O imperador bizantino, desejando afastar esse "bando turbulento" de sua capital, obrigou-os a se alojar fora de Constantinopla, perto da fronteira muçulmana, e procurou incentivá-los a atacar os infiéis. Foi um desastre, pois a Cruzada dos Mendigos chegou muito enfraquecida à Ásia Menor, onde foi arrasada pelos turcos. Somente um reduzido grupo de integrantes conseguiu juntar-se à cruzada dos cavaleiros.
Durante um mês, mais ou menos, tudo o que os cavaleiros turcos fizeram foi observar a movimentação dos invasores, que se ocupavam apenas de saquear as regiões próximas do acampamento onde foram alojados. Até que, em agosto de 1096, o bando inquieto cansou-se de esperar e partiu para a ofensiva.
Quando parte dos europeus resolveu partir em direção às muralhas de Niceia (atual İznik), cidade dominada pelos muçulmanos, uma primeira patrulha de soldados do sultão turco Kilij Arslan foi enviada, sem sucesso, para barrá-los. Animado pela primeira vitória, o exército do Eremita continuou o ataque a Niceia, tomou uma fortaleza da região e comemorou se embriagando, sem saber que estava caindo numa emboscada. O sultão mandou seus cavaleiros cercarem a fortaleza e cortarem os canais que levavam água aos invasores. Foi só esperar que a sede se encarregasse de aniquilá-los e derrotá-los, o que levou cerca de uma semana.
Quanto ao restante dos cruzados maltrapilhos, foi ainda mais fácil exterminá-los. Tão logo os francos tentaram uma ofensiva, marchando lentamente e levantando uma nuvem de poeira, foram recebidos por um ataque de flechas. A maioria morreu ali mesmo, já que não dispunha de nenhuma proteção. Os que sobreviveram fugiram em pânico.
O sultão, que havia ouvido histórias temíveis sobre os francos, respirou aliviado. Mal imaginava ele que aquela era apenas a primeira invasão e que cavaleiros bem mais preparados ainda estavam por vir.
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